O professor e o processo de constituição do leitor crítico

Maria Vilani Soares

Professora, doutora em Linguística (UFC), especialista em Neurolinguística (Faciba) e Língua Portuguesa (UFPI)

Marília Pereira Lima

Professora, mestra em Educação (UFPI)

Rafael Ferro Moura

Graduado em Psicologia (Uespi)

Cláudio Rêgo de Carvalho

Pedagogo, mestre em Ciências Políticas

Sângela Medeiros de Lima Carvalho

Professora, doutora em Memória Social e Bens culturais (Universidade LaSalle), docente da Faculdade de Educação São Francisco – câmpus Pedreiras/MA

Considerações iniciais

A leitura é uma ponte entre o conhecimento sistematizado e o mundo real (CATARINO, 2015).

Iniciamos esta apresentação com a citação de Catarino, na tentativa de valorar a leitura como forma de sistematização da percepção consciente da realidade, uma vez que o leitor, ao ler, imprime seu protagonismo, dando pessoalidade ao que lê, mesmo que não faça nenhum julgamento de valor.

A leitura é um aspecto importante para o indivíduo leitor, daí as dificuldades com a prática de leitura serem das questões mais discutidas no âmbito escolar. O ensino da prática de leitura contribui para a formação de um leitor social e crítico, influenciando no processo de desenvolvimento e entendimento de mundo, pois abrange várias dimensões no processo educativo e ajuda na compreensão crítica, facilitando, assim, a prática diária de interação e de relacionamento com o outro. Por toda essa importância é que se faz fundamental que a escola dê a mesma importância à leitura que dá à gramática, à ortografia e a outros aspectos linguísticos.

Ler ultrapassa ações meramente educativas; ler deve ser uma prática prazerosa, deleitosa, que produza significado e sentido para o aluno/leitor. Para tanto, na escola a leitura deve ter um propósito definido, um objetivo a ser alcançado, para que o aluno, a partir dessas atividades, possa ver o mundo à sua volta em sua magnitude, diferente, vislumbrando o futuro em seu protagonismo. Assim, para que a atividade de leitura em sala de aula tenha sucesso, faz-se relevante a utilização de um amplo universo textual, ou seja, diversos tipos de texto e situações diversificadas que veiculam socialmente.

No cotidiano escolar, a leitura deve se desenvolver de forma crítica, ativa e criativa. No entanto, provocar no aluno o desejo pela leitura não é um papel tão simples que possa ser desempenhado por todo professor. Trazer o aluno para o mundo dos livros, estimulando nele o desejo por ler e ver essa atividade como um exercício agradável e divertido, não é tão simples como parece; daí a complexidade do tema.

A leitura é indispensável para a vivência e a compreensão do mundo e da sociedade; mesmo assim, parece ser algo ao qual as pessoas não se habituam. O tema representa uma grande oportunidade de discutir a função do professor em desempenhar a mediação da leitura entre o aluno e o texto.

Toda essa discussão sobre o tema leitura contribuirá para que os professores avaliem suas práticas pedagógicas sobre o ato de ler e se elas estão de acordo com a realidade vivida na escola em que lecionam, adequando-as ao currículo vivenciado e para que futuros profissionais da Educação possam trazer para seus alunos novos métodos para instigar o gosto pela leitura e desenvolver neles a leitura crítica e prazerosa.

Pretendemos desenvolver este estudo com base em referenciais teóricos acerca do tema a fim de aprofundar os conhecimentos sobre ele e buscar reflexões profícuas sobre a mediação da leitura no âmbito escolar, levando o aluno a buscar nessas práticas a leitura como forma de lazer – e não de obrigação.

Diante disso, neste texto nos propusemos a repensar o processo de ensino-aprendizagem da leitura, tendo em vista o papel que o professor desempenha no desenvolvimento do gosto pela leitura e de como ela pode auxiliar no desenvolvimento escolar do leitor.

A leitura é capaz de conectar diversos mundos e ideias e, uma vez amiudada e íntima, promove a criação de laços com o universo da escrita, facilitando o processo de alfabetização e os avanços de outras disciplinas, já que o livro didático é ainda o principal suporte para a aprendizagem na escola.

Considerando tais pressupostos, norteamos este estudo a partir da avaliação do papel que o professor executa perante o processamento da leitura, oportunizando-lhe um insight das suas práticas, provocando a reflexão e reconstrução do seu trabalho.

Para melhor compreensão deste estudo, estruturamos nosso artigo apresentando diversificadamente as variadas concepções acerca da constituição do leitor e do leitor critico, guiados pelos principais teóricos que tratam desse assunto, incluindo mapeamentos cognitivos desses processos de formação. Na seção seguinte apresentamos sumariamente as características do professor como agente mediador do processo de formação de leitores; e, após, as considerações finais.

Processo de formação do leitor crítico

A leitura, como é apresentada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (Brasil, 1998), é um processo em que o leitor ativamente constrói significados a partir do texto, considerando seus objetivos e o que ele já conhece sobre o assunto, sobre o autor, a língua e o gênero. Assim, todo trabalho com a leitura tem como objetivo formar leitores competentes, capazes de compreender o que leem e de identificar os elementos implícitos, estabelecendo, assim, relações entre o texto que leem e outros que já foram lidos, que estejam atentos à diversidade dos sentidos que podem ser atribuídos ao texto, ou seja, deve-se estar atento ao que o leitor já sabe, tanto em conhecimento a curto prazo como a longo prazo.

Conforme Infante (2000, p. 57), a leitura “é o meio de que dispomos para adquirir informações e desenvolver reflexões críticas sobre a realidade”. No entanto, o autor adverte que, conforme a atitude assumida durante o ato de ler, o leitor pode absorver e aprofundar as ideias ou se tornar alienado; daí são necessárias uma prática e uma postura sistemática para melhor entendimento. Há, conforme o autor, a necessidade de que o ato de ler seja uma tarefa contínua e permanente, enriquecida com novas habilidades diante da complexidade dos textos escritos. Assim, entendemos que a falta de uma atitude crítica do leitor dificultará a interpretação das mensagens, tornando o leitor um sujeito passivo ou mero decodificador, incapaz de criar uma nova mensagem e transmiti-la a outras pessoas.

O caráter subjetivista do ato de ler é ressaltado por Lajolo (2002), quando ela afirma que, ao ler, o leitor acrescenta muito de si mesmo e de suas experiências, sendo capaz de atribuir significados a todos os textos, reconhecendo neles a vontade do autor, contrapondo ou não à sua própria vontade. Na definição de autora, ler é atribuir significado ao que se lê, conceito esse ressaltado por Koch (2009), que define a leitura como atividade de produção de sentido.

Ao conceber a leitura como atribuição de significados, Koch (2009) ressalta a leitura como ato social que obedece aos objetivos e às necessidades dos sujeitos e que leva em conta os conhecimentos do leitor, exigindo intensa participação dele, já que ele aplica ao texto seus conhecimentos armazenados e adquiridos, facilitando a construção de sentidos.

Ler seria, portanto, conforme nossa análise, interpretar uma percepção sob as influências de determinado contexto, levando o indivíduo à compreensão da realidade. Assim, podemos concluir que ler de forma significativa é ver o mundo com outros olhos: os olhos de quem se inquieta diante da realidade, os olhos de curiosidade, que faz buscar o conhecimento que só a leitura pode proporcionar.

A “leitura de verdade”, como bem postula Solé (2008, p. 45), é aquela na qual nós mesmos mandamos, “relendo, parando para saboreá-la ou para refletir sobre ela, pulando parágrafos [...] uma leitura íntima e individual”. O leitor deve ler para aprender, gerando uma aprendizagem significativa, que, para Ausubel, como aponta Solé, (2008, p. 45), “implica atribuir significado ao conteúdo em questão”.

Kleiman (2011) e Guimarães (2013) postulam a ação da leitura como um ato de interpretação e compreensão, conforme os propósitos do leitor, do que ele já conhece sobre o assunto e de tudo que sabe sobre a linguagem. Assim, compreendemos que a leitura precisa permitir que o leitor atribua um sentido ao texto, não podendo transformar-se em mera decifração de signos linguísticos sem a compreensão semântica deles. Góis (2012) amplia a ideia de “atribuição de sentido”, propondo que a leitura seja constantemente estimulada como atividade essencial para a construção do conhecimento e a formação do indivíduo crítico, exercendo sobre este o poder de expandir seus horizontes.

Ao associar o ato de ler ao ato de compreender e interpretar, concluímos que a leitura só acontece quando faz sentido para o leitor, quando ela chega à compreensão do leitor. Daí a percepção da leitura como ato de descoberta, relacionado à nossa vida e a tudo que nos cerca.

A partir dessas concepções, buscamos elaborar um mapeamento cognitivo que represente como se dá a constituição do leitor em um contexto social, com base na interação leitor-texto.

Figura 1: Constituição do leitor

Nesse esquema, consideramos a leitura como uma prática social e como um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, ressaltando o ato de compreender e o ato de interpretar, ou seja, dar sentido ao que se lê. Nesse esquema cognitivo, faz-se perceber a constituição do leitor como interação entre os componentes do ato da comunicação escrita e o leitor portador dos esquemas (mentais) socialmente adquiridos e seus conhecimentos prévios que, ao serem acionados e confrontados com os dados do texto, constituirão, desse modo, o sentido do texto.

Ao considerar o processo de formação do leitor crítico, Menegassi (2010) leva em conta tanto as condições sociais de leitura enriquecidas no aluno leitor a partir da mediação e das orientações didáticas do professor como o material didático, priorizando a formação e o desenvolvimento da criticidade na leitura. Dessa forma, como evidencia o autor, é que se percebe a necessidade de seguir a linearidade do processo de leitura e não agir “pulando ou queimando” etapas se não, assim, o processo não se concretizará.

Entendemos, pois, que o professor, como mediador, precisa saber como trabalhar com cada um de seus alunos, facilitando a apropriação de habilidades e estratégias por meio das diversas práticas de leitura, sejam elas de forma silenciosa, em voz alta, coletiva, individual.

O papel do professor é verificar o conhecimento prévio do aluno sobre o que vai ser lido, uma vez que essa ação estimula o aluno a descobrir o que vai ler. É relevante que o educador faça perguntas orientadoras para a leitura, formule hipóteses e contextualize o texto para que a atenção do aprendiz fique direcionada para o texto. Assim, deve-se estudar o texto todo e não o dividir em unidades menores.

Desse modo, criamos um mapeamento cognitivo do processo de constituição do leitor crítico, a fim de que se possa ter uma compreensão global de onde se situa esse leitor e a partir de que estágio, pois, como bem presume Oliveira (2009), decodificação, compreensão, interpretação e retenção são etapas diferentes que precisam ser tomadas de modos diferentes e trabalhadas com material e em tempos também distintos para acontecer o efetivo desenvolvimento das competências envolvidas, cujos resultados motivam e estimulam o aprendiz.

Figura 2: Mapeamento cognitivo de constituição do leitor maduro

Na primeira fase de formação de leitores, o aluno entra em contato literal com o texto, reconhecendo o código escrito e seu significado. Para Menegassi (2010), é preciso oferecer ao aluno questões de decodificação textual nas quais ele simplesmente vai ao texto e, em um rápido passar de olhos, encontra a resposta e a copia para o questionário da mesma forma como se apresenta no texto. Para o autor, vai haver apenas “um pareamento de informações” em que, na maioria das vezes, o aluno vai buscar no texto as mesmas palavras que são empregadas nas perguntas para chegar às possíveis respostas. Assim, o autor adverte o professor para que não aconteça um “monopólio da etapa de decodificação”, pois, se assim perdurar, todo o processo de formação do leitor ficará estático e emperrado.

A compreensão, em nossa análise, diz respeito ao reconhecimento do código escrito e sua ligação com a apreensão do significado global do texto, o que, para Oliveira (2009), é o que influencia na etapa de decodificação e o que vai assegurar a compreensão do que se lê. Nessa etapa, Menegassi (2010) ressalta a importância que o leitor deve dar aos significados do texto de acordo com o contexto atual de leitura e, assim, realizar a retirada da temática textual. Para tanto, o professor pode fazer uso de inúmeras práticas sociais nas aulas de leitura a partir de diversos textos. Compreender um texto, para o linguista, é extrair sua temática e as suas ideias principais; para tanto, o leitor precisa conhecer as regras sintáticas, semânticas e textuais do texto, bem como realizar inferências.

Uma vez a compreensão textual sendo exitosa, surge a oportunidade para que o leitor manifeste sua criticidade, formulando respostas que complementem a argumentação do texto, firmando-se em um ponto de vista sobre os argumentos trazidos pelo autor; nesse momento acontece a interpretação, estágio em que, segundo Menegassi (2010), o autor analisa, reflete e julga as informações que lê, confrontando-as com seus conhecimentos prévios. Nesse estágio o leitor é capaz de produzir um novo texto a partir do que ele compreendeu da leitura e dos argumentos, reflexões e julgamentos sobre o que foi presumido pelo autor.

Seria importante, pois, que nas aulas de produção textual, o professor induza o aluno a ler criticamente, por meio da interpretação, para que ele possa manifestar suas próprias opiniões e argumentos, produzindo com facilidade seu novo texto. O aluno então lê, critica e reflete sobre o que foi lido, considerando automaticamente o que armazenou em sua memória e tudo que aconteceu durante esses processos.

Eis aí a última etapa pontuada por Menegassi (2010), que é a retenção. Segundo o autor, ela é responsável pelo armazenamento das informações mais importantes na memória do leitor, podendo ocorrer após a compreensão e após a interpretação. Armazenam-se na compreensão, segundo o autor, as informações globais do texto mais relevantes; e na interpretação, além das informações retidas na compreensão, são também armazenados as reflexões, os julgamentos e os novos argumentos do leitor.

Compreende-se, com base na descrição dessas etapas, que quanto mais facilidade o leitor tiver de reter informações sobre o texto, tornando a armazenagem de conhecimentos prévios cada vez mais ampliada, maior será a capacidade de compreensão e interpretação... eis, assim, o leitor maduro.

Podemos inferir que todo leitor crítico concebe a leitura como prática social e não apenas como prática escolar, como oportunizadora de produção de sentido, ou seja, lugar de constituição de significado a partir da relação leitor-texto. O leitor crítico, para o autor, é aquele capaz de analisar sua própria leitura, avaliando o seu próprio processo de leitura, sabendo que na interpretação surge um novo texto, pois sabe que o texto é variável, com lacunas a serem preenchidas, que não está acabado, não é produto; é dispositivo de produção.

Nessa mesma linha de reflexão, Guida (2018), concorda com Menegassi ao ressaltar que a leitura coopera com o exercício da mente, colaborando para a compreensão da realidade e das interações sociais, promovendo emoções e percepções únicas da realidade.

Em meio a esses critérios, a leitura compreensiva é vista como réplica, ou seja, manifestação do ponto de vista sobre o que se discute no texto, sendo, portanto, essencial, já que a leitura crítica se constrói a partir da participação do leitor na constituição do texto.

Não podemos, desse modo, tomar o texto não como um produto acabado, que termina com as considerações finais do autor, mas sim, pelo contrário, que permite várias interpretações e significações; assim, uma vez que o leitor coloca suas impressões e julgamentos, constrói, a partir disso, seu novo texto, com suas próprias argumentações e significações.

O professor: mediando a leitura

Para investir na mediação da leitura, sendo o agente mediador no processo de formação de leitores, o professor precisa ter um vasto repertório de leitura, permitindo que tenha condições de apresentar sugestões sólidas e adequadas para seus alunos.

A escola deve se configurar num ambiente de estímulo à leitura e em que ganha espaço o papel do professor leitor e estimulador da prática de leitura. Desse modo, tem-se escola e professor como responsáveis pelo ensino da leitura, sendo o docente um agente de grande importância nesse processo, já que diariamente convive com os alunos, interagindo e vivenciando experiências. O professor, de acordo com Souza (2020), durante a sua formação aufere saberes técnicos e teóricos durante suas práticas em sala de aula, ao longo da sua carreira docente a partir dos erros, acertos e reflexões sobre suas próprias práticas.

Cabe ao professor a responsabilidade de resgatar a importância da leitura em sua vida e na do aluno. Para tanto, é preciso que ele demonstre gosto pela leitura e satisfação ao praticá-la, pois assim estará compartilhando com seus alunos seus próprios hábitos de leitura. Vilela (2017) salienta a importância de que o professor, como mediador e representante mais próximo da escola na sala de aula, promova no aluno o gosto pela leitura a partir do desenvolvimento de estratégias que propiciem o hábito da leitura.

A promoção da leitura requer também disposição para a pesquisa e planejamento das atividades por parte do professor, ou seja, ela precisa fazer parte da sequência didática da aula. Conforme Silva e Silva (2020), ao escolher os tipos de textos para os alunos, o professor deve fazer um planejamento prévio e buscar conhecer a realidade deles. Conforme os autores, esses textos precisam ser atrativos para os alunos, pois só assim o aluno criará o gosto pela leitura.

No entanto, a pratica da leitura e a visão de que ela é importante ainda passa por certos infortúnios, principalmente na educação pública brasileira, em que ela, por certo período, era vista apenas como algo da escola e como sendo uma prática obrigatória, um requisito para ser aprovado, sendo obrigatória muitas vezes vista como algo chato e insuportável, e não se dava importância para os benefícios que a leitura proporciona quando realizada com prazer, com satisfação, sendo algo que se faz por gostar (Silva; Silva, 2020).

Desse modo, o professor deve planejar as atividades de leitura promovendo o diálogo do aluno com a obra, permitindo que ele seja atraído. Para tanto, é necessário que o professor conheça a obra ou, pelo menos, a tenha lido.

Com essa compreensão, constatamos o quão importante se faz que o professor se mostre como um bom leitor e que estimule em seus alunos o desenvolvimento desse sentimento e de como a formação de alunos leitores depende fundamentalmente da relação do professor com essa prática. É na vivência de experiências e na interação com o professor que os alunos poderão desenvolver esse hábito e essa prática.

Considerações finais

Esta investigação propôs reflexões acerca do processo de formação do leitor crítico e do professor como mediador na criação do gosto pela leitura. Ele é antes de tudo promotor de leitura e formador de leitores e deve estar comprometido com o projeto de leitura e apresentar estratégias para orientar seus alunos, tornando-se, assim, um mediador do processo, abrindo espaços, lançando desafios, valorizando a caminhada dos alunos, desenvolvendo competências nas dimensões cognitivas, emocionais, sensoriais e culturais.

Com este estudo, constatamos que cada aluno é capaz de desenvolver suas próprias habilidades de leitura com o auxílio do professor até chegar a leitor crítico, ativo e reflexivo. Isso induz à reflexão sobre como trabalhar as etapas da leitura em sala de aula, uma vez que, embora seja um processo homogêneo, cada estágio da leitura deve ser aprofundado ao seu tempo.

Com base em várias leituras sobre o tema, constatamos também que a falha na formação dos professores é um dos fatores responsáveis pelo fracasso da escola em formar leitores. O fato de a escola em geral não saber fazer de seus alunos bons leitores traz consequências graves para o futuro deles, que terão dificuldades em continuar na escola, onde a leitura se faz necessária a todo instante, e serão fortes candidatos à evasão escolar.

Cabe ao professor o papel de desenvolver no aluno o gosto pela leitura em uma aproximação significativa com os livros. Dessa forma, para que haja êxito na formação do leitor, é preciso efetuar uma leitura estimulante, reflexiva, diversificada, crítica, ensinando os alunos a usar a leitura para viver melhor. O educador deve saber o quanto sua prática e ação em sala de aula são importantes e que sua mediação motivará ou não o aluno à prática da leitura.

Percebemos também o quão é essencial resgatar a leitura como tarefa da escola, questão para todas as áreas, uma vez que é habilidade indispensável para a formação dos alunos e responsabilidade da escola como um todo.

Na operacionalização deste estudo, compreendemos a leitura como instrumento de apropriação do conhecimento em todos os níveis, na escola e na vida; assim, professores de todas as áreas, ao invés de afirmar que os alunos não têm o hábito da leitura, devem dedicar-se à promoção de muitas oportunidades para que todos descubram que ler é uma atividade interessante, que a leitura proporciona prazer, diversão, conhecimento – enfim, uma vida melhor. Essas oportunidades terão de ser tantas quantas forem necessárias para que o aluno passe a gostar de ler e, por isso, sinta a necessidade da leitura e que ela se torne um hábito.

Referências

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Publicado em 18 de outubro de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

SOARES, Maria Vilani; LIMA, Marília Pereira; MOURA, Rafael Ferro; CARVALHO, Cláudio Rêgo de; CARVALHO, Sângela Medeiros de Lima. O professor e o processo de constituição do leitor crítico. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 39, 18 de outubro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/39/o-professor-e-o-processo-de-constituicao-do-leitor-critico

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