Formação de professores e a importância do ensino colaborativo para fomentar uma cultura inclusiva

Joelma de Carvalho da Silva Rocha

Professora substituta do atendimento educacional especializado no Cap/UERJ, pós-graduanda no curso de Neuroeducação (IFRJ - Câmpus Mesquita)

Vanessa Canuto Coelho

Mediadora do Curso de Educação Especial e Inclusiva da Fundação Cecierj

Além de variáveis políticas, sociais, econômicas e pedagógicas que se imbricam no contexto da Educação Inclusiva, a insuficiência de formação inicial, a carência de formação continuada e a escassez de oportunidades ao docente faz com que os professores se sintam despreparados e desorientados diante da diversidade dos ambientes educacionais, com relação ao nível de necessidade e de intervenção em casos de sujeitos com deficiência. Por isso é tão importante criar possibilidades de trabalho que superem os modelos tradicionais e proporcionem articulações das ações docentes (Mendes, 2006; Cabral; Silva, 2017).

O ensino colaborativo visa atender a essas demandas educacionais dos sujeitos e se caracteriza quando profissionais da educação, com formações e experiências diferentes, dividem responsabilidades de planejamento, ensino e avaliação (Mendes, 2006; Cabral; Silva, 2017; Zerbato; Mendes, 2017).

O paradigma da inclusão tem como princípio uma educação de qualidade oferecida para todos, na qual os professores sejam formados com o objetivo de contribuir para a construção de uma sociedade inclusiva, ao reconhecer e valorizar a diversidade humana. (Brasil, 2015) Sendo assim, o ensino colaborativo ou coensino, se apresenta como um serviço da educação especial, formando uma rede de apoio cíclica e complementar, a fim de dinamizar o trabalho docente (Zerbato; Mendes, 2017).

Como aluna do Curso Aperfeiçoamento em Educação Especial e Inclusiva da Fundação Cecierj e professora de atendimento educacional especializado (AEE), na perspectiva do ensino colaborativo, atuo no Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto Fernando Rodrigues da Silveira, Cap/UERJ, onde percebi a importância de compartilhar os saberes, as ações, as intenções docentes, as propostas de resoluções de problemas e a administração da sala de aula, a fim de tornar o processo de inclusão mais abrangente e mais efetivo aos alunos.

Desenvolvimento

Considero que sou privilegiada por poder fazer esse curso e atuar no Atendimento Educacional Individualizado na perspectiva do ensino colaborativo. Esta experiência agregou valor à minha prática, permitindo a superação de inseguranças que surgem diante dos desafios da diversidade, estabelecendo uma rede de apoio e parcerias firmadas em interação com os pares.

O período de ensino remoto, estabelecido para o momento pandêmico, revelou carências e dificuldades de docentes e discentes, exigindo rápida adaptação aos aparatos digitais, a situações que acentuaram as desigualdades pedagógicas, emocionais e socioeconômicas. Os professores sofreram com as cobranças e os alunos sentiram as mudanças, cada um do seu jeito amargaram algum tipo de prejuízo, especialmente alunos com deficiências.

Tive a oportunidade de vivenciar isso com um aluno com transtorno do espectro do autismo (TEA), cursando o 5º ano do Ensino Fundamental. Ele teve grande dificuldade de adaptação com o modelo remoto e apresentou resistência aos atendimentos individualizados do AEE, cuja função era dedicar atenção aos encontros síncronos, em turma, na realização de tarefas com propostas envolvendo a escrita ou o registro em papel. Houve uma demora significativa para estabelecermos um vínculo e ainda temos dificuldades quando nos referimos aos professores das disciplinas e aos colegas de classe, porque estes assuntos levam o aluno a um estado de estresse e descontentamento pela não aceitação das mudanças na sua rotina.

O apoio e a parceria estabelecidos com a família do estudante foram essenciais, assim como o trabalho colaborativo. Ambos atenuaram as nossas dificuldades como equipe, lidando com os alunos público-alvo da Educação Especial, PAEE. Na medida em que nos engajamos nos processos de ensino-aprendizagem de nossos alunos para tomar decisões na mesma direção, com os mesmos objetivos, colocamos os alunos como protagonistas nos processos e consideramos as suas especificidades, realizando os planejamentos e as tomadas de decisão sempre na intenção da melhoria do ambiente.

Após ouvir a família, pude levar para os professores das disciplinas as dificuldades e as potencialidades do estudante. Assim, juntos, podíamos pensar nas estratégias e nas possibilidades de flexibilização de prazos e modelos (Mendes, 2006; Cabral; Silva, 2017; Zerbato; Mendes, 2017). O trabalho colaborativo permitiu que solicitássemos dos professores o preparo dos conteúdos intermediados por diferentes recursos, como vídeos, imagens e jogos e apresentassem os aplicativos e recursos que já haviam testado individualmente, como o Word Wall, com ferramentas de jogos, o Google Forms, para avaliação e exercícios, e atividades diversas do Canvas e do H5P, desenvolvendo o trabalho em consonância com o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA), alinhado às descobertas da Neurociência a serviço da Educação Especial, cujas premissas valorizam a multiplicidade de percepção, engajamento e expressão e permitem que as dificuldades de aprendizagem sejam minimizadas ou removidas e as potencialidades sejam ampliadas (Ribeiro; Amato, 2018).

Considerações finais

O paradigma da inclusão tem como princípio uma educação de qualidade oferecida para todos na qual os professores sejam formados com o objetivo de contribuir para a construção de uma sociedade inclusiva, ao reconhecerem e valorizarem a diversidade humana. Essa premissa deve ter o seu suporte na formação de professores para atuação em Educação Especial e Inclusiva, com a abrangência dos seus serviços.

O trabalho colaborativo envolve compromisso e interação dos docentes em ouvir e caminhar na mesma direção, seja no planejamento, no ensino, na avaliação ou no manejo da classe. Isso implica respeito pelo outro, com a sua experiência e formação. A aceitação e a interdependência se fundamentam no compartilhamento das responsabilidades, dos saberes e dos recursos. Desse modo, resultados positivos puderam ser alcançados e outros estão sendo buscados em nosso Colégio de Aplicação.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008.

CABRAL, L. S. A.; SILVA, A. M. Desafios para formação de professores em Educação Especial e a contribuição do ensino colaborativo. Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 4, nº 1, p. 61-72, 2017.

MENDES, E. G. Colaboração entre ensino regular e especial: o caminho do desenvolvimento pessoal para a inclusão escolar. In: MANZINI, E. J. (org.). Inclusão e acessibilidade. Marília: ABPEE, 2006. p. 29-41.

RIBEIRO, Glaucia Roxo de Pádua Souza; AMATO, Cibelle Albuquerque de la Higuera. Análise da utilização do Desenho Universal para Aprendizagem. Cadernos de Pós-Graduação. Distúrbio do Desenvolvimento, São Paulo, v. 18, nº 2, p. 125-151, dez. 2018.

ZERBATO, A. P.; MENDES E. G. Formação de professores como estratégia para realização de coensino. Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 4, nº 1, p. 19-32, 2017.

Publicado em 08 de novembro de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

ROCHA, Joelma de Carvalho da Silva; COELHO, Vanessa Canuto. Formação de professores e a importância do ensino colaborativo para fomentar uma cultura inclusiva. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 42, 8 de novembro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/42/formacao-de-professores-e-a-importancia-do-ensino-colaborativo-para-fomentar-uma-cultura-inclusiva

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