Aulas remotas no ensino de Física numa escola pública de Maricá/RJ em tempos de isolamento social

Francismar Rimoli Berquó

Professor de Física do IFF - Câmpus Avançado Maricá

Viviane Gomes Lagdem Tatagiba

Professora de Matemática do IFF - Câmpus Avançado Maricá

Marcella de Jesus Farias

Aluna do curso técnico em edificações integrado ao Ensino Médio (IFF - Câmpus Avançado Maricá)

A cada dia surgem ideias que ficam disponíveis para a sociedade usar de diferentes formas – na vida social, na profissão, na educação etc., mas nem sempre as ideias desenvolvidas e publicadas fazem parte do trabalho em sala de aula; Moreira (2018, p. 75) afirma que “o impacto da pesquisa básica no ensino de Física é muito pequeno, quase inexistente. Mas os resultados dessa pesquisa estão publicados e muitos deles poderiam ser trazidos à sala de aula, ou seja, transladados à prática, ao invés de ficarem restritos à academia”. O avanço da tecnologia e os alunos que nasceram mergulhados nesse turbilhão de informações são pontos de reflexão para que o professor de Física tenha um olhar crítico sobre o seu trabalho e considere novos conhecimentos para não ficar distante da realidade dos alunos. Seguindo essa linha de raciocínio, Soares-Leite e Nascimento-Ribeiro (2012, p. 184) dizem que “a sala de aula não é mais a mesma. A tecnologia, outrora restrita às aulas de informática, [...] tenta fazer parte do cotidiano de alunos e professores, ocasionando mudanças nos processos de ensino e de aprendizagem”.

As tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) vêm evoluindo com o tempo; consequentemente, alguns setores começam a superar certas dificuldades de como interagir com essas novas ideias que foram criadas para ajudar a sociedade; por exemplo, alguns profissionais de Educação e algumas escolas vêm se adaptando à implantação das TDIC, como: boletim, aulas síncronas, plataformas educacionais, frequências, materiais de apoio, notas e outras informações online. Arantes; Miranda e Studart (2010) propõem o uso de simulações como recurso didático, o projeto PhET (sigla em inglês para Tecnologia Educacional em Física) foi usado para o desenvolvimento do trabalho. Os autores usaram uma simulação que envolve circuitos de correntes contínua e alternada, montando um circuito com os materiais disponíveis que a simulação oferece. Fiasca et al. (2018) mostram que a plataforma Moodle disponibiliza recursos que o professor pode usar para melhorar o ensino e estimular uma aprendizagem colaborativa, como fóruns, chats e wiki.

Em 2020, o Brasil iniciou um período muito delicado devido à pandemia causada pela covid-19; diversas medidas foram tomadas, uma delas foi o isolamento social. As aulas presenciais foram suspensas e a busca por alternativa para contornar essa situação encontrou as aulas remotas, em que as TDIC foram importantes para continuar os estudos por meio de comunicações assíncrona e síncrona entre os alunos e os professores. Nesse contexto, as dificuldades foram sendo apresentadas e as comparações entre as aulas presenciais e as aulas remotas foram inevitáveis. Vieira et al. (2020, p. 3) afirmam que, “nesse cenário, os alunos, até estão adaptados e acostumados ao ensino presencial, passaram a conviver com um duplo desafio: a necessidade de isolamento e o aprendizado baseado em atividades remotas, que ensejam maior autonomia”.

Os professores e os alunos tiveram que se adaptar ao ensino remoto e, consequentemente, aprender de forma emergencial algumas TDIC. Nesse sentido, Bordin et al. (2020) realizaram um trabalho que envolveu aulas de vídeo; as ferramentas Google Meet e Zoom foram usadas para essa finalidade, a fim de mostrar de forma prática o uso do software Tracker nas atividades referentes ao ensino de Mecânica. Outras TDIC também foram usadas, como as salas de aulas virtuais que foram criadas nas plataformas educacionais disponibilizadas pelas instituições ou escolhidas pelos professores, em que os recursos disponíveis pelas plataformas educacionais foram explorados: fóruns, tarefas, tópicos para dividir os conteúdos trabalhados, questionários, pastas com arquivos de apoio para os estudos, vídeos, podcasts e links para simulações, entre outras opções. Isso tudo pode ser trabalhado conforme a necessidade que o professor teve em cada turma; o aluno pode acessar todo o conteúdo pelo smartphone, computador ou tablet em qualquer lugar e horário. Nesse contexto, o trabalho desenvolvido por Monteiro (2021) usou a plataforma Moodle como suporte para a proposta apresentada envolvendo o ensino híbrido num curso de Física 1 na Universidade de Brasília, em que foram disponibilizados roteiros de estudo, avaliações online e fóruns. O fórum, que é um dos recursos disponíveis pelo Moodle, foi usado com o intuito de ter comunicação dialogada e assíncrona, em que um monitor era responsável, com o intuito de ter aprendizagem colaborativa para estimular os estudantes a se envolver mais nos temas apresentados.

Este trabalho foi desenvolvido com as turmas de 1º e 2º anos do Ensino Médio de uma escola pública de Maricá durante o período da pandemia causada pela covid-19, quando as aulas remotas foram usadas e os temas abordados foram conteúdos de Física daqueles anos. Os objetivos deste trabalho foram:

  • analisar o uso da plataforma Moodle como suporte para as aulas remotas;
  • a aprendizagem de Física utilizando algumas TDIC; e
  • os desafios, as dificuldades e contribuições apresentadas durante o período das aulas remotas.

Esses objetivos foram analisados com base no preenchimento de um questionário de opinião voltado ao aluno criado pelo Google Formulário; um link foi enviado para o e-mail de cada aluno com as instruções necessárias para o preenchimento.

Metodologia

Este trabalho não visa apenas mostrar o uso de algumas TDIC como relato de experiência nas turmas de 1º e 2º anos de uma escola pública localizada em Maricá; ele se preocupa em informar também as opiniões dos alunos sobre a plataforma Moodle; a aprendizagem de Física; e, por fim, as aulas remotas. Todas essas informações foram construídas pela equipe do projeto em reuniões semanais, feitas via aplicativo ou videoconferência, em que as etapas foram realizadas até chegar à análise de dados. Esse contexto mostra que a pesquisa está focada nos alunos, e os desafios, dificuldades e contribuições estiveram presentes durante as aulas remotas. Com esse diagnóstico já detalhado, o planejamento das etapas está listado a seguir.

Na primeira etapa, a busca na literatura científica por trabalhos relacionados ao tema foi feita pesquisando revistas científicas da área e eventos oficiais a partir de site de busca. Com isso, foi possível selecionar alguns trabalhos que envolviam o tema, como: Arantes; Miranda e Studart (2010); Fiasco et al. (2018); Moreira (2018); Magalhães (2019); Bordin et al. (2020); Fernandes (2020); Grossi; Minoda e Fonseca (2020); Gois e Ramos (2021); e Monteiro (2021).

Na segunda etapa, como instrumento de coleta de dados, foi produzido um questionário de opinião no Google Formulário; sua estrutura foi elaborada pelos autores da pesquisa, com perguntas fechadas e uma pergunta aberta, que foi feita para deixar o aluno escrever sugestões ou críticas para compreender os desafios e dificuldades e as contribuições oferecidas pelas aulas remotas.

As perguntas envolveram:

  1. conectividade/internet e os possíveis aparelhos eletrônicos para as aulas remotas;
  2. as TDIC, principalmente sobre a plataforma Moodle;
  3. o ensino-aprendizagem de Física; e
  4. as aulas remotas.

Por fim, após a coleta de dados, usou-se estatística básica para analisar a distribuição das informações de cada pergunta; os fatores relevantes serão apontados para ser incorporados às aulas remotas, tanto para o professor, visando melhorar o seu trabalho em sala de aula, como também para o aluno melhorar a aprendizagem de Física. Além disso, todas as informações enviadas pelos alunos foram codificadas respeitando a ordem apresentada no Google Formulário como: A1, A2, ... A32.

Ensino remoto

Devido à covid-19, o mundo vem vivendo um momento muito delicado em diversos setores; a educação é um dos muito afetados. Diversas medidas foram utilizadas para diminuir a disseminação do vírus, e o isolamento social foi uma delas; foi muito comentada e aplicada em diversos países. O isolamento social levou ao fechamento de escolas e instituições de nível superior no Brasil. As aulas remotas, com o apoio das tecnologias digitais de informação e comunicação, foram essenciais para dar continuidade aos estudos. O Ministério da Educação publicou a Portaria nº 343, de 17 de março de 2020 (Brasil, 2020) que menciona a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia causada pela covid-19. O Governo Federal publicou também a Medida Provisória nº 934, de 1º de abril de 2020 (Brasil, 2020) que estabelece normas excepcionais sobre o ano letivo da Educação Básica e do Ensino Superior decorrentes das medidas para enfrentamento da situação de emergência de saúde pública de que trata a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Também há a legislação que a escola pública de Maricá divulgou orientando os seus servidores e outras. Como neste trabalho o foco não é a legislação referente à covid-19, os autores orientam buscar mais informações nos sites da Prefeitura de Maricá, do Governo do Estado do Rio de Janeiro e do Governo Federal sobre o tema.

Público-alvo e a conectividade com as aulas remotas

A pesquisa foi realizada com as turmas de 1º e 2º anos do Ensino Médio de uma escola pública localizada em Maricá; são 156 alunos; dos quais 32 responderam o questionário de opinião online que foi produzido pelos autores deste trabalho no Google Formulário e posteriormente enviado para o e-mail de cada aluno que estava cadastrado na plataforma Moodle. Após analisar as informações sobre faixa etária dos alunos, o Gráfico 1 informa que 72% dos alunos têm idades entre 16 e 17 anos.

Gráfico 1: Idades dos alunos participantes

Uma das preocupações relacionadas às aulas remotas é o acesso à internet, porque tudo que for trabalhado com os alunos precisará do auxílio da grande rede para realizar as ações. Analisando os dados dos 32 alunos sobre se têm ou não internet em casa, verificou-se que todos possuem. Mas só a internet não é suficiente para acessar o material de estudo, a ideia do ensino remoto é o professor e o aluno interagirem constantemente compartilhando informações importantes e desejadas. Então, a interação ocorrerá quando, além da internet, o aluno tenha pelo menos acesso a um computador (ou celular, ou tablet ou outro recurso) para dar continuidade aos estudos. Nesse contexto, Paula et al. (2021, p. 4) informa que “o computador e o celular foram os meios mais utilizados e, mais raramente, tablets, TVs e consoles de jogo”.

Nesse contexto, os alunos responderam quais os dispositivos eletrônicos estavam à sua disposição para as aulas remotas. As respostas foram divididas em cinco categorias, representadas no Gráfico 2. Todos os alunos possuem, no mínimo, um dispositivo eletrônico: 59% dos alunos têm computador e smartphone disponíveis para os estudos.

Gráfico 2: Categorias dos aparelhos eletrônicos

Enquanto as aulas remotas surgem, mesmo que temporariamente, como alternativa para substituir as aulas presenciais, os alunos se viram diante de alguns desafios e dificuldades como:

  1. administrar o tempo e o espaço de estudo com as tarefas domiciliares. Isso requer certa habilidade de administrar os deveres relacionados à escola com o dia a dia da sua residência;
  2. o compartilhamento dos aparelhos eletrônicos, o que nem sempre é possível; mesmo que tenha mais que um equipamento em casa para acessar a internet, alguns necessitam de compartilhar o computador/smartphone/tablet com alguém da família para desenvolver outras tarefas – como as obrigações e atividades relacionadas ao trabalho do responsável. As respostas apresentadas pelos alunos em relação à disponibilidade dos aparelhos eletrônicos para acessar as aulas remotas foram de que 25% não tinham essa disposição. A seguir está uma resposta dada pelo aluno sobre esse desafio/dificuldade.

Não tenho disponibilidade de qualquer momento para usar o celular, porque tenho minhas tarefas de casa pra fazer (A16).

As aulas remotas e o ensino de Física

Uma das preocupações da pesquisa é conhecer a percepção dos alunos sobre a disciplina Física. Nos relatos apresentados nos dados, 40,6% acham-na difícil (Gráfico 3). Ao analisar os alunos que encaram a Física como difícil, pode-se verificar que a maioria é do 1º ano. Esse cenário era esperado porque os conteúdos de Ciências no Ensino Fundamental não abrangem a Física como um todo, e nem sempre é um professor de Física que leciona. Para contornar essa dificuldade, o professor de Física planejou as aulas remotas na plataforma Moodle por tópicos, deixando todas as informações disponíveis e organizadas para que os alunos pudessem se planejar melhor. Em alguns relatos, os alunos mencionam positivamente a forma como o professor de Física organizou as suas aulas remotas. Como exemplo, separamos os relatos dos alunos A4 e A21.

Pessoalmente acredito que Física tenha sido uma das matérias mais fáceis de aprender durante o ensino remoto. O fato de existir um padrão no envio dos conteúdos facilitou a minha organização, ou seja, saber previamente que toda semana haveria uma quantidade certa de matéria (apostila + 1 questionário individual + 1 questionário em grupo) me deixou mais confortável para realizar os deveres (A4).

Gostei muito das aulas, a organização principalmente foi um ponto muito positivo, consegui administrar melhor o tempo e como fazer pelo Moodle e pela organização da matéria (A21).

Gráfico 3: Distribuição de opiniões dos alunos sobre a disciplina

Os conteúdos de Física foram trabalhados levando em consideração o cotidiano. Esse é um caminho interessante porque estimula o aluno a visualizar algumas aplicações que aprendeu nas aulas remotas no seu dia a dia. Reforçando essa ideia, uma pergunta foi disponibilizada sobre o material didático disponível na plataforma Moodle, se teve alguma relação com o dia a dia dos alunos. As respostas apresentadas pelos alunos que concordaram com essa relação foram de 71,9%. Isso é um indicativo de que explorar o cotidiano é um êxito na aprendizagem de Física. As aulas remotas também trouxeram certos desafios/dificuldades para os alunos, como:

  1. Quando o tema é autonomia, fazer a gestão do tempo e espaço, o coletivo (dividir os espaços da residência com a família) tem que ser levado em consideração, o que traz certas dificuldades para dar continuidade aos estudos. As informações dos alunos A7 e A26 mostram essa dificuldade.
  2. Dificuldade em conciliar o tempo e acabar ficando com coisas acumuladas, pela independência de horários (A7).

    Foi um choque de realidade ter que ditar a si mesmo um horário de estudo, tendo apenas minha consciência como responsável (A26).

  3. Em alguns casos, a falta de um computador foi muito mencionada. Mas essa dificuldade foi contornada como o uso do celular, foi o aparelho usado com maior frequência na falta de um computador, mas não é ideal para os estudos.
  4. O principal desafio foi administrar as tarefas domiciliares com os estudos (Gráfico 4).
  5. Gráfico 4: Dificuldades na execução das aulas remotas

  6. A comparação das aulas remotas com as aulas presenciais. Os alunos tiveram que se adaptar às aulas remotas sem ter qualquer experiência em buscar as informações para responder o que as atividades avaliativas pediam. A figura do professor de Física estava ausente fisicamente e as informações chegavam aos alunos pelos feedbacks nos espaços reservados. O atendimento aos alunos foi muito elogiado, mostrando que o professor de Física estava empenhado em contornar as dificuldades apresentadas pelo feedback no menor tempo possível. Esse ponto teve sucesso e é mostrado no relato do aluno A3. Essa satisfação foi possível porque o celular do professor de Física ficou sincronizado com as informações enviadas no Moodle via e-mail. O Gráfico 5 mostra as dificuldades apresentadas nos relatos dos alunos no questionário.
  7. Gostei de maneira como o professor usou o Moodle e da disponibilidade dele. Sempre passando diversos materiais para aumentar nossas opções de estudo, deixando claro estar disponível para tirar as dúvidas (A3).

    Gráfico 5: Principais dificuldades relatadas pelos alunos nas aulas remotas

  8. A falta de aulas síncronas ou aulas gravadas. Nesta pesquisa, quando o questionário foi respondido pelos alunos, as aulas síncronas ainda não tinham sido iniciadas. Por isso, a ausência das aulas síncronas foi lembrada muitas vezes pelos alunos como mostram os relatos. As aulas gravadas serão produzidas para complementar a sala de aula.

Gostaria que tivesse, pelo menos, uma aula síncrona ou gravada de Física. Mas, no geral, foi tudo bem (A6).

Se tivesse um vídeo do senhor explicando como fazer as contas seria um pouco mais fácil, porque eu tenho dificuldade em Matemática, então fica difícil só com a parte escrita (A8).

Eu acho que deveria ter aulas gravadas e sincronias para tirar as dúvidas e resolver alguns problemas (A25).

Adotar aulas gravadas ou vídeos no YouTube para nos ajudar, as apostilas ajudam, mas não suprem toda a demanda de alunos devido às diferentes necessidades (A26).

Poderia implementar aulas gravadas (A32).

Ao analisar as respostas dos alunos, vemos que os vídeos gravados têm aceitação muito grande para dar continuidade aos estudos. O Gráfico 6 mostra que, entre as quatro opções disponíveis para as aulas remotas, 43,8% apontaram os vídeos gravados como essenciais. Nesse contexto, o trabalho desenvolvido por Bergmann e Sams (2020) mostrou que a metodologia que eles desenvolveram ajudou a melhorar a aprendizagem dos alunos, principalmente, daqueles que tinham seu tempo muito restrito devido às particularidades. As aulas gravadas e as apostilas representam 79,7% da preferência.

Gráfico 6: Opções de interesse dos alunos para as aulas

As TDIC no ensino de Física

A cada dia que passa, existem novas ideias disponíveis no mundo virtual em que o acesso às informações está cada vez mais rápido com um simples clique. Isso faz com que o aluno tenha possibilidade de interagir com as ferramentas tecnológicas para melhorar seu conhecimento. Hoje em dia, a conectividade e a colaboração estão presentes nas vidas dos alunos e dos professores. Nesse cenário de pandemia, a conectividade e as TDIC viraram ferramentas de trabalho e de estudo no âmbito da educação devido ao potencial em relação à troca de informações e saberes remotamente. Reforçando essa ideia, Grossi, Minoda e Fonseca (2020) desenvolveram um trabalho numa escola da rede privada de Belo Horizonte no Ensino Fundamental I voltado para compreender o impacto da pandemia na educação e na vida das famílias; muitos desafios, dificuldades e contribuições foram levantados: por exemplo, 72,3% das famílias que participaram da pesquisa já utilizavam algum tipo de recurso tecnológico antes da pandemia, como celular, notebook e tablet; 75,4% possuem acesso à internet de boa qualidade. Essa informação mostra que nem todos possuem conectividade de excelência.

As TDIC no ensino de Física são indispensáveis para ampliar e melhorar a interação entre professor, aluno e conhecimento no cenário de pandemia. Silveira (2020, p. 1) afirma que, “com o avanço das TDIC, o processo de ensino-aprendizagem tornou-se mais dinâmico e interativo, além de visar a construção coletiva e colaborativa do conhecimento”. Outros trabalhos levantam a importância dessa temática para melhorar a aprendizagem dos alunos, como diz Magalhães (2019, p. 36):

Nos tempos atuais, o aprendizado não ocorre essencialmente por meio de livros didáticos impressos, apostilas e outros materiais encontrados exclusivamente em bibliotecas nas escolas, tampouco os alunos são unicamente dependentes dos conteúdos que o professor ensina na sala de aula para compreender determinadas abordagens, podendo complementar seus estudos navegando por diferentes espaços de compartilhamento de informações virtuais (ciberespaços) e utilizando uma gama de materiais disponíveis online 24 horas por dia, através de redes sociais, aplicativos específicos, experimentos virtuais, videoaulas etc.

Existem diferentes formas como o ensino de Física pode ser trabalhado; o professor de Física deverá escolher o recurso didático que melhor atenda às suas necessidades, por exemplo: plataformas educacionais, simulações, aplicativos, softwares etc. (Fernandes, 2020; Silva et al., 2018; Loureiro, 2019; Araújo et al., 2015). Algumas dessas interações com o mundo virtual têm necessidade do uso da internet, como o fórum de discussão. Nesse sentido, Magalhães (2019) usou a plataforma Moodle em um curso de capacitação da Marinha do Brasil em que foram usados alguns recursos como o chat e o fórum. Ao final, os alunos gostaram da aplicação das tecnologias de informação e comunicação – por exemplo, simulações usando o PhET (Physics Educational Technology), tendo rendimento excelente devido à sequência didática e às avaliações formativas desenvolvidas pela autora. PhET é a sigla em inglês para tecnologia educacional em Física; é um projeto da Universidade do Colorado (EUA) para realizar simulações de Matemática e Ciências. Outras informações podem ser encontradas no próprio site.

Muitos professores de Física buscam o uso de simulações disponíveis no site do PhET para melhorar o ensino-aprendizagem de Física. As simulações desse projeto educacional podem ser usadas no site ou fazendo download para o computador.

Nas simulações é possível alterar muitas condições de contorno com facilidade, repetir diversas vezes o experimento, explorando diversas combinações de parâmetros, e “ver o invisível” (átomos, elétrons, fótons, campos) a partir das representações presentes nas simulações e que facilitam a interação entre professores e alunos (Arantes; Miranda; Studart, 2010).

Nesta pesquisa, algumas simulações disponíveis no PhET foram usadas para melhorar a aprendizagem de Física, mas, antes de o aluno começar a interagir com a simulação, o professor de Física fez um roteiro que informou o objetivo da simulação; como interagir com as informações disponíveis na simulação; e, por fim, o que deveria ser encontrado. Isso facilitou a compreensão do aluno em saber o que a atividade avaliativa estava propondo. O aluno A28 relatou a importância da simulação e de como foi disponibilizada as informações.

As simulações de Física foram muito boas, basicamente os conceitos que deveriam ser repassados pela simulação foram perfeitamente compreendidos, através dos exemplos que tiveram o uso de diversas ferramentas disponibilizadas, fazendo com que o entendimento do assunto fosse maior (A28).

A plataforma YouTube é muito usada no dia a dia com diferentes finalidades pelo compartilhamento de conteúdos audiovisuais; por exemplo, há o YouTube Edu, plataforma criada com o intuito de reunir vídeos educativos, onde o usuário pode encontrar dicas, videoaulas sobre conteúdos de diversas áreas do conhecimento.

Atualmente a plataforma é a segunda maior rede social do mundo, ficando atrás somente do Facebook, existente em 130 países e 200 milhões de canais ativos. Sendo assim, utilizar o YouTube como recurso para potencializar as estratégias de ensino é pertinente, já que é utilizada por grande parte dos estudantes de todos os níveis educacionais (Melonio; Melonio; Façanha, 2018, p. 6-7).

Alguns vídeos voltados aos conteúdos de Física para as turmas de 1º e 2º anos do Ensino Médio também foram usados nas salas de aula virtuais para melhorar a aprendizagem de Física. Indo na direção de alguns pedidos de usar vídeos dessa plataforma, temos como exemplo o que o aluno A29 disse no item anterior.

A plataforma Moodle

Os professores e alunos tiveram que superar um desafio: dificilmente tiveram tempo de preparação adequado para o uso das plataformas educacionais disponibilizadas. Na pesquisa, as aulas remotas de Física foram trabalhadas com o auxílio da plataforma Moodle para dar continuidade aos estudos durante a pandemia da covid-19, com o foco em compartilhar as informações entre os alunos e o professor de Física. Além de ser gratuita, a plataforma possui diversas ferramentas que podem ser usadas para auxiliar o professor a melhorar o seu trabalho em sala de aula, proporcionando interação entre aluno-aluno e professor-aluno (Moodle, 2021). A escolha por essa plataforma foi feita por meio de informações enviadas pela escola, que orientavam priorizar as informações disponíveis nos documentos institucionais.

A plataforma Moodle é usada em diferentes áreas do conhecimento. No ensino de Física existem muitos trabalhos publicados compartilhando as ideias aplicadas. Paula et al. (2021) desenvolveram um trabalho na disciplina de Física 1, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em que a plataforma Moodle foi usada para compartilhar os materiais de estudo e disponibilizar as atividades avaliativas, com o objetivo de detalhar a estruturação da disciplina na forma remota; no Ensino Médio, pode-se citar o trabalho desenvolvido por Silva e Veloso (2020), que propõe orientar a construir e organizar uma sala virtual por meio de uma sequência para motivar os alunos a estudar os conteúdos referentes a Cinemática. As ferramentas disponíveis pelo Moodle que auxiliaram neste trabalho foram: questionário, URL, jogos, tarefas e fóruns. Outros trabalhos também serviram de embasamento para o desenvolvimento desta pesquisa e estão citados no corpo do texto.

O conhecimento do aluno sobre a plataforma Moodle foi analisado e mostrou que 78,1% não conheciam a plataforma. Mas, com o início das aulas remotas, o acesso e a interação dos alunos são importantes para a aprendizagem porque diversas informações são encaminhadas diariamente para estudar. Os Gráficos 7 e 8 mostram que 68,8% dos alunos conseguiram interagir com a plataforma Moodle encaminhando as atividades avaliativas ao professor de Física. O acesso diário teve a maior frequência por parte dos alunos. Isso mostra que os alunos que participaram da pesquisa estão empenhados em superar os desafios referentes à plataforma.

Gráfico 7: Alunos conseguiram ou não interagir com o Moodle?

Gráfico 8: Frequência de acesso à plataforma Moodle

As salas de aula virtuais tinham seus tópicos com as informações necessárias sobre os conteúdos que foram trabalhados, como: baixar o material de apoio para estudo (por exemplo, apostilas); resolver as atividades avaliativas; sobre o envio das atividades avaliativas ao professor de Física para correções; e espaços reservados para seus feedbacks. Com isso, as ferramentas disponíveis pela plataforma Moodle usadas na pesquisa variam desde ao atendimento ao aluno até as atividades avaliativas, como algumas ferramentas com função de interatividade, como fórum.  Fiasco et al. (2018) dizem que “o aprendizado se dá mediante a construção do conhecimento e não somente pelo processo de transmissão mediante aulas expositivas. As ferramentas baseadas em interatividade na plataforma Moodle, a saber, são: wiki, chat, fóruns de discussão e diários”.

Os espaços criados para o atendimento aos alunos foram: fóruns de dúvidas, em que os alunos que tinham alguma dúvida ou dificuldade com alguma atividade ou algum conteúdo ou interação com as ferramentas usadas no Moodle poderiam expor nesses espaços reservados para que todos pudessem ter acesso às informações num processo coletivo. O e-mail do professor estava disponível para atendimento aos alunos também. Posteriormente, essa interação era disponibilizada nos fóruns de dúvidas. Todas essas formas de atendimento foram assíncronas. O tempo de retorno é essencial para dar continuidade aos estudos de um aluno autônomo (mas não sozinho!), porque o aluno precisa responder todas as tarefas e necessita de esclarecimento melhor mostrando se o caminho escolhido está ou não atendendo ao que foi planejado pelo professor de Física. Nesse contexto, o professor de Física não demorava mais que 24 horas para responder às dúvidas dos alunos. Isso trouxe aos alunos certa motivação em continuar estudando os conteúdos de Física.

Analisando as ferramentas disponibilizadas para produzir uma atividade avaliativa na plataforma Moodle, o professor de Física usou duas delas: (i) questionário – voltado para as atividades avaliativas individuais; e (ii) tarefas –para as atividades avaliativas coletivas.

Atividades individuais

A ferramenta Questionário disponível na plataforma Moodle foi utilizada para construir a atividade avaliativa com uma sequência de questões aleatórias, geralmente de múltipla escolha que seria feita pelos alunos. Essas questões foram criadas e salvas num banco de questões. A escolha de questões aleatórias visava reduzir a chance de que houvesse duas ou mais avaliações iguais (Paula et al., 2021, p. 7). Além disso, a sequência das questões e as opções disponíveis para as respostas eram embaralhadas. O prazo para entrega dessa avaliação era de aproximadamente uma semana. Após o prazo, o professor de Física ocultava a avaliação. Por fim, o professor de Física programou para que o aluno tivesse duas tentativas e a nota maior seria a nota final. Essas duas tentativas têm como objetivo que o aluno analise o feedback disponibilizado nas questões erradas e tenha tempo para revisitar os conteúdos de Física para melhor compreensão.

Esse diagnóstico auxilia o aluno em quais pontos precisa melhorar seu desempenho e quais pontos foram positivos durante a atividade avaliativa. Para compreender um pouco mais as opiniões dos alunos sobre em que momento o feedback seria mais produtivo nas atividades avaliativas individuais e como poderia usar o feedback com as orientações visando melhorar o rendimento, foi disponibilizada uma pergunta; o resultado está disponível no Gráfico 9.

Gráfico 9: As informações referentes ao feedback nos questionários

Analisando as opiniões dos alunos, 78% acham que após a primeira tentativa finalizada seria mais proveitoso um feedback mostrando os erros e informando quais foram os conteúdos explorados, a fim de motivar o aluno a se preparar melhor para a próxima tentativa.

Atividades coletivas

Essas atividades avaliativas foram feitas em grupo, com o objetivo da troca de conhecimento entre os envolvidos; listas de exercícios, produção de história em quadrinhos, mapa mental, produções de texto e simulações foram atividades desenvolvidas durante as aulas remotas. Todas essas atividades eram enviadas ao professor de Física via plataforma Moodle. Ao final das correções, as informações sobre o desempenho em cada atividade eram disponibilizadas restritamente ao grupo; as notas ficavam disponibilizadas no espaço reservado na atividade e no livro de notas. Isso serve também para as notas individuais.

Os tópicos que eram liberados semanalmente tinham todas as informações que seriam desenvolvidas naquele período e uma dessas informações era sobre as atividades avaliativas coletivas; a ferramenta auxiliar Tarefa foi utilizada para disponibilizar todas essas atividades citadas.

Considerações finais

Este trabalho relatou uma experiência de aulas remotas no ensino de Física utilizando os recursos disponíveis da plataforma Moodle; o uso de TDIC na aprendizagem de Física e, por fim, os desafios, dificuldades e contribuições apresentadas durante as aulas remotas no Ensino Médio numa escola pública em Maricá/RJ. Pelos relatos dos alunos, via preenchimento do questionário de opinião, uma análise foi feita para compreender melhor como eles vivenciaram a mudança das aulas presenciais para as aulas remotas. A pesquisa aponta algumas informações apresentadas na escola pública, mas que não se pode generalizar os apontamentos apresentados. Precisa-se estender a pesquisa para outras escolas públicas de Maricá para realizar uma investigação mais minuciosa para ter conclusões mais precisas sobre os fatos pesquisados.

Com a evolução da tecnologia, cria-se a falsa ideia de que tudo está ao alcance com um simples clique. Mas nem todos têm condições de acessibilidade. As aulas remotas mostraram um pouco dos desafios e dificuldades enfrentados pelos alunos com a internet, o compartilhamento do computador, smartphone ou tablet com os familiares e a administração do tempo e espaço para os estudos afetando a aprendizagem de Física. Por isso, o mapeamento das condições oferecidas pelos alunos é importante para o planejamento. Por isso a escolha inicial pela comunicação assíncrona foi essencial para trazer o aluno para a nova realidade, em que as informações eram disponibilizadas devagar para que o aluno pudesse se familiarizar com a plataforma Moodle e iniciar uma etapa de autonomia, em que todo o cenário era novo. Além disso, escutar o aluno é essencial para que algumas sugestões sejam implementadas, como as aulas síncronas; mesmo não tendo atratividade nesta pesquisa, alguns podcasts foram produzidos porque podem ser gravados em qualquer memória sem ocupar muito espaço, se comparados aos vídeos. Com isso, as próximas turmas terão mais recursos didáticos disponíveis para a aprendizagem de Física.

As informações sobre a plataforma Moodle indicam que a escolha por esse ambiente virtual de aprendizagem não é fator desestimulante para os alunos, porque, mesmo que a maioria dos alunos nunca tenha tido contato com essa plataforma, pode interagir sem muita dificuldade com os recursos disponíveis usados pelo professor de Física. Um ponto importante para utilizar uma tecnologia como essa é escrever de forma clara e objetiva todas as ideias para que os leitores possam compreender as informações mesmo estando distantes do professor. Mas algumas dificuldades foram pontuadas e as sugestões foram expostas: não usar inúmeras plataformas educacionais, porque o aluno não irá se tornar um especialista nesse ramo; a sincronização entre as informações sobre data e horário em que conteúdos, atividades ou outras ações relacionadas ao ensino-aprendizagem de Física ficarão disponíveis deve ser cumprida para não causar desorganização no planejamento do aluno; explorar diferentes recursos, principalmente os espaços reservados para o feedback. Esses espaços são importantes para que os alunos tenham novas informações; por fim, a configuração das atividades deve ter prazo maior por causa de imprevistos como o não acesso à internet.

O planejamento apresentado pelo professor de Física usando diferentes recursos da plataforma Moodle e explorando diversas atividades com ideias diferentes foi contemplado pelos alunos, como o uso de simulações disponíveis no site do projeto PhET (Simulações Interativas da Universidade do Colorado), produções textuais sobre temas da atualidade, vídeos retirados do YouTube explicando algumas práticas experimentais e histórias em quadrinhos. Geralmente as atividades e tarefas criam dúvidas, e esse ponto foi destacado devido à disponibilidade e agilidade do professor de Física em responder às perguntas apresentadas nos espaços reservados na plataforma Moodle. Outro ponto elogiado pelos alunos foi a organização do professor de Física: todas as informações sempre eram encaminhadas com antecedência, facilitando o planejamento semanal. Algumas sugestões foram encaminhadas, como: melhorar o feedback relacionado às questões das atividades avaliativas, ou seja, detalhar os conteúdos usados na questão e explicar o erro cometido pelo aluno; produzir algumas aulas gravadas explicando os conteúdos de Física para serem acessadas num momento mais adequado; e não usar apenas a comunicação assíncrona como forma de interação professor-aluno, quer dizer, é necessário um complemento para atender as demandas dos alunos.

As aulas remotas trouxeram a possibilidade de dar continuidade aos estudos utilizando a tecnologia num momento difícil que o mundo vem passando e, ao mesmo tempo, mostram que a tecnologia não veio para ficar no lugar dos professores e sim complementar a sala de aula com os recursos disponíveis. Basta ter um pouco de criatividade e sabedoria para usar as TDIC visando melhorar o ensino e aprendizagem de Física.

Referências

ARANTES, A. R.; MIRANDA, M. S.; STUDART, N. Objetos de aprendizagem no ensino de Física: usando simulações do PhET. Física na Escola, v. 11, nº 1, p. 27-31, 2010.

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Publicado em 01 de fevereiro de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

BERQUÓ, Francismar Rimoli; TATAGIBA, Viviane Gomes Lagdem; FARIAS, Marcella de Jesus. Aulas remotas no ensino de Física numa escola pública de Maricá/RJ em tempos de isolamento social. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 4, 1º de fevereiro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/4/aulas-remotas-no-ensino-de-fisica-numa-escola-publica-de-maricarj-em-tempos-de-isolamento-social

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