Modelo de alfabetização contextualizado As Cinco Bases: uma possibilidade de inclusão

Márcia Lannes Sampaio

Aluna do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Especial e Inclusiva (Cecierj)

Carla Vimercati

Tutora do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Especial e Inclusiva (Cecierj)

Nosso interesse da autora na Educação Especial e Inclusiva deve-se a um projeto desenvolvimento com uma professora alfabetizadora que, diante da impossibilidade de alfabetização da totalidade de seus alunos, teve a ideia de reinventar sua prática pedagógica, a fim de levar luz para a escuridão em que via alguns de seus alunos submergidos. Percebendo o sucesso do intento, juntaram-se para, como um bote salva-vidas, levar a leitura e a escrita a crianças que precisavam de ajuda. O lema do projeto, o modelo de alfabetização contextualizado As Cinco Bases, a partir de então, foi que todas as crianças podem ser alfabetizadas, desde aquelas sem qualquer tipo de dificuldades passando pelas crianças com dificuldades comuns e alcançando aquelas com dificuldades intelectuais.

A percepção de que nem todas as crianças conseguiam assimilar as bases ao mesmo tempo levou a autora a inscrever-se no curso do Cecierj, a fim de compreender melhor o porquê de certos alunos precisarem de mais tempo e aprender a lidar com cada caso. “O trabalho pedagógico na escola contemporânea tem exigido dos professores novas estratégias e propostas curriculares para garantir processos de ensino-aprendizagem que atendam às especificidades e diferenças apresentadas pelos alunos” (Glat; Pletsch, 2019 apud Souza, 2021).

O objetivo ao realizar este relato é indicar o modelo aos professores como possibilidade de sucesso com os alunos, sejam eles especiais ou não, acreditando que pode fazer a diferença na vida tanto daquele que ensina como na do que aprende, ressaltando e exemplificando a importância do curso para o aprimoramento do modelo.

Serão citados, no desenvolvimento, autores reconhecidos na área da Educação Especial, embasando este relato e dando ainda mais credibilidade ao Modelo das Cinco Bases. Na conclusão, será feito um apanhado geral do que esse curso significou para a metodologia do modelo citado, deixando-o como esperança para os que anseiam por algo novo, funcional.

Desenvolvimento

Não é novidade para os profissionais da Educação, principalmente para os docentes que se dedicam ao ensino da leitura e da escrita, que muitas crianças matriculadas em turmas regulares não conseguem atingir os objetivos da alfabetização para o ano letivo, algumas visivelmente com necessidades especiais e outras que não apresentam, pelo menos aparentemente, tais necessidades.

Com o Modelo das Cinco Bases, tanto a autora como a sua amiga e sócia, Carla Barretto, têm conseguido bons resultados nesse campo, mas percebem que há uma diferença significativa no tempo do aprendizado de algumas crianças. Umas são alfabetizadas rapidamente, enquanto outras necessitam de maior tempo e de estratégias diferenciadas.

Nesse curso, a autora tem aprendido que a identificação de uma necessidade especial é indispensável para que a busca por caminhos seja feita e que tanto o currículo quanto a avaliação sejam, de fato, diversificados.

Uma excelente experiência sua obtida no decorrer do curso foi na semana em que foram encorajados a postar nas redes sociais algo feito com bons resultados. Como estamos num ano de pandemia e de ensino remoto, tal procedimento poderia ajudar muitos professores a ter atitudes parecidas dentro das suas vivências. O que fez então foi postar a Caixa de Itens, uma estratégia usada quando lançam uma base nova do modelo de alfabetização. Mais do que usá-la somente nas aulas individuais, deixou-a exposta na sua varanda, a fim de que as crianças que vão a sua residência para as aulas de alfabetização pudessem ter a oportunidade de ver os itens, deixando-as manuseá-los, vendo as sílabas iniciais dos nomes dos objetos/brinquedos e cantando a música que destaca cada uma dessas sílabas.

A postagem recebeu muitas curtidas e o melhor foi ver seus alunos aprendendo muito mais rápido do que de costume, o que tem se repetido desde então.

Figura 1: Objetos expostos

A autoestima das crianças surge ao se perceberem lendo sílabas, palavras novas e até mesmo frases e pequenos textos. Então é possível aqui dizer que os professores podem contribuir com os recursos para a eliminação das barreiras a fim de que “a inclusão seja plena”.

Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar [...]

II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena (Brasil, 2015).

Pela citação, vemos que assegurar condições para a aprendizagem é incumbência do poder público; a alfabetização não pode se restringir às crianças que procuram um atendimento particular, mas a escola precisa ter os meios para proporcionar essa educação inclusiva, como assegura a Lei Brasileira de Inclusão. O que se pode constatar é que todas as crianças podem e devem ser alfabetizadas, independente de diagnósticos. Importa que, tendo em mãos algo transformador e inclusivo, esse algo a mais precisa ser desenvolvido.

Em 2020, com a pandemia, várias mães e professoras procuraram o Modelo, a fim de que seus filhos não ficassem de fora, excluídos, por não estarem conseguindo acompanhar as aulas online por alguma necessidade específica. Foi maravilhoso constatar que em poucas horas/aula a criança já lia palavras, frases e pequenos textos, o que, pelo modelo, já é possível a partir da primeira base, a Base A.

Figura 2: A base A

Ter algo inclusivo em mãos levou autora a inscrever-se no curso para entender mais sobre necessidades especiais e sobre inclusão. Vibrou com o estudo de ensino colaborativo ou coensino. Admite que está no caminho certo. “Segundo Argueles, Hughes e Schumm (2000), quando o ensino colaborativo é implementado com êxito, todos os alunos se beneficiam, assim como o entusiasmo dos professores é renovado” (Cabral; Silva, 2017, p. 66).

O material inclusivo citado surgiu estrategicamente em sala de aula, em que havia vários grupos distintos de alunos, dentre eles os que já liam, aqueles que não liam absolutamente nada e uns que conheciam algumas letras e sabiam copiar, mas não eram capazes de ler. Assim, para alfabetizar todas as crianças da turma, a professora Carla usou sua criatividade e pôde, então, com jogos e várias atividades lúdicas, alcançar o objetivo almejado.

Depois de testar vários métodos sem êxito, resolvi então mudar tudo o que vinha fazendo, iniciando com essas crianças, algumas especiais, um processo em que se dá a assimilação das vogais às consoantes do alfabeto através de imagens fixas. Esse tipo de mecanismo desperta a consciência fonológica a partir do concreto. Idealizei, de imediato, o que chamei de “Base A” (Barretto; Sampaio, 2020, p. 5).

“É preciso considerar que a escolarização de todos sem discriminação envolve uma atitude extremamente importante na organização do ensino: as escolas deverão adaptar-se a todos os alunos que nelas entram, e não o contrário” (Carlou, 2018, p. 5).

Será agora citado o exemplo da mesma professora, a qual, dando aula em turma de segundo ano, no ano de 2021, constatou que as poucas crianças que estavam em aula presencial ainda não estavam alfabetizadas. Ela não tem um colaborador para explorar o coensino e, por isso, usou o Modelo das Cinco Bases como estratégia possível, considerando-o um material prático, divertido e muito simples de ser aplicado, totalmente contextualizado pela autora deste relato, com histórias maravilhosas e que já possui seu próprio registro.

Figura 3: As Cinco Bases

Dessa forma, ali mesmo, na sala comum, levou seus materiais, dentre eles vários jogos. Com isso, ela viu seus alunos, em apenas três meses, com uma hora de aplicação diária do Modelo, inclusive os que visivelmente têm necessidades especiais, vibrar por já lerem sílabas iniciais das imagens da história contada e palavras novas surgidas da junção dessas sílabas, chegando à leitura de frases que formam pequenos textos. Essa atitude mostra a professora se reinventando para alcançar o aluno.

A atividade sobre a importância da diferenciação pedagógica para os envolvidos no processo educacional fez a autora lembrar de um recente aluno seu de alfabetização, que não conseguia associar as sílabas iniciais das palavras às imagens da base A.

Ao final de algumas aulas, percebemos que a caixa de itens e o muralzinho não haviam sido suficientes para que ele aprendesse. Não desistimos, fizemos o Jogo das Fichas e começamos a jogar com ele, alternando: ora jogávamos as sílabas e ele jogava a imagem correta, ora iniciávamos com a imagem e ele lançava a sílaba correspondente (Sampaio, 2021).

A autora afirma ter sido bastante divertido e que, ao final de alguns dias, com esse exercício, ele conseguiu assimilar a base A. Esse fato remete este relato ao PEI: “A elaboração do PEI quebra o paradigma de que o aluno tenha que se adaptar à escola e constrói um novo olhar à medida que respeita as especificidades de cada um. Trata-se de uma ferramenta inclusiva e colaborativa” (Hampheris; Nunes, 2021).

Considerações finais

Tendo total clareza de que o modelo de alfabetização contextualizado As Cinco Bases, registrado e experimentado com várias crianças, pode ser utilizado para garantir a alfabetização inclusiva de crianças de vários estabelecimentos de ensino, este relato pode servir para encorajar o seu uso em sala de aula.

Ler sílabas, palavras e até frases, dependendo de cada caso, num espaço de tempo muito reduzido, não seria mais uma utopia, mas uma possibilidade real, diferenciando caso a caso. Tem sido gratificante para a autora ver a alegria das crianças, antes desesperançosas, lendo e escrevendo, com um sorriso largo e uma alegria contagiante e os professores treinados, sentindo-se realizados em ver a alegria de pais e familiares que veem sua criança incluída.

Foi por essas crianças que a autora participou do Curso de Educação Especial e Inclusiva, querendo aprender mais para entender melhor cada criança, chegando cada vez mais perto do que elas necessitam para se sentirem incluídas, juntamente com as outras crianças.

Figura 4: O bote e o mar

Referências

BARRETTO, Carla Rodrigues; SAMPAIO, Márcia Lannes. Modelo de alfabetização contextualizado As Cinco Bases. Nota das autoras, 2021.

BRASIL. Lei nº 13.146, Lei Brasileira de Inclusão. Brasília, 2015.

CABRAL, Leonardo Santos Amâncio; SILVA, Aline Maira da. Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva: Desafios... Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 4, nº 1, Edição especial, p. 61-72, 2017.

CARLOU, Amanda. Estratégias pedagógicas para ensino-aprendizagem de estudantes com necessidades educacionais especiais. Revista Espaço Acadêmico, nº 205, p. 3-11, jun. 2018.

HAMPHERIS, Fanni; NUNES Kátia. Em foco: Plano Educacional Individualizado. Jornal Incluir, nº 1, fev. 2021.

SAMPAIO, Márcia Lannes. Modelo de alfabetização As Cinco Bases: uma Possibilidade de Inclusão. Rio de Janeiro, 2021.

SOUZA Marisa Mendes Machado de. Diferenciação Pedagógica: Reflexões e Perspectivas. 2021.

Publicado em 08 de novembro de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

SAMPAIO, Márcia Lannes; VIMERCATI, Carla. Modelo de alfabetização contextualizado As Cinco Bases: uma possibilidade de inclusão. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 42, 8 de novembro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/42/modelo-de-alfabetizacao-contextualizado-as-cinco-bases-uma-possibilidade-de-inclusao

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.