A intervenção psicológica no atendimento da pessoa com transtorno do espectro autista
Ruy Pinheiro de Lima
Psicólogo (Faculdades Cathedral), especialista em Neuropsicologia e Dificuldades de Aprendizagens e em Psicologia Cognitiva Comportamental (Faveni)
O transtorno do espectro autista (TEA) decorre de perturbações do desenvolvimento neurológico que, por sua natureza específica, acarreta grandes impactos, não só à vida de pessoas acometidas pelo distúrbio, como também na de seus familiares. É, portanto, considerado um espectro, em virtude de haver uma gama de condições que englobam desde níveis mais leves até mais profundos de comprometimento do desenvolvimento global do indivíduo.
Sendo assim, o Sistema Único de Saúde (SUS), preocupado em promover políticas públicas que oferecessem assistência a esse público, passou a desenvolver estratégias de cuidados de saúde, visando uma melhor qualidade de vida. Com o passar do tempo, as redes de atendimento têm oferecido serviços e apoios especializados que atendem às particularidades do TEA. Entre estes profissionais, destaca-se o psicólogo que, devidamente capacitado, tem atuado junto a esta população de maneira compromissada e eficiente.
Assim, objetivando melhorar as condições de vida da pessoa com TEA, o Ministério da Saúde vem construindo ações para a implementação da rede de cuidados à saúde desses sujeitos, assim como de outros tipos de deficiências, no âmbito do SUS. Assim, considerando tal pressuposto, levantou-se o seguinte questionamento: Como acontece a intervenção do psicólogo visando o atendimento da pessoa com TEA?
Na busca por responder à questão da pesquisa chegou-se à seguinte hipótese: o psicólogo tem papel fundamental no tratamento do TEA, pois com sua formação específica e bem definida, atua na construção de diagnósticos que servem como ponto de orientação, visando indicar as possibilidades de projetos e ofertas de tratamentos a este público específico.
Portanto é objetivo geral deste estudo apresentar a importância da intervenção psicológica no atendimento da pessoa com TEA. São objetivos específicos: 1) conhecer como se processa o TEA e as suas consequências na vida do indivíduo, 2) contextualizar a intervenção psicológica como parte da rede de saúde pública mental e 3) caracterizar a atuação do psicólogo no atendimento de pessoas com TEA.
Realizar este estudo é importante porque mostra que a atuação do psicólogo na rede de apoio e atendimento à pessoa com TEA, assim como a seus familiares, é essencial e, como tal, não pode ser reduzida à sua condição diagnóstica. Ao contrário disso, visando ao seu desenvolvimento integral, suas ações devem acontecer de forma integrada e articulada a todos os outros profissionais no atendimento.
Como parte dos procedimentos metodológicos empregados, este estudo desenvolveu-se a partir de uma revisão de literatura, com abordagem qualitativa do tipo exploratória. Realizamos um levantamento bibliográfico por trabalhos realizados em torno do tema, coletando-se informações de fontes científicas como artigos de revistas, livros e manuais.
O transtorno do espectro autista (TEA)
O transtorno do espectro autista (TEA) é uma patologia definida pela Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, também conhecida como Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), por integrar o conjunto de transtornos do neurodesenvolvimento. Portanto, trata-se de um transtorno invasivo do desenvolvimento causador de déficits comportamentais e sociocomunicativos, cujo quadro clínico traz os seguintes prejuízos:
- Interação social;
- Nos comportamentos (como contato visual, postura e expressão facial);
- Na comunicação (verbal e não verbal), podendo existir atraso ou mesmo ausência da linguagem;
- Ecolalia;
- Uso de linguagem estereotipada;
- Dificuldades no estabelecimento de relações sociais, preferindo atividades mais solitárias;
- Dificuldades sociais para compartilhar interesses, iniciar ou manter interações sociais;
- Dificuldades em compreender expressões faciais de sentimentos e afetos;
- Comportamentos estereotipados (como bater palmas ou flapping);
- Interesses são limitados;
- Dificuldade em mudar rotinas, dentre outras alterações (IFPB, 2017, p. 5).
Tais prejuízos formam um conjunto de dificuldades que afetam diretamente a interação social, a comunicação e o comportamento do indivíduo com TEA. Devido a sua incidência, acomete muito mais meninos do que meninas. É visto atualmente, inclusive, como um transtorno muito comum, mas muito complexo, justamente por causa da enorme diversidade de manifestações dentro do espectro, o que faz com que a sua identificação não seja ainda totalmente compreendida.
O que se sabe ao certo é que, apesar da sua definição atual, esses prejuízos são persistentes. Afetam, de acordo com Seimetz (2018, p. 9), “principalmente na comunicação social recíproca e na interação social em múltiplos contextos, limitando as diversas áreas de funcionamento da vida”.
No entanto, não significa que a pessoa com TEA irá manifestar todos esses prejuízos ao mesmo tempo, nem com a mesma intensidade. De acordo com Borba e Barros (2018), dependendo do nível, o indivíduo acometido, pode apresentar somente comportamentos repetitivos, interesses focalizados ou ter interferência direta nas suas relações sociais, tornando-os incapazes de demonstrar, por exemplo, qualquer tipo de empatia, emoções ou sentimentos.
Nesse sentido, diversos estudos vêm sendo realizados na tentativa de melhor caracterizar o TEA a ponto de possibilitar conhecimentos científicos, teóricos e práticos, que permitam atuar junto à pessoa.
Desde sua descoberta em 1943 por Kanner, somente a convivência do autismo pode torná-lo mais facilmente entendido, pois, é um transtorno qualitativo do desenvolvimento, de difícil entendimento, sempre evidenciado por opacidades, imprevisibilidades, impotências e fascinações difíceis de serem descritas por acentuarem ainda mais, a dificuldade de se apresentar uma definição adequada (Gomes; Coelho; Miccione, 2016, p. 3).
Por isso, o diagnóstico e o tratamento ainda são complexos, o que tem feito com que os especialistas optem pela indicação de medicamentos que auxiliam na redução dos sintomas, paralelamente ao atendimento interdisciplinar, visando justamente dar uma melhor qualidade de vida às pessoas com TEA.
No caso do TEA, não é um único sintoma que o caracteriza, mas um conjunto de prejuízos. Além disso, duas pessoas nunca apresentam os mesmos sinais. Por isso, o Ministério da Saúde (Brasil, 2014) chama a atenção para a importância que se deve ter, desde cedo, logo no surgimento dos primeiros fatores observados, em procurar ajuda especializada para se fazer o devido acompanhamento a partir de um diagnóstico inicial.
Essa identificação precoce ajudará no acompanhamento do quadro clínico, na identificação de possíveis comorbidades associadas e na adoção do tratamento adequado, pois “a compreensão dos transtornos do desenvolvimento infantil dar-se-á mediante o conhecimento do desenvolvimento infantil considerado normal” (Souza et al., 2004, p. 25).
Assim, o TEA é um espectro justamente porque indica a existência de graus ou níveis diferentes no indivíduo com o transtorno, que podem ser maiores ou menores, dependendo do grau manifestado, que vai do nível 1 (menor comprometimento) até o nível 3 (maior severidade dos sinais), conforme explicam Borba e Barros (2018).
Sabe-se que a ciência, nos últimos tempos, tem avançado consideravelmente nesse campo, mas ainda não há uma resposta clara e precisa sobre como proceder. Assim, atender uma pessoa diagnosticada com TEA requer uma atenção especial por parte dos profissionais que atuam junto a ela.
Em todo caso, quanto mais cedo forem identificados os primeiros sinais, mais rápido será o diagnóstico e o seu tratamento, tendo em vista a possibilidade imediata de intervenções por uma rede de apoio em saúde pública mental. Além disso, é comprovado que os resultados são mais positivos quando se tem um acompanhamento mais efetivo.
A intervenção psicológica como parte da rede de apoio em saúde pública mental
A identificação inicial do transtorno do espectro autista (TEA) é essencialmente clínica, possibilitando, ao mesmo tempo, a implementação de intervenções articuladas e planejadas, acontecendo de forma integrada e contando com a participação de diferentes profissionais. Um bom exemplo dessa ação é o papel desempenhado pela rede de apoio em saúde pública mental atualmente. Esta rede de apoio, como o próprio nome diz, conta com a participação de uma equipe de profissionais pertencentes ao Sistema Único de Saúde (SUS), além dos próprios pais e educadores - estes últimos de modo mais indireto que atuam em parceria na observação, no acompanhamento das etapas do desenvolvimento infantil e na identificação de indicadores de sinais de alerta que caracterizem o diagnóstico do TEA - visando a implementação de estratégias e ações de estimulação (Brasil, 2014).
Fazem parte dessa rede de apoio à atenção básica à saúde, composta pelas unidades básicas de saúde (UBS) e suas respectivas equipes de atenção básica, de saúde da família, do núcleo ampliado de saúde da família (NASF) e de saúde bucal. Paralelo a isso, tem-se a articulação com outros órgãos sociais, como é o caso, por exemplo, dos centros de referência da assistência social (CRAS), dos centros de referência especializados de assistência social (Creas), dos centros especializado em reabilitação (CER) e dos centros de atenção psicossocial (CAPS).
Cada órgão ou membro pertencente a essa rede de apoio em saúde pública mental atua de acordo com a sua especificidade, mas de forma articulada e integrada. Justifica essa atuação o fato de diversos estudos realizados sobre o assunto, como é o caso de Souza et al.(2004), Gomes, Coelho e Miccione (2016), Seimetz (2018), apontarem que um tratamento eficaz junto a pessoas com TEA deve contar com a atuação de diferentes profissionais habilitados, pois somente a ação medicamentosa não é suficiente, assim como o apoio da família e dos educadores.
Esses profissionais são das mais diversas áreas: enfermeiros, médicos, assistentes sociais, psicólogos, entre outros. Cada um no seu âmbito, atua de forma articulada e integrada visando o melhor desenvolvimento da pessoa com TEA. No caso do psicólogo, a sua intervenção é fundamental desde a identificação, passando pelo diagnóstico até o tratamento.
A intervenção psicológica, foco principal deste estudo, é realizada pelo psicólogo, que de posse de instrumentos rastreadores, como é o caso da avaliação psicológica, da observação clínica, do uso de escalas e de instrumentos de triagem, atua na investigação de fenômenos psicológicos, como é o caso do TEA, com a finalidade de obter informações que permitam “a tomada de decisão, no âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas, condições e finalidades específicas” (Seimetz, 2018, p. 13).
Assim, sabendo que o diagnóstico do TEA tem sido feito com base na observação e acompanhamento da história do indivíduo e dos comportamentos apresentados, a intervenção psicológica acontece considerando-se os critérios recomendados pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), uma vez que a utilização de “escalas e instrumentos de triagem padronizados ajuda a identificar problemas específicos, sendo muito importante para o rastreamento e a triagem de casos suspeitos” (Borba; Barros, 2018, p. 37).
A intervenção psicológica, de acordo com Matos e Matos (2018), quando se inicia desde a identificação do TEA, diagnóstico e se intensifica no tratamento, tem produzido resultados positivos, pois inúmeras são as técnicas e terapias que ajudam a estimular o desenvolvimento da área afetada.
Brasil (2014, p. 69) aponta, inclusive, que as intervenções psicológicas, associadas ao trabalho de outros profissionais, trazem “ganho funcional e de autonomia, principalmente nos aspectos comunicacionais e de linguagem, aspectos da interação social e no desempenho de atividades da vida prática”.
No entanto é importante mencionar que para a intervenção psicológica acontecer e produzir resultados positivos, o profissional que a desenvolve, no caso o psicólogo, precisa estar atento aos sinais de alerta, para não correr o risco de se precipitar na hora de emitir um diagnóstico. Logo,
visando evitar imprecisões, a avaliação desses casos deve incluir uma cuidadosa anamnese, detalhando-se histórico médico, clínico e desenvolvimental, além de uma avaliação integral das habilidades psicológicas, cognitivas, de comunicação, linguagem e interação, e do nível adaptativo do indivíduo. Podem ainda ser necessários exames adicionais para descartar possível prejuízo auditivo, uma vez que uma das preocupações dos pais é a ausência de resposta a certos estímulos auditivos, como, por exemplo, não responder quando chamado pelo nome (Seimetz, 2018, p. 15).
Tudo isso se faz necessário porque apesar dos sinais de alerta serem um importante material para instrumentalizar a atuação tanto do psicólogo quanto dos demais profissionais das equipes de saúde no diagnóstico, acompanhamento e tratamento, eles podem acabar confundindo o diagnóstico e trazendo consequências negativas. Sendo assim, para que a intervenção psicológica aconteça de forma efetiva deve levar em consideração, entre outros aspectos, “o desenvolvimento humano normal para ter condições de detectar as áreas defasadas e comprometidas. E precisa estar muito sensível às observações e relatos da família” (Souza et al., 2004, p. 26).
Além disso, a orientação a ser dada aos demais profissionais depende da sensibilidade do psicólogo diante do caso atendido e do nível de comprometimento apresentado na condução da proposta terapêutica mais adequada a cada situação. Afinal, a sua atuação “pode influir em vários níveis e desenvolver vários papéis” (Matos; Matos, 2018, p. 22). Ou seja, tanto age como investigador e pesquisador em uma equipe diagnóstica e de avaliação, quanto atua como psicoterapeuta em uma abordagem individual e/ou institucional, além de ser orientador institucional e familiar.
Em se tratando disso, a intervenção psicológica se destaca por possibilitar melhorias significativas na qualidade de vida da pessoa com TEA, de acordo, é claro, com as características e particularidades apresentadas em cada caso. De modo específico, caracterizar como o psicólogo atua no atendimento desses sujeitos é importante, porque permite conhecer como acontece, por exemplo, a aplicação de protocolos de avaliação, de programas de intervenção, de ajustes nas terapias, como forma de melhor planejar e implementar ações que tragam uma melhor qualidade de vida para estes sujeitos e seus familiares.
A importância da atuação do psicólogo no atendimento às pessoas com TEA
A complexidade do quadro de sintomas constitui o transtorno do espectro autista (TEA) que enfatiza a necessidade da participação multidisciplinar de profissionais. Entre os existentes, destaca-se a atuação do psicólogo no atendimento das pessoas com esse distúrbio, uma vez que se insere nesse contexto como um conhecedor do desenvolvimento humano normal, sendo capaz de detectar as áreas defasadas e comprometidas.
Além disso, como o TEA consiste em um distúrbio que causa o desenvolvimento de etiologias múltiplas, com características muito abrangentes, que afetam os indivíduos em diferentes graus e áreas, a Psicologia é uma das áreas que melhor se pode aplicar ao atendimento da pessoa com TEA, uma vez que
estuda os processos mentais e o comportamento humano, tem sua área de atuação e aplicação, levando em conta a complexidade de seu objeto de estudo. Sua base metodológica utiliza de instrumentos para investigar a memória, a aprendizagem, a motivação, a percepção, a linguagem, a inteligência e o comportamento social (Lima, 2015, p. 11).
Sendo assim, essa é uma área que atua desde a identificação, passando pelo diagnóstico, até o tratamento do TEA, porque domina os conhecimentos necessários sobre os processos mentais e o comportamento humano. Com base nisso, pode recomendar a intervenção ou a terapia que melhor se adequa a cada caso. Assim, sua atuação é importante, porque ajuda no delineamento do projeto terapêutico singular (PTS), fazendo as intervenções adequadas a cada quadro clínico junto a pessoa com TEA e sua família, identificando suas potencialidades, avaliando seus desvios no âmbito da interação social e de linguagem, nas áreas cognitiva e neuropsicológica. Não podendo esquecer que
além da intervenção que o psicólogo faz junto à criança e à família, o trabalho de orientação e acompanhamento é essencial aos professores e profissionais que atendem as crianças nos casos de problemas de aprendizagem, onde são indicadas salas de recuperação para fornecer explicação e revisão individualizadas. (...) por isso, o psicólogo deve ter conhecimento e compreensão do desenvolvimento e aprendizagem da criança, ser conhecedor dos efeitos produzidos pela incapacidade no desenvolvimento afetivo, perceptivo, motor e cognitivo (Souza et al., 2004, p. 28).
A proposta principal é ajudar a pessoa com TEA a adquirir um repertório mais funcional. Para isso, o psicólogo não atua somente junto ao indivíduo e a sua família, mas também intervém em parceria com outros profissionais e ambientes nos quais é realizado o atendimento. Logo, conhecer como acontece o desenvolvimento e a aprendizagem deste sujeito é fator primordial para que a orientação ou a intervenção tenha o efeito esperado.
Sendo assim, “é necessário que esse profissional esteja em processo de atualização constante com intuito de possibilitar atendimento eficaz junto aos familiares dos usuários” (Matos; Matos, 2018, p. 22), pois a melhor intervenção é aquela que possui uma abordagem flexível e adaptável às situações apresentadas no decorrer do tratamento.
É importante mencionar, no entanto, que o psicólogo não intervém sozinho. Ele identifica, faz encaminhamentos, realiza diagnóstico e ajuda no tratamento de forma colaborativa com outros profissionais. Sua ação acontece de forma terapêutica, utilizando técnicas que visam ajudar no desenvolvimento integral da pessoa com TEA, mesmo porque
todas as técnicas e terapias são válidas. Todas têm suas vantagens e limitações. É importante que o psicólogo, em sua atuação, desenvolva uma terapia diferenciada para atender necessidades específicas, pois cada pessoa, apesar de semelhante, é única. O uso de medicamentos faz-se necessário, embora nenhuma droga se tenha mostrado específica para o transtorno autista (Lima, 2015, p. 12).
Como se pode observar, a atuação do psicólogo acontece de forma terapêutica, tomando como base as necessidades específicas de cada pessoa com TEA. Ou seja, não aborda o atendimento de uma queixa isolada, mas, a partir do conhecimento da história, da situação familiar, da relação família-escola, entre outros aspectos de igual importância.
O uso medicamentoso até é utilizado, mas apenas como mecanismo amenizador dos efeitos dos sintomas. As terapias e técnicas aplicadas pelo psicólogo de acordo com cada caso clínico são propostas a partir do diagnóstico realizado. Mesmo com as limitações existentes, em cada uma, elas são empregadas por possibilitar benefícios à melhoria da qualidade de vida das pessoas com TEA (Brasil, 2015).
Outra situação observável diz respeito a atuação do psicólogo acontecer diretamente com a família da pessoa com TEA. De acordo com Gomes, Coelho e Miccione (2016), os pais que têm filhos com este distúrbio requerem uma atenção constante, desde o primeiro momento da identificação, perdurando por toda a vida. Como não existe cura, o próprio processo de aceitação já é um sofrimento, somado à dificuldade no tratamento.
Desse modo, a atuação do psicólogo também acontece junto à família da pessoa com TEA. São as suas orientações, conversas, encaminhamentos, que ajudam os pais a compreender, discutir, expor o que sentem, o que sabem ou não. É um processo de escuta e de intervenção fundamental, que somente esse profissional é capaz de fazer.
Por fim, em virtude de o psicólogo fazer parte de uma rede de apoio em saúde pública mental, compondo as equipes multidisciplinares, Brasil (2015, p. 40) evidencia que como “cada área interage com a outra, é importante que se possa contar com uma equipe de, no mínimo, psiquiatra e/ou neurologista e/ou pediatra, psicólogo e fonoaudiólogo”.
Isso significa que as intervenções do psicólogo ocorrem de forma articulada com as outras dimensões. Sendo assim, a sua atuação irá contribuir, por exemplo, para que se saiba como acontece a interação social, como se processam as áreas cognitiva e neuropsicológica, pois isso ajuda tanto no diagnóstico do TEA quanto na implementação do PTS.
Além disso, o psicólogo também realiza papel de orientador junto aos demais profissionais, dando sugestões de como cada área pode atuar junto à pessoa com TEA. Estimula-os a propor ações, estratégias, a utilizar recursos, tomando como base as potencialidades observadas, tornando as intervenções planejadas e articuladas (LIMA, 2015).
Conclusão
A busca por saber como acontece a intervenção do psicólogo visando ao atendimento da pessoa com TEA, problema norteador deste estudo, possibilitou perceber que o psicólogo é um profissional essencial tanto nas redes de apoio em saúde pública mental quanto nas equipes multidisciplinares. Sua atuação acontece em parceria, de forma articulada e planejada, junto a pessoa com esse distúrbio, seus familiares e diferentes profissionais e instituições sociais.
A hipótese levantada é de que o psicólogo tem papel fundamental no tratamento do TEA, pois com sua formação específica e bem definida, ele atua na construção de diagnósticos que servem como ponto de orientação, visando indicar as possibilidades de projetos a partir dos quais se identifica.
Assim, o objetivo geral de apresentar a importância da intervenção psicológica no atendimento da pessoa com TEA foi alcançado em sua totalidade, pois mostrou que esse é tipo de transtorno neurobiológico do Neurodesenvolvimento acarreta deficiências no processamento da informação, na interação social e na comunicação, áreas que o psicólogo pode atuar identificando, diagnosticando, orientando e fazendo parte do tratamento junto com outros profissionais.
Desse modo, ao conhecer como se processa o TEA e as suas consequências na vida do indivíduo, fica claro que o transtorno é um problema de saúde pública e, ao mesmo tempo, um espectro com suas particularidades no que diz respeitos às respostas inconsistentes aos estímulos e ao perfil heterogêneo de habilidades e prejuízos.
Para tanto, este trabalho contextualizou a intervenção psicológica como parte da rede de saúde pública mental e mostrou que a atuação do psicólogo não é aleatória ou indiferente às demais áreas. Ao contrário disso, acontece mediante a efetivação de diretrizes essenciais à reabilitação da pessoa com TEA.
Por fim, ao se caracterizar a atuação do psicólogo no atendimento de pessoas com TEA, constatou-se que a figura desse profissional é essencial e acontece desde a identificação, o diagnóstico até o tratamento. É ele quem se encarrega de preparar e notificar as famílias sobre o que foi observado, com a sua postura ética e humana, e se propõe a esclarecer, ajudar e orientar sobre quais possíveis tratamentos podem ser realizados, sobre os cuidados que devem ser tomados e que rotinas devem ser estabelecidas, assim como realizar encaminhamentos aos profissionais adequados, de acordo com cada quadro clínico identificado.
Referências
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SOUZA, José Carlos et al.Atuação do psicólogo frente aos transtornos globais do desenvolvimento infantil. Psicologia, Ciência e Profissão, 24(2), p. 24-31, 2004.
Publicado em 22 de novembro de 2022
Como citar este artigo (ABNT)
LIMA, Ruy Pinheiro de. A intervenção psicológica no atendimento da pessoa com transtorno do espectro autista. Revista Educação Pública. Rio de Janeiro, v. 22, nº 43, 22 de novembro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/43/a-intervencao-psicologica-no-atendimento-da-pessoa-com-transtorno-do-espectro-autista
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