Recursos digitais aplicados na Educação Infantil

Matheus Carvalho do Nascimento

Mestre em Educação (UFF), pedagogo (UNIRIO), analista de sistemas (UCAM), servidor federal (Infes/UFF)

A tecnologia, nos últimos anos, evoluiu em velocidade impressionante e hoje se faz presente e fundamental no cotidiano dos indivíduos, ocasionando a necessidade de adaptação e mudança nos diversos setores da sociedade, seja na parte econômica, cultural ou científica.

Na educação não é diferente. Pode-se afirmar que a tecnologia é uma ferramenta que auxilia os professores em um de seus principais objetivos: a construção do conhecimento de seus alunos. Gabriel (2013) diz que “a análise dos impactos dessas tecnologias na educação é essencial para que possamos acompanhar as necessidades educacionais emergentes, de forma a evoluir para um modelo de educação adequado ao mundo digital” e não deixa de citar que um grande desafio das escolas é, justamente, não acompanhar a velocidade das mudanças do mundo digital.

Com o avanço tecnológico, o cotidiano das crianças mudou, assim como as formas de interagir com objetos e adquirir novas experiências. Este novo cenário fica mais evidente quando analisamos os seus números. Segundo a Cetic (2015), pelo menos 75% dos alunos possuíam computadores em suas residências e, na região Sudeste, mais de 72% das escolas públicas possuíam laboratórios de informática.

Os números expressivos, no que diz respeito ao avanço tecnológico das escolas nos últimos anos, não influenciam, por si só, os resultados alcançados nos processos de ensino-aprendizagem. Apartados de um contexto amplo, esses dados não melhoram o desempenho escolar das crianças e ainda esbarram em antigos problemas enfrentados pelas escolas como a falta de recursos para manter o funcionamento dos seus laboratórios, os mínimos investimentos em infraestrutura para que os recursos digitais possam ser utilizados no ambiente de ensino, a falta de incentivo à utilização de novas metodologias no ensino e na capacitação dos profissionais da educação. Tais problemas impedem que as tecnologias deixem de ser vistas como meros equipamentos e se transformem em fortes ferramentas de auxílio aos professores em sala de aula.

Conhecer esses números é tão importante quanto conhecer as escolas locais e as suas realidades, não só do ponto de vista técnico, mas, também, do profissional. Um dos principais pilares para se trabalhar a informática na educação é o professor. Conhecer a sua visão e os seus pensamentos são passos importantes para obter sucesso na utilização das tecnologias em sala de aula.

Alfabetização e letramento

É importante definir os conceitos de alfabetização e letramento para que seja simplificado qualquer estudo direcionado à Educação Infantil. Existem distintas definições para os referidos conceitos. No entanto, em uma análise preliminar, de acordo com o Dicionário Dicio (2016), a palavra alfabetizado significa “que ou quem aprendeu a ler e a escrever”; por outro lado, letrado é aquele “versado em letras, erudito”. De acordo com o Dicionário Houaiss (2001), letramento “é um conjunto de práticas que denota a capacidade de uso de diferentes tipos de material escrito”.

A alfabetização é um processo dentro do letramento e, segundo Soares (2009), o resultado da ação de ensinar/aprender a ler e a escrever. Para ter sucesso na formação de cidadãos, é importante manter a relação entre a alfabetização e o letramento, não restringindo uma criança apenas em codificar e decodificar códigos, pois, ainda de acordo com Soares (2009), “não basta apenas aprender a ler e a escrever. As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas não necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, não necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita”.

Avanço tecnológico

Em meados do século XX, a informática começou a fazer parte do processo de produção industrial. Tal processo se iniciou de forma tímida, mas, em poucos anos, já estava introduzido em diversos setores da sociedade, tornando-se um forte meio de comunicação. Se no início a evolução das tecnologias ocorria em passos lentos, com poucas modificações ao longo da vida das pessoas, a partir da década de 1990 as inovações se tornaram cada vez mais rápidas.

No início do século XXI, o computador deixou de figurar apenas nas indústrias e grandes empresas e passou a ser uma ferramenta mais popular, sobretudo com a evolução da internet. A informática encurtou distâncias geográficas, conectando as pessoas, tornando-se uma forte fonte de acesso às informações e de interação entre os indivíduos. Em 2008, as pessoas consumiram três vezes mais informações por dia do que em 1960, de acordo com Gabriel (2013).

A busca por conhecimento, que há alguns anos era restrita a um seleto grupo de indivíduos, ocorreria principalmente por meio de livros, jornais e revistas. Hoje é tão explícita que chega em uma rapidez imensa às diversas camadas da sociedade contemporânea. Gabriel (2013) notou que “em média, trocamos 37 vezes de janela ou verificamos e-mails em cada hora”, demonstrando o quão dependentes somos das tecnologias enquanto executamos nossas atividades atualmente.

As novas gerações

As tecnologias foram incorporadas tão naturalmente às atividades cotidianas das pessoas que a sua intensidade não foi percebida pela sociedade. Gabriel (2013) concluiu que “quanto mais conexões temos, mais incorporamos as funcionalidades do ambiente digital, expandindo nosso ser”. Essa é uma visão que trata a tecnologia como um recurso que se torna facilitador, agregando informações ao ser humano, potencializando seus saberes, maximizando seus conhecimentos e otimizando suas tarefas.

A utilização das tecnologias, em praticamente todas as atividades, afeta a nova geração, inclusive as crianças, que já tem por natureza um “espírito” curioso que as impulsiona na busca contínua por novas interações, descobertas e saberes. Conforme o artigo “Attached to technology and paying a price”, publicado no jornal The New York Times (2010 apud Gabriel, 2013, p. 52), um cientista diz que “a interatividade ininterrupta é uma das mais significantes mudanças de todos os tempos no ambiente humano” e assim, pode-se afirmar que tais interações também afetam o desenvolvimento infantil.

O contato das crianças com as mídias digitais tem se iniciado cada vez mais cedo e os objetos que antes eram utilizados para o lazer e a socialização foram, em muitos casos, abandonados das rotinas infantis, abrindo espaço para os jogos eletrônicos e as interações sociais em mídias digitais. Levando em conta tal panorama também presente nas escolas, faz-se necessário que os educadores conheçam as características dessa nova geração, de modo que possam adequar ou mesmo desenvolver processos educacionais pertinentes a estes novos interesses.

Problemas gerais nas escolas

Como todo processo complexo, a tarefa de ensinar a leitura e a escrita para as crianças nunca foi algo simples. Os profissionais envolvidos, em uma grande maioria, esbarram em alguns problemas. Marlene Carvalho (2010) levanta alguns aspectos que dificultam a alfabetização das crianças, a saber, a quantidade excessiva de alunos por classe, os diferentes ritmos individuais de aprendizado, as diferentes experiências com leitura e escrita fora da escola, a carga horária de estudo, a falta de interesse por parte das crianças (e da família) e a distração que elas geralmente demonstram nos ambientes de grupo.

Existem ainda outros fatores que influenciam no aprendizado, principalmente, na Educação Infantil. Além das suas complexidades, as crianças trazem como bagagem os reflexos do ambiente social, cultural e econômico em que se encontram. 

Muitas vezes, a escola contribui para tornar o aprendizado mais doloroso para as crianças, pois nem sempre oferece a infraestrutura adequada. Devido ao alto investimento necessário para a inclusão de novas tecnologias e laboratórios, não apresenta um ambiente harmônico, com o devido apoio e incentivo aos profissionais e o acompanhamento necessário aos alunos que apresentam diversificadas dificuldades.

Existem vários caminhos para tratar os problemas supracitados e um deles é a utilização de tecnologias na Educação Infantil. As diversas tecnologias despertam o interesse das crianças, tendo em vista que são mais dinâmicas e atrativas que papeis e lápis. Computadores, tablets e celulares podem estimular as crianças em proporções muito maiores do que os métodos comuns. Isso não quer dizer que a informática substituirá estes padrões. Ao contrário disso, essas ferramentas não têm o poder de ensinar, mas utilizadas por profissionais capacitados como ferramentas complementares de ensino podem gerar resultados significativos.

A utilização das tecnologias na escola ainda esbarra na formação inadequada dos professores que, em grande parte, não procuram entender a forma correta de aplicação destas ferramentas, por receio de perder o seu espaço no mercado para os computadores. Valente (1993 apud Schlickmann, 2006, p. 3) analisa a situação afirmando que “o objetivo da formação desse profissional não deve ser a aquisição de técnicas ou metodologias de ensino, mas conhecer profundamente o processo de aprendizagem, como ele acontece e como intervir de maneira efetiva na relação aluno-computador, proporcionando ao aluno condições favoráveis para a construção do conhecimento”.

A informática na Educação

A utilização da informática na Educação, apesar de estar cada vez mais presente no cotidiano escolar, ainda é um assunto que provoca opiniões divergentes. Valente (1993) dá ênfase para as duas principais visões sobre esse tema: a visão cética e a otimista.

A visão cética

Na visão cética são levados em consideração fatores que afetam grande parte dos setores públicos, como, por exemplo, a falta de investimentos. Isso torna a escola sucateada seja pela escassez de materiais básicos para o trabalho do professor, pela remuneração incompatível com as atividades dos docentes ou pela ausência de alimentação adequada para os alunos. De acordo com essa visão, não é viável pensar em computador antes de se resolver problemas básicos da educação pública nacional. Outro argumento a ser analisado, além da dificuldade de adaptação da escola, dos professores e dos pais, é o de que a utilização de máquinas poderia desumanizar as crianças e substituir o professor em sala de aula.

É certo que a valorização do professor, em diversos aspectos, é um fator de grande importância, mas a prioridade da educação deve ocorrer como um todo, pois, caso contrário, não conseguiremos alcançar os passos de uma sociedade contemporânea desenvolvida. Isso posto, entendemos que o professor é peça fundamental para que a informática funcione na sala de aula, pois é ele quem utilizará métodos para transformar o computador em algo benéfico para a escola.

Valente (1993) separa as atividades com computador nas escolas em duas modalidades: Ensino de informática e Ensino com informática. Na primeira, os professores têm como base o ensino das funcionalidades do computador e algumas técnicas de programação, o que contribui muito pouco para a melhoria da qualidade do ensino para os alunos. Já na segunda, os professores utilizam softwares educativos que permitem novas estratégias para que o aprendizado seja facilitado.

É importante que a escola tenha esses conceitos bem definidos, para que os professores se sintam seguros na escolha dos melhores métodos a serem utilizados e que proporcionarão maior qualidade no ensino.

A visão otimista

Os mais otimistas apresentam outros argumentos, porém eles devem ser analisados com atenção, tendo em vista que nem sempre são bem fundamentados. A euforia em implementar esses recursos sem uma fundamentação sólida pode comprometer os resultados e causar frustração, como já ocorreu com projetos anteriormente implementados.

Entre os argumentos dessa prática temos o de utilizar computadores nas escolas simplesmente pelo fato de outras localidades também os utilizarem. No entanto, apenas colocar os computadores nas escolas não irá resolver os problemas do ensino, nem impactar na qualidade dele, modernizando as metodologias das escolas. Vários fatores devem ser levados em consideração para se obter melhores resultados na implementação da informática nas escolas. Apenas copiar o que é feito em outra localidade não garante sucesso.

Outro ponto que os otimistas defendem é a utilização do computador na escola pelo fato de ser uma ferramenta cotidiana. Esse princípio faz com que escolas coloquem a informática em alguma de suas disciplinas e abordem questões teóricas sobre os computadores, sem agrega qualidade ao ensino do aluno. A utilização diária de outras ferramentas tecnológicas, como o celular, faz com que o manuseio ocorra de forma natural, não sendo necessário estudar seus conceitos teóricos em sala de aula para que sejamos aptos a interagir com este aparelho e desfrutar das suas funcionalidades. O computador, por outro lado, deve ser visto como uma ferramenta didática, pois tem recursos que agregam valores no ensino, tais como, a simulação, a interação e a dinâmica.

A utilização do computador para despertar interesse nos alunos também é debatida pelos defensores da visão otimista. Segundo o argumento, o modelo arcaico da escola não consegue acompanhar a dinâmica do século XXI em que os alunos vivem. Contudo, colocar computadores nas escolas para motivar o aluno e tornar a escola interessante é ignorar os problemas crônicos que a escola, assim como todo o processo de ensino nacional, enfrenta. A escola não deveria utilizar os computadores para conquistar alunos, mas por ser interessante em aspectos culturais, sociais e intelectuais.

Metodologia

Com o intuito de reconhecer a importância da utilização efetiva dos computadores e das novas tecnologias nas séries iniciais do Ensino Fundamental, compreendendo as dificuldades encontradas nesse processo e em seus resultados, este trabalho aplicou uma metodologia de investigação qualificativa. Os dados da pesquisa de campo foram estudados e analisados de acordo com os levantamentos do INEP e os relatórios CE-TIC.

A pesquisa de campo foi realizada com professores das series iniciais do Ensino Fundamental que trabalham nas escolas públicas do município de Aperibé/RJ. O município possui duas escolas que atendem aos critérios da pesquisa. As escolas selecionadas foram: a Escola Municipal Casimiro Moreira da Fonseca e a Escola Municipalizada Rômulo Sardinha.

O levantamento dos dados necessário para a conclusão da pesquisa realizou-se em duas etapas. Na primeira etapa, fez-se uma visita às escolas com o objetivo de conhecer sua estrutura, com ênfase nos laboratórios e recursos tecnológicos disponíveis. Na segunda etapa foram selecionados, aleatoriamente, professores de cada uma das escolas, para responder a um questionário com perguntas de múltipla escolha. O questionário foi distribuído em três blocos. O primeiro bloco com quatro perguntas, direcionado às características individuais dos professores e o segundo bloco, com dezoito perguntas, cujo objetivo era o de conhecer os recursos tecnológicos que a escola possui e qual o nível de acesso a eles, por parte de professores e alunos. O terceiro bloco, composto de onze perguntas, buscou conhecer as experiências e a opinião dos professores em relação à utilização da informática no ensino.

Primeira etapa do levantamento de dados: conhecendo as escolas e seus laboratórios

Na primeira etapa da pesquisa foi realizada uma visita em duas escolas. A Escola Municipal Casimiro Moreira da Fonseca possui 612 alunos matriculados, distribuídos entre as classes do Ensino Fundamental, do 1º ao 9º ano. Nessa escola, a grade do Ensino Fundamental I possui a disciplina Informática Educativa, porém com um professor não especializado na área. Desde a sua fundação, em 2012, a escola conta com um laboratório de informática que dispõe de doze computadores. O laboratório de informática e os computadores estão em excelentes condições de conservação para atender aos alunos. Em relação ao número de alunos x número de computadores, a média da escola é de 51 alunos por máquina. As principais atividades desenvolvidas nas aulas de informática são: ensino da utilização do computador, o uso da internet para fazer pesquisas e o uso de alguns softwares do pacote Office.

A Escola Municipalizada Rômulo Sardinha inaugurou o laboratório de informática também no ano de 2012. A escola possui 145 alunos matriculados e distribuídos entre as turmas do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental. A escola, em sua grade curricular, conta com a disciplina Informática Educativa e dois professores da área de informática, sendo um concursado e outro voluntário. O laboratório apresenta ótimas instalações, no entanto, nem todos os computadores estavam funcionando no momento da pesquisa. Em relação ao número de alunos x número de computadores, a média da escola é de aproximadamente 12 alunos por máquina. As principais atividades desenvolvidas nas aulas de informática são o ensino da utilização do computador, o uso da internet para fazer pesquisas e o uso de alguns softwares do pacote Office.

Segunda etapa do levantamento de dados: conhecendo os professores e seus pontos de vista

Na segunda etapa foi utilizado um questionário para conhecer as características pessoais dos professores, os recursos digitais disponíveis nas escolas, os níveis de acesso dos professores e alunos a tais recursos e as opiniões dos professores em relação à utilização da informática no ensino. O questionário não identificava os professores e foi respondido de forma completa e voluntária por quinze deles. Foram selecionados profissionais que ministravam diversas disciplinas entre o 1º e o 5º ano.

Análise de dados: bloco 1

A análise de dados foi iniciada pelo bloco 1 do questionário, relacionado às características pessoais dos professores das séries iniciais do Ensino Fundamental das escolas públicas do município referente.

É possível observar que os professores em atividade estão em faixas etárias bem distribuídas: mais de 65% dos profissionais estão entre os 25 e 45 anos de idade. Não foram encontrados professores com mais de 60 anos em atividade nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Todos os professores concluíram o 3º grau completo e 60% deles concluíram pelo menos uma especialização. Sobre o tempo que os entrevistados estão lecionando nas respectivas escolas, a maioria (33%) possui menos de um ano de exercício, seguido de aproximadamente 26% com mais de 10 anos de atividades nas escolas.

A análise do bloco 1 nos permitiu uma importante conclusão: a maior parte dos professores continuou a se capacitar após a formação no nível superior.

Análise de dados: bloco 2

No segundo bloco do questionário, os professores deveriam responder a dezoito perguntas, optando por sim ou não. As perguntas tinham como objetivo conhecer os recursos tecnológicos que a escola possui e qual o nível de acesso a eles de professores e alunos. As perguntas foram as seguintes:

  1. A sua escola possui laboratórios de informática?
  2. Todos os equipamentos do laboratório funcionam perfeitamente?
  3. Você utiliza recursos digitais nas suas aulas?
  4. Você considera os computadores do laboratório adequados para as atividades com os alunos?
  5. A sua escola realiza manutenção nos computadores?
  6. Você encontra algum tipo de resistência para realizar atividades nos laboratórios de informática?
  7. O seu colégio possui notebooks?
  8. Você tem acesso aos notebooks para realizar suas atividades?
  9. Os alunos têm acesso aos notebooks para realizar suas atividades?
  10. O seu colégio possui tablets?
  11. Você tem acesso aos tablets para realizar suas atividades?
  12. Os alunos têm acesso aos tablets para realizar suas atividades?
  13. O seu colégio possui projetores?
  14. Você tem acesso aos projetores para realizar suas atividades?
  15. Os alunos têm acesso aos projetores para realizar suas atividades?
  16. O seu colégio possui internet?
  17. Você tem acesso à internet na escola para realizar suas atividades?
  18. Os alunos têm acesso à internet para realizar suas atividades?

Com os dados obtidos, foi possível conhecer um pouco melhor as escolas e os recursos aos quais os professores têm acesso para desenvolver suas atividades, gerando o gráfico da Figura 1.

Figura 1: Resposta dos professores às questões do bloco 2

A pesquisa revelou que ambas as escolas possuem laboratórios de informática, computadores, projetores e notebooks. As escolas não dispõem de outros dispositivos eletrônicos para as atividades dos profissionais e dos alunos – como tablets e telefones celulares.

Em relação aos laboratórios de informática, 80% dos professores informaram que a escola realiza a manutenção nas máquinas, porém 60% informaram que não são todos os computadores que funcionam perfeitamente. Entre os entrevistados, 60% consideraram os computadores adequados para as atividades com os alunos, mas 40% informaram que encontram algum tipo de resistência para realizar as atividades no laboratório. Foi possível identificar que 80% dos professores utilizam recursos digitais em sala de aula e 66% informaram que os alunos possuem acesso aos projetores e a internet para realizarem as suas atividades. Em nenhuma das escolas visitadas os alunos possuem acesso aos notebooks para realizarem as suas atividades.

Esse bloco disponibilizou dados que podem ser comparados com pesquisas de nível nacional em relação à educação. É possível verificar que mesmo com a maioria dos professores relatando que a escola realiza a manutenção em seus computadores, os laboratórios não possuem todos os equipamentos em condições de uso. Segundo a Cetic (2013) a maioria das escolas públicas (cerca de 56%) realiza manutenção dos seus equipamentos de informática com suporte de contratos da Secretaria de Educação. Isso deveria acontecer nas escolas visitadas, mas o que foi verificado é que o maior responsável pela manutenção dos computadores é o professor da área e que o município encontra dificuldades em atender às demandas de material para os laboratórios.

Uma maioria expressiva de professores informou que utilizam recursos tecnológicos em sala de aula, porém encontramos alguns professores que relatam empecilhos para trabalharem suas atividades nos laboratórios. Segundo eles, o laboratório seria de uso exclusivo para as disciplinas de informática.

Não foi possível encontrar nas escolas visitadas os números apontados pela Cetic (2015) que realiza pesquisas sobre o acesso e uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) no Brasil. Assim, concluímos que 43% das escolas dispõem de internet em sala de aula. Entretanto, observamos um dado importante para o município, a saber, que ambas as escolas, ou seja, 100% possuem acesso à internet nos laboratórios de informática, dados superiores ao resumo técnico do INEP (2015) que indica 75,7% das escolas públicas do Sudeste com acesso à internet em seus laboratórios.

Análise de dados: bloco 3

O bloco 3 foi o responsável por mapear os aspectos gerais da pesquisa, buscando as opiniões dos professores em relação à utilização da informática na educação. Foi composto de 11 questões sobre as quais os professores deveriam marcar uma das opções entre os números de 1 a 5, significando respectivamente “Discordo totalmente”, “Discordo parcialmente”, “Indiferente”, “Concordo Parcialmente” e “Concordo Plenamente”. As perguntas deste bloco foram:

  1. Eu acredito que a informática pode facilitar o processo de ensino.
  2. Tenho receio de perder espaço no mercado de trabalho devido à utilização das tecnologias em sala de aula.
  3. As práticas pedagógicas e metodologias de ensino na escola necessitam ser revistos e/ou atualizados.
  4. Os alunos têm maior interesse e facilidade em atividades que utilizam computadores.
  5. Fui capacitado durante minha graduação para utilizar as mídias digitais no ambiente escolar.
  6. Eu tive treinamentos específicos para utilizar as tecnologias em sala de aula.
  7. A escola incentiva a utilizar os computadores e inovar o cotidiano em sala de aula.
  8. O letramento digital é necessário para incluir a nova geração de alunos na sociedade.
  9. O letramento digital é necessário para incluir a nova geração de alunos no mercado de trabalho.
  10. Os alunos na escola têm contato suficiente com computadores.
  11. As escolas estão preparadas para levar a tecnologia aos alunos.

Com os dados do bloco 3 foi possível conhecer a visão dos professores em relação à utilização das tecnologias em suas atividades com os alunos e gerar um gráfico em barras, como apresentado na Figura 2.

Figura 2: Resultados do bloco 3

Apenas 20% dos professores acreditam, de forma parcial, que a informática pode facilitar o processo de ensino-aprendizagem. Os demais, concordam totalmente com essa premissa.

Em relação à perda do espaço devido à utilização das tecnologias, pouco mais de 46% discordam totalmente, enquanto 40% concordam de forma total ou parcial ou ficaram indiferentes nesse quesito. Nenhum dos participantes da pesquisa discordou da necessidade de atualização e/ou revisão das práticas pedagógicas e metodologias de ensino, demonstrando a mesma posição quando questionados sobre a demonstração de maior interesse e facilidade dos alunos no uso dos computadores. Quando os professores foram questionados sobre a capacitação para a utilização de mídias digitais durante a graduação foi possível verificar que 60% deles concordaram, de forma parcial ou total. Ou seja, tiveram durante a graduação algum tipo de capacitação/incentivo, enquanto 40% discordaram, pois não foram capacitados durante a graduação para o uso das tecnologias no ambiente escolar.

Ainda sobre a qualificação dos profissionais, 46% dos professores afirmaram que não receberam nenhum tipo de capacitação ou treinamento específico para utilizar as tecnologias em sala de aula. Quando questionados se a escola era incentivadora para a utilização dos computadores e para a inovação do cotidiano, aproximadamente 66% de professores concordaram de forma total e parcial e os demais 26% disseram que a escola era indiferente.

Em relação à importância do letramento digital, apenas um professor optou pela resposta “Indiferente” enquanto todos os outros concordaram, de forma total ou parcial. 100% deles concordaram de alguma forma que o letramento digital é necessário para incluir os alunos da nova geração no mercado de trabalho contemporâneo. As últimas duas questões dividiram opiniões entre os participantes, porém, a maior parte dos professores concordou que os alunos têm contato suficiente com os computadores na escola. Pouco mais de 53% discordaram de alguma forma que as escolas estão preparadas para levar as tecnologias aos alunos.

Os resultados obtidos nesse bloco permitiram concluir que, para os professores em questão, a informática é uma forte ferramenta que pode auxiliar no processo de ensino- aprendizagem como um recurso que desperta interesse dos alunos, trazendo facilidade na execução das atividades. Os entrevistados também concordaram que o letramento digital é um fator fundamental para incluir as crianças na sociedade e prepará-las para o mercado de trabalho. Por outro lado, os professores acreditam que as escolas não estão preparadas para levar as tecnologias aos alunos, sendo necessária, assim, uma revisão e uma adequação dos métodos utilizados nos processos de ensino-aprendizagem.

Conclusão

Com a pesquisa realizada nas escolas do município de Aperibé foi possível observar que a realidade do interior do estado não é muito diferente da que encontramos nas estatísticas nacionais. Os muitos problemas encontrados nessas escolas são também vistos em outras regiões.

É fundamental dar apoio às escolas para que não ocorra um sucateamento dos laboratórios. Na cidade objeto de estudo, as escolas não possuem funcionários direcionados para executar o reparo dos computadores e a prefeitura, que deveria ser responsável pela manutenção das máquinas, não fornece o suporte necessário, pois existem computadores fora de operação e sem acesso à internet por falta de recursos básicos, como cabos e periféricos.

Outro dado constatado foi que os cursos de licenciatura nem sempre preparam os profissionais para realizarem atividades utilizando novas tecnologias e o cotidiano dos professores nas escolas não é complementado com capacitações e treinamentos, diminuindo os seus recursos em sala de aula.

É necessário salientar que ter computadores e laboratórios na escola não significa aumentar a qualidade no ensino. Um dos pontos mais importantes a ser considerado é a forma como os laboratórios são utilizados nas escolas. Observou-se que as escolas têm disciplina de Informática Educativa em suas grades, mas não possuem professores qualificados para ministrá-la.

Os computadores, acompanhados de outros recursos tecnológicos, devem ser utilizados como ferramentas complementares no ensino de diversas disciplinas, tais como, Ciências, Biologia e Matemática, não apenas para ensinar aos alunos o funcionamento do computador, pois este modelo de ensino não expande as vias de aprendizado das crianças.

É necessário olhar para a escola de outra forma, entendendo que ela deve, como todos os outros setores da nossa sociedade, se atualizar e buscar, cada vez mais, estar preparada para novos tempos dos seus alunos. Desse modo, a escola precisa constantemente rever e adequar os seus conceitos, as suas práticas pedagógicas e os seus métodos de ensino, a fim de alcançar o propósito de atingir às necessidades e alcançar melhores resultados dos seus alunos, tanto acadêmicos quanto sociais.

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Publicado em 23 de agosto de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

NASCIMENTO, Matheus Carvalho do. Recursos digitais aplicados na Educação Infantil. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 31, 23 de agosto de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/31/recursos-digitais-aplicados-na-educacao-infantil

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