O documentário como uma potencialidade educativa na Educação Ambiental

Rosieli Geraldina Merotto Foletto

Mestra em Educação em Ciências e Matemática (IFES), professora da Rede Municipal de Aracruz/ES

Michele Silva da Mata Caetano

Mestra em Educação em Ciências e Matemática (IFES), pedagoga da Rede Municipal da Serra/ES

Isaura Alcina Martins Nobre

Doutora em Educação (UFES), professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática do IFES

Marize Lyra Silva Passos

Pós-Doutora pela Universidade de Hamk (Finlândia), professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática do IFES

Danielli Veiga Carneiro Sondermann

Doutora em Educação (UFES), professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática do IFES

O presente trabalho busca trazer um estudo sobre a utilização de documentários como recurso didático, seguindo a sua construção. Antes de entrar no foco do capítulo, faremos um breve histórico do aparecimento do recurso audiovisual no mundo e sua chegada ao Brasil.

Com o avanço da tecnologia e o surgimento de ferramentas cada vez mais acessíveis pela internet, vários elementos audiovisuais tomaram espaço no meio virtual. Montar um documentário foi um verdadeiro desafio para nós e ter a oportunidade de compartilhar a nossa produção com colegas foi de grande valia para o nosso crescimento.   

A produção desse documentário, inicialmente, exigiu de nós a busca pelo conhecimento a respeito da Educação Ambiental e de tudo o que gostaríamos de mostrar a respeito, para o mundo. Assim, colocamos a nossa criatividade, o nosso empenho e a nossa dedicação à disposição do objetivo de contribuir com o aprendizado das pessoas. Por isso, pensando em uma forma de traduzir o que havíamos pesquisado em algo próximo da realidade, elaboramos um discurso documental sobre uma pessoa e seu trabalho, relacionando este contexto ao movimento de Educação Ambiental (EA), desenvolvido pelo homem de meio milhões de árvores. A seguir, falaremos um pouco mais sobre a produção do nosso documentário.

A produção do documentário surgiu de uma proposta instigada pela disciplina de Análise e Produção de Recursos Didáticos, cursada pelas autoras no Mestrado em Educação em Ciências e Matemática, ofertado pelo Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). Além de discutir sobre bases teóricas e metodológicas para a produção de recursos didáticos, a disciplina tinha, como objetivo, trabalhar o planejamento e a produção de um produto educacional. Dessa forma, o presente capítulo busca esclarecer os passos necessários para a produção de um documentário, que foi o nosso produto pedagógico realizado para a disciplina mencionada.

O início: câmera, luz e ação

Os primeiros atos cinematográficos conhecidos foram registrados por meio de câmeras, que deram início às produções documentais. Mergulhando na história, encontramos registros de que as primeiras cenas animadas e projetadas foram feitas pelos irmãos franceses Lumière, conforme mostra a Figura 1, datada de 28 de dezembro de 1895, no famoso e deslumbrante Café Paris, onde aconteceu a primeira sessão pública de cinema.

Figura 1: Projetor cinematográfico de Lumière

Fonte:  ttps://www.flickr.com/photos/32324005@N07/3022918364/in/photolist-7C3FPv-5B8fj9. Criado por Lahipatia.

Com o passar dos dias e a propagação da maravilha assistida, rapidamente, as filas se fizeram presentes no café. As sessões eram diárias e tinham, em média, a duração de trinta minutos cada. As cenas retratavam pequenos momentos da vida diária dos irmãos Lumière, conforme a Figura 2.

Figura 2: Irmãos Lumière

Fonte: Site ABC Toledo Ciudad. Matéria escrita por Rafael Del Cerro Malagón.

A tecnologia cinematográfica tem as suas raízes no começo dos anos 1830, quando Joseph Plateau da Bélgica e Simon Stampfer da Áustria desenvolveram simultaneamente um aparelho chamado Fenacistoscópio, que incorporava um disco cilíndrico giratório com ranhuras através das quais uma série de desenhos poderiam ser vistos criando o efeito de uma imagem simples movendo-se. Ao Fenacistoscópio, considerado o precursor dos modernos projectores cinematográficos, seguiram-se décadas de avanços (Brito, 2017).

Por volta do ano de 1890, surge o cinematógrafo, criado por William Kennedy Laurie Dickson, inventor que trabalhava no Edison Laboratories (pertencente a Thomas Edison). Uma anotação feita pelo inventor, datada do ano de 1888, traz a ideia do que Thomas Edison pensava a respeito da câmera cinematográfica: “Estou experimentando um instrumento que faz com os olhos aquilo que o fonógrafo faz com os ouvidos”.O dispositivo inventado, conforme a Figura 3, tinha o objetivo de gravar várias imagens. Quando as imagens eram apresentadas, com certa rapidez, dava a impressão de movimento.

Figura 3: Cinematógrafo

Fonte: Wikimedia Commons.

Os irmãos Lumière industrializaram a fabricação do seu cinematógrafo que, na verdade, era uma câmera-projetor. Com o passar dos tempos, a produção de filmes foi se expandindo e se tornado cada vez mais sofisticada e lucrativa. Dessa forma, a indústria cinematográfica cresceu e atravessou fronteiras. Encontramos marcos desses registros em Sadoul (1983):

No fim de 1896, o cinema tinha saído definitivamente do laboratório. As marcas de máquinas registradas já se contavam às centenas. Lumière, Méliès, Pathé e Gaumont, na França; Edison e a firma produtora Biograph, nos Estados Unidos, e William Paul, em Londres, tinham firmado as bases da indústria cinematográfica e, todas as noites, milhares de pessoas se dirigiam para as salas escuras (p. 43).

Podemos exemplificar a capacidade comercial tomada pela indústria cinematográfica, quando verificamos, na história, a forma como os exibidores itinerantes foram ganhando espaço nas cidades, mostrando a mais nova e impressionante tecnologia da época. Esse caminhar do cinema foi fundamental para disseminar o entretenimento entre os povos, encantando populações distintas, em países pelo mundo.

Cinematografia – chegada ao Brasil

Registros feitos por Alex Vianny (1993) contam que, dezoito meses após o primeiro registro de cenas cinematográficas realizado na França, o cinema chegou ao Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro. A primeira sessão é feita em 8 de julho de 1896, em uma sala da Rua do Ouvidor, já muito frequentada e conhecida pelos membros da corte.

O aparelho utilizado para as sessões nas salas que funcionavam das 11h às 22h era chamado de Omniógrapho, um projetor de imagens animadas de fotografias. A chegada da tecnologia não poderia ser diferente, no Brasil. Ele foi o responsável por muitas notícias em jornais da época. Podemos destacar o A Notícia, um dos mais importantes do Rio de Janeiro:

Ontem, vimos pela primeira vez nesta capital as projeções de fotografia em movimento. Lembram-se do cinetoscópio? Pois bem, no Omniógrafo, à Rua do Ouvidor, 57, os corpos que o cinetoscópio nos mostrava em movimento são projetados sobre um pano translúcido e mais nitidamente vistas, portanto, imaginem os leitores milhares de fotografias colhidas, surpreendendo, por exemplo, em dois minutos as mais diversas fases do movimento de uma cena ou de um trecho de paisagem. Em uma fita, correm, em rotação de uma celeridade incalculável, mil rotações por minuto, todas essas fotografias recompondo a vida, revivendo as cenas em todos os seus pormenores. [...] Só se pode avaliar a exatidão dos movimentos, da surpreendente verdade transmitida pelo Omniógrafo, assistindo a essa exibição [...]. O Omniógrafo deve ter o maior êxito, os leitores que hão de ter a curiosidade de lá ir, terão que concordar conosco em que a fotografia é o vivo demônio (Viany, 1993, p. 131).

Naquele tempo, a população tinha os circos, os passeios, as apresentações de danças e de teatros, como divertimentos. No Brasil, o cinema veio para mudar radicalmente o gosto da população. Com o passar dos anos, o Rio se constituiria em um lugar de proliferação de cinematógrafos, com a construção de pequenas e longas metragens, documentários e outros vídeos que seriam disseminados em todo o país.

Documentários - histórico e conceitos

Entendendo com mais clareza sobre o surgimento dos recursos audiovisuais em todo o mundo, falaremos um pouco sobre o documentário e sua história.

No ano de 1920, o recurso documentário teve seu fortalecimento com os trabalhos feitos por Robert Flaherty que começou a produzir filmes de não ficção. Seu primeiro trabalho foi o filme conhecido como Nanook, o esquimó, que retratava a vida de uma comunidade de esquimós. Este trabalho foi pioneiro em termos de documentário. Para Flaherty, um documentário deveria “representar a vida no próprio meio em que se vive”'. Por isso, as filmagens deveriam ser feitas no próprio local com seus habitantes.

Silvio Da-Rin (2006) faz menção à associação de realizadores da Word Union Documentary e definiu o documentário da seguinte forma:

todo método de registro em celuloide de qualquer aspecto da realidade interpretada tanto por filmagem factual quanto por reconstituição sincera e justificável, de modo a apelar seja para a razão ou emoção, com o objetivo de estimular o desejo e a ampliação do conhecimento e das relações humanas, como também colocar verdadeiramente problemas e suas soluções nas esferas das relações econômicas, culturais e humanas (2006, p. 15).

De acordo com Nichols (2005), os documentários podem ser destacados por seis modos de representações:

  1. Expositivo: Uso constante de seus elementos em noticiários de TV. O modo expositivo preocupa-se mais com a defesa de argumentos do que com a estética e a subjetividade. Os documentários com essa característica predominante têm como marca diferencial a objetividade e procuram narrar um fato de maneira a manter a continuidade da argumentação.
  2. Poético: O modo poético evidencia a subjetividade e se preocupa com a estética. Há uma valorização dos planos e das impressões do documentarista a respeito do universo abordado. Em relação à construção do texto, podem-se usar poemas e trechos de obras literárias.
  3. Observativo: Nesse modo, o documentarista busca captar a realidade tal como aconteceu. Para isso, evita qualquer tipo de interferência que caracterize o falseamento da realidade. Apenas há um registro dos fatos sem que o documentarista e sua equipe sejam notados.
  4. Participativo: O modo participativo, como o próprio nome sugere, é marcado por mostrar a participação do documentarista e sua equipe. Dessa forma, torna-se um sujeito ativo no processo de gravação/filmagem, pois aparece em conversa com a equipe e provoca o entrevistado para que este fale.
  5. Reflexivo: O modo reflexivo deixa claro para o telespectador quais foram os procedimentos da filmagem, evidenciando a relação estabelecida entre o grupo filmado e o documentarista. Preocupa-se com o processo de negociação entre cineasta e espectador, indagando as responsabilidades e consequências da produção do documentário para cineasta, atores sociais e público.
  6. Performático: Caracteriza-se pela subjetividade e pelo padrão estético adotado, utilizando as técnicas cinematográficas de maneira livre. Facilmente confundido com o modo participativo: o cerne da diferença parece estar no fato de que, quando o modo participativo envolve o cineasta para a história, mas tenta construir verdades que devem ser autoevidentes para qualquer pessoa, o modo performativo envolve o cineasta para a história, mas constrói verdades subjetivas que são significativos para o cineasta si mesmo.

O mesmo autor traz sua visão a respeito da estrutura de cada subgênero:

Esses seis modos determinam uma estrutura de afiliação trouxa, na qual os indivíduos trabalham; estabelecem as convenções que um determinado filme pode adotar e propiciam expectativas específicas que os espectadores esperam ver satisfeitas. Cada modo compreende exemplos que podemos identificar como protótipos ou modelos: eles parecem expressar de maneira exemplar as características mais peculiares de cada modo. Não podem ser copiados, mas podem ser emulados quando outros cineastas, com outras vozes, tentam representar aspectos do mundo histórico de seus próprios pontos de vista distintos (p. 135).

Entendemos que cada subgênero sinaliza uma maneira de apresentar ou representar um mundo histórico, um modelo de como explicar a relação da realidade com um conjunto de questões e desejos que possam inquietar o público e despertar nele algum interesse.

Educação Ambiental para além dos muros escolares

Como evidenciamos anteriormente, este capítulo tem como objetivo relatar a produção de um documentário. Vimos, anteriormente, que existem várias representações para esse tipo de produção. Desta forma, sentimos a necessidade de relatar um pouco sobre o tipo de documentário produzido e o tema escolhido para ser desenvolvido, que é uma das fases para a produção do recurso.

A relação entre o homem e a natureza está cada vez mais dividida em partes, pois o homem vem quebrando elos com a natureza e perdendo o sentimento de pertencimento, estabelecendo relações de dominação e exploração. Sendo assim, optamos pela produção de um recurso didático que trouxesse discussões sobre a importância de uma Educação Ambiental crítica, discussões que pudessem transcender os muros da escola, representada por alguém fora do contexto escolar.

A Educação Ambiental desenvolve práticas, atitudes e valores direcionados ao ser humano, que potencializam um comportamento voltado à transformação do meio em que ele vive, superando e mudando a realidade existente.  

Essa transformação deve acontecer tanto em seus aspectos naturais, como nos aspectos sociais, com o objetivo de desenvolver, nos indivíduos, habilidades e atitudes necessárias para uma real e necessária transformação. Loureiro (2004, p. 82) a conceitua assim:

Educação Ambiental é uma perspectiva que se inscreve e se dinamiza na própria educação, formada nas relações estabelecidas entre as múltiplas tendências pedagógicas e do ambientalismo, que têm no “ambiente” e na “natureza” categorias centrais e identitárias. Neste posicionamento, a adjetivação “ambiental” se justifica tão somente à medida que serve para destacar dimensões “esquecidas” historicamente pelo fazer educativo, no que se refere ao entendimento da vida e da natureza, e para revelar ou denunciar as dicotomias da modernidade capitalista e do paradigma analítico linear, não dialético, que separa: atividade econômica, ou outra, da totalidade social; sociedade e natureza; mente e corpo; matéria e espírito, razão e emoção etc.

Dessa forma, considerando o sentimento de pertencimento de todos na corresponsabilidade de ações ativas, em conjunto da coletividade organizada, deve ser direcionado na busca da solução dos problemas em EA. Acreditamos que a Educação Ambiental deva superar as relações existentes entre homem e natureza, estabelecendo uma reflexão consciente da importância do meio ambiente e de sua conservação.

Nesse sentido, Guimarães (2007, p. 107) relata sobre o princípio básico da Educação Ambiental:

É a atenção com o meio natural e artificial, considerando fatores ecológicos, políticos, sociais, culturais e estéticos. A Educação Ambiental deve ser contínua, multidisciplinar, integrada dentro das diferenças regionais, voltada para interesses nacionais e centrada no questionamento sobre o tipo de desenvolvimento. Tem como meta prioritária a formação nos indivíduos de uma consciência coletiva, capaz de discernir a importância ambiental na preservação da espécie humana e, sobretudo, estimular um comportamento cooperativo nas diferentes relações inter e intra nações.

Assim, acreditamos que esse deva ser o princípio e a preocupação de todos os indivíduos que estão à procura do desenvolvimento tecnológico. Desse modo, que o façam sem esgotar os recursos naturais, podendo manter uma relação sadia entre homem e natureza.

Metodologia

A metodologia utilizada para montar o documentário se baseou no modelo ADDIE (em inglês é a abreviatura de Analysis, Design, Development, Implementation, Evaluation), que significa, análise, design, desenvolvimento, implementação e avaliação. Conforme Filatro (2008) relata, o modelo ADDIE faz a separação entre a etapa de concepção, constituída das fases de análise, design e desenvolvimento, e a etapa de execução, constituída pelas fases de implementação e avaliação, conforme a Figura 4.

Figura 4: Fases do modelo ADDIE

Fonte: Adaptado de Filatro (2008).

Na metodologia ADDIE, a fase de análise consiste em identificar a necessidade de produzir o conteúdo, levantar as características do público-alvo e verificar quais as potencialidades e restrições de infraestrutura tecnológica e mídias, pensando na produção e no uso do recurso didático. É nesta fase que se busca entender o problema ou o produto a ser criado para que seja projetada uma solução o mais aproximada possível, de acordo com o objetivo do trabalho.

Conforme relatam Filatro e Cairo (2015, p. 153), “quanto mais bem compreendidas forem as necessidades educacionais na fase de análise, maior será a probabilidade de prover soluções adequadas”.

A fase de design consiste no planejamento e definição dos elementos necessários para a criação do recurso didático. Por exemplo, a definição da equipe que será responsável pelo seu desenvolvimento, definição do cronograma bem como dos conteúdos que serão abordados, a definição das estratégias de aprendizagem para que os objetivos traçados na fase de análise sejam alcançados. Conforme orienta Toyota (2018), “essa fase é extrema­mente importante, pois neste momento será definido tudo que deve ser produzido”. Vale lembrar que para orientar a fase de desenvolvimento, as decisões são registradas em um documento.

Já a fase do desenvolvimento é marcada pelo maior tempo de dedicação, pois tem como característica o momento em que se deve reunir a utilização das mídias, da linguagem textual, visual, sonora e hipertextual. A soma dessas tarefas é reunida e sincronizada, com o intuito de que as ideias traçadas nas fases anteriores comecem a ser moldadas. É neste estágio que, de fato, inicia-se a sua produção, conforme Filatro e Cairo (2015, p. 155): “esse é o momento da verdade para muitos projetos, quando as ideias saem efetivamente do papel e se tornam tangíveis por meio da produção de conteúdos inéditos ou pela adaptação de conteúdos já existentes”.

Ressaltamos que estas três fases explicadas anteriormente fazem parte da etapa de concepção do projeto.

Seguindo para a fase de implementação, que faz parte da etapa de execução, veremos que ocorre a aplicação do recurso didático, ou seja, é quando o produto educacional é disponibilizado ao público-alvo definido no início do projeto na fase de análise. Filatro e Cairo (2015, p. 155) ressaltam que “é nela que ocorre a ação educacional propriamente dita”.

Finalizando o processo de metodologia do modelo ADDIE, seguimos para a fase de avaliação, quando são analisadas a efetividade da proposta bem como a qualidade dos conteúdos educacionais produzidos no recurso didático, assim como os resultados de aprendizagem dos alunos. Com esta fase, que é a última da metodologia ADDIE, conclui-se a etapa de execução do projeto.

A produção: O homem de meio milhão de árvores

A produção do documentário traz critérios de discussão de métodos de uma Educação Ambiental, em realidades escolares, que podem ser vivenciados a partir de algumas práticas educativas focadas no tema.

Nessa perspectiva, o assunto abordado no documentário expõe experiências reais de problemas em relação ao meio ambiente e impulsiona ideias, que podem gerar métodos e didáticas diversificadas para abordar o assunto em sala de aula e fora dela. O documentário procurou, dentro de sua redação, abordar um tema de urgência que se faz necessário atualmente.

Fase de Análise

Iniciamos esta fase com o intuito de construir um documentário sobre Educação Ambiental que possa ser utilizado como ferramenta educacional, a fim de despertar a curiosidade no aluno, possibilitando que se tornem multiplicadores de atitudes corretas em relação ao meio onde vivem.

O produto educacional é voltado para um vasto público, pois não há restrições de faixa etária e/ou de gênero. Nele, há a presença de sons, imagens e algumas legendas, atendendo a um grande número de pessoas. O estilo de linguagem, utilizado no produto, é simples para que seja de fácil acesso e entendimento, mas também pode ser utilizado em ambientes formais, ou não formais, de educação. Devido ao pouco tempo que tínhamos para fazer a edição do documentário, não foi possível finalizá-lo em Libras (Língua Brasileira de Sinais) e/ou com audiodescrição. Entretanto, pretende-se futuramente inserir os recursos mencionados com o intuito de tornar o produto mais acessível.

Para gravar a entrevista, bem como fotografar as reportagens e os portfólios disponibilizados pelo entrevistado, utilizamos o aparelho celular de uma das autoras.  A verba gasta com transporte para chegar ao local onde foi gravado o documentário veio das autoras deste trabalho. Não tivemos nenhum problema com restrições de imagens ou/e outros.

Para a produção do documentário foram utilizados softwares com versões gratuitas, disponibilizadas na internet, além da utilização das músicas instrumentais, disponíveis em acervos de bibliotecas de sites de domínio público.

Com a aprovação do produto, após a avaliação das professoras bem como dos demais mestrandos da turma, ele poderá ser disponibilizado em canal aberto da internet para que possa ser utilizado pelas demais pessoas.

Fase de Design

Para esta fase foi definido pelas autoras que ambas seriam as responsáveis por desenvolver o projeto. Após a escolha do tema e a definição da pessoa que seria entrevistada, passou-se para a definição do cronograma do projeto, atentando para a data e o local da entrevista, bem como das demais datas que envolveriam a produção do documentário.

Foi utilizado o software Camtasia para a montagem do vídeo e o software Google Desenho, para a montagem das imagens. A trilha sonora utilizada estava disponível em acervos da biblioteca do YouTube. O vídeo foi iniciado com o entrevistado contando sobre como ele começou a plantar as árvores (Figura 5).

Figura 5: Storyboard do documentário

Após esse relato, decidimos colocar fotos de antes e depois da arborização de ruas e de locais de reflorestamento feitos pelo entrevistado ao longo dos anos. Posteriormente, pensamos em contar sobre o surgimento dos bombeiros voluntários que foi feito com a narrativa do entrevistado e com a demonstração de fotos.

A partir de então, seguimos para os projetos realizados nas escolas, que o entrevistado narrou como ocorre e inserimos fotos de algumas oficinas e demais momentos nas escolas. Em seguida, inserimos a parceria que o entrevistado realiza juntamente com o IFES, com a narrativa e o registro das fotos.

Já pensando no final do documentário, para que não ficasse muito longo, pensamos em inserir como é a coleta de sementes, explicada pelo entrevistado que também demonstrou como é feita a conservação dessas sementes.

Pensando nas cenas finais foi demonstrado, pelo entrevistado, a preparação das mudas das árvores e como são os viveiros. O documentário foi encerrado com algumas imagens de entrevistas para revistas locais, nacionais e internacionais realizadas a respeito do trabalho do entrevistado.

Fase de Desenvolvimento

Para a realização da entrevista a ser utilizada no documentário, optamos por realizar um encontro com a personagem, que é um ator social, e conversas informais em ambiente contextualizado, relacionando-o com o assunto abordado para que pudesse propagar uma atitude valiosa para o bem do meio ambiente.

Quando fomos à casa do nosso entrevistado, tratamos de contar sobre seus testemunhos e trabalhos da maneira mais verídica possível, sem prejudicá-lo. O nosso intuito, desde o início, foi o de contar o belíssimo trabalho que o entrevistado realiza em prol do meio ambiente de forma voluntária, como projeto de vida. Tivemos com o entrevistado uma relação ética, de respeito e lealdade, de quem quer falar para quem quer ouvir. O nosso primeiro passo foi a pesquisa para o nascimento da nossa pequena obra, “O homem de meio milhão de árvores”.

Para a construção do documentário foram realizados testes com alguns softwares, como o Windows Movie Player, o Sony Vegas, o Format Factory, o Filmora Wondershare e o Camtasia. Optamos pelo Camtasia pelo fato dele possuir uma linguagem com maior facilidade de entendimento.

Como a sequência do documentário já havia sido traçada na fase do design, iniciou-se a sua produção com a edição dos vídeos, fazendo alguns cortes e estruturando cenas.

Foram atribuídos desenhos às imagens que já haviam sido editadas no Google desenhos. Também, foram inseridas as músicas após as imagens serem previamente escolhidas.

A construção do documentário, entre a gravação da entrevista e a edição, durou cerca de 45 horas, conforme mostra a Figura 6. Na validação do documentário, em sala de aula, houve algumas observações feitas. O tempo de edição final foi reduzido para 16 horas.

Figura 6: Cenas do documentário

Fase de Implementação

O recurso didático desenvolvido foi apresentado na aula de Análise de Recursos Didáticos, no dia 25 de maio de 2018, para quatro professores do Mestrado e 17 mestrandos que atuam como professores na Educação Básica.

O documentário passou pela validação por meio do formulário criado pelas professoras da disciplina, utilizando o aplicativo Google Forms. Por meio dele, os mestrandos puderam avaliar e sugerir observações para a melhoria do recurso didático, conforme mostram os gráficos demonstrados pela Figura 7. O documentário foi aprovado com algumas observações, tais como, colocar uma explanação no início, colocar legendas em algumas cenas e inserir os créditos na sua finalização.

Figura 7: Gráficos com a validação do recurso didático

Fase de Avaliação

Observamos que os resultados foram satisfatórios, pois as pessoas que assistiram ao documentário ficaram entusiasmadas com o assunto abordado. Percebemos, durante a apresentação, que houve interesse por parte dos mestrandos em conhecer pessoalmente o trabalho do entrevistado, visto que, analisaram ser ele um trabalho admirável e de grande importância.

Nessa perspectiva, acreditamos que a nossa prática atendeu aos objetivos pensados na produção do produto educacional, a saber, o interesse de fomentar nos educadores o desejo de construir seus próprios produtos educacionais, auxiliando na promoção de diferentes estratégias de ensino, que buscam integrar os alunos, motivando-os ao interesse pelos conteúdos das aulas. Dessa forma, o documentário é uma ferramenta de grande potencial educativo.

O documentário está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9proCvia_ng.

Considerações finais

Acreditamos que documentários devem ser produzidos e discutidos dentro do mundo acadêmico, pois como recursos audiovisuais, se tornam meios completos de comunicação para absorção de um tema.

Nessa perspectiva, as autoras deste capítulo puderam vivenciar um aprendizado significativo acerca de procedimentos metodológicos que podem ser utilizados em espaço de Educação Formal ou não. A produção construída, deu a oportunidade da investigação e da fundamentação científica de inquietações metodológicas sobre a linguagem a partir da sua utilização como recurso educativo.

Levando em consideração o ambiente escolar, acreditamos que o recurso didático aqui desenvolvido, tem grande importância no contexto escolar, destacando que seu uso contribui para aprendizagem dos alunos, como recurso audiovisual que desperta a curiosidade dos alunos, induz à pesquisa, motiva mudanças de postura e traz um tema da realidade social.

Concluindo, torna-se necessária a discussão da produção de recursos didáticos, como documentários, nos diversos níveis de escolaridade, principalmente no contexto da Educação Superior, discutindo novas propostas de instaurar uma mentalidade com práticas pedagógicas capazes de mobilizar um conjunto de saberes, capacidades e informações, com o objetivo de contribuir para uma visão crítica da realidade. 

Referências

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DA-RIN, Silvio. Espelho partido - tradição e transformação do documentário cinematográfico. Rio de Janeiro: Azougue, 2006.

FILATRO, A. Design instrucional na prática. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2008.

FILATRO, A.; CAIRO, S. Produção de conteúdos educacionais. São Paulo: Saraiva, 2015.

GUIMARÃES, Mauro. A dimensão ambiental na educação. 8ª ed. Campinas: Papirus, 2007.

LOUREIRO, C. F. B. Educação Ambiental transformadora. In: LAYRARGUES, P. P. (coord.). Identidades da Educação Ambiental brasileira. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004.

NICHOLS, B. Introdução ao documentário. Trad. Mônica Saddy Martins. Campinas: Papirus, 2005. (Coleção Campo Imagético.)

SADOUL, G. História do cinema mundial: das origens aos nossos dias. v. 1. Trad. Manuel Ruas. Lisboa: Livros Horizonte, 1983.

TOYOTA, J. O que significa ADDIE? 2018. Disponível em: http://www.designinstrucional.com.br/o-que-significa-addie/. Acesso em: 25 jun. 2018.

VIANY, Alex. Introdução ao cinema brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 1993.

Publicado em 27 de setembro de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

FOLETTO, Rosieli Geraldina Merotto; CAETANO, Michele Silva da Mata; NOBRE, Isaura Alcina Martins; PASSOS, Marize Lyra Silva; SONDERMANN; Danielli Veiga Carneiro. O documentário como uma potencialidade educativa na Educação Ambiental. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 36, 27 de setembro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/36/o-documentario-como-uma-potencialidade-educativa-na-educacao-ambiental

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