A participação da comunidade escolar por meio das redes sociais
Paula Ferreira Tomaz da Silva
Mestranda em Novas Tecnologias Digitais na Educação (UniCarioca), especialista em Saberes e Práticas da Educação Básica e EJA (UFRJ) e em Administração Escolar (UCAM), graduada em Pedagogia (Simonsen), diretora-adjunta da E. M. Dulce Araújo (SME/RJ)
Veronica Eloi de Almeida
Doutora em Sociologia (IFCS/UFRJ), professora do mestrado em Novas Tecnologias Digitais na Educação (UniCarioca) e do técnico e da pós-graduação (IFRJ - São João de Meriti)
Ana Paula Legey Siqueira
Pós-doutora em Divulgação Científica (CNEN), doutora em Ciências (IOC/Fiocruz), coordenadora adjunta do Mestrado em Novas Tecnologias Digitais na Educação (UniCarioca)
No momento em que pensamos em educação inevitavelmente a relacionamos às ações democráticas pautadas no aprendizado em rede, que fomentam a participação e a integração coletiva no fazer pedagógico da escola e visam a um bom desempenho escolar.
De acordo com as diversas mudanças políticas, sociais e econômicas ocorridas nos últimos anos, a cobrança por parte da sociedade em relação aos sistemas educacionais vem aumentando. A exigência por uma transformação organizacional das instituições de ensino é um anseio da população.
Na concepção de Bortolini (2013), no atual cenário de uma educação democrática e participativa, cabe ao diretor escolar possibilitar e motivar a participação coletiva de todos os segmentos da comunidade escolar, articulando as diversas ações administrativas e pedagógicas, a fim de alcançar o principal objetivo: uma educação de qualidade.
Segundo Libâneo (2004), o papel do gestor é o de influenciar e instigar nas pessoas a construção do conhecimento e a participação coletiva no desenvolvimento da aprendizagem. Além disso, ele deve promover os valores necessários para que os objetivos educacionais sejam alcançados e garantidos.
Ao refletirmos acerca de uma gestão participativa, acredita-se que uma possibilidade de construção coletiva de melhorias na qualidade da educação se faça por meio de um novo olhar de organização, reunindo teoria e prática. A implantação da democratização da escola é um desafio, pois precisa lidar com os problemas que surgem diariamente tanto na prática pedagógica quanto na administrativa, junto às opiniões e aos interesses divergentes dos envolvidos nesse sistema.
Em uma gestão participativa é importante estabelecer a troca de interesses mútuos, para que os objetivos sejam possíveis, estabelecendo uma gestão com e para as pessoas. Afinal é na rede dos relacionamentos e das interações que a educação acontece.
As políticas públicas voltadas para a gestão democrática têm base na Constituição (Brasil, 1988, art. 206). Uma conquista histórica que se dá por meio de um processo de democratização, envolvendo, em suas discussões, gestores, responsáveis, professores, funcionários, representantes do CEC (Conselho Escola Comunidade) e alunos para acompanhar e desenvolver os projetos definidos por eles.
O processo de envolver todos os atores da comunidade escolar nas etapas que conduzem a unidade, estabelece uma melhoria na comunicação contribuindo para a participação efetiva pautada no diálogo e na escuta ativa.
Para atingir o sucesso coletivo, a escola deve superar dificuldades diversas. Ouvir a comunidade escolar, conhecer e entender os alunos e compartilhar responsabilidades, competências fundamentais para transformarmos a escola do século XXI. De acordo com Lévy (2001), todos possuem competências e habilidades que podem contribuir para um processo mais ameno no planejamento das ações e da aprendizagem.
A escola da atualidade enfrenta diversos desafios para gerenciar o envolvimento e a participação dos sujeitos, articulando todos os elementos de forma a garantir a qualidade no processo de ensino-aprendizagem.
Com o advento da pandemia mundial de 2020 e sabendo que a escola deve oferecer oportunidades para a participação de todos por meio de suas experiências, há a necessidade de se repensar sobre como garantir efetivamente a participação da comunidade escolar, garantindo a promoção da integração com diretrizes objetivas de aprendizagem. A praticidade com que os alunos já vinham utilizando ferramentas tecnológicas, assim, como dispositivos móveis, explorando aplicativos na realização de atividades atualmente, ganhou uma relevância neste novo cenário. Assim, é muito comum, unidades escolares utilizarem algumas redes sociais como Facebook e WhatsApp para compartilhamento de projetos desenvolvidos e informes importantes da rotina escolar que são de interesse dos responsáveis. De acordo com pesquisas do portal Alexa, a plataforma YouTube é o terceiro site mais acessado pelos brasileiros e o segundo mais acessado no mundo.
Nessa perspectiva, com a finalidade de garantir a participação efetiva dos alunos, responsáveis, docentes e demais equipes nas ações promovidas pela unidade escolar, dando a oportunidade de um espaço democrático de cidadania e autonomia permeado pelo uso das tecnologias de comunicação e informação, esta pesquisa tem o objetivo de utilizar tecnologias educacionais, como a rede social YouTube, no gerenciamento da participação da comunidade escolar a fim de ampliar e melhorar a rede de comunicação e a troca de informação, sendo utilizada como ferramenta pedagógica, garantindo a promoção do protagonismo e a participação coletiva.
Gestão participativa apoiada às tecnologias digitais
O cenário atual tem experimentado um contínuo processo de transformação no que tange a tecnologia. O acesso às principais notícias, as informações alcançadas de forma exacerbada e em tempo real são exemplos das mudanças ocorridas pelo uso das tecnologias digitais (Valente, 2015).
Esse avanço permite que, com o uso das tecnologias digitais, as informações e a comunicação sejam mais facilmente compartilhadas e atualizadas, aproximando a escola da sociedade, criando uma rede de relações de forma inovadora, cumprindo com o papel da escola em promover a socialização e estimular, emocionalmente, os educandos no processo ensino-aprendizagem.
Toda mudança requer um processo desafiador. Com as escolas não acontece de forma diferente. É importante atentar às mudanças, acompanhar os avanços e se apropriar dos recursos tecnológicos como ferramentas pedagógicas e administrativas para auxiliar na condução dos objetivos de métodos inovadores, de interação e participação de uma instituição educacional, promovendo a cultura digital.
A utilização das redes sociais, como proposta pedagógica, possibilita a participação coletiva de todos os envolvidos na construção do saber, permitindo discussões significativas, trocas, expressões de suas ideias e opiniões, estimulando o debate e o pensamento crítico. Todos os sujeitos envolvidos têm responsabilidade nesses processos de transformação e mudanças sociais que interferem diretamente no processo de ensino-aprendizagem. Porém é o gestor escolar que assume o papel de conduzir a unidade com práticas pedagógicas reflexivas e inovadoras, cujas habilidades e competências se desenvolvam em prol da garantia de uma educação de qualidade.
Todos os dias, a gestão escolar desenvolve ações pautadas na diversidade social. Os aspectos relacionados à participação dos sujeitos, à autonomia, à expressão, à interação, à aprendizagem, ao diálogo, à inovação e a outros diversos fatores, fazem parte da condução de um espaço de educação, com foco na qualidade do ensino. Aspectos fundamentais no perfil de um gestor escolar atual.
Conceituar gestão prevê a ideia de participação, ou seja, conjunto de pessoas agindo, criando e atuando no coletivo. Para que o sucesso seja alcançado, a organização precisa ser construída de forma democrática, visando os objetivos de todos. Encontramos alguns conceitos de gestão democrática, no que se refere à participação dos sujeitos, vinculados a algumas organizações e objetivos específicos. Segundo Faria (2009), há alguns padrões principais de gestão.
Quadro 1: Modelo básico de tipos de gestão
Quem administra |
Como administra |
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Isoladamente |
Em grupo |
Coletivamente |
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Um |
Heterogestão absoluta ou monárquica |
Gestão participativa consultiva |
Gestão participativa representativa |
Pouco |
Heterogestão relativa ou oligárquica |
Gestão participativa grupal |
Gestão cooperativa ou associativa; gestão solidária |
Muitos |
Gestão anárquico-individualista ou oclocrata (sob o comando das massas) |
Cogestão |
Autogestão; autoadministração; gestão democrática |
Fonte: Faria (2009, p. 20).
Segundo Lück (2008), a ideia de gestão supõe o sucesso de uma organização que necessita da elaboração de ações pautadas na participação e no envolvimento de todos, desde os ideais traçados até as etapas de execução. Assim, entendemos o quanto é importante o engajamento coletivo dos sujeitos nas trocas, no desenvolvimento, nos objetivos e nos resultados, pois diante de todos os desafios que envolvem a condução de um espaço educacional, há uma grande dificuldade no processo de condução dos diversos interesses dos elementos da comunidade escolar ao realizar a gestão participativa.
De acordo com Cury (2007), o papel da equipe gestora prevê:
transparência e impessoalidade, autonomia e participação, liderança e trabalho coletivo, representatividade e competência. Voltada para o processo de decisão baseado na participação e na deliberação pública, a gestão democrática expressa um anseio de crescimento dos indivíduos como cidadãos e do crescimento da sociedade democrática. Por isso a gestão democrática é a administração de uma gestão concreta. Nesse cenário, o gestor escolar destaca-se por conduzir o planejamento e fazer a articulação das decisões que se efetivam através das ações pedagógicas delineadas no projeto político-pedagógico da unidade escolar.
Fica evidenciado que o papel do gestor é fundamental para que o sucesso no âmbito escolar aconteça de forma efetiva. É preciso exercer a liderança de forma compartilhada, comprometida, participando dos resultados, dando suportes e valorizando as relações interpessoais para o avanço em relação aos objetivos de aprendizagem dos alunos.
A metodologia
O presente estudo ocorreu em uma unidade escolar caracterizada como escola de turno único, integral, que atende a 756 alunos do Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano). A unidade fica localizada no bairro de Campo Grande, 9ª Coordenadoria de Educação (9ª CRE), no município do Rio de Janeiro. Foi construída no ano de 2016 e inaugurada no dia vinte e quatro de junho.
A pesquisa, antes de ser aplicada, foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, SMS/RJ Plataforma Brasil, no dia 02 de fevereiro de 2021, tendo seu parecer no dia 08 de março de 2021. Após o parecer, a pesquisa também precisou ser submetida à apreciação da Subsecretaria de Ensino, E/SUBE, com o processo administrativo nº 07/001.263/2021, aberto em 22 de março de 2021 e obtendo a autorização para a sua realização em 13 de maio de 2021.
A gestão da unidade escolar em pauta buscou a utilização das redes sociais Facebook e WhatsApp como estratégias para promover a comunicação e a troca de informação com os segmentos que compõem a comunidade escolar, assim como com os alunos e os responsáveis. Contudo, ainda havia a necessidade de ampliar os veículos de comunicação de forma mais abrangente e clara que causasse um impacto significativo às possibilidades pedagógicas.
Como a plataforma YouTube é uma rede social de fácil acesso e que possibilita buscar vídeos de conteúdos diversos, assim como postagens, exibição de lives e compartilhamentos, surgiu a reflexão de como unir as duas temáticas: gestão participativa escolar e a rede social YouTube como recurso facilitador. A partir destes aspectos, a pesquisa tem como indagação: “A rede social YouTube pode ser utilizada como um recurso tecnológico para promover a integração das ações da gestão escolar com todos os atores da comunidade escolar, objetivando o protagonismo, autonomia e desenvolvimento da aprendizagem?”
Buscando identificar as principais dificuldades encontradas pelo gestor para garantir uma comunicação com a comunidade escolar pautada nas tecnologias digitais, o estudo teve em sua primeira etapa.
1ª etapa: Pesquisa exploratória preliminar
Inicialmente realizou-se pesquisa exploratória, aplicada com um grupo de treze gestores de unidades escolares da rede municipal do Rio de Janeiro, da 9ª CRE e apoiada por um questionário, composto por dez questões, elaborado no Google Forms e disponibilizado pelo aplicativo WhatsApp para respostas on-line. Os gestores tiveram um prazo de cinco dias para responder. Com base nos dados coletados foi traçado um levantamento que serviu para o desenvolvimento das demais etapas, visando à promoção de uma gestão participativa e democrática.
2ª etapa: Entrevista estruturada
Após as informações obtidas e dificuldades apontadas pelos gestores, a pesquisadora produziu uma entrevista estruturada, por meio de questionário, para ser respondida pelos segmentos que compõem a comunidade escolar em questão. O objetivo foi coletar dados que apontassem o olhar de cada sujeito em relação a comunicação e a troca de informação da gestão com responsáveis, alunos, professores, Conselho Escola Comunidade (CEC) e demais funcionários, por meio das tecnologias digitais, mais especificamente pelos aplicativos WhatsApp e Facebook, tendo em vista já serem redes sociais utilizadas pela gestão antes da pandemia.
Nesta etapa foram convidados vinte e quatro docentes, além de vinte e sete responsáveis (um responsável de cada turma e três que fazem parte do segmento CEC). Os responsáveis convidados foram os representantes de turma que, no início do ano letivo, foram escolhidos pelo voto, de acordo com seus interesses em participar. A votação ocorreu virtualmente, em modelo remoto, em virtude das dificuldades decorrentes da pandemia. Nesta votação, os responsáveis foram informados sobre a pesquisa que aconteceria na unidade pela diretora-adjunta (pesquisadora) que explicou e apresentou a pesquisa, assim como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos responsáveis. Logo após, a pesquisadora promoveu uma reunião on-line, no contraturno, com os responsáveis do CEC, para inquirir sobre o interesse em estarem participando da pesquisa. Desta forma, também foram escolhidos os demais sujeitos da pesquisa: um funcionário da equipe de limpeza, um funcionário da equipe da cozinha, um secretário escolar e um agente educador. Todos os dados foram coletados no contraturno para não comprometer a rotina da unidade escolar. Além da reunião, a pesquisadora elaborou um vídeo explicativo sobre todos os passos desta etapa, a fim de sanar toda e qualquer dúvida. O vídeo foi compartilhado nos grupos específicos de WhatsApp, criados pela diretora-adjunta.
O questionário contou com quatorze questões fechadas elaboradas de forma clara e objetiva, com o objetivo de avaliar como estava acontecendo a interação da equipe gestora com os segmentos da comunidade escolar. Os participantes tiveram um prazo de dezesseis dias para responder.
3ª Etapa: Roda de conversa
Na terceira etapa, a pesquisadora utilizou o método “roda de conversa” para, de forma participativa, discutir temáticas pertinentes a suas vivências, objetivando um espaço de construção crítica.
No primeiro bloco, a pesquisadora conduziu a roda de conversa permeada pelas respostas obtidas por meio da pesquisa estruturada ocorrida na etapa anterior. Algumas questões específicas foram apontadas nas respostas dos participantes nas redes sociais WhatsApp e Facebook, utilizadas pela unidade.
4ª Etapa: Criação do canal no YouTube
Dando início à quarta etapa e segundo bloco da roda de conversa, a pesquisadora criou um canal na rede social YouTube, com a proposta de ampliar a promoção deste espaço de comunicação, incentivando o protagonismo, a autonomia e as reflexões críticas de toda comunidade escolar.
Figura 1: Canal A vida é Dulce: Informação em Ação
Após a criação do canal, foi elaborada uma apresentação para melhor explicar esta etapa. Utilizando a ferramenta mentimeter, os participantes apontaram temáticas pertinentes a suas vivências, que dialogassem com todos os membros da comunidade escolar, para que fossem produzidos os vídeos que alimentam o canal. Seguindo as temáticas apontadas pelos participantes da pesquisa, como apresenta o quadro abaixo, os alunos iniciaram as atividades.
Quadro 2: Temáticas apontadas pelos participantes
Tema 1 |
Tema 2 |
Tema 3 |
Tema 4 |
A água |
Ecossistema |
Horta escolar |
Saúde emocional |
Tema 5 |
Tema 6 |
Tema 7 |
Tema 8 |
Arte e Cultura |
Diversidade |
Valorização da mulher |
Alimentação escolar |
Nesse canal são postadas atividades desenvolvidas pelos alunos do 5º ano com a participação dos demais segmentos da instituição. Os projetos desenvolvidos na unidade, em consonância com o projeto político-pedagógico (PPP), são produzidos por toda escola.
Os alunos contaram com o apoio e a orientação dos seus professores e da pesquisadora nos processos de criação dos materiais e conteúdos digitais postados no canal do YouTube. A plataforma foi utilizada de forma inovadora para promover atividades pedagógicas de cunho participativo.
As temáticas elencadas pelos participantes foram trabalhadas de forma interdisciplinar e utilizando metodologias diferentes. Foram postadas no canal algumas destas atividades, como mostram as imagens a seguir.
Vídeo: Horta escolar |
Vídeo: Questões emocionais |
Vídeo: Spoiler da semana de Artes |
Vídeo: Festival de Artes |
Figura 2: Atividades produzidas de forma participativa
A cada atividade desenvolvida e postada no canal foi possível observar o quanto os alunos, professores, funcionários e responsáveis se envolveram e se expressaram com mais facilidade nas práticas educativas e tecnológicas propostas.
A proposta contemplou as habilidades e as competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que assegura pedagogicamente os direitos de aprendizagem e o desenvolvimento do estudante.
5ª etapa: Observação
Seguindo na quinta etapa, após a experiência com a criação do canal e as ações desenvolvidas, a pesquisadora observou como aconteceu a propagação dos vídeos postados. O aumento de visualizações e compartilhamentos diários em relação ao primeiro vídeo postado e o último, por exemplo, sobre o Festival de Arte, que ocorreu remotamente. Foi observado também o aumento de seguidores inscritos no canal, além da motivação dos alunos em estarem realizando as atividades.
A pesquisadora avaliou a live realizada no dia 9 de setembro de 2021. Foi a primeira atividade promovida on-line para a comunidade escolar quando obtivemos 150 visualizações. Após isso, foi postado um vídeo no dia 7 de novembro de 2021, sobre a obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus. O texto foi produzido pelos alunos do 5º ano com o objetivo de promover um spoiler acerca do Festival de Artes da unidade escolar. Foi possível observar, em 12 de novembro, 367 visualizações. O número de visualizações aumentou de forma muito significativa.
6ª etapa: Pesquisa semiestruturada
A sexta etapa desta pesquisa contou com uma entrevista semiestruturada, utilizando um questionário aplicado aos participantes, que buscou avaliar se eles se sentiram mais envolvidos nas ações da escola por meio de uma participação democrática e se desejavam contribuir com alguma sugestão.
Nesta etapa, discutimos sobre o incentivo da gestão escolar nos processos inovadores que envolvem as ações da escola e sobre o uso das tecnologias digitais na condução destas ações, especificando o canal como um recurso aplicável para promover a participação e a integração da comunidade escolar junto à gestão, proporcionando o protagonismo e avanços positivos na aprendizagem dos educandos.
Quadro 3: Participação dos envolvidos
Roteiro |
Equipe pedagógica |
Equipe administrativa |
Funcionários |
Responsáveis |
Participam da proposta dos temas a serem abordados |
sim |
sim |
sim |
sim |
Utilizam o celular para acessar a rede social |
sim |
sim |
sim |
sim |
A rede social utilizada por meio do canal YouTube permite maior interação com a escola |
sim |
sim |
sim |
sim |
O canal do YouTube (da escola) é uma rede social de fácil acesso |
sim |
sim |
um pouco |
um pouco |
O canal do YouTube contribui como mais uma proposta na promoção da aprendizagem do aluno |
sim |
sim |
sim |
sim |
Cabe ressaltar que a postura dos participantes da pesquisa na construção desta sexta etapa já ocorreu de forma diferente do início da pesquisa. Os participantes apresentaram uma postura de posicionamento ao expressarem suas opiniões após a pesquisadora ter apresentado como ocorreria este momento. Os pesquisados imediatamente se colocaram e opinaram como queriam que a etapa fosse conduzida. Eles solicitaram que se organizassem em grupos para discutirem de forma coletiva sobre as questões estabelecidas na entrevista. Desta forma, a pesquisadora concordou com a sugestão e, consequentemente, avaliou a mudança de postura da comunidade escolar de forma positiva.
Resultados e discussões
Buscando apurar se as estratégias utilizadas no decorrer da metodologia desta pesquisa foram efetivas, realizamos uma análise da descrição do olhar dos gestores acerca das dificuldades enfrentadas por estes atores na atribuição de gerir uma unidade escolar, verificando, também, como os elementos que compõem a comunidade escolar da unidade pesquisada avaliaram o uso de tecnologias digitais na promoção da integração, participação e promoção do protagonismo dos envolvidos.
Procurando garantir a autenticidade da pesquisa e assegurar o sigilo dos participantes, todos foram informados no início da pesquisa, por reunião e exibição do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) que todos os dados e informações de suas identidades coletados, físicos ou digitais, seriam sigilosos e armazenados sob a responsabilidade da pesquisadora por um período de cinco anos e, posteriormente, excluídos.
Em relação ao perfil dos quinze participantes do questionário aplicado na primeira etapa, nas Questões 1 e 2, pode-se afirmar que todos atuam como gestores da rede pública municipal do Rio de Janeiro. A maior parte dos gestores, mais especificamente 76,9% (10 participantes), apresenta de 0 a 5 anos de experiência na função e 23,1% (3 participantes) atuam entre 5 e 10 anos.
Buscando identificar as principais dificuldades encontradas pelos gestores ao gerenciar diversos interesses dos segmentos no processo de condução da unidade escolar, encontramos algumas falas que são relevantes à gestão participativa e às questões relacionadas à adequação das propostas e objetivos, a fim de motivar e contribuir com o desenvolvimento dos alunos e da unidade.
Foi possível observar que muitos são os desafios, contudo desenvolver a gestão participativa, gerando o consenso, é muito difícil.
Contudo, buscando avaliar o uso das redes sociais como estratégia pedagógica e administrativa, promovendo a comunicação da comunidade escolar, encontramos na pesquisa realizada com os 36 participantes dos segmentos que compõem a comunidade escolar que 63% (23 participantes) concordaram totalmente e 33,3% (12 participantes) concordaram parcialmente de que as redes sociais, utilizadas pela unidade escolar, potencializam a participação, a troca de informações e a comunicação com os sujeitos envolvidos.
Vale apontar que as redes sociais WhatsApp e Facebook já eram utilizadas pela gestão, contudo, a proposta da criação do canal no YouTube foi uma estratégia inovadora tecnológica de ampliar as possibilidades de interação. Frente a isso, analisando a opinião dos atores da comunidade escolar, 41,7% (17 participantes) concordaram totalmente e 47,2% (15 participantes) concordaram parcialmente. Os resultados apontam 88,3% (32 participantes) de respostas positivas à proposta. Diante dos resultados obtidos a comunidade escolar não avaliou como uma ferramenta tão potencializadora, mas, vale ressaltar que a pesquisa na comunidade ocorreu antes da criação do canal.
Conclusão
A sociedade contemporânea do século XXI vem passando por transformações tecnológicas em todas as instâncias que a compete, principalmente na área educacional. Novas formas de aprender, ensinar e administrar foram desenvolvidas e descobertas com o advento das tecnologias digitais na educação, promovendo melhoria nos processos de ensino-aprendizagem.
Com o surgimento da pandemia mundial e a necessidade de buscar estratégias para estabelecer uma relação mínima de interação com a comunidade escolar, prosseguindo com as aulas, foi uma missão desafiadora.
As redes sociais WhatsApp e Facebook foram estratégias potencializadas neste novo cenário. As ferramentas citadas já eram utilizadas pela unidade escolar, a fim de compartilhar informações e atividades realizadas nos projetos desenvolvidos na unidade escolar. Contudo, os objetivos do uso destas redes foram ampliados e reformulados. Com o distanciamento social, a única maneira de manter a aproximação, mesmo que de forma virtual com a comunidade escolar, foi por meio do WhatsApp e do Facebook.
A criação de novos grupos no aplicativo WhatsApp propiciou tratar de assuntos específicos de forma muito positiva, sendo possível traçar junto a eles novas formas de participar e interagir. Todas as informações relacionadas à rotina da escola foram postadas, explicadas e orientadas por estes dois espaços. O aplicativo Facebook foi utilizado como estratégia pedagógica sendo possível compartilhar as atividades desenvolvidas pelos educadores que aconteciam no modelo on-line, como também atualizar as informações e orientações diariamente.
A criação do canal A vida é Dulce: Informação em Ação no YouTube contou com a participação de todos os segmentos da comunidade escolar e promoveu a integração entre os educandos, educadores, responsáveis, gestão e demais equipes da unidade escolar. Diversos materiais, produzidos pelos alunos, desenvolveram o protagonismo e foram postados no canal, servindo de acervo pedagógico, possibilitando reflexões e debates críticos a cada temática.
Analisando o aumento de acesso, visualização e inscrição a partir das postagens dos vídeos e atividades exibidas ao vivo no período da pesquisa, foi possível concluir que esta ferramenta possibilitou o impacto inovador tecnológico de ampliar as propostas pedagógicas de aprendizagem promovendo comunicação, interação e participação, garantindo avanços no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos.
Referências
BARTOLINI, J. C. O papel do diretor na gestão democrática: desafios e possibilidades na prática da gestão escolar. Interletras, v. 3, nº 17, p. 1-15, 2013.
CURY, C. R. J. A gestão democrática na escola e o direito à educação. RBPAE, v. 23, nº 3, p. 483-495, 2007.
FARIA, J. H. de. Gestão participativa: relação de poder e de trabalho nas organizações. São Paulo: Atlas, 2009.
LÉVY, P. A conexão planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência. Trad. Maria Lúcia Homem e Ronaldo Entler. São Paulo: Editora 34, 2001.
LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5ª ed. Goiânia: Alternativa, 2004.
LÜCK, H. A gestão participativa na escola. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2008. (Série Cadernos de Gestão).
VALENTE, José Armando. O ensino híbrido veio para ficar. In: ______. Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015.
Publicado em 13 de setembro de 2022
Como citar este artigo (ABNT)
SILVA, Paula Ferreira Tomaz da; ALMEIDA, Veronica Eloi de; SIQUEIRA, Ana Paula Legey. A participação da comunidade escolar por meio das redes sociais. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 34, 13 de setembro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/34/a-participacao-da-comunidade-escolar-por-meio-das-redes-sociais
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1 Comentário sobre este artigo
Deixe seu comentárioEste artigo nos faz refletir sobre a importância do uso da tecnologia, de forma a unir a comunidade escolar fazendo com que os laços entre família e escola se estreitem cada vez mais.
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