Educação Infantil em tempos de pandemia da covid-19: um olhar sobre relatos de familiares

Sidney Lopes Sanchez Junior

Doutorando em Educação (UEL), mestre em Ensino (UENP), graduado em Pedagogia (UENP), pedagogo na UFPR

Patrícia Ferreira Concato de Souza

Mestra em Ensino (UENP), graduada em Pedagogia (Dom Bosco), professora no município de Cornélio Procópio/PR

Silvia Fernanda de Souza Lordani

Mestra em Ensino (UENP), graduada em Pedagogia (UEPG), licenciada em Educação Física (Unicentro), professora no município de Santa Amélia/PR

Márcia Inês Schabarum Mikuska

Doutoranda em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias (Unopar), mestra em Métodos Numéricos em Engenharia (UFPR), assistente em Administração (UFPR)

Marília Bazan Blanco

Doutora em Psicologia (UFSCar), mestra em Análise do Comportamento (UEL), graduada em Psicologia (UEL), professora do Ensino Superior (UENP)

O ano de 2019 foi desafiador para os profissionais da Educação Básica no que se refere ao processo de implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em todo o território brasileiro. Estudos e reflexões acerca dos documentos oficiais que norteiam as propostas pedagógicas curriculares das escolas foram realizados no intuito de garantir uma referência única para a elaboração ou adequação dos currículos e propostas pedagógicas.

Em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China, foi notificado o primeiro caso do novo coronavírus, que culminou em um surto viral. Desde então, o mundo acompanha a rapidez com que o vírus se propaga, e em muitos países o sistema de saúde sofre colapsos devido à progressão dos casos de contaminação por transmissão comunitária. Diante desse cenário caótico, no dia 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) caracterizou a situação como pandemia, e medidas de proteção para defesa da vida começaram a ser tomadas em escala global (Santos, 2020).

As ações de proteção no Brasil iniciaram a partir da Lei Federal nº 13.979, publicada no dia 6 de fevereiro de 2020, que dispôs sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus. Logo, medidas de distanciamento social foram colocadas em prática, ocasionando reflexos na educação em todo o território brasileiro. Aulas presenciais foram suspensas, causando incertezas na população e em profissionais do magistério.

Diante dessa situação especial no cenário nacional, a Medida Provisória nº 934, de 1º de abril de 2020, estabeleceu normas excepcionais acerca do ano letivo vigente para a Educação Básica e a Superior, a fim de adotar medidas para enfrentamento da situação de emergência de saúde pública, do que trata a Lei mencionada, regulamentada e operacionalizada pela Portaria nº 356, de 11 de março de 2020 (Brasil, 2020a).

No Estado do Paraná, pelo Decreto Estadual n° 4.230, as aulas presenciais foram suspensas a partir do dia 20 de março em todas as escolas públicas e privadas do estado, desde a Educação Básica à Superior, adotando medidas de distanciamento social como enfrentamento e proteção das vidas, a fim de evitar e minimizar o contágio do novo coronavírus (Paraná, 2020a).

O município lócus desta pesquisa, situado ao norte do Estado do Paraná, determinou a suspensão das aulas presenciais por prazo indeterminado nos centros municipais de educação infantil (CMEI) e escolas municipais a partir do dia 18 de março de 2020 (MUNICÍPIO X).

Em seguida, no dia 31 de março de 2020, a Deliberação nº 01/20 do Conselho Estadual de Educação do Paraná (CEE) autorizou a realização de atividades escolares de forma não presencial nas instituições de Educação Básica e Superior, exceto a etapa da Educação Infantil (Paraná, 2020b).

Essa deliberação discorre ainda sobre reorganização do calendário escolar para as atividades letivas referentes ao ano de 2020. Da mesma maneira, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou o Parecer n° 5/20 no dia 28 de abril, reorganizando o calendário escolar e a possibilidade de cômputo de atividades pedagógicas não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual (800 horas) nas instituições escolares em razão da pandemia. Para a etapa da Educação Infantil, o parecer estabelece:

Para crianças das creches (0 a 3 anos), as orientações para os pais devem indicar atividades de estímulo às crianças, leitura de textos pelos pais, brincadeiras, jogos, músicas infantis. Para auxiliar pais ou responsáveis que não têm fluência na leitura, sugere-se que as escolas ofereçam aos cuidadores algum tipo de orientação concreta, como modelos de leitura em voz alta em vídeo ou áudio para engajar as crianças pequenas nas atividades e garantir a qualidade da leitura. Já para as crianças da pré-escola (4 e 5 anos), as orientações devem indicar, da mesma forma, atividades de estímulo às crianças, leitura de textos pelos pais ou responsáveis, desenho, brincadeiras, jogos, músicas infantis e algumas atividades em meios digitais quando for possível. A ênfase deve ser em proporcionar brincadeiras, conversas, jogos e desenhos, entre outras, para os pais ou responsáveis desenvolverem com as crianças (Brasil, 2020b, p. 10).

Para amenizar as defasagens na aprendizagem, Hodges (2020) explica que adotar o termo “ensino remoto emergencial”, é o mais correto para a situação. O autor ainda ressalta que é uma mudança temporária no ensino, uma forma alternativa devido às circunstâncias, de modo que o ensino se dá totalmente de forma remota. Não é recriar um novo modelo educacional, mas dar um suporte educacional de forma rápida aos alunos.

Para Tomazinho (2020), a nomenclatura “ensino remoto” se dá pelo fato de que professores e alunos estão impedidos de frequentar as escolas, ao cumprir as exigências de isolamento social recomendadas pelo Ministério da Saúde. Já o termo “emergencial” é devido à rapidez com que as aulas foram suspensas e professores e alunos tiveram que se adaptar a uma nova estratégia metodológica para a mediação dos conteúdos escolares.

É importante ressaltar que as atividades realizadas não se enquadram na modalidade ensino a distância (EaD), mas sim como modelo de ensino remoto emergencial. Na perspectiva de Kenski (2007), no EaD o aluno fica diante de um monitor sozinho, uma vez que sua representação ocorre por meio de textos e imagens. Kenski, (2007, p. 56) complementa que, “na maioria dos cursos a distância, não se tem acesso a um sistema de áudio que viabiliza ouvir as vozes e suas tonalidades, garantindo a dimensão emocional da discussão ou da representação”.

No ensino a distância, há um grupo de docentes que produz suas aulas e vende os diretos autorais para uma instituição de ensino, de modo que as aulas gravadas são inseridas em um ambiente virtual de aprendizagem para que o acadêmico possa acessá-la e realizar as atividades propostas. Na modalidade EaD, há a presença de um tutor que irá auxiliar a compreender o conteúdo, mas não é o criador das aulas e muitas vezes não são professores.

A EaD é uma modalidade de ensino complexa e que tem legislação própria. Conta com diversas equipes qualificadas, desde a parte administrativa até a de produção de material didático, e a mediação do docente é feita pelo uso da tecnologia. Essa modalidade tem uma forte preocupação com formação dos professores que atuarão a distância; o planejamento da produção de conteúdo educacional é realizado através de uma equipe multidisciplinar e o público-alvo é composto por adultos (Joyce; Moreira; Rocha, 2020, p. 23).

Entretanto, as tecnologias digitais têm sido a estratégia de ensino adotada pelos professores da referida instituição durante o processo do ensino remoto emergencial (ERE). Ademais, os aparelhos disponíveis para os indivíduos que participaram desta pesquisa são: computador, notebook, tablet e smartphone. Assim, essas tecnologias aliadas à internet constituem um poderoso meio de comunicação, o qual pode influenciar e transformar as relações sociais, alterando um cenário econômico, humano, social e educacional (Valente, 2014; Riedner; Pischetola, 2016).

Segundo Joyce, Moreira e Rocha (2020), as tecnologias estão em toda parte e, em tempos de isolamento social decorrente da situação pandêmica, estão servindo como canais para o desenvolvimento de diversos serviços, como as atividades educacionais remotas.

Após as aulas presenciais serem suspensas, essas tecnologias passaram a ser a estratégia adotada pelos professores para mediar os conteúdos escolares, após ser aprovada pelo Parecer nº 5/20. A partir desse documento, professores começaram a utilizar as redes sociais, a produzir videoaulas no YouTube; enviar atividades e livros didáticos por meio de grupos do WhatsApp, realizar videoconferências com os aplicativos Google Meet ou Zoom Meeting.

Assim, as escolas que ofertam a Educação Infantil passaram a desenvolver materiais para orientação dos pais ou responsáveis com atividades pedagógicas educativas de caráter lúdico, recreativo, criativo e interativo, de modo a serem realizadas pelas crianças em suas casas. Durante esse período, as atividades devem garantir a interação entre família e escola, potencializando as dimensões do desenvolvimento infantil de forma trazer ganhos cognitivos, afetivos e sociais.

Nesse contexto, levanta-se a seguinte questão: de que maneira as famílias estão lidando com a realização das atividades pedagógicas propostas pelos profissionais da Educação, tendo em vista que permanecem em isolamento domiciliar no período de pandemia da covid-19?

Assim, o objetivo deste estudo consiste em analisar como as famílias das crianças da Educação Infantil, em uma cidade do norte do Paraná, têm auxiliado as crianças na realização das atividades pedagógicas. Elencam-se como objetivos específicos destacar aspectos do perfil socioeconômico dos participantes da pesquisa e a situação de inclusão digital dessas famílias. Busca ainda compreender as dificuldades advindas do modelo de aulas remotas adotado como medida excepcional pelas instituições de educação em combate ao novo coronavírus.

Materiais e métodos

Este estudo é de natureza qualitativa, de modo que busca compreender os fenômenos e “preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais” (Gerhardt; Silveira, 2009, p. 32).

Dessa maneira, os sujeitos participantes da pesquisa foram convidados a responder um questionário impresso que buscou identificar dados como: idade; sexo; formação; profissão; se está trabalhando; quantidade de pessoas que residem na casa; se recebem algum auxílio do governo; se possuem acesso à internet, bem como avaliar a qualidade do acesso (ótimo, bom, regular ou ruim); renda familiar; se possuem aparelhos tecnológicos e quais; identificar as dificuldades que possuem em relação às atividades pedagógicas remotas.

Onze pessoas responderam ao questionário, sendo critério de inclusão ter vínculo familiar com a criança matriculada no CMEI, bem como serem maiores de dezoito anos. Todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) autorizando a publicação dos dados coletados e, com intuito de preservar a identidade dos participantes, codificamos cada um deles em P1, P2, P3, e assim sucessivamente.

A instituição escolar alvo da pesquisa atende crianças de 0 a 3 anos. Os participantes da pesquisa são familiares das crianças matriculadas nas turmas de maternal I (crianças de 2 anos) e maternal II (crianças de 3 anos). Posteriormente, os resultados serão apresentados, discutidos e analisados por meio de agrupamentos, o que, segundo Gil (2002), consiste no agrupamento de dados a fim de que sejam úteis para análise, de acordo com os objetivos almejados.

Resultados e discussão

Como já explicitado, o questionário foi respondido por onze pessoas, sendo dez do sexo feminino e uma do sexo masculino, com idades entre 18 e 40 anos. Dentre os participantes da pesquisa, quatro (36,6%) não trabalham fora de casa, enquanto sete (63,4%) desenvolvem suas atividades laborais durante o dia e se dedicam aos cuidados da casa e às crianças.

Sobre a formação acadêmica, três participantes possuem o Ensino Médio incompleto; seis possuem o Ensino Médio completo e três possuem formação em nível superior. O Gráfico 1 possibilita compreender essa distribuição.

Gráfico 1: Formação acadêmica dos participantes da pesquisa

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Os participantes da pesquisa possuem renda entre R$ 800,00 e R$ 5.000,00, ou seja, há famílias que vivem com menos de um salário mínimo mensal, enquanto outras têm aproximadamente cinco salários mínimos. Cabe destacar que quatro famílias recebem algum auxílio social e sete não recebem auxílio do governo.

Acerca das profissões, os participantes da pesquisa desenvolvem atividades de diarista; auxiliar de lavanderia hospitalar; auxiliar administrativo; zelador; vendedor em loja; manicure; e professora da Educação Básica.

O número de pessoas que residem nas casas será exposto no Quadro 1, bem como a presença de aparelhos tecnológicos e a qualidade do acesso à internet. Em relação aos aparelhos eletrônicos, as práticas remotas estão subsidiadas legalmente na Deliberação nº 01/20, em seu Art. 4º, que discorre sobre o uso de equipamentos tecnológicos por parte dos professores, que poderão utilizar quizzes, plataformas virtuais, correios eletrônicos, redes sociais, chats, fóruns, diários eletrônicos, videoaulas, audiochamadas e videochamadas como estratégia para interagir com os alunos.

Quadro 1: Número de pessoas residentes nas casas; aparelhos tecnológicos e qualidade da internet dos participantes da pesquisa

Participante

N° de pessoas que residem na casa

Equipamentos tecnológicos

Qualidade da internet

P1

5 pessoas (4 estudantes)

1 celular

Boa

P2

3 pessoas (1 estudante)

2 celulares, 1 notebook,

1 tablet

Boa

P3

3 pessoas (1 estudante)

2 celulares, 1 notebook

Boa

P4

4 pessoas (2 estudantes)

3 celulares, 1 notebook

Boa

P5

3 pessoas (1 estudante)

2 celulares/ 1 notebook

Boa

P6

6 pessoas (4 estudantes)

3 celulares, 1 computador

Boa

P7

4 pessoas (2 estudantes)

4 celulares

Ótima

P8

6 pessoas (3 estudantes)

3 celulares

Boa

P9

6 pessoas, (1 estudante)

4 celulares, 1 tablet,

1 computador

Boa

P10

5 pessoas (3 estudantes)

3 celulares, 2 notebooks

Ótima

P11

3 pessoas (1 estudante)

2 celulares

Boa

Fonte: Dados da pesquisa (2020).

Conforme os dados expostos no Quadro 1, podemos observar que todos os participantes da pesquisa possuem aparelhos tecnológicos e a maioria (nove pessoas, aproximadamente 82%) classificam a qualidade do acesso à internet como “Boa”, enquanto duas pessoas (aproximadamente 18%) classificam a qualidade do acesso à internet como “Ótima”.

Apenas um participante relata possuir um aparelho celular que é utilizado pelas outras pessoas da família, sendo que quatro integrantes são estudantes. Ademais, a proporção de aparelhos tecnológicos por família é quase de 1:1, ou seja, em quase todas as famílias observa-se a presença de aparelhos tecnológicos proporcional ao número de integrantes, salvo as famílias dos participantes P1, P8 e P11.

A esse respeito, Valente (2014) afirma que os recursos tecnológicos interligados à internet se tornam um dos meios mais poderosos de troca de informação e realização de ações que contribuem para o processo de ensino e aprendizagem. O autor ressalta também que o fato do “estar juntos virtual” proporciona condições para comunicação e troca de experiências, além de colaborar na resolução de problemas da vida cotidiana.

Por meio da internet, pode-se participar de pesquisas em tempo real; organizar salas de bate papo interativas; criar páginas dos alunos; organizar um espaço virtual de referências e compartilhamento de textos; criar sites e informações que contribuem para o processo de aprendizagem (Moran, 2006).

Cursino (2017) explica que a internet é uma fonte inesgotável de informações e que a presença de algumas interfaces da web pode potencializar a aprendizagem. Na perspectiva do autor, a utilização de redes sociais, como o “Facebook: rede social para a criação de perfis e compartilhamentos de dados; e o [...] WhatsApp: utilizado para troca de mensagens de texto instantaneamente, além de vídeos, fotos, áudios e arquivos” (Cursino, 2017, p. 61) pode ser aliada à prática pedagógica, com objetivos específicos. Assim, as estratégias adotadas pelos professores do CMEI, ao utilizar os recursos tecnológicos, vão ao encontro das pesquisas dos autores citados, de maneira que utilizam as ferramentas tecnológicas para orientar as famílias na realização das atividades pedagógicas.

Sobre as dificuldades encontradas acerca das atividades remotas desenvolvidas no período da pandemia da covid-19, o Quadro 2 apresenta os relatos dos participantes, bem como suas percepções em relação ao modelo de educação remota adotado na Educação Infantil.

Quadro 2: Excertos acerca das dificuldades no ensino não presencial

Dificuldades em aplicativos escolares, muitos deveres e a internet muito lenta, não ajuda...” (P1).

“Em relação às atividades nenhuma, está sendo bem esclarecido em vídeo. O mais difícil é ficar em casa com as crianças porque querem ficar saindo” (P2).

“As dificuldades chegam quando os filhos já estão cansados de ficar em casa e você coloca para fazer a tarefa sem os professores e amigos para interagir, não conseguimos ter um bom desenvolvimento e aprendizado na realização das tarefas” (P3).

“As atividades propostas são de fácil compreensão, porém fatores como a internet ineficiente, a acomodação da criança e às vezes a incapacidade de interpretação podem dificultar sua realização, já que são enviados vídeos de algumas disciplinas e alguns conteúdos precisam ser pesquisados na internet e explicados para compreensão da criança” (P4).

“No meu caso, tenho um pouco de dificuldade, mas consigo ajudar nas atividades, no período que estou em casa” (P5).

“Dificuldade de horários, tempo para ensinar as crianças, que estão estressadas por só ficar dentro de casa” (P6).

“Não vejo nenhuma dificuldade, pois tem os professores explicando no WhatsApp muito bem” (P7).

“Sim” (Durante conversa a mãe relata que quem orienta seu filho é a irmã mais velha, pois ela tem dificuldade de ensinar) (P8).

“Falta de concentração da minha filha, carência de amigos, dificuldade em manter as crianças em casa entretidas” (P9).

“Não tenho enfrentado dificuldades porque estou em casa, então consigo realizar as atividades com os filhos” (P10).

“Bom, até agora nenhum” (P11).

As dificuldades relatadas pelos participantes da pesquisa vão desde o uso de aplicativos; qualidade da internet; organização da rotina das crianças em casa; dificuldades de aprendizagem das crianças; dificuldades dos pais ou responsáveis em compreender as atividades escolares; ausência do ambiente escolar, que resulta na interação professor-aluno, aluno-aluno; até horários incompatíveis para auxiliar nas tarefas escolares.

Dessa maneira, o Quadro 3 retrata as dificuldades evidenciadas nos relatos dos participantes da pesquisa, de forma a auxiliar na análise e compreensão da realidade estudada.

Quadro 3: Dificuldades nas atividades remotas

Dificuldades

PARTICIPANTES

Utilização de aplicativos

P1 (9%)

Qualidade da internet

P1; P2; P4 (27,2%)

Organização da rotina das crianças em casa

P2; P3; P6; P9 (27,2%)

Dificuldades de aprendizagem das crianças

P4; P9 (18,1%)

Ausência do ambiente escolar (falta de interação professor-aluno/ aluno-aluno)

P3; P9 (18,1%)

Dificuldade dos pais

P5; P8 (18,1%)

Horário compatível para auxiliar nas atividades

P6 (9%)

A necessidade de se adaptar às novas demandas educacionais advindas do isolamento social causado pelo novo coronavírus fez com que professores e famílias ressignificassem suas rotinas, bem como transformou o ambiente da casa em local de trabalho, de estudos e organização das atividades pedagógicas.

Para a BNCC (Brasil, 2017), é no ambiente da Educação Infantil que acontecem as interações e brincadeiras que promovem o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança. Ao conviver com outras crianças e adultos, em grandes ou pequenos grupos, a criança utiliza diversas linguagens, amplia seu conhecimento acerca de si e do outro, além de respeitar a cultura e as diferenças presentes na sociedade (Brasil, 2017).

Considerações finais

Os desafios impostos pela covid-19 são diversos; pesquisadores e cientistas dedicam-se a encontrar uma vacina ou medicação eficaz contra o vírus, mas afirmam que o isolamento social ainda é a melhor medida para o controle da disseminação da doença.

Destarte, o objetivo deste trabalho é dar visibilidade às famílias das crianças matriculadas em uma instituição municipal de Educação Infantil em uma cidade do norte do Paraná, bem como apresentar características socioeconômicas e situação de inclusão digital dessas famílias. Buscou também elencar as dificuldades enfrentadas nesse período de pandemia da covid-19 em relação às atividades escolares de forma remota.

Dessa maneira, observa-se a diversidade social e econômica das famílias participantes da pesquisa, mas todas possuem aparelhos tecnológicos e acesso à internet que possibilitam interações virtuais para acompanhar as atividades escolares de forma remota.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (2010), a Educação Infantil é direito de todos os cidadãos, sendo gratuita e de qualidade sem critério de seleção. Sendo assim, o Centro Municipal de Educação Infantil atende crianças com diferentes realidades sociais, como pode ser observado nesta pesquisa. Cabe ressaltar que todas as crianças têm acesso a orientações remotas ao receber das professoras responsáveis instruções e orientações por meio de vídeos que são enviados semanalmente via aplicativos dos smartphones. Sobretudo, destaca-se que tais medidas foram tomadas a fim de minimizar os danos causados pela pandemia, assim como na tentativa de buscar reduzir os prejuízos quanto à aprendizagem.

Referências

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______. Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019. Diário Oficial da União, 2020. Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-13.979-de-6-de-fevereiro-de-2020-242078735. Acesso em: 05 nov. 2021.

______. Portaria nº 356, de 11 de março de 2020. Dispõe sobre a regulamentação e a operacionalização do disposto na Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, que estabelece as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus (covid-19). Diário Oficial da União, 2020. Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-356-de-11-de-marco-de-2020-247538346. Acesso em: 05 nov. 2021.

______. Medida Provisória nº 934, de 1º de abril de 2020. Estabelece normas excepcionais sobre o ano letivo da Educação Básica e do Ensino Superior decorrentes das medidas para enfrentamento da situação de emergência de saúde pública de que trata a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Diário Oficial da União, 2020. Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/medida-provisoria-n-934-de-1-de-abril-de-2020-250710591. Acesso em: 05 nov. 2021.

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GERHARD, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de pesquisa. Coord. Universidade Aberta do Brasil - UAB/UFRGS. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.

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VALENTE, J. A. A comunicação e a Educação baseada no uso das tecnologias digitais de informação e comunicação. Revista Unifesto - Humana e Sociais, v. 1, nº 1, p.141-166, 2014.

Publicado em 15 de março de 2022

Como citar este artigo (ABNT)

SANCHEZ JUNIOR, Sidney Lopes; SOUZA, Patrícia Ferreira Concato de; LORDANI, Silvia Fernanda de Souza; MIKUSKA, Márcia Inês Schabarum; BLANCO, Marília Bazan. Educação Infantil em tempos de pandemia da covid-19: um olhar sobre relatos de familiares. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, nº 9, 15 de março de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/9/educacao-infantil-em-tempos-de-pandemia-da-covid-19-um-olhar-sobre-relatos-de-familiares

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