Estilos de aprendizagem: análise de uma turma do Ensino Fundamental de uma escola pública em Nilópolis/RJ

Tahís Evelin Ferreira Coelho

Mestranda em Linguística Aplicada (Unitau), pós-graduanda em Docência com Ênfase em Educação Especial (IFMG), licenciada em Letras - Português (UFMG)

William Marcos Miranda de Jesus

Especialista em Ensino de Línguas Adicionais (Cefet/RJ), pós-graduando em Docência com Ênfase em Educação Básica (IFMG), licenciado em Letras: Português-Inglês (UFRJ)

Viviane Lima Martins

Doutora em Comunicação e Semiótica, professora do IFMG - Câmpus Arcos

A educação contemporânea enfrenta diversos desafios no que tange ao sucesso do ensino, os quais compreendem uma multiplicidade de fatores e causas, impondo, consequentemente, preocupações aos educadores. Nessa conjuntura, torna-se possível reconhecer, dentre tais inquietações, a complexidade que permeia o processo de ensino-aprendizagem, o qual se faz condicionado a inúmeros aspectos, a exemplo dos chamados estilos de aprendizagem, que designam, consoante Vieira Júnior (2019), os padrões comportamentais que determinam as formas de aprendizado, de caráter natural e individual, dos sujeitos. Assim sendo, os estilos de aprendizagem relacionam-se com o ritmo e modo de aprender particular de cada indivíduo, tendo em vista suas singularidades e particularidades.

Diante disso, o presente artigo propõe-se a discutir aspectos relativos à ligação existente entre o ensino de língua, mais especificamente a Língua Inglesa, e os estilos de aprendizagem, buscando compreender como eles se relacionam. Para tanto, apresenta-se a pesquisa desenvolvida de verificação e análise dos estilos de aprendizagem de alunos do 6º ano na disciplina de Inglês de uma escola pública da cidade de Nilópolis, no Estado do Rio de Janeiro.

Nesse horizonte, os problemas que motivaram este trabalho referem-se à heterogeneidade intrínseca à sala de aula, sobretudo no que tange aos distintos ritmos e formas de aprendizado dos educandos, e ao fato de que o ensino, frequentemente, não contempla os diferentes estilos de aprendizagem dos alunos, não dispondo, assim, de metodologias de ensino e aprendizagem específicas para cada estilo, o que pode culminar, injustamente, no fracasso escolar de muitos estudantes que não têm seu estilo de aprendizagem contemplado.

Por conseguinte, o objetivo da pesquisa foi analisar os estilos de aprendizagem de alunos do 6º ano na disciplina de Língua Inglesa de uma escola pública pensando em como o conhecimento desses discentes pode ser uma ferramenta relevante para as práticas pedagógicas desenvolvidas em sala de aula. Especificamente, objetivou-se aplicar um questionário para verificar os estilos de aprendizagem de tais alunos e investigar como o conhecimento, por parte do professor, dos diferentes estilos de aprendizagem de seus estudantes pode contribuir para o sucesso do ensino. Desse modo, espera-se contribuir para o trabalho do docente de língua e para o êxito de seus estudantes na medida em que se ressaltam as potencialidades do conhecimento dos diferentes estilos de aprendizagem que compõem a sala de aula.

Os pressupostos teóricos nos quais a pesquisa se baseia correspondem ao conceito de Estilos de Aprendizagem, sobretudo no modelo proposto por Felder e Silverman (1988), no qual, com base em algumas dimensões, é possível classificar cada aluno de acordo com um polo delas segundo suas preferências. Além disso, este artigo fundamenta-se no Novo Índice de Estilos de Aprendizagem (N-ILS), o qual consiste em um teste, elaborado por Vieira Junior (2014), no qual são propostas algumas questões a fim de descobrir o estilo de aprendizagem dos indivíduos.

Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa desenvolvida com a finalidade de conhecer melhor os estilos de aprendizagem da turma de 6º ano de uma escola pública, cujo instrumento para coleta de dados consiste na aplicação de questionários. Nesse contexto, foi selecionada uma turma composta por 30 alunos, sendo 17 deles frequentes devido ao período de pandemia. Ademais, para a análise desses questionários, foram lidos e estudados textos, artigos científicos e dissertações acerca da temática estilos de aprendizagem que forneceram as bases para a investigação.

Para fins organizacionais, o artigo está subdividido nas seguintes seções: “Fundamentação teórica”, na qual serão discutidas algumas considerações sobre os estilos de aprendizagem, principalmente segundo Felder e Silverman (1988), assim como o Novo Índice de Estilos de Aprendizagem (N-ILS), de Vieira Junior (2014); “Metodologia”, em que serão apresentados os processos metodológicos a partir dos quais a presente pesquisa foi desenvolvida; “Resultados”, em que serão expostos e discutidos os dados obtidos a partir da aplicação dos questionários e, por fim, “Considerações finais”, em que serão expressas as conclusões sobre o trabalho desenvolvido. 

Fundamentação teórica

A fim de embasar as discussões tecidas neste artigo, selecionou-se como base teórica algumas considerações acerca dos estilos de aprendizagem, principalmente a perspectiva de Felder e Silverman (1988), bem como o Novo Índice de Estilos de Aprendizagem (N-ILS), desenvolvido por Vieira Junior (2014), que fornecerá os critérios de verificação dos estilos dos alunos participantes da pesquisa.

Estilos de aprendizagem

De acordo com Vieira Junior (2012), com o intuito de compreender melhor a forma como os sujeitos aprendem, Felder e Silverman (1988), embasados na perspectiva dos tipos psicológicos de Carl Jung, nos trabalhos de Myers e Briggs e, ainda, no modelo de Kolb do aprendizado experimental, propuseram princípios para categorizar o modo como ocorre o aprendizado, de maneira que cada estudante pode ser classificado segundo um polo das dimensões de percepção, entrada, processamento e entendimento. Nesse horizonte, no que tange à percepção, o aluno pode ser sensorial ou intuitivo, enquanto, em relação à entrada, pode ser visual ou verbal. Por sua vez, no que se refere ao processamento, o educando pode ser ativo ou reflexivo e, por fim, acerca do entendimento, o discente pode ser classificado em sequencial ou global. Diante disso, cabe ressaltar que, para tal modelo, o estudante tende a um dos dois polos das quatro dimensões; estas correspondem às etapas do processo de aprendizagem, havendo, portanto, dezesseis possibilidades de estilos de aprendizagem.

Nessa conjuntura, faz-se relevante tecer algumas considerações acerca das características dos sujeitos representantes de cada um desses estilos. Primeiramente, no tocante à percepção, os alunos sensoriais gostam de aprender fatos, de resolver problemas com métodos definidos, sendo detalhistas e práticos, enquanto os intuitivos preferem aprender por meio de possibilidades e relações, têm facilidade com abstrações, sendo rápidos no trabalho e inovadores. No que se refere à entrada, os estudantes visuais relembram melhor aquilo que viram, como figuras, imagens, diagramas, filmes etc., enquanto os verbais preferem uma explicação por palavras, sejam elas escritas ou faladas. Em relação ao processamento, os alunos ativos aprendem melhor por meio da experimentação, além de gostarem de trabalhar em grupo, enquanto os reflexivos tendem a ser mais teóricos, preferindo trabalhar sozinhos. Por fim, sobre o entendimento, os estudantes sequenciais aprendem de forma linear, seguindo etapas sequenciadas, enquanto os globais aprendem em grandes saltos, de maneira que nem sempre conseguem explicar o caminho que percorreram para chegar a uma solução.

Assim sendo, a fim de alcançar um processo de ensino-aprendizagem bem-sucedido, é importante que o professor leve tais características em consideração em suas práticas pedagógicas. Todavia, Felder e Silverman (1988) ressaltam a incompatibilidade que muitas vezes ocorre entre os estilos de aprendizagem dos alunos e os estilos de ensino dos professores, os quais constituem um reflexo do seu próprio estilo de aprendizagem. Dessa forma, tal discrepância pode tornar os alunos desatentos e desanimados em relação ao ensino, de modo que se mostra de suma importância que os docentes busquem adaptar seus estilos de ensino em uma tentativa de contemplar os dois polos de cada dimensão.

Por conseguinte, Felder e Silverman (1988) sugerem algumas técnicas de ensino a serem adotadas pelos professores a fim de abarcar todos os estilos de aprendizagem. Em primeiro lugar, recomendam que se motive a aprendizagem, relacionando o conteúdo que será estudado com o que já foi visto; que o professor tente apresentar um equilíbrio entre dados concretos e conceitos abstratos, bem como que forneça tanto ilustrações explícitas do que é intuitivo quanto padrões sensoriais, encorajando que os alunos exercitem ambos os estilos.

Ademais, os autores orientam que o docente deve sempre seguir o método científico para apresentar o material teórico, assim como apresentar imagens e esquemas antes, durante e após expor o material de forma verbal, incluindo filmes, demonstrações e experiências. Sugerem ainda que é interessante que faça uso do ensino assistido por computador e que não passe todo o período da aula falando ou escrevendo no quadro, dando oportunidade para que os estudantes façam algo mais ativo que somente transcrever anotações.

Ainda segundo Felder e Silverman (1988), para contemplar todos os estilos de aprendizagem, o professor deve propor atividades que exercitem os métodos básicos ensinados, porém não em excesso, assim como que forneça problemas abertos e exercícios que demandem análises e sínteses. Além disso, é relevante possibilitar que os estudantes realizem trabalhos de forma cooperativa e que o docente parabenize soluções criativas, mesmo as incorretas. Por fim, deve-se discutir com os alunos acerca dos estilos de aprendizagem, destacando o fato de que conhecer o modo como se aprende é de extrema importância para que saibam adequar suas experiências educacionais e, assim, terem sucesso.

Novo Índice de Estilos de Aprendizagem (N-ILS)

A fim de classificar os estudantes segundo seus estilos de aprendizagem, Felder e Soloman (1991) desenvolveram um teste, o chamado ILS (Index of Learning Styles – Índice de Estilos de Aprendizagem), composto por 44 questões, o qual foi sendo utilizado em nível mundial, de maneira que se tornou objeto de inúmeros estudos. Todavia, muitas dessas análises revelaram que tal teste foi elaborado para determinado contexto, de modo que, ao ser aplicado em outros países, por exemplo, as diferentes características culturais e alguns problemas semânticos de tradução comprometiam sua eficácia.

Portanto, após um estudo de validação matemática, no qual se valeu de conceitos de psicometria, Vieira Junior (2014) conseguiu distinguir as fragilidades do instrumento e propôs uma nova versão do ILS, denominada de N-ILS (New Index of Learning Styles). Assim sendo, Vieira Junior (2014) elaborou um teste com tamanho reduzido, de 20 questões, a fim de evitar que os alunos se cansassem e respondessem de forma aleatória. Nesse viés, cabe ressaltar que tal teste foi apresentado ao professor Felder, que concordou com seu conteúdo.

Dessa forma, para descobrir seu estilo de aprendizagem, o estudante deve responder ao questionário escolhendo uma dentre as duas opções disponíveis para cada pergunta; o questionário é exposto a seguir e serviu de base para a pesquisa desenvolvida.

Quadro 1: O Novo Índice de Estilos de Aprendizagem (N-ILS)

Quando estou aprendendo algum assunto novo, gosto de:

a) Primeiramente, discuti-lo com outras pessoas.

b) Primeiramente, refletir sobre ele individualmente.

Se eu fosse um professor, eu preferiria ensinar uma disciplina:

a) Que trate com fatos e situações reais.

b) Que trate com ideias e teorias.

Eu prefiro obter novas informações através de:

a) Figuras, diagramas, gráficos ou mapas.

b) Instruções escritas ou informações verbais.

Quando resolvo problemas de Matemática, eu:

a) Usualmente preciso resolvê-los por etapas para então chegar à solução.

b) Usualmente antevejo a solução, mas às vezes me complico para resolver cada uma das etapas.

Em um grupo de estudo, trabalhando um material difícil, eu provavelmente:

a) Tomo a iniciativa e contribuo com ideias.

b) Assumo uma posição observadora e analiso os fatos.

Acho mais fácil aprender:

a) A partir de experimentos.

b) A partir de conceitos.

Ao ler um livro:

a) Eu primeiramente observo as figuras e desenhos.

b) Eu primeiramente me atento para o texto escrito.

É mais importante para mim que o professor:

a) Apresente a matéria em etapas sequenciais.

b) Apresente um quadro geral e relacione a matéria com outros assuntos.

Nas turmas em que já estudei, eu:

a) Fiz amizade com muitos colegas.

b) Fui reservado e fiz amizade com alguns colegas.

 Ao ler textos técnicos ou científicos, eu prefiro:

a) Algo que me ensine como fazer alguma coisa.

b) Algo que me apresente novas ideias para pensar.

Relembro melhor:

a) O que vejo.

b) O que ouço.

Eu aprendo:

a) Num ritmo constante, etapa por etapa.

b) Em saltos. Fico confuso(a) por algum tempo e então, repentinamente, tenho um “estalo”.

Eu prefiro estudar:

a) Em grupo.

b) Sozinho.

Prefiro a ideia do:

a) Concreto.

b) Conceitual.

Quando vejo um diagrama ou esquema em uma aula, relembro mais facilmente:

a) A figura.

b) O que o professor disse a respeito dela.

Quando estou aprendendo um assunto novo, eu prefiro:

a) Concentrar-me exclusivamente no assunto, aprendendo o máximo possível.

b) Tentar estabelecer conexões entre o assunto e outros relacionados a ele.

Normalmente eu sou considerado(a):

a) Extrovertido(a).

b) Reservado(a).

Prefiro disciplinas que enfatizam:

a) Material concreto (fatos, dados).

b) Material abstrato (conceitos, teorias).

Quando alguém está me mostrando dados, eu prefiro:

a) Diagramas ou gráficos.

b) Texto sumarizando os resultados.

Quando estou resolvendo um problema eu:

a) Primeiramente penso nas etapas do processo para chegar à solução.

b) Primeiramente penso nas consequências ou aplicações da solução.

Fonte: Vieira Junior (2014).

Com as respostas dos alunos, deve-se preencher um quadro de pontuação, o qual será apresentado abaixo, seguindo algumas orientações. Primeiramente, deve-se colocar “1” nos espaços apropriados desse quadro; Vieira Junior (2019) apresenta como exemplo que, se o aluno respondeu “a” na questão 3, deve-se colocar o “1” na coluna “a” da questão 3. Posteriormente, deve-se somar as colunas e escrever os totais nos espaços indicados. Por fim, para cada uma das quatro escalas, deve-se subtrair o total menor do maior e, então, escrever a diferença (1 a 5) e a letra (a ou b) do total maior. Para exemplificar essa etapa, o autor explica que, se na coluna “ATI/REF” o aluno teve 2 respostas “a” e 3 respostas “b”, deve-se escrever o 2 no campo reservado à soma dos as e o 3 no campo dos bs; e 1b no campo em branco logo abaixo (o 1 é resultado da subtração 3 – 2; e a letra b corresponde à coluna que obteve mais respostas).

Quadro 2: Pontuação do ILS

Fonte: Vieira Junior (2019).

Por fim, após completar o quadro de pontuação do ILS, deve-se preencher outro quadro, o qual será exibido abaixo, marcando um “x” nos escores obtidos pelos estudantes em cada uma das escalas; consoante Vieira Junior (2019), se o escore na escala é 1, o aluno apresenta-se equilibrado em relação às preferências de aprendizagem, possuindo leve preferência por ambas as dimensões da escala. Por outro lado, se o escore na escala é 3, isso significa que o estudante tem preferência moderada por uma das dimensões da escala, de maneira que pode aprender mais facilmente se o ambiente de ensino privilegiar essa dimensão. Finalmente, se o escore na escala é 5, o aluno possui forte preferência por uma das dimensões da escala, de forma que pode apresentar dificuldades de aprendizagem em um ambiente que não favoreça essa preferência.

Quadro 3: Intensidade do ILS

Fonte: Vieira Junior (2019).

Metodologia

Para empreender esta pesquisa, usamos o teste denominado N-ILS (New Index of Learning Styles), proposto por Vieira Junior (2014) (Quadro 1), com base na versão desenvolvida por Felder e Soloman (1991). Conforme foi dito na seção anterior, optamos pelo instrumento criado por Vieira Junior (2014) devido a inconsistências do modelo do qual esse questionário se originou. Assim, o presente teste é composto de 20 questões em vez das 44 que compõem o original. Dessa forma, evita-se que os participantes se cansem da sua extensão e, consequentemente, respondam aos itens aleatoriamente.

Para fazer parte desta investigação, selecionamos uma turma do 6º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública localizada em Nilópolis/RJ. Cabe informar que a escolha justifica-se por ser o contexto de trabalho de um dos autores deste artigo.

O alunado é formado, em sua grande maioria, por jovens cuja faixa etária está entre 11 e 12 anos. O teste foi aplicado em agosto de 2021 durante a aula de Língua Inglesa. No total, dezessete estudantes responderam ao questionário com o nosso auxílio. Cabe informar que o número de alunos participantes é inferior ao de discentes matriculados na turma. Infelizmente, devido à pandemia, a escola voltou a funcionar no formato híbrido, porém muitos educandos preferiram ter aulas remotas ou estão ausentes da escola. Como consequência, não pudemos ter a resposta de todos.

Com base nas informações obtidas no questionário, preenchemos o quadro de pontuação (Quadro 2) para identificar o estilo de aprendizagem de cada discente. Em seguida, fizemos o quadro de resultados (Quadro 3) de cada aluno participante para obter um escore que determina a preferência de aprendizagem. De posse desses resultados, conseguimos entender o estilo de aprendizagem dos estudantes individualmente.

Levando em consideração essas informações, é possível ter uma visão abrangente sobre como os alunos da turma de 6º ano aprendem. Dessa forma, as análises realizadas podem ser frutíferas para os professores dessa classe, uma vez que a compreensão da preferência de aprendizagem dos educandos pode favorecer a prática pedagógica dos docentes, propiciando um ambiente em que os estilos de aprendizagem são abarcados e estimulados.

Na próxima seção, apresentamos os resultados dos questionários em formato de tabela para facilitar a visualização e o entendimento. Tendo como base esses dados, tecemos comentários acerca dos estilos de aprendizagem.

Resultados

O teste denominado N-ILS (New Index of Learning Styles) foi aplicado em agosto de 2021; foram 17 alunos de uma turma de 6º ano participando da pesquisa. Para facilitar a compreensão dos dados, resolvemos apresentá-los na Tabela 1, conforme o modelo desenvolvido por Pereira e Vieira Junior (2013).

Tabela 1: Estilos de aprendizagem

Dimensão

Polo

Alunos

Preferência forte

Preferência média

Preferência fraca

Percepção

Sensorial= 15

88,23%

1

8

6

Intuitivo = 2

11,77%

0

2

0

Entrada

Visual = 9

52,94%

1

5

3

Verbal = 8

47,06%

1

3

4

Processamento

Ativo = 9

52,94%

2

3

4

Reflexivo = 8

47,06%

2

2

4

Entendimento

Sequencial = 14

82,35%

4

5

5

Global = 3

17,65%

0

1

2

Fonte: Adaptada de Pereira e Vieira Junior (2013).

No aporte teórico desta pesquisa, mencionamos que Felder e Silverman (1988) propuseram princípios para categorizar o modo como ocorre o aprendizado, de maneira que cada estudante pode ser classificado segundo um polo das dimensões de percepção, entrada, processamento e entendimento (Vieira Junior, 2012). Nesse horizonte, no que tange à percepção, o aluno pode ser sensorial ou intuitivo, enquanto, em relação à entrada, pode ser visual ou verbal. Por sua vez, no que se refere ao processamento, o educando pode ser ativo ou reflexivo e, por fim, acerca do entendimento, o discente pode ser classificado em sequencial ou global. Diante disso, cabe ressaltar que, para tal modelo, o estudante tende a um desses dois polos das quatro dimensões, que correspondem às etapas do processo de aprendizagem, havendo, portanto, dezesseis possibilidades de estilos de aprendizagem.

A Tabela 1, adaptada de Pereira e Vieira Junior (2013), mostra as dimensões e os seus polos, bem como os dados relacionados aos estilos de aprendizagem dos alunos. Para tornar as informações mais didáticas, calculamos a porcentagem de estudantes que aprendem melhor em cada polo e aqueles que têm preferência fraca, média ou forte por polo, conforme o Quadro 3. Cabe relembrar que usamos os Quadros 2 e 3, além dos dados do questionário (Quadro 1), para elaborar a tabela supracitada.

As análises apontam que os discentes são sensoriais, visuais, ativos e sequenciais. As dimensões mais equilibradas foram a visual/verbal e ativo/reflexivo. Em relação à intensidade dos estilos de aprendizagem, os estudantes frequentemente têm preferência média e fraca pelos polos, o que indica certo equilíbrio quanto às preferências de aprendizagem.

Nesse viés, faz-se relevante recuperar algumas considerações acerca das características dos sujeitos representantes de cada um desses estilos. Primeiramente, consoante Giorgetti e Kuri (2006), no tocante à percepção, os alunos sensoriais gostam de aprender fatos, de resolver problemas com métodos definidos, sendo detalhistas e práticos, além de preferir observar os fenômenos usando os sentidos (ver, tocar, ouvir e sentir). No que se refere à entrada, os estudantes visuais relembram melhor aquilo que viram, como figuras, imagens, diagramas, filmes etc. Em relação ao processamento, os alunos ativos aprendem melhor por meio da experimentação, além de gostar de trabalhar em grupo. Por fim, sobre o entendimento, os estudantes sequenciais aprendem de forma linear, seguindo etapas sequenciadas.

Saber como os alunos aprendem pode ser um instrumento para o planejamento dos docentes, pois a preparação de aulas que se alinhem às características da turma possivelmente estimula os alunos a se engajar nas aulas, além de trazer resultados acadêmicos frutíferos. Assim sendo, a fim de alcançar um contexto escolar mais exitoso, é importante que o professor leve tais características em consideração em suas práticas pedagógicas.

Contudo, Felder e Silverman (1988) ressaltam a incompatibilidade que, frequentemente, ocorre entre os estilos de aprendizagem dos alunos e os estilos de ensino dos professores, os quais constituem um reflexo do seu próprio estilo de aprendizagem. Por conseguinte, tal discrepância pode tornar os alunos desatentos e desanimados em relação ao ensino, tornando-se de suma importância que os docentes busquem adaptar seus estilos de ensino em uma tentativa de contemplar os dois polos de cada dimensão.

Vieira Junior (2019), considerando as principais características do Modelo de Estilos de Aprendizagem de Felder e Silverman, tece algumas informações relevantes:

  1. Os estilos de aprendizagem apontam tendências comportamentais e não são infalíveis;
  2. O N-ILS (New Index of Learning Styles) indica estratégias didáticas que podem resultar em práticas mais bem-sucedidas, não sendo um indicador de pontos “fortes” e “fracos” do aprendizado;
  3. Os estilos de aprendizagem constituem experiências individuais e podem ser mutáveis;
  4. É fundamental que os discentes tenham consciência dos seus estilos de aprendizagem a fim de melhorar o seu desempenho. Faz-se relevante mencionar os aspectos negativos do teste e promover a autorreflexão dos resultados obtidos a partir do questionário;
  5. O planejamento do professor não deve abarcar somente os resultados dos estilos de aprendizagem dos alunos. O profissional deve saber transitar pelas dimensões de modo geral e, possivelmente, procurar o equilíbrio.

Partindo dos pontos elencados acima, depreende-se que conhecer os estilos de aprendizagem permite que o professor tenha versatilidade para usá-los em suas aulas, principalmente em momentos de dúvidas dos alunos. Além disso, o fomento de estilos de aprendizagem considerados não naturais tanto para o docente quanto para o discente é fundamental. Assim, rompe-se a “zona de conforto”, possibilitando que o ambiente escolar seja mais fértil para o processo de ensino-aprendizagem.

Considerações finais

Esta pesquisa sugeriu que os estilos de aprendizagem dos educandos seguem o seguinte perfil: sensorial, visual, ativo e sequencial. Ademais, em relação à intensidade dos estilos de aprendizagem, os estudantes frequentemente têm preferência média e fraca pelos polos, o que indica certo equilíbrio quanto às preferências de aprendizagem.

De posse desse resultado e tomando-o como base, os docentes podem planejar as suas aulas. Apesar de não serem infalíveis e apresentarem tendências comportamentais, eles podem ser um instrumento valioso para o autoconhecimento dos profissionais que atuam nessa classe e para os alunos, pois o conhecimento sobre como ocorre o seu aprendizado frequentemente passa despercebido na rotina.

Desse modo, na condição de professores e autores do artigo, sendo um destes atuante na turma, um passo importante é mostrar aos estudantes participantes o resultado do seu questionário, explicitando o que o estilo de aprendizagem de cada um deles indica, de modo que possam fazer uso desse conhecimento ao longo do ano e talvez nos próximos. Assim, torna-se mais um instrumento para um processo de aprendizagem mais frutífero e estimulante.

Por fim, considerando as limitações do N-ILS (New Index of Learning Styles) citadas por Vieira Junior (2019), acreditamos que o teste pode contribuir para uma aprendizagem e uma prática docente mais bem-sucedidas, com vistas ao autoconhecimento e a estratégias didáticas mais eficazes.

Referências

FELDER, Richard; SILVERMAN, Linda. Estilos de aprendizagem e estilos de ensino na educação em Engenharia. Trad. Niltom Vieira Junior. Journal of Engineering Education, v. 78, nº 7, p. 674-681, 1988. 

FELDER, R. M.; SOLOMAN. B. A. Index of learning styles questionnaire. Raleigh: North Carolina State University, 1991. Disponível em: https://www.webtools.ncsu.edu/learningstyles/. Acesso em: 01 ago. 2021.

PEREIRA, E. J.; VIEIRA JUNIOR, N.Os estilos de aprendizagem no Ensino Médio a partir do novo ILS e a sua influência na disciplina de matemática. Alexandria, Florianópolis, v. 6, nº 3, p. 173-190, 2013.

VIEIRA JUNIOR, Niltom. Educação em Engenharia: estudo de metodologias pedagógicas e desenvolvimento de um software aplicado ao ensino de estabilidade de sistemas de energia elétrica. 2007. Dissertação (Mestrado em Engenharia elétrica) – Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, 2007.

______. Planejamento de um ambiente virtual de aprendizagem baseado em interfaces dinâmicas e uma aplicação ao estudo de potência elétrica. 2012. Tese (Doutorado em Engenharia Elétrica), Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, 2012.

______. Construção e validação de um novo índice de estilos de aprendizagem. In: Educação para a ciência: edição 2013 do Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia. Brasília: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, 2014. p. 177-191.

______. Metodologias de ensino e aprendizagem: apostila (Pós-graduação em Docência). Arcos: Instituto Federal de Minas Gerais, 2019.

Publicado em 22 de fevereiro de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

COELHO, Tahís Evelin Ferreira; JESUS, William Marcos Miranda de; MARTINS, Viviane Lima. Estilos de aprendizagem: análise de uma turma do Ensino Fundamental de uma escola pública em Nilópolis/RJ. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 7, 22 de fevereiro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/7/estilos-de-aprendizagem-analise-de-uma-turma-do-ensino-fundamental-de-uma-escola-publica-em-nilopolisrj

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