O bioma Cerrado: uma abordagem interdisciplinar entre Ciências Naturais e Matemática

Kairo Dourado Barbosa

Licenciado em Ciências Biológicas (UFOB), mestrando em Sistemática e Evolução (UFRN)

Elaine Cunha Morais do Rego

Mestranda em Ensino de Ciências (UnB), professora de Ensino de Ecologia (UFOB)

O bioma Cerrado apresenta uma dinâmica única e diferenciada por ter rica fauna e flora. Entender seu funcionamento ecológico exige muito mais que o limiar da sala de aula, ainda mais quando se trata da interdisciplinaridade. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho ao longo do Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) é integrar os conhecimentos das áreas de Ciências Naturais e Matemática, a fim de entender a importância da diversidade de espécies do bioma Cerrado utilizando os objetos de conhecimento da Matemática e os de Ciências Naturais.

A escolha da temática do projeto surgiu a partir da necessidade de ampliar o conhecimento da realidade e do pertencimento local dos sujeitos envolvidos. Assim, através da riqueza do bioma Cerrado e por meio de valores, habilidades e experiências, os alunos teriam a capacidade de agir, conhecer e reconhecer os possíveis problemas ambientais que os cercam (Dias, 2006).

O projeto foi desenvolvido com as turmas do 7º ano “D” e “E” do Ensino Fundamental em uma escola pública da rede municipal de ensino. O grupo de pesquisadores bolsistas foi composto por estudantes dos cursos de licenciatura em Ciências Biológicas e em Matemática com seus respectivos professores supervisores.

Dessa forma, se faz necessária uma visão ampliada para os espaços fora da sala de aula (Gohn, 2001). De acordo com Marandino et al. (2004), a Educação em Ciências é uma prática social que vem sendo ampliada e desenvolvida nos espaços não formais de educação. Além disso, a construção do conhecimento não está totalmente inerente à sala de aula, como afirma Libâneo (2002), se referindo às agências formativas para grupos sociais, organizações políticas, profissionais, científicas e culturais.

Se levarmos em consideração a realidade do território nacional, bem como o número de habitantes e a diversidade cultural, os espaços não formais da educação, como museus, entre outros, são relativamente poucos, assim como são pouco explorados. Além disso, o problema parece agravar-se ainda mais quando se trata da interdisciplinaridade entre Ciências Naturais e Matemática, uma vez que esta última parece muito mais intrínseca à sala de aula (Hamburger, 2001).

A Matemática parece ser vista apenas com um pré-requisito parcial para estudos posteriores. No entanto, devemos levar em consideração que a disciplina também trabalha a formação do cidadão e, para além disso, faz parte das práticas do cotidiano. De acordo com Rangel (1992), a Matemática traça relações da vida escolar com o contexto social entre os indivíduos. Da mesma forma, Dienes (1964) afirma que a Matemática, apesar de ser uma ciência exata, está diretamente ligada ao contexto sociocultural dos indivíduos.

No intuito de estreitar ainda mais a integração dessas áreas, é importante ressaltar que a interdisciplinaridade parte do pressuposto de que anteriormente haja entre seus envolvidos um planejamento prévio de todas as ações; um diálogo constante entre os envolvidos; a integração dos objetos de conhecimento das disciplinas; interesse, comprometimento e cumplicidade com a aprendizagem; reflexão do fazer pedagógico interdisciplinar (Rego, 2017).

Seguindo os pressupostos de um trabalho interdisciplinar, nosso projeto foi teve início no mês de maio de 2019, mais precisamente entre os dias 10 e 31, sendo respectivamente aplicação e correção do questionário envolvendo a diversidade de espécies da fauna e flora do bioma Cerrado aplicada aos conhecimentos das Ciências Naturais e Matemática entre os estudantes do 7º ano “D” e “E” de uma escola pública da rede municipal de ensino.

No mês de julho, entre os dias 05 e 19, foi realizada uma oficina para ensinar a importância da produção de exsicatas com material vegetal coletado pelos próprios estudantes; no mês de novembro, entre os dias 07 e 22, foi feita uma visita à Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) no Câmpus Reitor Edgard Santos, em Barreiras/BA, contemplando a visita ao Museu de Ciências do Cerrado Nordestino, ao Laboratório de Sistemática e Evolução de Fungos e ao Laboratório de Fisiologia Vegetal.

Por fim, entre os dias 28 e 29 de novembro foi aplicado um jogo de cartas denominado Zootrinca, cujo objetivo é incentivar a aprendizagem, por meio de operações básicas da Matemática, da lógica e das suas relações com animais do bioma Cerrado.

Desenvolvimento das atividades do projeto interdisciplinar bioma Cerrado

Partindo da perspectiva interdisciplinar, considera-se como atitude ousada na busca do conhecimento único, sem fragmentação, observando aspectos que envolvem a cultura dos estudantes e a formação inicial dos professores no projeto (Fazenda, 2013).

Vale ressaltar que, para muitos professores, existe grande dificuldade na compreensão do termo interdisciplinaridade em relação às práticas pedagógicas no que diz respeito ao desenvolvimento de projetos. É compreendido muitas vezes como sendo apenas a junção de duas disciplinas trabalhando em um mesmo projeto ou apenas a mescla de algumas questões de cada disciplina em um mesmo instrumento avaliativo; ou, ainda, apenas considerar que é interdisciplinar sem ao menos considerar o que realmente fará o estudante compreender aquele objeto de conhecimento como sendo único, sem fragmentação de disciplinas. Japiassu (1976, p. 136) considera a efetivação de um projeto interdisciplinar quando

transcender os meros conglomerados disciplinares, as colaborações simplesmente pluridisciplinares, e for um fator decisivo na elaboração de novas estruturas mentais e de uma nova concepção do homem no mundo que se constrói e que por vezes dele se esquece.

É muito comum essa confusão, pois o termo interdisciplinaridade foi implementado no Brasil na década de 1970 com a repercussão do termo de forma retorcida, como modismo por interpretações equivocadas. Em 1980, tentou-se esclarecer esses equívocos e suas dicotomias como teoria/prática; ciência/arte; certeza/dúvida; processo/produto; real/simbólico; verdade/erro. Em 1992, Ivani Fazenda escreveu o livro Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro, procurando atender ao olhar pedagógico da interdisciplinaridade na escola (Fazenda, 1994).

Por isso, nosso trabalho foi pensado criteriosamente nos cinco pressupostos teórico-metodológicos da interdisciplinaridade para que pudéssemos efetivar essa abordagem metodológica tão mal interpretada. E com base em uma abordagem qualitativa (Bogdan; Biklen, 1994) e sob a perspectiva da pesquisa-ação (Franco, 2005; Monceau, 2005; Tripp, 2005). Trata-se da união interativa que reflete a transformação da prática pedagógica e dialógica entre professor-aluno (Franco, 2005). Dessa forma, as atividades desenvolvidas ao longo do projeto ocorreram de forma somativa (Zabala, 2002) entre Ciências Naturais e Matemática.

Para tanto, a primeira atividade teve como objetivo fazer um diagnóstico prévio da concepção dos estudantes sobre o objeto de conhecimento a ser trabalhado. Por isso, foi realizada a primeira intervenção com aplicação do questionário, envolvendo aspectos da fauna e flora do bioma Cerrado aplicados a objetos de conhecimento das áreas de Ciências Naturais e Matemática.

Uma das características básicas do planejamento é estabelecer caminhos que possam nortear apropriadamente a execução da ação educativa (Sanches, 2007).

Com base no, foi possível notificar com maior exatidão o conhecimento prévio dos estudantes para que pudéssemos iniciar o trabalho interdisciplinar e atuar principalmente nas maiores dificuldades dos sujeitos envolvidos. O questionário conteve imagens interpretativas sobre a caracterização, a percepção e a riqueza da fauna e flora do bioma Cerrado, levando em consideração o contexto global e a integralidade dos conteúdos abordados como um todo (Morin, 200).

Com a finalidade de ressaltar a compreensão matemática no objeto de conhecimento “bioma Cerrado”, foram elaboradas questões locais da fauna e flora e os impactos ambientais existentes a fim de que os estudantes fizessem uma interpretação da realidade no próprio contexto em que se inserem, reconhecendo a necessidade dos conceitos matemáticos para sua completa interpretação. Isso foi muito importante, pois consideramos imprescindível observar se os estudantes estão compreendendo o que está sendo proposto dentro da perspectiva interdisciplinar.

Fazenda (2013) destaca que a “interdisciplinaridade é essencialmente um processo que precisa ser vivido e exercido” no ambiente do estudante como experiência, na sala de aula.

Quadro 1: Questionário interdisciplinar entre Ciências Naturais e Matemática

    1. Em um sítio localizado nas matas do Cerrado, dois pés de ipê se encontram a 8 metros de distância um do outro. Pedro precisa amarrar uma corda de uma árvore até a outra, porém o único instrumento de medição que ele possui é uma trena que mede em centímetros. Desprezando a grossura das árvores, qual será o tamanho mínimo da corda em centímetros?

    a) 100cm

    b) 10cm

    c) 1.000cm

    d) 10.000cm

      2. Supondo que o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) se alimente de até 300 formigas e cupins por dia, qual será a quantidade de formigas e cupins que ele conseguirá ingerir em uma semana?

      a) 2.100 formigas e cupins

      b) 1.900 formigas e cupins

      c) 210 formigas e cupins

      d) 1.850 formigas e cupins

      e) 1.950 formigas e cupins

    3. Um buriti pesa em média 30 gramas. Um produtor precisa fazer uma entrega de 2kg em uma frutaria. Quantos buritis o produtor precisa colher?

    4. Suponha que uma onça-pintada (Panthera onca) bebe cerca de 2,5 litros de água por dia. Em 2 dias, quantos mililitros ela deverá ter tomado?

    a) 100 mililitros

    b) 1.000 mililitros

    c) 500 mililitros

    d) 5.000 mililitros

    e) 5 mililitros

    5. Suponha que uma queimada está ocorrendo numa floresta do Cerrado; para combater o fogo, especialistas calcularam que, a cada 1 hora, 100 metros quadrados de floresta são queimados pelo incêndio; depois de 5 horas e 30 minutos, qual o tamanho da área que será consumida pelo fogo?
    • 530 metros (m)
    • 530 metros quadrados (m²)
    • 550 metros (m)
    • 500 metros quadrados (m²)
    • 550 metros quadrados (m²)
    6. Para uma exposição de plantas típicas do Cerrado, foram coletadas 100 mudas de diferentes espécimes: 20 de ipê, 25 de barbatimão, 40 de pequi e 15 de jacarandá. Quantos por cento (%) da quantidade total de exemplares as mudas de pequi representam?

    a) 40%

    b) 50%

    c) 25%

    d) 15%

    7. Você acha que, para plantar uma árvore ou fazer um jardim, precisa usar a Matemática? Por quê?

Fonte: Banco de dados obtidos durante o desenvolvimento do projeto.

A segunda etapa do projeto foi a realização da oficina de produção de exsicatas, que, segundo Silva (2007), se constitui de espaços organizados por determinado grupo social em que os sujeitos se sentem parte dos processos e onde são realizadas propostas direcionadas ao fazer e aprender. Dessa forma, levando em consideração o espaço e os materiais disponibilizados, os estudantes confeccionaram seu próprio material vegetal coletado, servindo posteriormente como material de apoio para estudantes e professores da escola.

Simultaneamente, os estudantes responderiam a um roteiro investigativo, o qual requer conhecimentos sobre operações básicas, raciocínio lógico, interpretação e construção de gráficos. A importância do roteiro investigativo nessa atividade foi fundamental no processo de ensino-aprendizagem dos estudantes, pois, estavam estudando Matemática e Ciências Naturais em uma mesma atividade.

Esse roteiro nos remete à reflexão de que aprender uma disciplina desvinculada da sua aplicação no cotidiano, devido à enorme distância entre a Matemática do estudante e a dos cientistas, nos conduz à prática interdisciplinar, na tentativa de superar os problemas de compreensão e de aprendizagem (Alves; Fazenda, 2013).

De acordo com Simson e Park (2001), alguns dos principais objetivos para essa abordagem metodológica são:

  • desenvolvimento social;
  • participação coletiva;
  • participação dos membros do grupo de maneira descentralizada;
  • socialização e solidariedade entre os sujeitos.

Assim, os estudantes desenvolveram a capacidade de classificar, estimar e agrupar folhas, frutos e sementes do bioma Cerrado.

Quadro 2: Roteiro investigativo para produção de exsicatas

Exsicata é uma amostra de planta prensada e em seguida seca de acordo as técnicas básicas ou numa estufa (herborização), fixada em uma cartolina de tamanho padrão acompanhada de uma etiqueta de identificação, contendo informações sobre a planta e o local de coleta, para fins de estudos botânicos. Essa amostra de planta seca e prensada é fundamental para a identificação de espécies vegetais.

Objetivos

Identificar as plantas coletadas no bioma Cerrado e produzir as exsicatas integrando os conhecimentos das Ciências Naturais e Matemática.

Materiais

  • Material vegetal desidratado;
  • Folha de papel;
  • Cola;
  • Linha;
  • Agulha;
  • Fita adesiva;
  • Tesoura;
  • Etiqueta de identificação;
  • Quadro;
  • Microscópio;
  • Lâmina.

Métodos

  • Dividir a sala em três grupos.
  • Realizar a produção de gráficos de porcentagem sobre o quantitativo do material vegetal coletado por cada grupo.
  • Medir o tamanho do material vegetal e anotar as medidas de acordo com a tabela a seguir:

Folha

Fruto

Sementes

Caule

       
       
  • Produzir as exsicatas com os exemplares que foram coletados e secados em casa.
  • Cortar o material vegetal, se necessário do tamanho da folha de papel;
  • Colar ou costurar o material vegetal na folha de papel;
  • Escrever os dados obtidos durante a coleta na ficha de identificação;
  • Colar a ficha de identificação na folha de papel;
  • Colocar as exsicatas nos quadros.
  • Produção de lâmina vegetal para microscópio.
  • Cortar um fino pedaço do material vegetal;
  • Fixar o material vegetal no microscópio;
  • Analisar a lâmina pronta no microscópio;

Agora é com você!

  • Qual a importância de produzir exsicatas?
  • Para que as características do material vegetal se mantenham inalteradas, como deve ser feita a secagem do material?
  • As exsicatas devem possuir etiquetas de identificação que contenham nome científico, família botânica, coletor do material vegetal e local onde foi coletada? (  ) Verdadeiro ou (  ) Falso.
  • Ilustre o que você visualizou na lâmina do material vegetal através do microscópio.

Fonte: Banco de dados obtidos durante o desenvolvimento do projeto.

Figura 1: Produção manual de exsicatas

Fonte: Banco de dados obtidos durante o desenvolvimento do projeto.

A educação também está presente onde não há escola e em todas as partes onde se configuram redes e estruturas sociais de saberes sem a necessidade de um ensino formal centralizado (Brandão, 2007, p. 13).

A terceira etapa do projeto foi realizada na Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), com a observação e a contextualização das experiências e aprendizagens vivenciadas em sala de aula. A observação direta proporciona maior integração entre as perspectivas dos estudantes e do ambiente que os cerca, sendo um aprendizado diferente da escola, pois a relação pessoal por meio da práxis ocorre diferentemente do contexto formal da escola (Lüdke; André, 1986; Souza; 2008). Assim, foi feita uma visita ao Museu de Ciências do Cerrado Nordestino, ao Laboratório de Sistemática e Evolução de Fungos e ao Laboratório de Fisiologia Vegetal.

A visita ao Museu de Ciências do Cerrado Nordestino proporcionou uma visão ampla da riqueza e da diversidade da fauna presente no bioma Cerrado, o que, segundo Souza (2010), contribui para o autoconhecimento e entendimento da população local. Dessa forma, com base na concepção de museu como espaço não formal de educação, reafirmamos a ideia de Trilla (2004), sendo hoje considerado um espaço polivalente e um receptáculo da memória coletiva da população inserida no contexto local (Trilla, 2004, p. 257).

No Laboratório de Sistemática e Evolução de Fungos, os estudantes puderam conhecer a diversidade de macrofungos da Região Oeste da Bahia, por meio de pesquisas inovadoras na área da Micologia. No Laboratório de Fisiologia Vegetal, os estudantes puderam acompanhar e conhecer os equipamentos utilizados na identificação de plantas, frutos e sementes de espécimes presentes na flora do Cerrado local.

Assim, a educação não formal nesses espaços abre possibilidades variáveis que vão desde as aprendizagens individualizadas à mais coletiva (Cazelli; Costa; Mahomed, 2010). Com isso, reafirmamos uma das características da educação não formal com base em Barros e Santos (2010), quando se referiram que:

A educação não formal socializa os indivíduos, desenvolve hábitos, atitudes, comportamentos, modos de pensar e de se expressar no uso da linguagem, segundo valores e crenças da comunidade. Sua finalidade é abrir janelas de conhecimento sobre o mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais (Barros; Santos, 2010, p. 6).

As experiências vivenciadas ao longo do projeto resultaram em um jogo de cartas denominado Zootrinca cujo principal objetivo é formar trincas, ou seja, juntar três cartas que correspondam a um animal típico do Cerrado brasileiro. Com isso, estudantes puderam reunir todos os conteúdos de Ciências Naturais e Matemática trabalhados ao longo do projeto interdisciplinar.

Observamos nessa atividade como os estudantes expressaram o que apreenderam, participando ativamente do jogo. Isso nos leva a um interesse, comprometimento e cumplicidade e à reflexão do fazer interdisciplinar do projeto. Pode-se afirmar que, pelos resultados de cada atividade desenvolvida, nitidamente houve um processo de aprendizagem efetivo.

Figura 2: Exemplares de cartas do jogo Zootrinca

Fonte: Banco de dados obtidos durante o desenvolvimento do projeto.

Manual de instruções do jogo de cartas Zootrinca

Dica aos jogadores

Leia as instruções do jogo atentamente antes de iniciar a partida. Tenha em mãos lápis e papel para realizar operações matemáticas, caso necessário.

Apresentação

Zootrinca é um jogo sobre a fauna do Cerrado. Este jogo foi elaborado para 3 ou 5 participantes, visando incentivar a aprendizagem sobre as operações básicas da Matemática, da lógica e das suas relações com os animais do Cerrado brasileiro.

O nome Zootrinca foi inspirado no prefixo “zoo”, que deriva do grego com significado de “animal”, e “trinca”, que significa agrupamento de três itens semelhantes. Dessa forma, os jogadores serão instigados a reunir 3 cartas que apresentam características semelhantes de um mesmo animal.

Itens

33 cartas (sendo 24 delas com dicas para formar a trinca, 8 com os animais representantes e 1 carta com as respostas corretas de formação de cada trinca) e manual de instruções.

Objetivo

O objetivo do jogo é formar trincas, ou seja, juntar três cartas que correspondam a um animal.

Como jogar com 3 participantes

O jogo conta com três jogadores, sendo um deles o juiz, o qual deve iniciar a partida solicitando que o primeiro jogador retire uma carta qualquer entre as 8 cartas com os animais representantes, depois o mesmo deve ser feito com o segundo jogador. Depois que cada jogador estiver com sua carta representante em mãos, o juiz deve distribuir três cartas (dentre as 24 cartas dicas) para cada participante. Com as três primeiras cartas em mãos, cada jogador deve tentar buscar relações com o animal que está em sua carta representante.

O jogador à direita do juiz inicia pegando uma carta do monte. Caso seja uma carta de seu interesse, ele deve ficar com ela e descartar uma das cartas que tem em mãos. O segundo jogador, a partir de então, pode escolher entre pegar a carta que seu adversário descartou, caso seja de seu interesse, ou pegar uma nova carta no monte. Essa lógica se repete até que um dos jogadores forme a trinca que corresponde ao animal da sua carta representante.

A carta resposta deve ser consultada pelo juiz para comprovar se o jogador realmente acertou a trinca. Se estiver certo, o jogo acaba. Se não, o jogador que reivindicou a trinca estando errado deve descartar as três cartas dicas que tem em mãos e a carta representante. O juiz deve solicitar que o jogador equivocado pegue uma nova carta representante entres as seis que sobraram e mais três cartas dicas do monte.

O jogador adversário ganha o direito de escolher qualquer uma das três cartas dicas descartadas se for do seu interesse, e o jogo continua até que um dos jogadores forme uma trinca.

Como jogar com 5 participantes

Segue a mesma lógica do jogo com três participantes, a diferença é que cada jogador terá um ajudante para formar as trincas.

Especificidades

As 24 cartas dicas que compõem o baralho estão divididas em três categorias:

1- Cartas com o nome científico e morfologia (de 1 a 8);

2- Cartas com problemas matemáticos (peso, altura, horas de sono, quantidade de alimentos etc. (de 9 a 16);

3- Cartas com os hábitos (de 17 a 24).

Considerações finais

Durante todas as atividades, ficou bem clara a importância de seguirmos à risca os critérios de um trabalho interdisciplinar, pois sem o diálogo, o planejamento, o interesse, o comprometimento e a cumplicidade no processo de ensino-aprendizagem, a integração dos objetos de conhecimento e reflexão do fazer pedagógico interdisciplinar, não poderíamos obter resultados satisfatórios, como aconteceu neste projeto.

Sendo marcada pelos critérios, a fase inicial de aplicação e correção do questionário foi de extrema importância para iniciarmos as atividades propostas, uma vez que detectamos os conhecimentos prévios dos estudantes para atuarmos principalmente nas maiores dificuldades apresentadas por eles.

Na oficina de produção de exsicatas, os estudantes puderam desenvolver habilidades como classificar, ordenar e agrupar folhas, frutos e sementes do Cerrado. Além disso, aprenderam a utilizar a régua corretamente como instrumento de medida por meio de transformações e operações básicas do dia a dia.

A visita à UFOB proporcionou uma visão ampla e holística da diversidade da rica fauna e flora do bioma Cerrado. No Laboratório de Sistemática e Evolução de Fungos, os estudantes tiveram contato direto com pesquisas inovadoras e estudos em desenvolvimento na área da Micologia, envolvendo macrofungos da Região Oeste. No Laboratório de Fisiologia Vegetal, puderam reconhecer e diferenciar as principais características entre a célula animal e a vegetal. Por fim, na aplicação do jogo, desenvolveram a capacidade de raciocinar, transformar, agrupar e classificar os seres vivos presentes e pertencentes ao Cerrado brasileiro.

Com as atividades desenvolvidas ao longo do projeto, pudemos perceber a integração entre os conhecimentos das áreas de Ciências Naturais e Matemática. Assim, os estudantes desenvolveram a capacidade de ordenar, agrupar e classificar, bem como de transformar, calcular e estimar a partir da diversidade de espécies da fauna e flora do Cerrado brasileiro. Além disso, a visita à UFOB proporcionou aprendizagens em áreas do conhecimento distintas, como Botânica, Zoologia e Micologia, porém intrínsecas ao conhecimento da Matemática e ao bioma Cerrado.

Dessa forma, reafirmamos, com base em Zaluar (1994), o conceito e a função de projeto, o qual proporciona uma série de oportunidades educacionais, que se constitui pela complementação dos processos educativos na escola. Esse conjunto de ideias guiadas por objetivos e metas desenvolve um compartilhamento coletivo entre os estudantes (Gohn, 2007). Assim, é evidente que a Matemática não é apenas uma ciência exata, muito menos estática ou vinculada somente à sala de aula. O bioma Cerrado é dinâmico e diverso e pode ser explorado por qualquer área de atuação; basta ressignificar e delimitar a um objeto de conhecimento.

Assim, este trabalho gerou efetiva aprendizagem por parte dos estudantes envolvidos e conhecimentos integrados de disciplinas aparentemente distantes, mas tão próximas na prática. Por isso, no desenvolvimento deste projeto foi muito gratificante observar o envolvimento dos estudantes em todas as etapas, contribuindo quanto ao que foi apreendido, efetivando dessa forma seus conhecimentos.

Referências

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Publicado em 25 de outubro de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

BARBOSA, Kairo Dourado; REGO, Elaine Cunha Morais do. O bioma Cerrado: uma abordagem interdisciplinar entre Ciências Naturais e Matemática. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 40, 25 de outubro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/40/o-bioma-cerrado-uma-abordagem-interdisciplinar-entre-ciencias-naturais-e-matematica

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