Sequência didática para o ensino da Cinemática
Suelen Rocha Botão Ferreira
Professora de Estágio (Cespi), Universidade Estadual do Maranhão, professora de Genética (Unesa)
Welberth Santos Ferreira
Professor de Física, (UEMA, Câmpus Paulo VI)
A Cinemática consiste no estudo do movimento dos corpos e das partículas. O estudo do tema ocasiona uma certa dificuldade de compreensão nos alunos devido a miríade de equações envolvidas neste estudo. Sendo assim, devemos utilizar novas estratégias, visando facilitar o processo ensino-aprendizagem.
Para sanar essa fragilidade, antes da pandemia, aplicávamos uma aula atrativa fora da sala de aula, onde os discentes participavam ativamente, tornando-se assim conhecedores dos conceitos envolvidos. Com a chegada da pandemia, passamos a usufruir de outras ferramentas educacionais, tais como, aplicativos e atividades gamificadas. Assim, podemos dinamizar ainda mais nossas aulas tornando-as mais interativas aos nossos alunos através da utilização de smartphones (Ferreira, 2019).
Steve Jobs lançou, em 2007, o primeiro telefone inteligente (smartphone). Passados onze anos o smartphone avançou nos quesitos velocidade de processamento, armazenamento, simplicidade e aplicabilidade. Em 2018, os aplicativos WhatsApp e Facebook, concorrem, de forma direta, com operadores de telefonia, tornando muito comum as casas residenciais não possuírem mais a telefonia fixa, mas somente redes digitais móveis.
Hoje, o smartphone passou de um “meio de comunicação” para um meio de “integração”. Para termos uma ideia, em Portugal, a população totaliza 10 milhões e meio de pessoas e existem cerca de 12 milhões de aparelhos (Moura, 2018). Este exemplo nos revela que, mundialmente, temos mais smartphones do que pessoas.
O conjunto de tecnologias disponíveis podem ampliar as possibilidades de imersão em assuntos acadêmicos quando o seu uso é voltado para os processos de ensino-aprendizagem (BBC, 2021). Assim, os multimeios pedagógicos são ferramentas imprescindíveis para que se obtenha uma aprendizagem ativa, dinâmica e participativa, a fim de que os conteúdos transmitidos se tornem acessíveis e a compreensão mais eficiente (Moreno, 2014; Saccol, 2011). O educador, portanto, não pode manter-se preso somente a modelos tradicionais, como o quadro e o pincel. Estes, sim, são auxiliares e não devem ser esquecidos, mas defendemos que suas opções ocorrem em sala de aula. Assim, podemos pedir que os alunos usem os smartphones nas aulas ou podemos pedir para que os desliguem. A utilização da ferramenta tecnológica deixa a aula mais atraente ao aluno, principalmente no ensino de Ciências, antes tão maçante para a apresentação do tema “conjunto de equações”.
Atualmente, os smartphones tornaram-se computadores de mão, com os quais acessamos nossos e-mails, sites e contas bancárias. Enfim, deixaram de ser “telefones”, principalmente para os jovens que os têm no dia a dia (Canclini, 2005).
A introdução de novas tecnologias na área de Ciências torna nossa aula integrada tanto para os alunos que apreciam a disciplina quanto aos que buscam compreendê-la e não conseguem. A tecnologia dos celulares nos auxilia na apresentação da beleza por trás dos fenômenos e no primordial que é a aplicabilidade no cotidiano do aluno (Ferreira, 2021).
Neste trabalho, apresentamos como realizávamos a atividade “pré-pandemia” e como ela foi alterada neste período para ser ministrada remotamente.
Metodologia na aula presencial
Na aula presencial, o docente ficava estático entre os dois grupos (marco zero):
- divida um grupo de alunos em número igual. Caso seja ímpar, utilize um discente para efetuar as marcações na origem. Caso contrário, ficará a cargo do docente;
- efetue a marcação, via GPS, da distância (neste caso 200 metros). Na inexistência de relógio com GPS utilizar o próprio celular;
- verifique o comprimento total dos discentes enfileirados;
- cada discente terá que caminhar de seu ponto até a origem e efetuar a marcação do tempo gasto, até obter a velocidade;
- após a participação de todos, verificar a velocidade média obtida;
- resolva: Um grupo de alunos com comprimento total ___________ tem velocidade escalar média de _____________. Escreva a função horária das posições. Em seguida, calcule o tempo gasto para passar de um ponto A/B de 200m. até a origem de comprimento.
Metodologia na aula remota
Aula iniciada com a solicitação aos discentes que baixassem o aplicativo (app) Ciência dos Movimentos em sua loja virtual, gratuitamente. Em seguida, encaminhávamos, no chat da turma, a sequência descrita (parte 2). Cada discente, de forma independente e em sua residência, obtinha seus resultados.
Resultados e discussão
Um dos registros obtidos em aula presencial pode ser observado na Figura 1, com o consentimento do discente Paulo Souza.
Figura 1: Discente realizando atividade presencial na UEMA
Quando se estuda Ciências, diversos tópicos são considerados de difícil compreensão para os alunos. No estudo dos movimentos, incluem-se, por exemplo, a Cinemática, os vetores e as grandezas vetoriais. Esses tópicos, assim como outros, muitos estudantes têm dificuldades para dominar e/ou entender suas propriedades por métodos convencionais, tornando difícil a aplicação dos conceitos na resolução de diversos problemas.
O aplicativo Ciência dos Movimentos (Figura 2) é uma ferramenta desenvolvida para dispositivos móveis, um aplicativo mobile learning (m-learning) utilizado para apoiar o ensino-aprendizagem da Cinemática, tanto em sala de aula quanto em casa, e utilizado por professores e alunos. Focado no conteúdo do Ensino Médio, apresenta os conceitos básicos e as características principais dos tipos de movimento. O livro-aplicativo aborda o conteúdo de Cinemática escalar e vetorial.
Figura 2: Aplicativo Ciência dos Movimentos
A EvoBooks desenvolve conteúdo curricular enriquecido, oferecendo material didático e modelos 3D, interativos, para computadores, tablets, smartphones e lousas digitais, com o propósito de facilitar o processo de ensino-aprendizagem, levando às salas de aula uma evolução do livro didático impresso.
Diante do exposto, a simulação de fenômenos foi desenvolvida, conforme a Figura 3 apresenta. Estas abordagens enriqueceram e atualizaram as atividades de ensino, bem como expandiram as possibilidades de lecionar a respeito do conteúdo, na tentativa de aumentar o interesse dos alunos por Ciências, tornando o seu entendimento mais agradável.
Figura 3: Aplicativo em execução, exemplificando a trajetória do movimento
Considerações finais
Os resultados foram satisfatórios na aplicação da sequência didática, tanto no ensino presencial quanto no remoto. A participação ativa dos alunos, somada à interação professor-aluno, foi uma ferramenta facilitadora do processo. Ao se aplicar a metodologia, o professor deixa de ser o centralizador do conhecimento, tornando o aluno o ator principal. Ademais, observa-se um aumento considerável no grau de participação acrescido do engajamento dos participantes.
Referências
BBC. O que é a geração alfa, a 1ª a ser 100% digital. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2019/05/29/o-que-e-a-geracao-alfa-a-1a-a-ser-100-digital.ghtml. Acesso em: 15 maio 2021.
CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos conflitos multiculturais da globalização. 5ª ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005.
FERREIRA, W. S.; FILHO, M. C. B.; FERREIRA, S. R. B. Gamification applied to the Physics teaching. International Journal of Learning, Teaching and Innovation, v. 5, p. 318-321, 2019.
FERREIRA, W. S.; FILHO, M. C. B. Gamificação aplicada ao ensino de Física. São Luís: Eduema, 2021.
MORENO, A. C. Candidatos do ENEM estudam para as provas em grupos no WhatsApp. G1, São Paulo, 13 out. 2014.
MOURA, Adelina. Geração móvel: um ambiente de aprendizagem suportado por tecnologias móveis para a “Geração Polegar”. s/d. Disponível em: http://adelinamouravitae.com.sapo.pt/gpolegar.pdf. Acesso em: 3 mar. 2018.
SACCOL, A. S. E.; BARBOSA, J. M-learning e U-learning: novas perspectivas da aprendizagem móvel e ubíqua. São Paulo: Pearson, 2010.
Publicado em 26 de julho de 2022
Como citar este artigo (ABNT)
FERREIRA, S. R. B.; FERREIRA, Welberth Santos. Sequência didática para o ensino da Cinemática. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 27, 26 de julho de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/26/sequencia-didatica-para-o-ensino-da-cinematica
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