Os desafios e as dificuldades encontradas na disciplina de Geografia na E. M. Antonio José de Lima, em Morro do Chapéu/PI

Tiago Magalhães Pontes

Licenciado em Educação Física (UESPI), em Letras - Português (Claretiano) e em Computação (UFPI/UAB), pós-graduado em Treinamento Desportivo

Marciana Aguiar Rodrigues

Graduada em Geografia (UFPI)

A pesquisa apresentada foi realizada na Escola Municipal Antonio José de Lima, na comunidade Vila São Pedro, na cidade de Morro do Chapéu/PI. O trabalho foi desenvolvido respeitando a etapa das pesquisas bibliográficas e de trabalho de campo. A pesquisa bibliográfica realizou-se por livros, revistas acadêmicas, internet e outros. Dessa forma, podemos nos basear em autores que enriqueceram este trabalho. No trabalho de campo, realizamos visitas, entrevistas e aplicações de questionários com os alunos da escola citada e uma entrevista com o professor de Geografia da escola que leciona do 6º ao 9º ano no Ensino Fundamental.

A partir destas preocupações, definiu-se o problema: “Quais os desafios e as dificuldades encontradas na disciplina de Geografia pelos alunos e pelo professor na Escola Antonio José de Lima, em Morro do Chapéu/PI?”

Esta pesquisa traz, como objetivo geral, compreender os desafios e as dificuldades encontradas na disciplina de Geografia no processo de ensino-aprendizagem. Como objetivos específicos, o trabalho busca encontrar as modificações necessárias ocorridas no processo de ensino-aprendizagem, além de identificar quais ferramentas tecnológicas são utilizadas nas referidas aulas e a percepção do professor para tornar suas aulas mais atrativas.

A escolha da temáticase deu a partir do momento em que percebemos a dificuldade de entendimento dos conteúdos, a falta de recursos didáticos, materiais e a desmotivação dos alunos na disciplina de Geografia.

Nesta etapa da pesquisa, recorremos à abordagem qualitativa de natureza interpretativa dos referenciais teóricos específicos por pesquisas bibliográficas. Como instrumento, optou-se pelo questionário do tipo misto, realizado em novembro de 2021, com 68 alunos e um professor do Ensino Fundamental da Escola Municipal Antonio José de Lima.

A conclusão destina-se às considerações finais acerca da pesquisa e dos seus resultados. Observaremos, nas reflexões finais, as possíveis contribuições da proposta.

Desenvolvimento

No processo de aprendizagem, o ensino de Geografia tem sido marcado por intensos debates, no entanto, vale ressaltar uma das principais dificuldades, a saber, a qualificação do profissional para atuar na disciplina, a metodologia voltada às novas tecnologias e a falta de recursos suficientes para trabalhar a Geografia no Ensino Fundamental.

O trabalho do professor torna-se mais complexo diante das dificuldades de leitura e compreensão do mundo sobre o ensino de Geografia. Muitos acreditam que se trata de uma disciplina desinteressante, elemento de uma cultura que necessita da memória para reter nomes de países, rios, altitudes e regiões.

Segundo Santos (2004, p. 37), a Geografia crítica é uma retomada das discussões da interdisciplinaridade. O mesmo acontece quando se prega um desafio. Na verdade, o princípio desta interdisciplinaridade ressalta, ainda que, para ter sucesso, precise partir do próprio objeto da nossa disciplina. Uma das principais dificuldades percebidas no Ensino Fundamental é como atuar na prática docente, em uma variedade curricular de alunos que migraram de outras escolas e trazem várias formas de conhecimentos vividos nesses anos anteriores.

Segundo Vicentin (1992, p. 15), a análise sobre a política do livro didático, nos últimos 20 anos no Brasil, parte de duas premissas: a) a política sobre o livro didático é a mesma utilizada em anos anteriores e isto tem cunho estatal; b) a política do livro didático está no contexto da política educacional e global. Para o autor, ao longo da história do livro didático não se identificam instituições (igrejas, sindicatos e editoras) envolvidas na discussão, pois apenas o estado tem definido o material a ser utilizado no processo de ensino-aprendizagem. Esse fato pode ser a causa das dificuldades encontradas no aprendizado de muitos alunos que utilizam esse material durante o ciclo escolar.

A Geografia no processo de ensino-aprendizagem

A aprendizagem da Geografia no Ensino Fundamental representa um processo de continuidade. Neste ciclo, o aluno deverá avançar teórica e metodologicamente, em relação ao campo epistemológico da Geografia dos ciclos anteriores. No terceiro ciclo, o estudo da Geografia poderá recuperar questões relativas à presença e ao papel da natureza, assim como sobre a sua relação com a ação dos indivíduos, dos grupos sociais e, de forma geral, da sociedade na construção do espaço. Para tanto, a paisagem local e o espaço vivido são as referências para o professor organizar seu trabalho e, a partir daí, introduzir os alunos nos espaços mundializados (Morais, 1999, p. 96).

A caracterização e a observação dos elementos presentes na paisagem é o ponto inicial para uma compreensão mais ampla das relações entre a natureza e a sociedade. Por causa de questões políticas, hábitos culturais ou atividades econômicas é possível analisar as transformações que a paisagem sofre, expressas de diferentes maneiras no próprio meio em que os alunos vivem.

De acordo com Dias (2001, p. 47), mesmo que o professor se atente à defasagem entre o conteúdo do livro e a realidade objetiva do aluno, ele não consegue articular a situação retrabalhando o material que utiliza. Desta forma, o livro didático continua assumindo o comando da sala de aula.

É possível problematizar as interações entre o espaço global e o local, buscando suas diferenças e semelhanças, transformações e permanências, distantes no tempo e no espaço. Torna-se importante que o docente ofereça a oportunidade de um conhecimento organizado de sua área. Procurar valorizar o seu lugar de vida, tendo sempre o cuidado de lançar mão de uma didática que valorize a experiência do seu aluno. O aluno e a matéria são dois elementos fundamentais que tornam o ensino um processo dinâmico. Os dois elementos estão interligados, pois são participativos e ativos e a ação de uma influência na ação do outro.

O professor tem uma responsabilidade muito grande e, ao mesmo tempo, liberdade na escolha do conteúdo, assim como da forma como trabalhar com seus respectivos alunos, com a intenção de atingir melhor os seus objetivos.

A Geografia em sala de aula

O saber, para ser adquirido, ensinado e avaliado, sofre transformações. A organização, a partir de materiais reconstruídos, simplificação, redução em lições, exercícios e aulas, deve se inscrever num contexto visível, que fixa o estatuto do saber, da atenção, do erro, da originalidade, do esforço, das perguntas e das respostas.

Sobre esse assunto, Cavalcante (2010, p. 17) diz:

Alguns estudos têm demonstrado que o desempenho do sujeito será melhor quando a motivação muito baixa não promove a ação para aprender, não se mobiliza por outro lado à motivação muito alta gera cansaço, e ansiedade, o que pode prejudicar o raciocínio e a recuperação de informação da memória, necessárias para aprender.

Portanto, sem que haja investimentos na qualificação e valorização do professor, não haverá melhoria nos livros didáticos. Abordagens recentes da Geografia têm buscado práticas pedagógicas que permitam colocar os discentes em diferentes situações, vivência e lugares. Dessa forma, espera-se que os alunos desenvolvam a capacidade de identificar e refletir sobre diferentes aspectos da realidade, compreendendo a relação sociedade/natureza.

Essas práticas envolvem procedimentos de observação, problematização, descrição, registro, documentação, representação e pesquisa dos fenômenos sociais, culturais ou naturais que compõem a paisagem e o espaço geográfico, na busca de explicações das relações e formulação de hipóteses, transformações e permanências que se encontram em interação.

É necessário o convívio do aluno com o professor em sala de aula, principalmente quando pretende desenvolver algum pensamento crítico sobre a realidade. A vivência do aluno deve ser valorizada a fim de que perceba que a Geografia faz parte do seu dia a dia. Com a ajuda do professor, ele traz, para o interior da sala de aula, a sua experiência. No ensino, alunos e professores poderão procurar entender que tanto a sociedade como a natureza constituem os fundamentos com os quais o território, a paisagem e a região são construídas.

É importante que o professor planeje e crie situações de aprendizagem nas quais os alunos possam conhecer e utilizar os procedimentos de estudos geográficos.

A nova Geografia escolar

A nova Geografia escolar deve se relacionar com todos os seus ramos de conhecimento. A fragmentação das instâncias é um dos grandes problemas da Geografia clássica, pois os alunos estudam tudo separadamente, obtendo uma visão fragmentada do todo. A Geografia é ensinada de maneira separada pela maioria dos professores, como o estudo da população, do clima, da vegetação etc. Com isso, os alunos não conseguem conectar os fatos e ver que a população só está naquela dimensão quantitativa, porque as qualidades naturais qualitativas permitiram.

Partindo do princípio da conectividade, o professor pode desenvolver diversas atividades que despertem a criatividade dos alunos e prendam a sua atenção. Assim, quando o professor de Química desenvolve experiências, um professor de Geografia também pode desenvolvê-las. O professor de Geografia tem diversas possibilidades para atuar e fazer com que o aluno se interesse por sua disciplina. Existem infinitas possibilidades, desde a produção de pluviômetros, pequenas hortas, composteira, até a construção de filtros naturais e materiais artesanais, feitos com matéria reciclada. São inúmeras as possibilidades!

O professor de Geografia é um privilegiado, por poder fazer instrumentos interessantes e trabalhos de campo em locais ricos de uma beleza natural ou visitas a locais históricos e museus. Visitas a espaços urbanos também são bem-vindas, pois ajudam a compreender a estrutura, as formas e os fluxos da cidade. Com isso, há uma gama de locais em que a Geografia pode atuar, privilegiando esse educador que pode transitar por todos esses espaços.

É importante destacar também que a Geografia é uma matéria com um efeito visual, que deve ser bem usado. As ilustrações podem despertar o interesse dos alunos, pois como diz o ditado popular “uma imagem vale mais que mil palavras”. Tanto em relação aos fenômenos naturais, quanto aos urbanos e socioeconômicos, a imagem garante minutos de atenção quase que automáticos dos alunos. Na atual sociedade, as imagens falam por si mesmas, pela TV, pelo computador, pelas propagandas, de todos os tipos. Por isso, o professor deve se aproveitar da lógica da sociedade do espetáculo para garantir às suas aulas o interesse dos alunos. A Geografia deve fazer o uso da imagem e da ilustração, principalmente, no estudo dos mapas e cartas. O uso do mapa é indispensável quando os alunos precisam reconhecer os territórios e as regiões a fim de adquirirem uma base de localização. Sem esta base, os fenômenos que acontecem no mundo não serão compreendidos.

O professor da nova Geografia escolar deve romper com o distanciamento entre a realidade vivida e a estudada. O professor deve iniciar os estudos dos alunos a partir da realidade vivida por eles, assim, quando for apresentar estudos sobre os fenômenos urbanos, o professor pode pedir para que os alunos façam uma análise de sua própria rua, de seu próprio bairro e/ou sua própria casa. O educador deve sempre tentar remeter o ensino da Geografia ao cotidiano dos alunos, buscando ativar a memória das suas vivências.

Além disso, os livros didáticos devem ser constantemente reformulados. Muitos estão desatualizados, pobres de conteúdos, mal ilustrados e apresentam a velha dinâmica da Geografia clássica, fragmentada em tópicos, tais como clima, relevo, vegetação, população etc. Os conteúdos didáticos precisam inovar com o objetivo de romper com esse paradigma. Os alunos devem começar estudando a respeito do lugar onde nasceram, a cronologia deve ser reformulada. Primeiramente, estudar o seu estado e o seu país para compreender a dinâmica em que vivem. Depois, estudar as regiões mais distantes.

É preciso possibilitar que os alunos criem uma percepção crítica de sua própria realidade, desenvolvendo a consciência de sua cidadania. O professor que dá aula em uma região rural deve partir do estudo da área rural para que seus alunos consigam conectar os fatos e não fiquem perdidos achando que a Geografia é uma Ciência inútil, desvinculada deles. Os professores devem estabelecer relação entre a vivência dos alunos e o estudo da Geografia. 

Metodologia, análise e discussão dos dados

Tendo sido desenvolvido o referencial teórico e feita a sua contextualização, a seguir apresentamos os procedimentos adotados para a aquisição das informações e a descrição dos instrumentos utilizados para a pesquisa. Segundo Andrade (1987, p. 65), abordagens atuais da Geografia têm buscado práticas pedagógicas que permitam colocar, aos alunos, as diferentes situações, de modo a construir compreensões novas e mais complexas a respeito.

Conforme alertou Triviños (1987, p. 137), existem três tipos de questionários:

  • Aberto: propõe questões com respostas abertas, oferecendo ao sujeito maior liberdade de resposta;
  • Fechado: com perguntas e respostas pré-selecionadas e os entrevistados têm apenas uma opção de escolha; e
  • Misto: tipo escolhido para esta pesquisa, pois apresenta questões de diferentes modalidades exigindo respostas abertas e respostas fechadas.

A pesquisa foi realizada entre os dias 8 e 19 de novembro de 2021, com o professor da disciplina de Geografia e com os alunos matriculados na instituição de ensino que cursavam do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Contribuíram para a pesquisa 68 alunos e um docente da Escola Municipal Antonio José de Lima.

A análise dos dados dos sujeitos foi realizada com a intenção de revelar quais os maiores desafios para o professor de Geografia no ensino da disciplina de Geografia e as dificuldades encontradas pelos alunos frente à disciplina.

Primeiramente, pela análise das questões fechadas, estabelecemos um paradigma quantitativo com a aplicabilidade de métodos de estatísticas descritivas e a expressão gráfica dos dados.

Na segunda parte, analisamos os dados obtidos nas questões abertas, utilizando técnicas que possibilitam a análise do conteúdo, permitindo um processo simultâneo de coleta e análise de dados.

Resultados e discussões

Conforme a temática de nossa pesquisa, questionamos os alunos sobre seu interesse frente à disciplina de Geografia. Os dados coletados foram os seguintes:

Tabela 1: Você gosta da disciplina de Geografia?

Respostas

Quant.

Percentual

Sim

31

46%

Não

37

54%

Dos 68 alunos entrevistados, 54% responderam que não gostam da disciplina de Geografia. Isso mostra o quanto a disciplina precisa de mudanças para tornar-se mais atrativa para os alunos. As mudanças precisam ser realizadas em relação à elaboração dos conteúdos didáticos, aos conteúdos (para que se aproximem ao máximo da realidade dos alunos de cada região brasileira), oportunidades aos professores na busca de capacitações e qualificações, inserção das tecnologias nos ambientes escolares e oferta de recursos pedagógicos/tecnológicos aos alunos.

Abaixo alguns dos relatos:

(A1) As aulas têm muitas leituras, o que acaba se tornando enfadonho.

(A4) O livro didático é muito ruim, muito texto, dá até sono na aula.

(A25) Os conteúdos estudados estão fora da nossa realidade.

(A41) Textos muito longos, muita leitura, deixando a aula cansativa.

A outra parte dos entrevistados, 46%, afirmou que até gosta das aulas de Geografia, principalmente no que diz respeito aos conteúdos relacionados à globalização, territorialidade e preservação ambiental.

(A3) Gosto das aulas principalmente quando começamos a falar da biodiversidade existente em nosso planeta e local.

(A38) Adoro quando vejo imagens de plantas e animais que não conheço e aprendo sua forma de vida e seus hábitats.

Reconhecendo todas as dificuldades enfrentadas pelos professores de Geografia, os dados deixam evidente o quanto o sistema de ensino se encontra defasado, necessitando de transformações didático-pedagógicas.

Tabela 2: A favor do uso das tecnologias nas aulas de Geografia

Respostas

Quant.

Percentual

Sim

58

85%

Não

10

15%

Em outro questionamento, foi verificado quantos alunos eram favoráveis à utilização das tecnologias nas aulas de Geografia. Uma enorme maioria – 58 alunos (85%) –respondeu ser a favor do uso das tecnologias nas aulas:

(A4) É um ambiente em que os alunos se sentem mais familiarizados.

(A6) Possibilidade de vivenciar muitas experiências sem sair da sala de aula.

(A11) A internet transformou-se em uma ampla fonte de pesquisa.

(A18) Grande volume de armazenamento de dados e de informações.

Em pleno século XXI, ainda encontramos alunos resistentes a essas mudanças que a tecnologia está proporcionando ao processo de ensino-aprendizagem. Uma minoria, 10 alunos (15%), foi contra o uso das tecnologias nas aulas da disciplina:

(A22) Moramos na zona rural, onde as dificuldades de sinal telefônico são enormes, por isso na maioria das vezes ficamos impossibilitados de acesso à internet.

(A48) Nossa escola não tem estrutura para oferecer acesso a todos os alunos e em casa muitos de nós não temos disponibilidade de tais tecnologias.

Os professores não podem mais ignorar os recursos tecnológicos disponíveis, porque há tempos o livro didático e os professores deixaram de ser as únicas fontes de conhecimento, portanto é preciso que os professores modifiquem suas atitudes. As resistências às inovações se expressam na ação dos professores em assumir, teórica e praticamente, disposições favoráveis a uma formação tecnológica (Libâneo,1998).

Sobre a utilização das tecnologias como ferramentas de ensino, a cada dia, vemos que vem ganhando espaço e, até mesmo, em alguns lugares, se tornando a única forma de ensino disponível. Assim, questionamos sobre o uso destas tecnologias:

Tabela 3: Vantagens das tecnologias nas aulas de Geografia

Vantagens

Quant.

Percentual

Aulas mais atrativas

32

47%

Infinita possibilidade de pesquisas

14

20%

Mais intercâmbio professor-aluno

10

15%

Maior compartilhamento de ideias

08

12%

Outros

04

6%

Total

68

100%

Dessa forma, 32 pesquisados (47%) disseram que a maior vantagem das tecnologias é tornar as aulas mais atrativas. Em seguida, 14 (20%) entrevistados responderam que o uso das tecnologias, principalmente da internet, amplia o mundo de possibilidades de pesquisas, pois são milhões de informações que estão a um clique dos usuários, basta saber filtrar o que é necessário e essencial. Neste contexto, entra o papel do professor, o mediador que ajuda a selecionar as informações.10 (15%) pesquisados entendem as citações como a vantagem principal entre professor e aluno.

O professor precisa de uma formação de cunho epistemológico e não somente instrumental frente às tecnologias educacionais propiciadas pelas redes digitais, para que tenha formação técnica-pedagógica necessária à reformulação do conhecimento, sua produção e partilha, de modo a tornar possível e real a aprendizagem (Morin, 1999, p. 27).

A tecnologia educacional deve levar o professor a buscar uma melhor mediação didático-pedagógica das práticas tecnológicas. Sobre o compartilhamento de ideias, 8 pesquisados (12%) justificaram o termo como uma vantagem das tecnologias nas escolas. Devido à enorme fonte de busca de informações disponíveis é muito mais prático e rápido buscar novas ideias e, também, compartilhá-las. No último percentual, com 4 pesquisados (6%), o termo “Outros” também foi lembrado.

O quarto questionamento foi uma pergunta aberta, quando foi perguntado quais seriam as maiores dificuldades encontradas pelos alunos na disciplina de Geografia. Diante dos desafios que a Ciência Geográfica enfrenta, a forma como ela deve ser ensinada acaba tendo papel de destaque. A reflexão e a posterior crítica da realidade que se espera dos educandos dependem da forma como é construído coletivamente o conhecimento.

Selecionamos algumas críticas para expressar o ponto de vista deles.

(A19) Aulas muito monótonas, envolvendo leitura e pouca aula de campo.

(A31) Falta de conteúdos mais voltados para a nossa realidade, que retratem nossa vivência.

(A56) Aulas pouco atrativas, conteúdos voltados para outras regiões do Brasil e livro didático ruim.

(A61) Estudar conteúdos nos quais temos mais conhecimentos, a exemplo do nosso clima, da nossa fauna e flora, nossa pluralidade cultural etc.

Segundo Santos (2004, p. 37), a Geografia Crítica é uma retomada das discussões sobre a interdisciplinaridade. O mesmo acontece quando se prega um desafio. Na verdade, o princípio da interdisciplinaridade e, em geral, em todas as Ciências, ressalta a partir do próprio objeto da nossa disciplina. Uma das principais dificuldades percebidas no Ensino Fundamental é exatamente o fato dela ter sido bastante marcada pela aprendizagem de conteúdos de Geografia, e de suas diversas especialidades, sem uma boa reflexão de seus vários significados e de como atuar na prática docente em uma variedade curricular. Outra questão recorrente é a dificuldade que muitos professores de Geografia têm em tornar suas aulas suficientemente atrativas para os alunos. Muitos problemas passam pelo desinteresse dos alunos e vão até a dificuldade do professor em tornar a matéria acessível, fazendo com que a prática docente se torne difícil e, às vezes, até traumática. Portanto, no último questionamento aberto, apontamos quais seriam os maiores desafios encontrados pelos alunos para que as aulas de Geografia se tornassem atrativas.

(A19) Que fosse considerada a realidade do aluno. Às vezes é interessante o professor fazer comparações entre o tema da aula com a nossa realidade.

(A22) Creio que a utilização de músicas ou filmes pode mostrar que o tema é vivenciado por outras pessoas.

(A26) Aplicação de jogos ou práticas lúdicas (exemplos: dinâmicas, gincanas ou miniolimpíadas).

(A49) Tornar o uso das tecnologias uma realidade dentro da sala de aula, dessa forma vai diversificar o processo de ensino-aprendizagem.

Para Fink (2003, p. 39), a aprendizagem significativa é aquela em que o ensino resulta em algo verdadeiramente significativo aos alunos, pois, na aprendizagem sempre haverá uma vontade de alcançar resultados importantes, que levem a mudanças para a vida.

Dando prosseguimento à nossa análise dos dados coletados por meio da pesquisa, direcionamos um questionário ao docente com duas questões abertas, para que ele expressasse suas opiniões e necessidades. Abordamos quais seriam suas “maiores dificuldades” e seus “maiores desafios” na sala de aula.

Quanto às “maiores dificuldades” encontradas, o professor afirmou que:

(P) Passa pelo processo de ensino-aprendizagem a forma que os conteúdos são colocados pelos coordenadores e livro didático. Outra questão é a falta de interesse dos alunos, não há preocupação em pesquisas, de melhorar a leitura e compreender textos e resolução das atividades propostas.

Quanto aos “maiores desafios” encontrados, ele afirmou:

(P) A implantação de aulas mais diversificadas. A inserção de mais ferramentas pedagógicas/tecnológicas, pois esse é o mundo em que nossos adolescentes estão inseridos. E a disponibilização por parte dos gestores e equipe pedagógica de capacitações continuadas seria uma forma de reciclagem e incentivo.

Fica evidenciado o quanto nossos professores ainda sofrem, necessitando de ajuda; contudo, são barrados pelas problemáticas sociais, pela falta de estrutura na educação, superlotação em sala de aula e baixos salários.

Conclusão

Neste trabalho, entendemos que a escola precisa de uma nova dinâmica para impulsionar o ensino público no Brasil. A Geografia é uma disciplina que forma cidadãos, por isso os educadores devem ter consciência que ela deve proporcionar o desenvolvimento de um indivíduo questionador, crítico e autônomo. Dessa forma, deve-se garantir que os professores tenham tempo, formação e estrutura para se dedicar à profissão.

Observamos que as escolas devem parar de usar livros que fragmentam o estudo geográfico, a fim de que o discente compreenda a Geografia conectada e integrada à realidade, com consciência sobre o que apreende.

Com a pesquisa realizada, pôde-se constatar que a maioria dos alunos não gosta da disciplina de Geografia. Esse fato mostra o quanto a disciplina precisa de mudanças e atualizações, além da elaboração adequada de conteúdos didáticos e mais oportunidades aos professores na busca de capacitações e qualificações.

É importante sinalizar que a maioria dos entrevistados, na pesquisa, foi favorável à implantação das novas tecnologias nas aulas de Geografia. Foi possível observar que os pesquisados indicam que a inclusão de tecnologias pode tornar as aulas mais atrativas, ampliar o mundo de possibilidades nas pesquisas e trazer intercâmbios maiores entre o professor e o aluno.

Quanto às dificuldades encontradas, os alunos afirmaram que são aulas monótonas, envolvendo muito leitura e pouca aula de campo, além da falta de conteúdos voltados para as suas realidades.

Propõe-se, assim, que se desenvolva uma Geografia que faça parte do cotidiano do alunado, dando condições para que ele se integre, com mais propriedade, à sociedade. Dessa forma, o aluno, desde cedo, aprende a observar, a concretizar a realidade, a interpretar e a analisar criticamente os fatos e espaços, alcançando os objetivos principais da Geografia, pautados na vivência do aluno, nas suas experiências de vida, tantas vezes, ignoradas no exercício escolar.

Referências

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CAVALCANTE, Lana de Sousa. Geografia, escola e construção do conhecimento. 16ª ed. Campinas: Papirus, 2002.

DIAS, Tânia Queiroz.  Pedagogia de projetos interdisciplinares. São Paulo: Rideel, 2001.

FINK, L. Dee. Creating significant learning experiences: an integrated approach to designing college courses. San Francisco: Jossey-Bass, 2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 1998.

MORAES, A. C. R. Geografia - pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1999.

MORIN, E. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

PENA, Rodolfo Ferreira Alves. As múltiplas espacialidades contextuais do Candomblé: estudos de Geografia da religião. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2014.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 10ª ed. Porto: Afrontamento, 1998.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço. In: SANTOS, Milton. O espaço interdisciplinar. São Paulo: Nobel, 1986.

TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

VICENTINI, J. W. Para uma Geografia crítica na escola. São Paulo: Ática, 1992.

Publicado em 04 de outubro de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

PONTES, Tiago Magalhães; RODRIGUES, Marciana Aguiar. Os desafios e as dificuldades encontradas na disciplina de Geografia na E. M. Antonio José de Lima, em Morro do Chapéu/PI. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 37, 4 de outubro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/37/os-desafios-e-as-dificuldades-encontradas-na-disciplina-de-geografia-na-e-m-antonio-jose-de-lima-em-morro-do-chapeupi

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