Além das Quatro Linhas: potencializando conteúdos geo-históricos e políticos com a inserção do futebol por meio do uso de podcasts

José Peres Fernandes Junior

Professor de Geografia das redes estadual do Rio de Janeiro e municipal de Arraial do Cabo/RJ, licenciado em Geografia (FFP/UERJ), especialista em Tecnologias Digitais Aplicadas ao Ensino (IFRJ)

Risiberg Ferreira Teixeira

Professor de Informática no IFRJ, mestre em Sistemas Computacionais (Unifacs), doutorando em Ensino de Ciências (IFRJ)

Evelyn Morgan Monteiro

Professora de História no IFRJ, mestre em História Cultural (PUC-Rio), doutora em História e Bens Culturais (CPDOC/FGV), pesquisadora nas áreas de História Local e Ensino de História

Ao longo de quase vinte anos de magistério, foi percebido que há certa dificuldade dos alunos em assimilar os conteúdos propostos na disciplina de Geografia. Isso acontece independentemente do ano de estudo. Muitas vezes, os alunos não veem praticidade e não relacionam os assuntos estudados ao seu dia a dia, parecendo que esses conteúdos são distantes, longe da realidade vivenciada por eles.

Por outro lado, o futebol vem se apresentando como temática permanente em seu convívio; Holgado e Tonini (2014, p. 189) expõem que, “devido à relação que a maior parte dos alunos mantém com o futebol, essa prática cultural torna-se uma possibilidade de refletir sobre a sociedade em que vivemos e sobre ideias que fazem parte do seu cotidiano”. Talvez pensar conteúdos de Geografia e, ao mesmo tempo, associar à prática esportiva pode ampliar as possibilidades de aprendizagem desses temas, tais como: globalização, política, sistemas de governo, Geo-História etc.

Diante das perspectivas de uso das tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) nos diferentes lugares do mundo, apresenta-se o podcast como um meio de comunicação que poderá trabalhar também com assuntos de Geografia e futebol.

Ao ingressar na Pós-Graduação em Tecnologias Digitais Aplicadas ao Ensino (TDAE), do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) – Câmpus Arraial do Cabo, percebeu-se que produzir uma série de podcasts é um desafio, pois é trabalhoso tanto na pesquisa e elaboração do texto quanto na sua produção. Contudo, é “mais uma alternativa de ferramenta da cibercultura” (Botton et al., 2017, p. 1) de rápida assimilação e que o ouvinte pode acessar a qualquer momento, como discorre Cruz (2009, p. 70):

o fato de os conteúdos ficarem gravados em podcasts possibilita aos alunos, e em especial àqueles com mais dificuldades, recordar e acompanhar os conteúdos programáticos, permitindo ao professor, em sala de aula, acompanhar mais de perto as necessidades e exigências dos seus alunos.

Portanto, a utilização de ferramentas tecnológicas no contexto atual do ambiente escolar poderá ser importante e vantajosa, pois,

desde o jardim de infância ao Ensino Superior, a web pode ser aproveitada para alcançar objetivos definidos e desenvolver competências, impedindo, dessa maneira, que a escola permaneça alheia à evolução da sociedade na qual se supõe integrada (Cruz, 2009, p. 66).

Freinet já vislumbrava a utilização de tecnologia, como salienta Freire (2015):

Freinet fundou na escola pública de seu país uma pedagogia marcada pela apropriação do trabalho como ação espontânea, coletiva e educacional, e se apropria de tecnologias na escola, busca o aprendizado pela prática em conjunto voltada para o desenvolvimento entre os sujeitos, de uma apropriação produtiva e da liberdade como aspecto fundamental (Freire, 2015, p. 1.036).

Esta pesquisa foi desenvolvida com os alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma escola da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro no município de Iguaba Grande. A divulgação dos podcasts se deu ao longo do ano letivo de 2021 como complemento do conteúdo programático de maneira online.

O projeto de criação do podcast Além das Quatro Linhas é justificado pela conjuntura atual de pandemia global causada pelo avanço da covid-19; por causa dos contágios que vieram ocorrendo no nosso país, foi adotado o ensino remoto emergencial, uma oferta improvisada de disciplinas curriculares pelas instituições escolares (Hodges et al. apud Williames, 2021 p. 3). Esse ensino foi incorporado ao dia a dia dos alunos de maneira abrupta, sem qualquer treinamento ou adaptação.

Algumas mídias digitais estão à disposição dos professores, como: ambientes virtuais de aprendizagem, videoaulas, blogs e outras, mas o podcast passou a ser importante no complemento dos conteúdos dos docentes, pois permite ao aluno acesso em qualquer lugar via internet. Os estudantes podem realizar os downloads dos podcasts nos smartphones e escutá-los; essa nova maneira de disponibilizar conteúdos de estudos faz refletir sobre outra prática de ensino-aprendizagem.

Com isso, o uso da ferramenta tecnológica apontada neste trabalho está se tornando popular entre os alunos, podendo melhorar o desempenho deles em vários aspectos relacionados à disciplina de Geografia. Além do mais, os alunos têm o hábito de ouvir músicas e acessar vários tipos de conteúdos nos aparelhos celulares.

Outro ponto a se destacar nesta justificativa é que o aproveitamento de um assunto cotidiano dos alunos como o futebol pode aumentar o interesse deles pelas matérias relacionadas aos podcasts, estimulando-os a pesquisar tais assuntos e debatê-los com o professor e demais colegas e, quem sabe, torná-los produtores de novos conhecimentos através dos podcasts. Assim, o uso desse recurso tecnológico é um estímulo para os alunos se tornarem mais autônomos, reflexivos e críticos, convertendo-se em protagonistas do seu aprendizado.

Nota-se que os alunos das escolas públicas têm pouco acesso a novidades tecnológicas dentro de seu ambiente escolar devido à falta de investimento do poder público em tecnologia digital e internet de boa qualidade. Na escola onde a pesquisa foi feita, não é diferente. O professor tem que se desdobrar para atrair a atenção e trazer novidades para as suas explanações. Esses estudantes têm acesso a uma sala de vídeo com projetor e caixas de som e um laboratório de informática que quase sempre está parado para manutenção. É importante salientar que cada educador precisa apresentar recursos tecnológicos para atrair os educandos para suas matérias, mas também é importante que os governantes invistam em capacitações contínuas para os docentes, bem como em horários disponíveis na jornada de trabalho para planejamento de aulas e de materiais tecnológicos, com remunerações condizentes com esse aperfeiçoamento na sua função.

Por esse motivo, a criação de um podcast fazendo esse vínculo com assuntos cotidianos dos alunos se faz necessária para criar essa proximidade e, por consequência, para a elaboração e divulgação dos podcasts aos alunos; existe uma lacuna em averiguar as possibilidades de aprendizagem com a inserção dessa mídia no espaço escolar através de linguagem que possa prender a atenção do aluno. Para isso tem-se o seguinte questionamento: ao considerar o podcast uma ferramenta digital de comunicação a ser utilizada no complemento de conteúdos escolares, ele impulsionará o interesse desses alunos pelos assuntos de Geo-História e Política?

Diante do problema apresentado, pode-se obter respostas que venham satisfazer a esta pesquisa: o uso de um podcast inserindo o tema futebol desperta o interesse do aluno pela Geo-História e pela Política abordadas no Ensino Médio? Ao aproximar os conteúdos geo-históricos e políticos do tema futebol se permite que o aluno aprenda esses conteúdos por meio de associação? O aluno se sente mais motivado a rever os conteúdos abordados em sala de aula com um podcast?

Apresenta-se como objetivo geral deste trabalho: utilizar o podcast como complemento de conteúdos de Geo-História e Política, relacionando assuntos cotidianos dos alunos, como o futebol, com as matérias lecionadas em sala de aula. Assim, para compor os objetivos específicos temos: compreender o uso do podcast como ferramenta nos ambientes escolares para o aprendizado de assuntos geo-históricos e políticos; produzir uma série de podcasts articulando os conteúdos de Geo-História e Política com futebol; averiguar se os alunos faziam uso do podcast no seu dia a dia e observar a aprendizagem dos alunos com os episódios de podcast complementares às aulas.

Esta pesquisa propôs a criação de episódios de podcast com uma temática que aborda o futebol como pano de fundo para complementação de conteúdos geo-históricos e políticos a fim de melhorar a compreensão das matérias lecionadas em sala de aula.

De acordo com González (2020, p. 2), a abordagem do estudo foi qualitativa e quantitativa. A pesquisa teve embasamento teórico em livros, artigos e documentários em vídeo para a elaboração dos roteiros e produção dos podcasts. Após prontos, os episódios foram disponibilizados em agregadores de podcasts na web e o link liberado aos alunos na plataforma de estudo deles. Foi aplicado um questionário para averiguar o quanto os alunos fazem uso de podcasts; ao longo das semanas de disponibilização dos episódios, foram feitas nas aulas perguntas sobre o grau de interesse deles em relação ao conteúdo e à forma de apresentação. Ao fim da pesquisa, foi realizado um quiz com ranking numa plataforma de jogos online para examinar a assimilação do conteúdo proposto.

O presente artigo está organizado da seguinte forma: Introdução; Podcast na educação; Produção do podcast; Futebol, Geo-História e Política: podcast Além das Quatro Linhas; Coleta de dados sobre o uso do podcast no ambiente de sala de aula; Análise dos dados sobre a compreensão do conteúdo nos episódios do podcast; Considerações finais; e Referências.

Podcast na educação

Nesses tempos sombrios causados pela pandemia da covid-19 que assolou a população mundial, percebe-se que, dentre algumas ferramentas utilizadas na web para auxílio na assimilação de conteúdos escolares, o podcast ganhou notoriedade por muitos educadores. Ele já vem sendo utilizado há quase três décadas; a palavra “surgiu com Adam Curry em 1994 e resulta da junção do termo iPod (dispositivo de reprodução de áudio/vídeo da Apple) e broadcast (método de transmissão ou distribuição de dados)” (Cruz, 2009, p. 66). É importante destacar que, nos últimos anos, a procura por essa mídia aumentou muito para um público de várias faixas etárias e gêneros. Atualmente, os jovens recorrem ao podcast em busca de assuntos de seus interesses particulares. De acordo com Sousa et al. (2008, p. 43), têm-se a seguinte definição para podcast:

É a publicação de conteúdos de áudio na internet que, através da subscrição de “Feeds/RSS”, ficam disponíveis para serem descarregados para agregadores, como oiTunes, ou para outros dispositivos móveis, como smartphones, iPods etc., possibilitando a sua audição em qualquer lugar e em qualquer momento (SOUSA et al., 2008, p. 43).

Nessa perspectiva, o professor pode se aproveitar do podcast como recurso tecnológico e mostrar aos alunos como é possível assimilar conteúdos curriculares com essa ferramenta, como comenta Cruz (2009). Botton et al. (2017, p. 2) reforçam que o “emprego do podcast como ferramenta didática pode levar à desconstrução do modelo paradigmático agregado à figura do professor como detentor exclusivo do conhecimento”, pois isso potencializa ao educando ser agente participante e interessado nessa construção de conhecimento, em que ele pode comentar com outros estudantes os conteúdos, bem como interagir com o professor em sala de aula. Cabe ao professor, assim, estimular esse diálogo entre a ferramenta e o ambiente escolar, seja presencial ou online.

Em busca realizada em agregadores de áudio na web, percebe-se que já existem vários podcasts que tratam do assunto futebol associado a diversas áreas de conhecimento, como as tratadas neste estudo. O autor da pesquisa criou a série Além das Quatro Linhas tendo como inspiração a audiência de vários desses podcasts em agregadores de áudio como o Spotify. São exemplos: Pontapé Inicial, com José Trajano e Dudu Monsanto; Muito Mais que Futebol, com Mauro Cézar Pereira e Lúcio de Castro; e Fronteiras Invisíveis do Futebol, com Filipe Figueiredo e Matias Pinto. Dessa forma, unindo um tema de conhecimento popular como o futebol a um podcast escolar, é possível criar afinidade entre o ouvinte (aluno) e os conteúdos ali abordados (Rezende Filho, 2020, p. 11).

A utilização de podcasts no ambiente escolar é muito difundida em alguns países do mundo, ficando mais acentuada nesse contexto de pandemia global, Gill (2016, p. 3) comenta que

a utilização de podcasts é ampla em atividades escolares em países como Portugal, Estados Unidos e Alemanha, apesar de ser pouco conhecida fora do nicho geek, gíria da língua inglesa que define aquele que se interessa profundamente por tecnologia, internet e cultura nerd. Desde o ensino de música ao de línguas estrangeiras, da Educação Infantil ao nível superior há relatos de experiências e artigos científicos promovendo a discussão sobre a presença das TDIC nas salas de aulas.

Outra amostra de utilização de podcasts na escola é a construção de uma web-rádio. Um exemplo prático dessa aplicação se deu numa escola primária portuguesa com alunos de 9 a 11 anos, em que foram desenvolvidos os seguintes objetivos:

implementar/dinamizar uma web-rádio ao serviço da comunidade educativa local; realizar programas educativos de rádio de natureza interdisciplinar; produzir conteúdos de áudio em formato podcast (entrevistas, reportagens, documentários, noticiários); explorar as potencialidades das tecnologias web 2.0 a serviço da educação e da comunicação (Diegues et al., 2010, p. 10).

Os podcasts mostram-se uma excelente ferramenta de apoio aos conteúdos estudados em sala de aula, e as experiências em escolas de várias partes do mundo confirmam isso; portanto, a introdução desse recurso tecnológico nas escolas com auxílio de assuntos cotidianos como o futebol contribuirá de forma significativa na educação do presente e do futuro.

Produção do podcast

O processo de criação do podcast é trabalhoso e exigiu operação de aplicativos de edição de áudio, mas, ao mesmo tempo, é prazeroso em sua elaboração. Na disciplina Software Educacional e Tecnologia da Informação e Comunicação, da pós-graduação em Tecnologias Digitais Aplicadas ao Ensino, foi utilizado nas aulas o programa Audacity, que apresenta várias funções interessantes, como “copiar, recortar, colar, misturar; adicionar efeitos de amplificação, fade in e out, reverberação, eco, além de fazer tratamento do som ao nível da equalização” (Sousa et al., 2008, p.46). Esse software começou a ser utilizado em 1999 por Dominic Mazzoni e Roger Dannenberg na norte-americana Carnegie Mellon University; foi lançado em 28 de maio de 2000 como versão 0.8.

Depois das etapas de roteirização e gravação e de os episódios ficarem prontos, estes precisavam ser hospedados em algum site que fizesse a distribuição para os agregadores de conteúdo na web. O site escolhido para isso foi o Anchor, por ser gratuito e de fácil manuseio. Ele surgiu em 2015 como uma pequena startup que oferecia o jeito mais fácil de gravar um podcast.

O agregador escolhido foi o Spotify, pois, na pesquisa feita anteriormente com os alunos, detectou-se que é o mais utilizado por eles (43%). Mas o podcast foi ofertado em outros agregadores, tais como: Deezer, Google Podcast, Apple Podcast etc. O Spotify é um serviço de streaming de música, podcast e vídeo que foi lançado oficialmente em 7 de outubro de 2008. É o serviço de streaming mais popular e usado do mundo.

Futebol, Geo-História e Política: o podcast Além das Quatro Linhas

Os episódios do podcast Além das Quatro Linhas podem ser acessados no link: https://bityli.com/jwEpe. A Figura 1 apresenta a capa da série dos podcasts.

Figura 1: Capa do podcast Além das Quatro Linhas

A escolha dos temas para produção dos podcasts está relacionada diretamente com os planos de aulas da disciplina. Além disso, eles deverão dialogar com os assuntos inerentes à sala de aula dos alunos pesquisados, tais como: Geografia, História e Política, transitando pelas dificuldades desses estudantes no entendimento dessas matérias, inserindo o futebol como parte integrante de seu cotidiano; com isso, o podcast, ligando essas temáticas, pode evidenciar o interesse deles e proporcionar melhora na compreensão desses conteúdos.

Foram delimitados nesta pesquisa alguns conteúdos geo-históricos e políticos que tivessem integração com acontecimentos da História do tempo presente. O primeiro a ser pensado foi a ditadura na América do Sul, que Martolio (2014) define como

um regime de governo autoritário no qual todos os poderes do Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário) se concentram num único indivíduo ou num só grupo ideológico ou num despótico partido político. Portanto, uma ditadura é um regime antidemocrático em que não existe a participação nem a voz do povo (Martolio, 2014, p. 13).

Essa temática permeia dois episódios do podcast Além das Quatro Linhas. São dois exemplos: episódio Colo-Colo, que mostra a relação entre a ditadura de Augusto Pinochet e aquele clube chileno nas décadas de 1970-1980, e o episódio Brasil, em que se observa a ligação entre os governos militares da ditadura brasileira (1964-1985) e a exploração da paixão popular pelo futebol.

Outro conteúdo importante e contextualizado com o futebol é o fascismo. O conceito de fascismo é explicado por Martolio (2014, p. 38):

é uma palavra derivada de fascio (aliança ou federação) que descreve o regime autoritário criado na Itália por Benito Mussolini em 23 de março de 1919. No início, definia as unidades de combate; a partir de 1921, o ideal do Partido Nacional e, finalmente, o governo que durou até o fim da Segunda Guerra Mundial.

O próprio Martolio (2014, p. 27) afirma que Mussolini foi o primeiro ditador a usar o futebol na efetivação de políticas populistas e a observar que a Copa do Mundo de Futebol poderia ser uma propaganda para seu governo junto ao restante do mundo, assunto que foi desenvolvido no episódio Lazio do podcast. Importante ressaltar também que o General Franco, na Espanha, usava o futebol para se tornar mais popular entre os cidadãos. Era um fanático torcedor do Real Madrid e, por consequência, nutria ódio pelo rival Barcelona (também por razões políticas) e com isso usava toda a sua força ditatorial contra a cidade separatista (Foer, 2015, p. 176), temática detalhada no episódio Barcelona do podcast.

Outro ponto significante é abordado no episódio Celtic X Rangers do podcast: é o fator geo-histórico e político ligado ao futebol, retratado pela rivalidade entre esses dois clubes escoceses que têm associação com uma disputa religiosa e territorial na Grã-Bretanha. Sobre isso Foer (2015, p. 38) discorre:

as partidas entre os oponentes da mesma cidade constituem as datas mais inflamáveis do calendário. Essa rivalidade gera histórias de horror relacionadas ao futebol: empregos negados por causa da fidelidade ao adversário; torcedores assassinados por usarem o uniforme errado no bairro errado. Mas a competição entre o Celtic e o Rangers representa algo mais que uma inimizade entre vizinhos: trata-se de uma luta pendente em torno da Reforma Protestante.

A prática de ensino de Geografia que não se aproxima do cotidiano dos alunos faz com que eles tenham dificuldade de entender esses assuntos. A inclusão de novas tecnologias e metodologias pode ser uma ferramenta para os professores. Cavalcanti (1998) já alerta:

Para se refletir sobre a construção de conhecimentos geográficos, na escola, deve-se passar pelo papel e pela importância da Geografia para a vida dos alunos. Há um certo consenso entre os estudiosos da prática de ensino de que esse papel é o de prover bases e meios de desenvolvimento e ampliação da capacidade dos alunos de apreensão da realidade… O conhecimento geográfico é, pois, indispensável à formação de indivíduos participantes da vida social à medida que propicia o entendimento do espaço geográfico e do papel desse espaço nas práticas sociais (Cavalcanti, 1988, p. 11).

Por isso é importante o uso de podcast como ferramenta para contextualizar esse conteúdo ao cotidiano dos estudantes, pois poderá torná-los parte integrante do espaço geográfico em que vivem. A utilização dessa ferramenta é favorável porque não ocupa muito espaço da memória dos smartphones e o seu download é bem rápido para ouvir remotamente. Destaca-se também que tanto o professor quanto os alunos se sentiram envolvidos pelo novo dispositivo associado às aulas.

Coleta de dados sobre o uso do podcast no ambiente de sala de aula

Inicialmente, foi aplicado um questionário aos alunos para identificar o quanto eles ouviam podcasts; a intenção era compreender se eles tinham conhecimento dessa tecnologia digital, se faziam uso no dia a dia e como utilizavam. Esse questionário encontra-se no Quadro 1. O objetivo inicial foi aplicar o questionário para as duas turmas do 3º ano do Ensino Médio, com 80 alunos, de uma escola estadual no município de Iguaba Grande. Desse total, 63 alunos responderam o questionário de maneira participativa e indicaram entusiasmo nos comentários que ficaram registrados no ambiente virtual de aprendizagem (AVA), pois eles, desde o ano de 2020, exteriorizaram pouca interação e não eram muito comunicativos no ensino remoto. Isso se mostrou relevante na pesquisa, porque indicou que os alunos conheciam a mídia e de que maneira eles faziam uso dela.

Quadro 1: Perguntas aplicadas no Google Forms

Perguntas do formulário para conhecer os alunos antes da divulgação do podcast

1) Gênero? a) Feminino b) Masculino c) Prefiro não informar.

2) Você sabe o que é um podcast? a) Sim b) Não.

3) Você tem o hábito de ouvir podcasts? a) Todos os dias b) 3 vezes ou mais por semana c) Uma vez por semana d) Raramente e) Nunca ouvi.

4) Qual o principal agregador onde você ouve podcasts? a) Spotify b) Soundcloud c) Deezer d) Google Podcast e) Apple Podcast f) Castbox g) Outros.

5) Que tipo de assunto tratado em podcasts estimula a sua curiosidade? a) Futebol b) Política c) Educação d) Música e) Variedades f) Religião g) Notícias h) Outros.

6) Você acha que um podcast mesclando futebol, Geografia, História e Política despertaria seu interesse para escutá-lo? a) Sim b) Não.

7) Você acha que um podcast te motivaria a rever conteúdos aplicados em sala de aula? a) Sim b) Não.

A primeira pergunta foi sobre o gênero dos estudantes; 60% foram do sexo feminino e 40% do sexo masculino. Essa maioria feminina foi importante no decorrer da pesquisa, pois questiona a ideia de que as meninas não gostam de futebol em função das respostas delas em outras etapas da pesquisa que tinham perguntas abertas e que analisaremos mais adiante.

Figura 1: Lado esquerdo: Gênero. Lado direito: Hábito de ouvir podcast

A segunda pergunta do questionário foi sobre o conhecimento do recurso tecnológico utilizado na pesquisa, o podcast. A unanimidade na resposta “sim” trouxe tranquilidade para o transcorrer do processo de construção do trabalho e demonstrou também que os alunos estão atentos às novidades tecnológicas do mundo atual. Mas, mesmo que estejam antenados com as atualidades, muitos não estão alcançando os conteúdos, já que, na pergunta sobre o hábito de ouvir podcasts, 60% responderam ouvir raramente, 11% nunca ouviram e apenas 6% ouvem todos os dias.

Figura 2: Lado esquerdo: Principal agregador utilizado. Lado direito: Que assunto estimula a curiosidade?

Dando continuidade ao questionário, a quarta pergunta foi sobre o principal agregador de podcast utilizado pelos estudantes para ouvir conteúdos. Dos que ouvem, 43% utilizam o Spotify; os outros 57% se dividem em plataformas variadas na web. A próxima pergunta traz os assuntos que estimulam a curiosidade dos alunos em podcast. Também houve uma divisão nas respostas; os mais citados foram variedades, com 30%, e música, com 27%. Além disso, futebol aparece com 6%, educação com 6% e política com 3%; assuntos que envolviam a temática dos episódios podcast “Além das Quatro Linhas”, foram pouco citados.

Gráfico 3: Lado esquerdo: Podcast mesclando futebol e conteúdos desperta interesse? Lado direito: Podcast motiva a revisar conteúdos?

Finalizando esse primeiro questionário, foram feitas duas perguntas mais incisivas sobre o objetivo geral da pesquisa. A primeira indagando se um podcast mesclando Futebol, Geografia, História e Política despertaria o interesse deles para ouvir assunto; 62% responderam que sim e 38% que não. Essa sinalização no questionário evidenciou que estávamos no caminho, o que potencializou a continuidade do trabalho. A última indagação se refere a um podcast que os motivaria a revisar conteúdos apresentados em sala de aula. O percentual foi quase o mesmo da pergunta anterior: sim para 64% e não para 36%, o que demonstra que os estudantes têm interesse em conhecer mais os conteúdos associados a novos recursos tecnológicos.

Durante a disponibilização dos episódios na plataforma que os alunos utilizam para estudos remotos (Google Classroom), a cada semana foram feitas perguntas abertas para eles; as respostas foram importantes e fundamentais pelos feedbacks dados pelos estudantes, que auxiliarão na criação dos próximos episódios. A seguir apresentam-se as perguntas.

Quadro 2: Perguntas lançadas aos alunos após cada episódio

Perguntas lançadas aos alunos após cada episódio

1. Diga nos comentários como foi a sua impressão. Gostaram ou não do podcast?

2. O podcast está sendo claro na exposição do assunto?

3. O tempo do podcast está adequado? Deveria ser maior ou menor?

4. Que temas posso utilizar numa segunda temporada?

5. Que outro assunto poderia ser interessante associar aos conteúdos geo-históricos para a produção de podcasts?

Os alunos manifestaram interesse pelos podcasts e isso foi apontado pelas respostas apresentadas nas aulas virtuais semanais. Na primeira pergunta, os alunos mostraram interesse no podcast e uma primeira impressão favorável à proposta da nova mídia. “Gostei bastante, professor. Bem interativo e informativo”, respondeu um aluno. Outro estudante disse que “foi muito mais fácil entender a matéria, explicação ótima” – o que foi excelente saber, porque o objetivo da inserção dessa nova ferramenta é melhorar o entendimento dos conteúdos. Já a ideia de combinar assuntos cotidianos com conteúdos escolares também foi destacada por um estudante: “adorei essa metodologia de mesclar os assuntos, estudar assim ficou bem mais interessante”. Sobre o propósito de usar o futebol para falar sobre conteúdos escolares, um aluno respondeu que gostou do podcastporque fala de um assunto que me interessa, o futebol”, enquanto uma estudante afirmou: “Eu gostei bastante do podcast, professor. Apesar de não gostar muito de futebol, achei muito interessante a maneira como o assunto foi abordado”.

Na segunda pergunta (o podcast está sendo claro na exposição do assunto?), a maioria dos estudantes afirmou que estava clara a exposição do assunto, como este: “o podcast está bem legal, muito bem explicado. Está dando para entender bem o assunto”. Mas é importante destacar a resposta de uma aluna, que indicou um aspecto dando uma sugestão que será praticada numa próxima temporada: “Sim, está sendo claro, mas poderia ter uma pequena introdução”. A estudante fez uma crítica pertinente, pois a enunciação dos temas a serem trabalhados no episódio convida o ouvinte a ficar até o final ao saber desde o início do áudio o que escutará. “Dessa forma, ficará mais fácil de nos localizarmos no conteúdo e no período histórico”. É excelente quando há essa interação entre docente e discente, pois é uma relação de troca, em que todos aprendem.

A terceira pergunta (o tempo do podcast está adequado, deveria ser maior ou menor?) foi a que demonstrou mais heterogeneidade. A grande maioria dos alunos respondeu que o tempo estava adequado. “Sim, se for mais que isso, o podcast enjoa. Se for menos, acaba não sendo tão explicativo”, disse um estudante; outro relatou “estão bem legais, acho que sete minutos é o ideal, pois dá para entender muito bem o que você quer nos passar e não fica tão enjoativo”. Os episódios têm duração entre 7 a 10 minutos, mas, como há a dificuldade de agradar a todos, alguns indicaram que o podcast poderia ser maior e outros falaram que poderia ser menor. Um ponto a se destacar é que o podcast sai do lugar comum das salas de aula, sejam virtuais ou presenciais, que é a exposição do conteúdo pelo professor com o auxílio de um texto ou vídeo e logo depois exercícios de fixação, como menciona esse aluno: “Sim, assim não fica muito longo e chato. Nesse tempo está ótimo e é mais legal do que as outras aulas que são apenas deveres”.

Na quarta pergunta (que temas posso utilizar numa segunda temporada?), algumas contribuições foram muito pertinentes. Uma aluna fez um comentário sobre abordar filmes e documentários que tratam da relação do futebol com a Geo-História. Outro tema sugerido foi a Guerra da Coreia, que impactou as relações sociais dos dois países, mas também afetou o esporte, pois dividiu a força esportiva entre os dois. Outra resposta foi marcante: “Gostaria que falasse sobre dados históricos da arte", pois nos faz refletir sobre o momento vivenciado em nosso país e como a arte ainda é muito importante e resistente. Por último, uma observação importante de um estudante foi: “Acho, então, pertinente continuar usando temas que tenham esse mesmo apelo, como músicas e bandas”, porque há também vários artistas e músicas que fazem essa correlação entre Geo-História e Política com os temas musicais.

Por fim, na última pergunta (que outro assunto poderia associar aos conteúdos geo-históricos e políticos para a produção de podcasts?), obtiveram-se algumas sugestões, como “dinâmica urbana, produção, circulação e moradia”, assuntos muito importantes para a Geografia, “Geografia Humana e a descrição da interação entre a sociedade e o espaço na política”, situação muito bem colocada por uma estudante, e a sugestão mais próxima da proposta do podcast: “Seria interessante se o senhor contasse a história do Cartel de Medellín no próximo podcast, pelo fato de ser um assunto que atrai minha atenção”, pois a relação entre futebol, poder, política e tráfico de drogas foi muito forte na Colômbia.

Em suma, a contribuição dos alunos nas respostas a essas perguntas semanais foi de muita relevância, pois mostrou novas possibilidades para diversificar a estrutura dos podcasts em relação à primeira temporada. Como o objetivo principal da pesquisa é a melhora na compreensão dos conteúdos, esse retorno demonstra o interesse dos alunos, a clareza dos temas propostos, se o tempo de cada episódio está adequado e possíveis sugestões de assuntos para uma próxima temporada do podcast.

Análise dos dados sobre a compreensão do conteúdo nos episódios do podcast

Para a aferir se houve compreensão dos conteúdos propostos nos episódios do podcast Além das Quatro Linhas e assimilação da matéria, foi apresentado ao fim do episódio “Brasil”, um quiz no aplicativo Kahoot!, que, para Wang in Bottentuit Junior (2017),

conectado a uma tela grande, é um jogo baseado em respostas dos estudantes que transforma temporariamente uma sala de aula em um gameshow. O professor desempenha o papel de um apresentador do jogo e os alunos são os concorrentes. O computador do professor mostra perguntas e respostas possíveis, e os alunos dão suas respostas o mais rápido e correto possível em seus próprios dispositivos digitais (Bottentuit Junior, 2017 p. 1.594).

Alguns professores-alunos utilizaram essa plataforma em algumas atividades ao apresentar trabalhos nas aulas da pós-graduação em TDAE cursada. O Kahoot!mostrou-se um software que promove o engajamento dos alunos, porque, além de ser interessante, dinâmico, jovial, funciona como um game, ainda mais num contexto em que o diálogo no ensino remoto é limitado e entediante. Sobre isso, Lemos Filho e Brizzi (2018) discorrem:

As estratégias utilizadas por meio da gamificação podem contribuir para potencializar o desenvolvimento de habilidades e competências, e por isso os jogos digitais podem ser interessantes para interpretação e análise da temática trabalhada, pois partirá de um desafio e se tornará um processo de construção do conhecimento de forma lúdica (Lemos Filho; Brizzi, 2018, p. 11).

Para essa atividade interativa, foram elaboradas onze perguntas, todas de múltipla escolha; a cada episódio, duas são relacionadas a ele. Além disso, há uma pergunta final testando o conhecimento geral sobre os assuntos abordados nos episódios dos podcasts. No Quadro 3 apresentam-se as perguntas do quiz.

Analisando os resultados do quiz doKahoot!disponibilizado na plataforma de estudos dos alunos de forma assíncrona, de que participaram 40 alunos, ou seja, metade do total de estudantes, o resultado foi satisfatório, pois houve 50% de acertos nas questões, demonstrando que, mesmo sendo uma novidade para eles, muitos conseguiram assimilar parte do conteúdo. Um estudante conseguiu 100% de acertos, o que é elogiável. Outro ponto a se destacar é que quinze alunos (38%) não conseguiram completar o questionário, tanto por terem dificuldade com a plataforma quanto por problemas com a conexão da web.

É importante salientar que um aluno que participou da pesquisa não conseguiu acessar todas as etapas do trabalho (sondagem, feedbacks e Kahoot!). Isso mostra que há alguns estudantes que têm dificuldades e limitações de acesso à web, identificando uma diferença social até mesmo dos alunos das escolas públicas.

A atividade desenvolvida no Kahoot! evidenciou que os estudantes se mostraram bastante entusiasmados com o jogo e ficaram ainda mais motivados por causa da disputa entre eles. A promoção dessa atividade fez com que eles desenvolvessem rapidez de raciocínio relacionada ao conteúdo assimilado. Como a aplicação do jogo foi assíncrona, não houve intervenções do professor no decorrer da atividade. As dúvidas ocorridas e as facilidades/dificuldades dos alunos com o jogo foram eliminadas com trocas de mensagens entre o professor e os estudantes via plataforma de estudos remotos.

Quadro 3: Quiz aplicado no Kahoot! para verificação e compreensão do conteúdo

Perguntas do quiz aplicadas no Kahoot!

1) O ditador fascista na Espanha chamava-se: a) General Franco b) General Geisel c) General Pinochet d) General Médici.

2) Foram exemplos de políticas ultranacionalistas e autoritárias no mundo, exceto: a) Nazismo na Alemanha b) Franquismo na Espanha c) Fascismo na Itália d) Democracia no Brasil.

3) O único local onde a cultura e a língua catalã eram permitidas na época da ditadura na Espanha foi: a) Estádio Santiago Bernabéu b) Estádio Vicente Calderón c) Estádio Camp Nou d) Estádio Sarriá.

4) O presidente deposto num golpe militar no Chile e o general principal responsável por esse golpe são, respectivamente: a) Augusto Pinochet e Victor Jara b) Victor Jara e Salvador Allende c) Gabriel Batistuta e Claudio Caniggia d) Salvador Allende e Augusto Pinochet.

5) No Estádio Nacional de Chile ocorreram alguns eventos que marcaram a História do país, exceto: a) Foi usado como local de prisão e torturas b) Local do discurso de renúncia do ditador chileno c) Palco do jogo entre Chile e URSS em que o Chile vence por W. O. d) Local da morte do principal cantor chileno da época, Victor Jara.

6) No Brasil, que estádio foi usado para prisões e torturas na Época da Ditadura Militar? a) Estádio Caio Martins b) Estádio São Januário c) Estádio Alair Corrêa d) Estádio Nilton Santos.

7) O clássico entre Rangers X Celtic na Escócia tem sua rivalidade motivada, além da parte futebolística, por: a) Questões religiosas b) Questões políticas c) Questões sociais d) Todas as respostas estão certas.

8) O Celtic e o Rangers, clubes escoceses, têm suas torcidas ligadas às seguintes religiões, respectivamente: a) Catolicismo e protestantismo b) Protestantismo e islamismo c) Islamismo e catolicismo d) Hinduísmo e budismo.

9) O ditador fascista que governou a Itália entre 1922 e 1945 chamava-se: a) Adolf Hitler b) Benito Mussolini c) Augusto Pinochet d) Francisco Franco.

10) Durante as Copas de 1934 e 1938, o ditador fascista italiano deu uma ordem aos jogadores do país. Que ordem foi essa? a) Vim, vi e venci b) Independência ou morte c) Vencer ou morrer d) Diga ao povo que fico para ver a copa.

11) São características de uma ditadura, exceto: a) Governo autoritário concentrado num único indivíduo b) Intolerância à oposição política c) Regime antidemocrático sem a participação do povo d) Voto popular.

12) O movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais com voto popular no Brasil, ocorrido entre 1983 e 1984, chamou-se: a) Volta, democracia b) Diretas já c) Democracia corintiana d) O gigante acordou.

Considerações finais

Na condição de professor de Geografia, ficou evidenciada a proeminente contribuição da ciência geográfica para o entendimento do ciberespaço. Ao enxergar que a Geografia é um importante canal analítico dessa nova realidade, certificamos que esta pesquisa pretende ser o início de uma atividade proveitosa na construção de um espaço de mediação, em que o conhecimento tecnológico esteja conciliado com o saber teórico-metodológico do processo educativo. Citando o grande educador Paulo Freire (1987, p. 40) em sua obra Pedagogia do Oprimido: “quanto mais se problematizam os educandos, como seres do mundo e com o mundo, tanto mais se sentirão desafiados. Tão mais desafiados, mais obrigados a responder aos desafios”.

Sendo assim, os objetivos desta pesquisa foram alcançados, haja vista que os estudantes acompanharam todas as etapas com animação, interagindo com o professor e com o recurso tecnológico de maneira satisfatória. A assimilação da proposta do trabalho e dos conteúdos foi adequada para um primeiro acesso a um diferente modo de expor as matérias.

Todas as três hipóteses propostas pela pesquisa se confirmaram. O uso do podcast inserindo o tema futebol despertou o interesse dos discentes pelos conteúdos indicados pelo professor. A aproximação dos conteúdos geo-históricos e políticos com o futebol também permitiu aos alunos aprendê-los pela associação entre eles, o que foi um ganho em sala de aula. Por fim, os estudantes sentiram-se mais motivados a rever os conteúdos abordados em sala de aula por meio do podcast, situação que foi confirmada pelos feedbacks dos alunos, principalmente quando eles comentam nesse retorno que a ferramenta é muito interessante e sai da rotina do ensino remoto emergencial, que se baseia no tripé “videoaula, texto e exercícios”, como foram evidenciados nas falas deles.

A difusão dos episódios de podcast como ferramenta tecnológica de divulgação de informação entre os alunos foi capaz de contribuir para ampliar as formas de compreensão dos conteúdos de Geo-História e Política deles, bem como de se tornar um ambiente permanente de trocas de saberes, até mesmo associando-se a outros professores, com possibilidades de pesquisas futuras utilizando o podcast como objeto de estudo.

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Publicado em 19 de julho de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

FERNANDES JUNIOR, José Peres; TEIXEIRA, Risiberg Ferreira; MONTEIRO, Evelyn Morgan. Além das Quatro Linhas: potencializando conteúdos geo-históricos e políticos com a inserção do futebol por meio do uso de podcasts. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 26, 19 de julho de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/26/alem-das-quatro-linhas-potencializando-conteudos-geo-historicos-e-politicos-com-a-insercao-do-futebol-por-meio-do-uso-de-podcasts

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