Mini-histórias: cenas do cotidiano das escolas de educação infantil como foco de pesquisa, reflexão e comunicação

Alessandra Pereira Pedroso

Mestra em Programa de Pós-Graduação em Educação, pedagoga (Unisinos), especialista em Educação Socioambiental (Feevale), professora de Educação Infantil na rede municipal de São Leopoldo/RS

Pâmela Franciele Nunes Cuty

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação, pedagoga (Unisinos), professora e coordenadora pedagógica de Educação Infantil da rede municipal de Ivoti/RS

O livro Mini-histórias: rapsódias da vida cotidiana nas escolas do Observatório da Cultura Infantil - OBECI é endereçado às escolas e aos/às profissionais atuantes na Educação Infantil, com o objetivo de compartilhar as reflexões e práticas desenvolvidas no OBECI, “uma comunidade de apoio ao desenvolvimento profissional” (p. 9) e de construir uma instituição mais generosa às crianças. Organizado pelo coordenador do Obeci, professor doutor Paulo Fochi, conta também com a autoria de quinze profissionais da Educação, dentre elas professoras, diretoras e coordenadoras pedagógicas.

O autor organiza a obra da seguinte forma: utiliza a mini-história Tempo de colheita na abertura; depois faz uma apresentação e, em seguida, apresenta cinco capítulos divididos em subtítulos. Os fragmentos poéticos da vida cotidiana nas escolas de Educação Infantil que compõem o livro são acolhidos pelo texto inicial Tempo de colheita, elaborado pelo organizador. Fochi usa o termo colheita com base na etimologia da palavra como “colher em companhia”. Dessa forma, entende-se que a obra foi elaborada por pessoas que colheram histórias e buscam compartilhar suas experiências com o/a leitor/a.

Na Apresentação, participantes do grupo explicam do que se trata o livro. Primeiramente, relatam a composição e o trabalho desenvolvido pelo Obeci. Posteriormente, discorrem sobre cada capítulo e, para finalizar, expressam o que desejam a partir do estudo da obra: que o mundo infantil e o mundo adulto possam se aproximar e assim “construir uma escola melhor e mais acolhedora para todos os meninos e as meninas” (p. 10).

O primeiro texto, escrito por Fochi, intitula-se As mini-histórias como um conceito de narrativa pedagógica. O autor discorre sobre como o conceito de mini-histórias é compreendido pelo Obeci e como a documentação pedagógica é entendida como “uma estratégia para a construção do conhecimento praxiológico” (p. 12). Para esse entendimento, o autor diferencia documentar de documentação e de documentação pedagógica. Fochi explica o surgimento desse tipo de texto em Reggio Emilia e as inspirações que estruturam as mini-histórias no Obeci como “um processo de revisitação dos observáveis produzidos pelos professores” (p. 19). Com esse exercício, os/as docentes extraem sentidos das cenas, construindo a narrativa com texto e imagem e, assim, se autoformam no processo, fazendo escolhas que entendem ser parciais e provisórias e tornando visíveis rapsódias da vida cotidiana. Dentre as considerações finais sobre os desdobramentos dessa escrita, o autor apresenta um Pequeno guia para elaboração de mini-histórias, em que destaca resumidamente as etapas: produzir observáveis, revisitá-los, fazer a escolha do que contar, identificar a chave de leitura, organizar as imagens, escrever, ler e refletir sobre o narrado, oferecer para que outro possa fazer a leitura, reescrever se houver necessidade, e compartilhar.

O texto As mini-histórias e os processos de formação em contexto: o papel do coordenador pedagógico foi elaborado por Alexandra Bitencourt, Carolina Kussler, Cristiane dos Santos, Liliane Ceron, Luciane Varisco, Fochi e Vanessa Pauli. Esse capítulo oferece as vivências formativas de coordenadores/as pedagógicos/as e professores/as em relação às mini-histórias, mostrando a importância de um processo formativo conectado ao contexto pedagógico e sua transformação. Escutar as crianças mostra-se uma ação essencial no processo educativo para, posteriormente, ocorrer a elaboração das mini-histórias. O autor e as autoras apontam que suas teorias de base são sustentadas nas pedagogias participativas, pois estas respeitam as especificidades das crianças e dos/as professores/as para a construção do cotidiano pedagógico. Discorrem também sobre o contraste do cotidiano como prática de reflexão constante, a fim de gerar a transformação dos contextos conforme as necessidades, buscando criar bem-estar tanto das crianças quanto dos adultos que ali habitam diariamente. O papel da coordenação pedagógica mostra-se essencial, pensando a formação profissional no contexto da instituição, mobilizando os/as professores/as à compreensão dos processos de aprendizagem, suspeitando do já conhecido e usual. Além disso, o texto dispõe sobre aprender em companhia, coordenador/a pedagógico/a e professores/as. A elaboração de mini-histórias possibilita os processos de reflexão coletiva e individual, construindo a identidade profissional de cada um/a. O texto também apresenta narrativas das escolas que participam do Obeci acerca do processo formativo a partir da construção das mini-histórias como ferramenta de comunicação e reflexão. Como fechamento, o autor e as autoras utilizam O patrimônio partilhado para explicar como ocorre a interação comunicativa entre coordenação e professores/as para o planejamento semanal, para a produção colaborativa das mini-histórias, para o enriquecimento das vivências e das aprendizagens, a fim de construir um patrimônio cultural e reflexivo nos espaços da Educação Infantil.

Em As mini-histórias como instrumento de comunicação entre família e escola, escrito por Danielle Bressler, Gilneia Cavalheiro, Juliana Gallina, Fochi e Rafaela Flores, o autor e as autoras compreendem as mini-histórias como “um dos instrumentos de mudança utilizados para alavancar processos democráticos de circulação de saberes” (p. 88). A mini-história é um dos modos de comunicar às famílias, às crianças e a toda a escola o processo de aprendizagem das crianças dentro da escola, podendo compor com outras formas de comunicação, como portfólios entregues às famílias, mostras pedagógicas e relatos de desenvolvimento. Cada mini-história torna-se “um convite para olhar a beleza dos acontecimentos cotidianos” (p. 96).

O capítulo A construção de mini-histórias: a linguagem da fotografia, da narrativa e do design para a construção da comunicação, escrito por Alcione Júlio, Ivana Marques, Letícia Streit, Fochi, Samantha Ferreira e Viviane Heck, aborda questões inerentes à linguagem da fotografia: técnicas, composições e campos conceituais. Para capturar as imagens e os movimentos e realizar as anotações, é preciso ter escuta sensível e ativa, assim como compreensão dessas linguagens. Escolher as imagens e construir o texto é um trabalho minucioso e atento, passa pela intenção do que se pretende comunicar, pelas escolhas e pela organização estética de cada mini-história no que tange às informações gráficas e visuais, bem como o leiaute. Destaca-se que, na construção das narrativas, há a opção de o/a professor/a ser um/a narrador/a personagem, observador/a ou narrador/a onisciente. Assim, o texto oferece orientações de como elaborar as narrativas e quais elementos são essenciais para esse tipo de comunicação.

Para finalizar o livro, em Uma jornada de muitas histórias, Alexandra Bitencourt, Carolina Kussler, Cristiane Hauschild, Luciane Varisco, Rafaela Flores, Vanessa Pauli e Fochi retomam brevemente o que os textos anteriores trataram. A jornada educativa é narrada por meio de mini-histórias de cenas como a chegada, a acolhida, os momentos de alimentação (café da manhã, almoço e jantar), o brincar na sala de referência, o brincar no pátio, a sessão de investigação, o momento de higiene, o descanso, o despertar, o lanche da tarde, as conversas no pátio, uma sessão de brincar heurístico e a despedida.

A obra Mini-histórias: rapsódias da vida cotidiana nas escolas, do Observatório da Cultura Infantil – Obeci, organizada por Fochi, procura inspirar outros profissionais da Educação a fortalecer “uma nova imagem de criança, de docência e de escola” (p. 182), compreendendo a escola como lugar potente ao processo formativo conectado ao cotidiano educativo.

Referências

FOCHI, Paulo (org.). Mini-histórias: rapsódias da vida cotidiana nas escolas do Observatório da Cultura Infantil – OBECI. Porto Alegre: Paulo Fochi Estudos Pedagógicos, 2019.

Publicado em 19 de julho de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

PEDROSO, Alessandra Pereira; CUTY, Pâmela Franciele Nunes. Mini-histórias: cenas do cotidiano das escolas de educação infantil como foco de pesquisa, reflexão e comunicação. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 26, 19 de julho de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/26/mini-historias-cenas-do-cotidiano-das-escolas-de-educacao-infantil-como-foco-de-pesquisa-reflexao-e-comunicacao

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