Oficina de Arteterapia - um relato de experiência

Cristiane dos Santos Brasil Silva

Pós-graduanda em Educação Especial e Inclusiva da Fundação Cecierj, professora do atendimento educacional especializado no município de São Gonçalo; licencianda em Pedagogia (Cederj)

Alexandre Botelho José

Mediador do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Especial e Inclusiva da Fundação Cecierj

A arte sempre esteve presente como expressão do ser humano, frente às questões de sua vida cotidiana ou de sua subjetividade, sendo um meio de ensino ou memória de um povo. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a Arte na educação favorece a criatividade da criança, desenvolvendo a imaginação e a reflexão, por meio da linguagem artística, como músicas, pinturas, esculturas, bordados, esculturas etc.

Liebmann (1994) diz que a Arteterapia utiliza a arte como forma de expressar sentimentos sem julgamentos. Ao realizar sua produção expressiva, o estudante da inclusão sente-se livre para expor seus sentimentos ou conteúdos internos, livre de rótulos; como produto dessa libertação, vê-se valorizado.

Este trabalho tem por objetivo demonstrar o dia a dia do atendimento educacional especializado realizado na Oficina de Arteterapia numa escola municipal da região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro e apontar a importância da arte na socialização e aprendizagem de crianças com necessidades especiais.

Desenvolvimento

Como primeiro marco regulatório, para garantir a matrícula de pessoas com deficiência na escola, foi aprovada a Política Nacional de Educação Especial (2008), que garante a matrícula de pessoas com deficiência nas escolas regulares no Brasil, tendo como público-alvo da Educação Especial alunos com deficiência; com ela foi criado o atendimento educacional especializado (AEE), cuja função, segundo o documento, é identificar, elaborar e organizar os recursos pedagógicos e de acessibilidade para a plena participação dos alunos da inclusão na escola.

A linguagem artística tem sido utilizada como promotora da inclusão de alunos com necessidades especiais no 1º segmento do Ensino Fundamental. Para esse estudante da inclusão, ao entrar em contato com materiais expressivos, como recorte, colagem, dramatização, música, manipulação de massa de modelar na criação de personagens, pintura etc., segundo Matias (2017), tais materiais se constituem como elementos facilitadores da inclusão de crianças com deficiência, sendo esse um espaço de autoconhecimento e socialização, ultrapassando e vencendo barreiras.

A Arteterapia, conforme aponta Sei (2010, p. 7), se constitui como uma “estratégia de intervenção terapêutica que visa promover qualidade de vida ao ser humano por meio da utilização dos recursos artísticos advindos principalmente das Artes Visuais, mas com abertura para um diálogo com outras linguagens artísticas”.

Como professora da rede municipal de ensino na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, atuo no atendimento educacional especializado, na Oficina de Arteterapia, onde recebo diariamente, no contraturno, durante 45 minutos, alunos da inclusão em grupos ou individualmente. No primeiro momento, são desenvolvidas atividades de sondagem de experiência cujo objetivo é verificar suas dificuldades e levantar as possibilidades de intervenção.

No transcorrer dos atendimentos, são apresentados novas intervenções ou materiais plásticos, como massa de modelar para a criação de personagem, podendo ser uma dramatização para trabalhar a oralidade, dependendo de sua possiblidade e singularidade. Mas essa conduta é flexível, podendo ser mudada para o uso da tinta ou do lápis de cor, dependendo da subjetividade da criança. Convém ressaltar que sempre o aspecto lúdico é explorado para quebrar barreiras e favorecer a socialização entre os grupos, se for o caso.

A maioria das crianças que participam da Oficina demonstra alegria ao manipular os materiais plásticos; Matias (2017) diz que essa manipulação favorece a sua interação no meio em que vivem:

Na arte temos uma grande aliada para a inclusão das crianças com deficiência, pois lhes proporciona espaços para o autoconhecimento, ajudando no desenvolvimento global da criança, na socialização com seus pares e demais grupos sociais que frequentam, contribuindo de forma significativa para elevar a autoestima através de suas diversas linguagens com atividades como a colagem, a pintura, a escultura, o desenho, a música, a dança, o teatro onde permite ao indivíduo expressar-se de forma única e pessoal, rompendo barreiras, ultrapassando limites através do fazer artístico e suas possibilidades.

Vemos a melhora de sua socialização, permitindo que a criança expresse suas emoções e comunicação interpessoal, vencendo inibições.

É interessante ressaltar que há um ganho significativo nos aspectos de socialização, interação e principalmente nos aspectos psicomotores, não só percebido visualmente como no relato das famílias.

Considerações finais

No dia a dia do atendimento educacional especializado realizado na Oficina de Arteterapia, o uso da linguagem artística se constitui como contribuição para que o estudante da Educação Inclusiva desenvolva a sua expressão nos momentos de interação e socialização, em que, por meio de sua produção artística, ele consegue acessar seus conteúdos internos, como medo, inibições, autoaceitação etc., que por vezes, durante o horário normal da escola regular, não têm como ser desenvolvidas.

Pelo exposto neste relato, concluo que o uso da linguagem artística presente na Arteterapia contribui significativamente para a inclusão de alunos com deficiência, propiciando o fortalecimento dos sujeitos da Educação Inclusiva e contribuindo para o seu desenvolvimento psicossocial. Para que isto ocorra se faz necessário maior espaço para a Arteterapia nas escolas regulares como atividade do dia a dia como atividade de sala de aula regular e não só como atividade do atendimento educacional especializado em horários semanais, objetivando o fortalecimento do sujeito (que, neste relato, são os alunos da inclusão) e propiciar maior interação e socialização com os demais alunos da escola, promovendo a inclusão e aprendizagem mais significativa de todos.

Ao findar este relato de experiência, senti necessidade de estudar mais sobre o tema, pois há um longo caminho a percorrer.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.Brasília: MEC/Seesp, 2008.

LIEBMANN, Marian. Exercícios da arte para grupos. São Paulo: Summus, 1994.

MATIAS, Janielly. A arte como elemento facilitador no contexto da educação inclusiva. TCC (Graduação em Psicopedagogia) - Centro de Educação, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2017.

SEI, Maíra.  A formação em Arteterapia no Brasil: contextualização. III FÓRUM PAULISTA DE ARTETERAPIA. São Paulo: Aaesp, 2010.

Agradeço a Deus pelo dom da vida, por poder estar viva. Gratidão à minha família pelo amor e companheirismo. Agradeço ao mediador Alexandre pela acolhida, pelas orientações e pelo incentivo.

Publicado em 18 de outubro de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Cristiane dos Santos Brasil; JOSÉ, Alexandre Botelho. Oficina de Arteterapia - um relato de experiência. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 39, 18 de outubro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/39/oficina-de-arteterapia-um-relato-de-experiencia

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