Guia do educador para o filme "Rio"

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O presente trabalho visa apresentar um guia do educador para o filme Rio, animação dirigida por Carlos Saldanha e produzida em conjunto pelos estúdios americanos 20th Century Fox, Blue Sky Studios e Twentieth Century Fox Animation no ano de 2011.

O filme conta a história de Blu, uma arara azul que foi tirada de seu habitat natural devido ao tráfico de animais silvestres. Blu vai parar no estado americano de Minnesota, após a caixa (onde ele estava, por ter sido sequestrado) cair do caminhão. Blue é adotado por uma pequena garota chamada Linda. Linda e Blu crescem juntos e criam uma relação “familiar” e fazem diversas coisas juntos.

Num dia, ambos são surpreendidos pela visita de Túlio, um biólogo brasileiro que quer levar Blu para o Brasil para que conheça Jade, outra arara azul. Ambas as araras são as últimas de sua espécie e o dever de Túlio é fazer com que os dois se reproduzam, para evitar a extinção da espécie. Após convencer Linda, todos viajam para o Rio de Janeiro. É aí que a aventura começa.

Durante a viagem, traficantes de animais silvestres entram em ação e tentam roubar as araras, mas não obtém sucesso por conta da ação conjunta de outros animais da fauna brasileira. Estes animais são: Rafael (um tucano), Pedro (um cardeal) e Nico (um canário-da-terra).

Rio foi lançado no dia 8 de abril de 2011, no Brasil, e possui exatamente 96 minutos de duração. O orçamento para a realização do filme foi de 90 milhões de dólares e arrecadou cerca de 483 milhões de dólares nas bilheterias do mundo todo. Devido ao grande sucesso de bilheteria, o filme foi indicado ao Oscar, mas acabou perdendo a nomeação para o filme americano Os Muppets.

O intuito é que, com esse guia, o professor esteja apto a trabalhar o filme em sala de aula, particularmente com os estudantes do 1º ano do Ensino Fundamental. Com o filme, podemos abordar: a fauna brasileira, o tráfico de animais silvestres, as espécies em extinção, a cultura popular brasileira (particularmente a fluminense), a dificuldade dos animais que vivem domesticados de se adaptarem ao habitat natural, entre diversos outros assuntos.

Para o uso deste guia, sugerimos trabalhar, com os alunos do primeiro ano do Ensino Fundamental, os temas “animais em extinção” e “tráfico de animais”, pois possuem relação com o que propõem os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências Naturais (1997). Dentre os conteúdos que devem ser trabalhados no primeiro ciclo, em Ciências Naturais, está o meio ambiente, que compõe um dos quatro eixos temáticos (1997).

Os próprios PCN conversam sobre o trabalho com o tema. Para tanto, são necessárias atividades complementares. Segundo o documento:

Parte significativa do conhecimento sobre seres vivos é obtida por meio de leitura de livros, revistas e enciclopédias, buscando-se informações sobre as características das plantas e hábitos de animais habitantes de diferentes ambientes. Este conhecimento tem duplo papel: sugerir observações sobre seres vivos que estão sendo investigados e ainda informar sobre seres vivos distantes no tempo e no espaço. Por exemplo, pode-se conhecer habitantes das profundezas dos mares e de florestas virgens, sobre animais selvagens (não-domesticados), animais extintos ou em extinção, plantas ornamentais, plantas medicinais etc. (Brasil, 1997).

Será feita, ainda, uma revisão de literatura sobre a prática de adotar filmes em sala de aula para se trabalhar o conteúdo curricular, a especificação do público-alvo e as características deste público-alvo, bem como as propostas de atividades.

Revisão de literatura

O cinema e os filmes já são amplamente usados em sala de aula em situações de ensino-aprendizagem. Com os filmes, os educadores podem reforçar, ilustrar ou introduzir algum conteúdo curricular. No entanto, muito pouco se estudou sobre o cinema, os filmes e a pedagogia. Não existe, como disserta Christofoletti (2019), nenhuma pedagogia específica para o uso de filmes como recurso e ninguém sabe as regras de como se realizar essa prática em sala.

Essa ausência de regras e de uma abordagem pedagógica específica gera um fenômeno que o leitor já deve ter presumido alguma vez: a compreensão de que os filmes possuem um sentido, uma lógica, um objetivo de ser, somente, recreativo. Afinal de contas, o vídeo está ligado ao conceito de lazer e ao descanso - e não ao que é acadêmico ou escolar. 

Sabemos da importância de se trabalhar com conteúdos alternativos e lúdicos, principalmente nessa idade, para consolidar o conhecimento dos alunos. O uso do cinema, particularmente de filmes populares e hollywoodianos, vem sendo uma ótima alternativa para apresentar o conteúdo curricular, já que os próprios alunos já possuem contatos com os filmes ou se atraem por eles com mais facilidade.

Vários artigos e textos acadêmicos ressaltam a importância de trabalhar conteúdos lúdicos e filmes na sala de aula. Morán (1995), por exemplo, aponta em seu artigo “O vídeo na sala de aula” maneiras de se trabalhar conteúdo em vídeos na sala de aula. Os modos adequados, segundo ele, são:

• Do mais simples ao mais complexo: primeiro se começam exibindo os vídeos mais simples e com linguagens mais acessíveis e, aos poucos, vão se exibindo vídeos mais complexos;
• Vídeos como sensibilização: é o uso mais importante que se deve ter nas escolas, do vídeo como meio de sensibilizar e de significar algum elemento importante da aprendizagem;
• Vídeo como ilustração: caso se deseja mostrar algum aspecto ou que a aula fala, o vídeo pode ser um ótimo recurso ilustrativo: por exemplo, filmes de época ou filmes que retratam algum ponto específico da história - os alunos podem se enxergar nos filmes ou imaginar como seriam as coisas em determinada época;
• Vídeo como simulação: uma ilustração mais sofisticada do uso do vídeo, com objetivo de, por exemplo, mostrar o crescimento de uma planta;
• Vídeo como conteúdo de ensino: exibir um documentário ou um vídeo que seja informativo;
• Vídeo como produção: usar o vídeo para documentar ou registrar uma aula;
• Vídeo como intervenção: interferir, modificar ou editar o material audiovisual de alguma forma como atividade;
• Vídeo como expressão: pedir para que os alunos produzam conteúdo em vídeo para exibir em sala. Essa é uma dimensão moderna de avaliação e um meio contemporâneo que integra as variadas formas de linguagens;
• Vídeo como avaliação: usar o recurso do vídeo para avaliar o professor, os alunos ou o processo de ensino-aprendizagem, como se o vídeo fosse um vídeo-espelho;
• Vídeo interativo: usar o vídeo como teleconferências ou em integração com outras mídias digitais, com o objetivo de comunicar com o exterior da sala.

Neste nosso trabalho, o recurso do vídeo está sendo utilizado como ilustração e como conteúdo de ensino. Já os modos inadequados de se usar o vídeo, segundo o mesmo autor, são:

• Vídeo tapa-buraco: quando há algum problema inesperado, como ausência de um professor ou a ausência de uma aula planejada, um vídeo é exibido para “conter” os alunos e “tapar o buraco” da aula;
• Vídeo enrolação: exibir um vídeo sem muita ligação com a matéria, com o objetivo de camuflar a aula;
• Vídeo deslumbramento: o professor, deslumbrado com a qualidade do vídeo, passa a transmiti-lo constantemente nas aulas;
• Vídeo perfeição: o professor não exibe o vídeo para a turma por algum detalhe que está errado, como algum defeito de informação e/ou histórico, algum defeito estético;
• Só vídeo: exibir o vídeo sem qualquer objetivo pedagógico e não desenvolver nenhuma atividade.

Morán (1995) também esclarece como trabalhar o filme em sala. Para ele, primeiro, deve-se falar sobre o filme em seus aspectos gerais: duração, se o filme foi indicado a alguma premiação, sobre o que aborda, qual a relação do conteúdo do filme com a aula etc. Neste primeiro momento, devem ser evitados quaisquer tipos de “prejulgamento” sobre a película (vale lembrar que, se for preciso, deve-se ressaltar algum ponto negativo, pois a questão é que não se deve fazer com que os alunos adquiram algum preconceito sobre o filme antes de vê-lo). Ele ressalta que o professor também deve ter um planejamento consigo. É mister que ele já tenha visto o filme e já saiba as cenas sobre as quais deseja que os alunos prestem mais atenção. Também deve saber detalhes técnicos sobre a qualidade do filme e do áudio. Se necessário, pode fazer pausas e explicar o conteúdo, bem como observar as reações dos alunos durante as cenas mais importantes.

Público-alvo

O filme possui classificação indicativa livre, isto é, é permitido para todas as idades. Contudo, enfatizamos a necessidade de que o professor conheça a sua turma, de modo que exiba o filme sem que ele possa gerar alguma incompreensão por parte de algum aluno.

Contextualização

Sucesso nacional nas bilheterias, o filme Rio se passa na cidade que é nomeada pelo título do filme. Nessa encenação, toda a brasilidade é retratada nas cenas do filme, desde as belezas naturais, a fauna e a flora, até o espaço urbanizado com suntuosos prédios à beira-mar. As ruelas, os becos e as favelas apresentadas no filme, retratam um pouco da realidade e do dia-a-dia nas comunidades brasileiras, ilustrando boa parte da cultura popular dos nativos na terra da seleção canarinho.

A narrativa conta a história de uma ararinha azul, chamada Blu, nascida na cidade do Rio de Janeiro. Ela é capturada em uma floresta e levada em cativeiro para os Estados Unidos, na cidade de Minnesota. Lá o animalzinho é cuidado carinhosamente por Linda, sua protetora que lhe estima. Porém, em um certo dia, Túlio, um ornitólogo, tendo em sua tutela a única fêmea da espécie e sabendo da existência de Blu como o único macho da espécie ainda existente, vai ao encontro de Linda para propor-lhe que partissem para o Brasil para procriar a espécie em extinção.

Logo quando as aves se encontram, há um evidente desacerto. A arara Jade tem uma personalidade totalmente distinta de Blu e detesta ficar engaiolada. Já o macho, criado em um ambiente fechado, não almeja ser livre e voltar para o habitat de origem, a floresta. Entretanto, as aventuras começam quando o casal é capturado por uma quadrilha de venda de araras e precisam unir forças para fugir. As aves, então, enfrentam uma das maiores dificuldades: unidas a uma corrente, não poderão se livrar facilmente, afinal, Blu não sabe alçar voos.

Diante disso, a temática do tráfico de animais vem como viés principal do enredo da história, enfatizando sobre a importância dos animais da espécie na biodiversidade brasileira. Também, para além disso, conforme exposto no filme, é notória a apresentação de diversas plantas, animais e paisagens naturais, possibilitando o trabalho de conhecimento da natureza na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental.

A animação traz consigo uma gama de conteúdos relevantes a serem desenvolvidos junto às crianças do 1º ciclo do Ensino Fundamental. O tema da biodiversidade e da conservação ambiental indicam caminhos possíveis de serem trabalhados, a fim de contribuírem para um ensino eficiente e mais proveitoso sobre os conhecimentos acerca das Ciências Naturais.

O filme, ao tratar das questões ambientais, permite um vínculo para a abertura de trabalhos na temática, afinal é um dos temas fundantes no enredo da história e o educador poderá usá-lo como forma de representação desse conteúdo. Sobre tal aspecto, os PCN abordam que:

A partir do senso comum, os indivíduos desenvolvem representações sobre o meio ambiente e problemas ambientais, geralmente pouco rigorosas do ponto de vista científico. É papel da escola provocar a revisão dos conhecimentos, valorizando-os sempre e buscando enriquecê-los com informações científicas (Brasil, 1997, p. 35).

A esse respeito, a BNCC (2017) versa, em suas competências específicas de Ciências da Natureza para o Ensino Fundamental, que o aluno deve “compreender conceitos fundamentais e estruturas explicativas das Ciências da Natureza, bem como dominar processos, práticas e procedimentos da investigação científica”, além de “avaliar aplicações e implicações políticas, socioambientais e culturais da ciência e de suas tecnologias para propor alternativas aos desafios do mundo contemporâneo”.

A partir do conhecimento dos processos científicos e da informação sobre as implicações socioambientais das ações humanas, podemos afirmar que a BNCC (2017) visa promover a consciência socioambiental e o respeito à natureza, com base nos princípios sustentáveis que regem a nossa sociedade na contemporaneidade. Este fato fica descrito de forma clara ainda na seção de Ciências da Natureza, na página 329 do documento:

Essa integração se evidencia quando temas importantes como a sustentabilidade socioambiental, o ambiente, a saúde e a tecnologia são desenvolvidas nas três unidades temáticas. Por exemplo, para que o estudante compreenda saúde de forma abrangente, e não relacionada apenas ao seu próprio corpo, é necessário que ele seja estimulado a pensar em saneamento básico, geração de energia, impactos ambientais, além da ideia de que medicamentos são substâncias sintéticas que atuam no funcionamento do organismo. De forma similar, a compreensão do que seja sustentabilidade pressupõe que os alunos, além de entenderem a importância da biodiversidade para a manutenção dos ecossistemas e do equilíbrio dinâmico socioambiental, sejam capazes de avaliar hábitos de consumo que envolvam recursos naturais e artificiais e identifiquem relações dos processos atmosféricos, geológicos, celestes e sociais com as condições necessárias para a manutenção da vida no planeta. Impossível pensar em uma educação científica contemporânea sem reconhecer os múltiplos papéis da tecnologia no desenvolvimento da sociedade humana. Nesse sentido, as questões ambientais são retratadas como um conteúdo que permite trabalhar não somente com as questões ambientais em si, mas também com aspectos sociais ligados à preservação ambiental, sobre a ação humana sobre a natureza e a preservação do Meio Ambiente (Brasil, 2017, p. 329).

No estudo dos seres vivos é possível que o professor trabalhe orientando os alunos na percepção dos diferentes tipos de ambientes, identificando aquilo que os compõem e que neles estão contidos. Os seres vivos, animais e vegetais, são elementos do ambiente que podem ser estudados em suas funções, classificações e características.

O guia

Nos tópicos a seguir serão apresentadas algumas possibilidades de desenvolver esse trabalho em sala de aula, mediando, por meio do filme, o conhecimento científico. Essa metodologia se torna prazerosa ao articular um entretenimento muito comum para as crianças: um filme de animação que retrata, com tanta leveza, aspectos ambientais da fauna e flora para os pequenos.

Num primeiro momento é necessário contextualizar aos alunos sobre o filme e orientá-los a demandarem maior atenção sobre os animais, as plantas e as paisagens apresentadas no decorrer da narrativa. Após a exibição do filme, serão discutidas com os alunos algumas cenas de destaque, apoiadas em questões científicas sob a perspectiva da biodiversidade.

Objetivo: cena (0:37) - Permitir ao aluno o reconhecimento dos diferentes espaços ambientais, observando e registrando as suas percepções a respeito deles. Pode-se comparar tal cena e discutir com os alunos as diferenças e similaridades existentes entre os diversos tipos de ambientes, a saber, o campo, a cidade, a floresta, o rio, a represa e a plantação. Em contraste com as cenas da selva ilustradas no início do filme, a paisagem urbana, vista de cima da cidade do Rio de Janeiro, é retratada, em alguns aspectos, por meio de paisagens naturais (montanha e mar).

O professor pode fazer uma roda de conversa, com os alunos, e observar as diferenças e semelhanças entre os diversos tipos de ambientes. Após o diálogo com as crianças, há a possibilidade de realizar uma construção coletiva de um cartaz no qual, cada aluno, poderá representar desenhos de diferentes espaços ambientais.

Objetivo: cena (7:27) - Clima: Permite ao professor que discuta sobre o conceito de clima e suas características ao longo das estações do ano e em cada ambiente. É necessário, portanto, mostrar aos alunos a diversidade de condições climáticas em cada cidade e em diferentes épocas do ano. O professor poderá abordar este tema levando para os alunos frutos e flores de cada estação climática para que discutam sobre suas singularidades.

Objetivo: cena (8:45) - Extinção das espécies: nessa cena é possível trabalhar o cuidado com os animais e com a natureza. Ao explicar para as crianças o motivo que as ararinhas azuis estavam sendo extintas, o professor pode mostrar sobre a importância da preservação ambiental e apresentar alguns tipos de cuidados com os animais, assim como com o meio ambiente, para a preservação das espécies.

Objetivo: - Cena (35:44) - Explorar junto aos alunos as características da espécie. A partir daí o professor pode estudar em quais locais vivem estes animais, qual o seu modo de vida, de que se alimentam, quanto tempo vivem. Uma sugestão é permitir que os alunos estejam em contato com estes pequenos animais (as aves) para reconhecerem as características e comparar uma espécie com a outra, criando a capacidade de diferenciar os mais variados seres vivos.

Objetivo: cena (34:37) - Biodiversidade, fauna e flora: nessa cena as araras aparecem em uma floresta, em meio a natureza, rodeadas por uma grande diversidade de plantas e animais. Tal cena é propícia para o estudo dos elementos da natureza, a saber, os animais nativos, as plantas e árvores, apresentando como conteúdo o estudo dos seres vivos, o modo de viver que possuem, formas de reprodução e conservação das espécies.

Propostas de atividades avaliativas

Ao trabalhar o filme Rio, podemos desenvolver várias atividades lúdico-pedagógicas que possibilitem uma reflexão dos alunos acerca do tema abordado na animação.

Segundo Morán (1995), as dinâmicas de leituras propostas são:

• Leitura em conjunto: neste método o professor exibe as cenas que considera importantes para serem trabalhadas e propicia o momento de debate com os alunos. Logo depois dos registros dos alunos, o professor explana sua visão e compara o modelo real (como geralmente acontece na realidade) e o modelo ideal (como deveria ser);
• Leitura globalizante: essa leitura consiste em, logo após a exibição do filme, discutir sobre quatro perguntas essenciais sobre o vídeo: os aspectos positivos, os aspectos negativos, as ideias principais e o que mudaria no filme/história. Tais questões podem ser discutidas por pequenos grupos e depois escritas. O professor faz uma síntese no final;
• Leitura concentrada: selecionar duas ou mais cenas marcantes do filme e revê-las no mínimo duas vezes. Logo em seguida, o professor pode perguntar por escrito ou oralmente o que chama a atenção na cena (alguma imagem, música ou fala), o que dizem as cenas (seu significado) e quais são as consequências ou implicações dos atos das personagens ou qual é a moral da história (para nossa vida e para o grupo);
• Leitura funcional: nesse método, antes da exibição do filme, o professor delega funções aos alunos e, depois da exibição, cada aluno fala o que observou e o professor coloca no quadro as informações e as complementa, de acordo com a necessidade. As funções podem variar entre contar as cenas para fazer uma descrição sumária, anotar palavras-chave, anotar cenas importantes, observar características das personagens, observar músicas e efeitos sonoros e observar mudanças que ocorreram na história, do início ao fim.

Como podemos perceber, temos a possibilidade de fazer várias leituras a partir de um mesmo filme. Além das discussões em roda e das problematizações é possível explorar o tema de outras formas, como, por exemplo, criando projetos escolares sobre a fauna brasileira e os animais em extinção do Brasil. Tal projeto visa iniciar uma discussão sobre o meio ambiente e a proteção ambiental. Os alunos podem procurar por notícias em revistas, jornais e em outras mídias a respeito dos animais em extinção e os que já foram extintos. Pesquisar os motivos da extinção, quais as contribuições do ser humano nesse processo, as consequências que podem acontecer e buscar algumas supostas soluções.

De qualquer maneira, o que devemos ter em mente é que as avaliações precisam acompanhar as atividades e não ser um processo feito à parte do estudo. Muitas vezes, os processos de aprendizagem inovadores são perdidos por não se cuidar coerentemente do processo de avaliação. Em suma, perde-se um trabalho construtivo e aberto com uma avaliação feita de um modo rígido e tradicional.

Essa observação é o principal argumento de Masetto (2010), em seu capítulo de livro Mediação pedagógica e o uso da tecnologia. O tema “tecnologia, avaliação e mediação pedagógica” é o terceiro tópico que o autor aborda no artigo em questão. Antes desse momento do texto, o autor disserta sobre o tema da aprendizagem e do uso das técnicas que mediatizam, favorecem e facilitam nesse processo. Mas, no terceiro tópico, ele passa a falar sobre o processo de avaliação e o dá como um fato ou uma prática motivadora da aprendizagem.

É necessário, assim, segundo esse autor:

• realocar o processo de avaliação integrando-o ao processo de aprendizagem,
• alterar a cultura dos alunos e a prática dos professores que se relacionam com a avaliação como meio de se obter ou de se dar uma nota para “passar” – na maioria dos casos a nota nem sempre fica relacionada ou condicionada à aprendizagem,
• o importante é que se veja a avaliação como um processo de “retorno”, de “satisfação” ou de crítica, que traga ao aprendiz informações necessárias e oportunas,
• independente da técnica que se use, principalmente no uso de tecnologia a distância, encontra-se embutido um processo de avaliação que será explicitado em algum tipo de informação ou na aplicação de algum instrumento avaliativo que ofereça esse “retorno”,
• em atividades presenciais, a avaliação conta com o diálogo imediato (o retorno é instantâneo),
• o retorno que mediatiza a aprendizagem na avaliação feita de forma construtiva se dá de forma direta,
• precisa-se de um retorno contínuo - e este é feito nas avaliações pensadas com a lógica da integração desta no processo de aprendizagem - que liste todos os aprendizes de forma pessoal, permitindo um diálogo e acompanhamento,
• é importante abrir o processo de avaliação para os alunos e,
• por último, é preciso que as atividades presenciais e a distância permitam ao aluno e ao professor desenvolver sua autoavaliação.

Considerações finais

O ensino de Ciências não pode estar circunscrito apenas à realidade da construção mental de um conteúdo real. É preciso materializar os conteúdos das disciplinas de maneira que sejam tangíveis nas vivências dos alunos. É nesse sentido que a escola se torna uma ponte entre as fontes de entretenimento e a possibilidade de, a partir da análise crítica dos desenhos animados e dos filmes, realizar o resgate de conhecimentos de caráter científico nos processos de ensino-aprendizagem com os alunos.

A ação docente deve ser diversificada em sala de aula e até mesmo fora dela. Há uma gama de filmes, animações, séries e documentários sendo produzidos diariamente e que são permeados de situações que podem ser exploradas no universo educacional. Eis a tarefa da escola! Trazer para o espaço de aprendizagem e de vivências coletivas (a sala de aula), a problematização de situações úteis para o desenvolvimento dos alunos.

A relação de ensino-aprendizagem, portanto, pode ser mediada pelas diversas estratégias didáticas prazenteiras, como no caso do uso do filme abordado neste guia. Diante disso é necessário que o professor seja um facilitador desse processo, buscando um caráter inovador e dinâmico em sala de aula em busca do conhecimento científico.

Referências

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/Consed/Undime, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf. Acesso em: 02 jan. 2020.

BRASIL. MEC/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais - ensino de 1ª à 4ª série. Brasília: MEC/SEF, 1997.

CHRISTOFOLETTI, Rogério. Filmes na sala de aula: recurso didático, abordagem pedagógica ou recreação? Educação UFSM, Santa Maria, p. 603-616, dez. 2009.

MASETTO, Marcos T. Mediação pedagógica e o uso da tecnologia. In: MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida (orgs.). Novas tecnologias e mediação pedagógica. 17ª ed. Campinas: Papirus, 2010. p. 133-173.

MORÁN, José Manuel. O vídeo na sala de aula. Comunicação e Educação, São Paulo, v. 2, p. 27-35, jan./abr. 1995.

RIO. Direção de Carlos Saldanha. Los Angeles: 20th Century Fox, 2011. 1 DVD (96 min).