A literatura infantil no desenvolvimento do ensino-aprendizado na Educação Infantil

Eloá Bartolo Teixeira dos Santos

Graduada em Letras e em Pedagogia, pós-graduada em Psicopedagogia

Tenho como objetivo principal analisar a importância da literatura infantil para o desenvolvimento da criança, ressaltando sua relevância no meio social, afetivo e cognitivo. Para dar conta desse objetivo central, estabeleci alguns objetivos específicos:

  1. ressaltar a importância da literatura para a aprendizagem;
  2. descrever as consequências do desenvolvimento por meio das histórias infantis e da construção do conhecimento por meio do objeto lúdico e interativo que a literatura infantil pode proporcionar; e
  3. analisar os reflexos da literatura infantil no desenvolvimento da criança.

Por hipótese, afirmo que a literatura infantil, na construção do ensino-aprendizado, pode propiciar positivamente impactos na educação do aluno e incentiva de forma natural o hábito da leitura.

A metodologia do presente estudo será uma pesquisa bibliográfica; portanto, em artigos, livros e materiais que contenham conteúdos explorando os impactos que a literatura infantil causa no desenvolvimento do ensino-aprendizagem. A pesquisa será feita em estudo bibliográfico, a fim de demonstrar as consequências que pode ter no aprendizado da criança a interação com histórias e a contação para apresentar o mundo real de forma lúdica e inserir o educando no grupo social.

Desse modo, a construção deste artigo é elaborada pela divisão do desenvolvimento em capítulos especificando os objetivos de estudo. Por meio de comprovações bibliográficas, apresentarei a ideia principal de construção da aprendizagem por meio deste elemento literário e constitutivo para o meio educacional.

Concomitantemente, pelo estudo será demonstrado como o lúdico auxilia na compreensão e no entendimento, respeitando cada fase do ser, assim como valoriza o socioemocional.

A literatura infantil inserida em um processo de ensino-aprendizagem pode facilitar o desenvolvimento e o conhecimento infantil, visto que o conhecimento e as experiências do aluno serão construídos de forma lúdica e prazerosa. Concomitantemente, o educando que explora o mundo real e fantástico por meio dos livros é suscetível à criatividade desde a infância, ao hábito de descobrir novas histórias, ele que além de ser ouvinte será contador e leitor. Desse modo, crianças estarão mais próximas da leitura que desenvolve o senso de percepção, interpretação e compreensão.

O intuito para a realização deste trabalho é a literatura infantil como ferramenta que, quando devidamente explorada, é adequada no processo de ensino-aprendizado para o desenvolvimento e o conhecimento do educando, sendo esse o ponto de partida desta pesquisa. Assim, tem o objetivo de sintetizar a importância da literatura infantil para o desenvolvimento social, cognitivo e afetivo das crianças e problematizar a concepção do professor de como trabalhar a literatura infantil.

De acordo com Simões (2000, p. 26), “nos momentos de leitura, o educador deve sempre procurar ser literal e dar certo caráter interpretativo à sua leitura usando variações de entonação de forma clara e agradável”. Assim, o processo de interação do educando produz o estímulo cognitivo e a compreensão do real e seus significados. Em suma, o trabalho abordará os pontos essenciais para ressaltar como é fundamental a literatura infantil na Educação Infantil.

Os efeitos da literatura infantil para o desenvolvimento social da criança

Inicialmente, a interação que a criança tem com o mundo da leitura é pelo ouvir. Desse modo, o estímulo das crianças a ouvir histórias desde cedo auxilia no aprendizado e na melhora da concentração, desenvolve a criatividade e a sensibilidade. Assim, os momentos de leitura devem trazer uma atividade divertida, como simular vozes, interpretar personagens e encenar a história; logo a atenção da criança será captada e despertará o interesse por livros, por isso a contação de histórias de forma criativa, lúdica aguça o interesse infantil.

Por conseguinte, o momento da contação de história é também de interação social, as crianças compartilham a descontração e as emoções sentidas quando vivenciam a contação e dividem umas com as outras os impactos e as reações que a história causa. Nessa situação, pode-se analisar que entre elas surgem um sentimento comum e opiniões sobre os fatos ouvidos. Consoante, há entre elas uma experiência em comum, criando assim uma memória social afetiva.

Os efeitos sociais são construídos em grupo; compartilhar o espaço, ou seja, o ambiente em sala de aula e dividir experiências são comuns na vivência dos educandos com a mesma faixa de idade e o mesmo período de alfabetizar e construir o letramento. É necessário também analisar a forma como a literatura infantil influencia o indivíduo de forma pessoal, como diz Barros:

A importância da literatura infantil se dá no momento em que a criança toma contato oralmente com ela, e não somente quando se torna leitora. Dessa forma, ouvir histórias tem uma importância que vai além do prazer. É através dela que a criança pode conhecer coisas novas, para que seja iniciada a construção da linguagem, da oralidade, de ideias, valores e sentimentos, os quais ajudarão na sua formação pessoal (Barros, 2013, p. 22).

Segundo a afirmativa, pode-se perceber que o conhecer por meio da leitura é uma apresentação do mundo à criança.

O professor, quando associa a literatura e o processo de aprender, constrói pontes na relação do aprendizado; consequentemente, esse processo inclui o hábito da leitura literária. Ademais, conforme acontece o envolvimento do educando com as histórias contadas pelos livros, é ressaltado o poder de diálogo que ele empenha e revela questões de identidade, formação da consciência ética e crítica do leitor que são relevantes para a formação da criança como indivíduo e para as práticas que ele exercerá socialmente.

Em segunda percepção, deve ser analisado o papel e a ocupação da criança na sociedade, que no século XXI tem a sua particularidade respeitada como ser e indivíduo capaz de desenvolver habilidades que são exercidas na infância. Para ilustrar, é válido citar as situações sociais comuns em que o educando age em grupo de acordo com a ética que foi formada ainda no seu processo de crescimento, seja nas atividades escolares em sala de aula, seja em brincadeiras na escola ou fora, dentro de um círculo de amigos.

Portanto, o trabalho com as histórias presentes na literatura infantil coloca a criança como o centro das suas ações e dos questionamentos que surgem na infância para serem trabalhados de forma simples e desenvolvendo a consciência que é aplicada nos âmbitos sociais. Em síntese, a função formadora da leitura incrementa no leitor a capacidade de ver o mundo, investigar, compreender e analisar os comportamentos. Dessa forma, o trabalho literário constitui um processo que vai além de formar um leitor; também constrói no educando o senso crítico de práticas comportamentais que futuramente irão ser refletidas em um cidadão adulto. Assim, considera-se também relevante para a promoção dos bons valores úteis socialmente.

A literatura infantil no estímulo cognitivo da criança

Tendo em vista os aspectos anteriores, o educador deve escolher os livros que estejam de acordo com a faixa etária de cada criança; seguindo essa perspectiva, aliar a contação de histórias ao letramento é também uma estratégia de aprendizagem. O letramento é iniciado para que futuramente possa cumprir o seu papel social de ensinar a criança a ler e entender diversos textos literários; portanto, o estímulo é construído nos ambientes mais importantes em que ela vive.         

O viés da leitura, afirma Coelho (2000), “é um fenômeno de linguagem resultante de uma experiência existencial, social e cultural”.  A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto. Segundo Coelho (2000), a leitura, no sentido de compreensão do mundo, é condição básica do ser humano. Desse modo, pelo ato de ler e compreender, uma história torna-se uma ação de construção de saberes.

Logo, o desenvolvimento cognitivo é estimulado e construído, sendo o aprendente o construtor do seu olhar sobre toda história apresentada e a própria interpretação dos fatos que o direcionam ao mundo imaginário, enfatizando a criatividade e a percepção do que foi contado. Desse modo, alfabetizar e letrar são ações diferentes, mas que devem caminhar juntas para o ensino da leitura do contexto das práticas sociais de ler e escrever.

Concomitantemente, a linguagem dos livros de literatura infantil é facilitadora da aprendizagem, acompanhada das imagens associadas às letras. Desse modo, podem ser desempenhados papéis como relacionar vogais com imagens, associar os sons às palavras, ligar sons e letras, motivar as rimas das palavras, estimular o diálogo criando perguntas estimulantes. Destaca-se o trabalho na literatura infantil da poetisa Cecília Meireles:

As meninas

Arabela
abria a janela.

Carolina
erguia a cortina.

E Maria
olhava e sorria:
“Bom dia!”

Arabela
foi sempre a mais bela.

Carolina,
a mais sábia menina.

E Maria
apenas sorria:
“Bom dia!”

Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
uma que se chamou Carolina.

Mas a profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
“Bom dia!”

Em As meninas, Cecília Meireles fala de meninas que eram vizinhas e costumavam se ver na janela. Com um tom leve e de humor, usa as rimas e a descontração para que a leitura e a interpretação ganhem sonoridade, rimando palavras com os nomes: Arabela, Carolina e Maria. As primeiras duas meninas aparecem fazendo pequenas ações, como abrir a janela ou erguer a cortina, a terceira só as cumprimenta. Arabela é louvada pela sua beleza e Carolina pela sua sabedoria, mas apenas sabemos que Maria saúda pelas manhãs: "Bom dia".

Outras literaturas, como as de Ziraldo, com seu livro O menino maluquinho; Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato; Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque; A arca de Noé, de Vinicius de Moraes; e O menino mágico, de Rachel de Queiroz, podem ser usados para trabalhar com a literatura infantil. São autores que trabalham com leveza a infância, a sonoridade, os aspectos da imaginação e convidam a criança a desenvolver a criatividade. É positivo unir o cenário para apresentar esses livros na escola, a ambientação é criada para o momento da leitura, para que assim seja flexível e prazerosa. Souza e Bernardino (2011) explicam:

o horário adequado é aquele em que as crianças estão relaxadas para pensar sobre a história que viram ou escutaram, mostrar o livro à criança e deixar que esta o manuseie é importante para a interação com o objeto; antes do recreio ou almoço ou ao final do dia são os melhores momentos para a contação. Quando ao espaço físico, sugere ambientes fechados, que evitem a dispersão, como a sala de aula; o bom é criar um ambiente de aconchego e a proximidade mantendo as crianças próximas em círculo (Souza; Bernardino, 2011, p. 247).

Além disso, a leitura tem papel importante na educação, como diz Cosson (2005), pesquisador de letramento literário, que é por meio da exploração desses materiais – que abordam um mundo lúdico e reestruturado pela força da palavra – que a literatura demonstra as habilidades e exerce um exercício, tornando-se indispensável para a composição de um indivíduo nas competências da escrita. Portanto, a literatura infantil é essencial no desenvolvimento do educando em todo o processo cognitivo e intelectual.

Nessa tarefa, o professor, em conjunto com a boa obra literária, realiza a função de criar no aluno a consciência do real e de conviver com os frutos do imaginário que desenvolvem a função cognitiva da criança e permite amplas possibilidades que unem a arte literária à educação. Assim, a função pedagógica amplia os horizontes, estendendo as práticas educacionais que possuem como centro a criança e, dessa maneira, aproximam o educando.

Os reflexos no campo afetivo da criança

As histórias desempenham diferentes papéis na vida da criança, como o desenvolvimento da imaginação, a compreensão de questões típicas da infância, como medo, sentimentos de carinho, tristeza e felicidade. São as competências socioemocionais trabalhadas na infância que resultam em um adulto consciente do seu “eu” interior, que compreende e sabe lidar com os seus sentimentos e emoções, sendo esse um grande contributo para ensinar a lidar com pequenas situações com que o educando pode se deparar ao longo do seu crescimento.

É importante a ajuda da família para que o hábito criado em casa seja também partilhado e cultivado com os familiares visando a importância da literatura infantil e as suas contribuições para a criança. De acordo com Bamberguerd (2000, p. 71), a criança que encontra em casa um ambiente de leitura, ouve histórias desde cedo, tem contato direto com livros e é estimulada terá um desenvolvimento favorável de seu vocabulário, bem como a prontidão para a leitura. Esses fatores podem refletir no desenvolvimento da expressão, uma vez que emite emoções e compartilha sentimentos sobre uma história e pode dividir tais emoções com os familiares, estreitando os laços afetivos e as lembranças, juntamente com os que convivem e estabelecem vínculos com a criança.

De acordo com Zilberman (2003), a valorização da infância ocasionou uma aproximação e uma comunhão familiar que foi dividida com os meios de controle do crescimento intelectual da criança e do desenvolvimento das emoções. Assim, a literatura e a escola foram reorganizadas e reiniciaram a missão de educar por meio do auxílio dos livros infantis que aproximam as crianças e os laços familiares; desse modo, a corrente afetiva e a emocional são estreitadas e o âmbito da leitura expandido para o trabalho intelectual e afetivo.

Em segundo viés, é importante pensar na criança leitora, mas deve-se considerar a primeira infância, a fase na qual são apresentadas a ela as brincadeiras, por isso, a literatura pode ser dada também como um brinquedo com o qual ela irá criar um universo de sonho e realidade de forma natural com a imaginação. Assim, a família, sendo o primeiro lugar social o qual o educando frequenta, precisa criar os laços com a leitura e a expressão por meio das histórias. O fornecimento de maneira natural cria o gosto e a afetividade pelos livros que, por conseguinte, são um meio de expressão e visualização da própria criança como protagonista nas narrativas ficcionais, causando o reconhecimento e a compreensão dos sentimentos a partir de situações e momentos apresentados.

Considerações finais

Sendo assim, conclui-se que é de extrema importância para pais e educadores discutir a leitura e o desenvolvimento por meio da literatura infantil, a importância do livro no processo de formação do leitor e o processo para o desenvolvimento do leitor crítico. A leitura e a escrita exercem grande importância.

O contato da criança com materiais de leitura deve ser constante para que desperte o gosto por esse ato, tornando-se um hábito que será cultivado e perpetuado pela sua vida. A literatura infantil, se utilizada de modo adequado, é um instrumento de suma importância na construção do conhecimento do educando, fazendo com que ele desperte para o mundo da leitura e esta se torne um ato de aprendizagem significativa.

A literatura destinada às crianças propõe, mediante o prazer ou as emoções que as histórias e poemas proporcionam, o simbolismo que está implícito nas personagens e temáticas e age em seu inconsciente, atuando pouco a pouco para ajudar a resolver os conflitos interiores normais em cada fase da criança.

Portanto, o contato com a literatura desde a primeira idade proporciona o desenvolvimento e o crescimento de um indivíduo letrado, pois, além de desenvolver a boa leitura e elevar o cognitivo, atua com a interpretação e o conhecimento de mundo adquirido. Desse modo, são desenvolvidos o entendimento e a compreensão desde os pequenos textos mistos (linguagem verbal e não verbal) até os textos mais complexos nas suas próximas fases.

Em síntese, o artigo aponta o quanto são essenciais o estímulo e a apresentação do mundo e do contexto que rodeia a criança pelo elemento literário, que é um aliado do ensino. Destarte, ressalva a linguagem lúdica e condizente com a infância, assim como traduz a fácil comunicação que é remetida ao educando.

Referências

BAMBERGUERD, Richard. Como incentivar o hábito da leitura. 7ª ed. São Paulo: Ática, 2000.

BARROS, P. R. P. D. B. A contribuição da literatura infantil no processo de aquisição de leitura. 2013. 54f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) – Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, São Paulo, 2013.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil. São Paulo: Moderna, 2000.

COSSON, R. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2009.

SIMÕES, Vera Lúcia Blanc. Histórias infantis e aquisição da escrita. São Paulo: Moderna 2000.

SOUZA, L. O. de; BERNARDINO, A. D. A contação de histórias como estratégia pedagógica na Educação Infantil e Ensino Fundamental. Educere et Educare, v. 6, nº 12, p. 235-245, jul./dez. 2011. Disponível em revista.unioeste.br/index.php/educereeteducare/article/view/4643/4891. Acesso em: 20 set. 2021

ZILBERMAN, R. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=ptBR&lr=&id=dqhcBAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT2&dq=a+import%C3%A2ncia+de+textos+literarios+na+educa%C3%A7%C3%A3o+infantil&ots=nzNQDkqRvp&sig=JXDwidbw7DUADl9sbH5X2tIxPCs#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 30 ago. 2021.

Publicado em 01 de novembro de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

SANTOS, Eloá Bartolo Teixeira dos. A literatura infantil no desenvolvimento do ensino-aprendizado na Educação Infantil. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 41, 1 de novembro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/41/a-literatura-infantil-no-desenvolvimento-do-ensino-aprendizado-na-educacao-infantil

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.