A importância da Fonoaudiologia na escola

Renata Caroline dos Santos Lopes

Mestranda em Educação (PPGEDU/Unemat)

Luciana Coghi da Cruz

Professora da Educação Básica da rede municipal de Curvelândia/MT

Considerando que a escola é a principal ponte entre o aprendizado da linguagem formal, especialmente em se tratando da alfabetização, ela requer a contribuição de um fonoaudiólogo para identificar os casos de distúrbios de fala que dificultam a oralidade de crianças, em especial aquelas em processo de alfabetização. Assim, objetivamos identificar se existem casos de distúrbios de fala entre crianças de quatro a dez anos, entre os alunos da Escola Municipal Vereador Evilásio Vasconcelos; apresentar como a fonoaudióloga contribui para o desenvolvimento da comunicação oral das crianças, bem como enfatizar a falta e a necessidade de um fonoaudiólogo nas escolas.

A metodologia usada é qualitativa, com coleta de dados realizados por meio de levantamento bibliográfico e de diálogos informais com a fonoaudióloga Daniela Machado Oliveira, profissional que trata de crianças com faixa etária de quatro a dez anos, dentre as quais, alunos daquela escola, localizada no município de São José dos Quatro Marcos/MT. A análise das informações obtidas será conduzida à luz dos fundamentos teóricos de Susana Bueno Souza (1998), Ana Paula Santana (2007), Lev Semenovich Vygotsky (2007), Carolina Didier (2011) e Jaime Luiz Zorzi (2002).

Fonoaudiologia e sua contribuição no processo de ensino-aprendizagem

Uma das funções de um fonoaudiólogo é a detecção de distúrbios de fala de crianças, o que contribui para o tratamento adequado. Assim, objetivamos identificar se existem casos de distúrbios de fala entre crianças de quatro a dez anos de idade matriculadas na Escola Municipal Vereador Evilásio Vasconcelos; apresentar como a fonoaudióloga contribui para um melhor aprendizado, com o intuito de demonstrar que é de suma importância a presença desse profissional no quadro de funcionários em todas as instituições de ensino, pois, apesar de muitas instituições já terem se conscientizado da necessidade desse profissional, ainda não existem leis que exigem sua contratação.

O fonoaudiólogo é um profissional que atua diretamente nos problemas de fala e busca prevenir, detectar e minimizar os distúrbios. Na escola, esse profissional pode interagir com os professores a fim de identificar possíveis problemas que podem atrapalhar diretamente no rendimento do aluno. De acordo com Susana Bueno Souza (1998, p. 32), o profissional fonoaudiólogo tem as seguintes funções no ambiente escolar:

Prevenção – Todo trabalho informativo e orientativo integrado ao ambiente da escola;

Detecção – Levantamento, por meio da triagem, das falhas ou dificuldades, já relatadas ou não pela equipe, que estejam fora do esperado para a faixa etária dos alunos;

Minimização – Busca e implementação de alternativas que possam contribuir para a superação, pelo aluno, das suas dificuldades.

Então, exercendo a parte clínica dentro da escola, o fonoaudiólogo deve procurar identificar a natureza dos distúrbios apontados pelos profissionais da escola e promover uma reflexão, no sentido de evitar o aparecimento de todas as consequências implicadas. Para isso, precisa-se estabelecer um vínculo, ou seja, uma parceria com os profissionais da escola, discutindo e avaliando com a comunidade escolar suas reais necessidades, pois atuando, assim, o fonoaudiólogo deve procurar fazer parte da equipe, traçando metas conjuntas para melhor atender o grupo de alunos.

Com os dados, podemos perceber que tanto é preciso quanto é fundamental a presença do fonoaudiólogo no ambiente escolar para, no convívio diário com as crianças, poder fazer o diagnóstico do distúrbio de fala quando houver necessidade.

O fonoaudiólogo é “conhecedor do desenvolvimento da linguagem da criança, tanto no âmbito da normalidade quanto da patologia, é capaz de fornecer ao professorado, com maior segurança o que é natural ou não para cada faixa etária” (Didier, 2011, p. 2), pois existem algumas trocas que são consideradas normais e outras que nunca deveriam existir.

Convém salientar que o fonoaudiólogo pode contribuir para o planejamento pedagógico, não no sentido de ter a responsabilidade de um professor, mas sim no sentido de enriquecer o processo de aprendizagem.

É interessante perceber que existem várias hipóteses e teorias que buscam compreender o aprendizado da linguagem e as causas dos possíveis distúrbios que podem surgir. Muitos foram os estudiosos que influenciaram e influenciam nessa tentativa de compreensão.

Segundo Zorzi (2002), são “vários os fatores que interferem direta ou indiretamente na aquisição da linguagem de cada indivíduo: ritmo de desenvolvimento de cada um, estimulação em geral, condições emocionais e maturidade social, hereditariedade e doenças” (Zorzi, 2002, p. 67).

Sendo assim, são inúmeros os fatores que podem contribuir para o surgimento dessas patologias, e de acordo com Zorzi (2002) pode-se perceber que “a escrita implica, ao mesmo tempo, relações auditivas e visuais que não se restringem a habilidades perceptivas como a memória e discriminação”, ou seja, pode-se dizer que alterações ortográficas podem acontecer justamente por problemas auditivos, pois a criança vai transferir para escrita da mesma forma que escutar.

Para Vygotsky, o desenvolvimento da linguagem acontece entre o meio e a criança, e acredita que “a criança começa a perceber o mundo não somente através dos olhos, mas também através da fala” (Vygotsky, 2007, p. 23), que este desenvolvimento da linguagem é transmitido do adulto para a criança. Por isso acha necessário que as instituições estejam com profissionais devidamente qualificados uma vez que, em alguns casos, devem trabalhar de maneira diferenciada, porém, sem que haja constrangimentos, pois acredita que a fala é fundamental no desenvolvimento cognitivo das crianças.

Pelo exposto, observa-se a importância que a fala tem para o desenvolvimento da linguagem, e a importância de um fonoaudiólogo no meio escolar.

Coleta de dados: o diálogo com uma fonoaudióloga

Segundo a fonoaudióloga Daniela Oliveira, é possível diagnosticar desde o berçário a probabilidade de uma criança ter algum tipo de patologia, mediante o teste da orelhinha (teste de Audiologia), feito para antecipar uma possível surdez. Para ela, quando o diagnóstico é feito tardiamente, é mais difícil dar a orientação adequada à criança e à família de uma criança com surdez, assim elevando as dificuldades do processo de ensino-aprendizagem.

Uma vez que, o aluno que fala e escuta, é imprescindível que se realize avaliação audiológica no recém-nascido e na criança em fase escolar para "suprir a dificuldade sensorial da deficiência auditiva, buscando aproximá-lo o mais possível da realidade ouvinte” (Santana, 2007, p. 122), por meio de atividades que estimulem e facilitem a compreensão. A língua de sinais é a forma de expressão que a pessoa surda tem mais facilidade em compreender, e possui estrutura frasal própria. Mas, para trabalhar com crianças com problemas auditivos dentro da escola é outra questão a ser repercutida, pois para isso acontecer, o professor tem que ser capacitado para entender a esse tipo de necessidade, e na realidade, na prática são poucos os que sabem trabalhar com Libras e Braille. Cabe então ao governo investir mais nessa questão, já que quer exigir muito da educação.

Conforme apontamentos de Daniela Oliveira, o que dificulta a aprendizagem é o fato de a criança frequentar muito cedo as escolas, uma vez que elas não têm maturidade ainda para as atividades a que são submetidas, pois muitas delas ultrapassam a capacidade de entendimento da criança surda. Para a fonoaudióloga, os distúrbios podem ser observados através do educador, pois as crianças com faixa de cinco anos apresentam alguns sintomas; os mais comuns são a troca de letras (bolo-polo, faca-vaca), pronúncia incorreta (casa-tasa) e gagueira. No entanto, nem todos os educadores são habilitados para esse diagnóstico; por isso, a importância de um profissional qualificado no ambiente escolar para contribuir com os educadores e principalmente com as crianças.

Daniela Oliveira ressalta que problemas como surdez, de respiração, de troca de fonemas, gagueira e até mesmo familiares podem interferir no desenvolvimento das crianças, levando-as a adquirir os distúrbios de fala, os quais se não forem tratados em tempo adequado podem se agravarem com o passar dos anos. Assim, pode-se dizer que “a fala é tão importante quanto a ação para atingir um objetivo” (Vygotsky, 2007, p. 13), pois as crianças resolvem suas tarefas práticas com a ajuda da fala, assim como dos olhos e das mãos, ou seja, as crianças precisam da fala para aprender e ser capazes de resolver situações que envolvem a interação verbal com o outro.

Durante o diálogo formal com Daniela Oliveira, percebemos que ela concorda com Souza sobre a maneira de contribuir para estimular a criança a falar corretamente, “em vez de reprimir ou pedir que a criança fale certo, apenas reproduzir de forma correta o que foi dito, já trará enorme benefício” (Souza, 1998, p. 89), porque assim elas serão estimuladas de uma forma que não ficaram constrangidas.

Em síntese, o que foi dito até aqui requer “investir no tempo da pré-escrita e pré-leitura para prevenir as dificuldades de aprendizado a fim de oferecer à criança uma oportunidade de experimentar o prazer e o sucesso na sala de aula” (Souza, 1998, p. 80). E, apesar de ser tão importante a presença de um fonoaudiólogo na escola, não existem leis que obriguem a contratação destes profissionais, como as que existem para outras profissões.

Considerações finais

As observações expostas levam-nos a concluir que é de extrema importância a presença de um fonoaudiólogo no ambiente escolar, pois o mesmo poderá para ajudar nas atividades educacionais, não interferindo na prática pedagógica dos professores, mas auxiliando-os a trabalhar com crianças que apresentam distúrbio de oralidade, assim agindo em parceria, viabilizando um melhor desempenho escolar aos alunos. É necessário ajudar as crianças a se desenvolverem com sucesso e tranquilidade, pois cuidando de um problema no início e de uma forma correta e rápida, poderá resolvê-lo para evitar conflitos no processo de ensino-aprendizagem.

Referências

DIDIER, Carolina. O que o fonoaudiólogo faz na escola. 2011. Disponível em: http.www.construirnoticias.com.br. Acesso em: 12 abr. 2021.

OLIVEIRA, Daniela Machado. Entrevista pessoal. 2021.

SANTANA, Ana Paula. Surdez e linguagem: aspectos e implicações neurolinguísticas. São Paulo: Plexus, 2007.

SOUZA, Susana Bueno. A Fonoaudiologia no âmbito escolar: um encontro em construção. 2ª ed. São Paulo: Lilivros, 1998.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

ZORZI, Jaime Luiz. Aspectos diagnósticos das alterações da linguagem infantil. Rio de Janeiro: Revinter, 2002.

Publicado em 30 de agosto de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

LOPES, Renata Caroline dos Santos; CRUZ, Luciana Coghi da. A importância da Fonoaudiologia na escola. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 32, 30 de agosto de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/32/a-importancia-da-fonoaudiologia-na-escola

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