Saberes científicos e populares acerca da galinha d'angola: uma conexão afro-brasileira

Ricardo Ferreira Vale

Doutorando em Educação (UFOP)

Ronaldo Adriano Ribeiro da Silva

Doutor em Ensino de Ciências (Unila)

Denise Cássia da Silva Barbosa de Freitas

Especialista em Coordenação Pedagógica (UFOP)

A Lei nº 10.639/03 tornou obrigatórios os estudos das histórias e culturas afro-brasileiras na Educação Básica, o que fez com que se tornasse uma aliada na preservação das reminiscências do povo negro brasileiro. Os estudos apontam que, até 1960, os conhecimentos da cultura, da história e da memória do continente africano eram quase inexistentes. Diante de tantos anseios, se tornaram importantes os estudos envolvendo essa temática. A preservação das identidades afro-brasileiras não deve ser restrita à comemoração do Dia da Consciência Negra, mas retratadas e estudadas nas vivências escolares para que possam se solidificar como prática social.

Os noticiários dos últimos tempos têm abordado uma infinidade de situações de discriminação racial e intolerância religiosa. A arte negra busca seu lugar de fala. Como explicitado anteriormente, a Lei nº 10.639/03 é obrigatória nas escolas, porém não é o que temos vivenciado nos últimos tempos. A vivência com os alunos nos chamou a atenção, observando seus atos e tratamentos racistas para com seus pares, que muitas vezes passam despercebidos pelos segmentos da educação. Diante desses anseios e observações, a direção escolar, a coordenação pedagógica e o professor de Ciências voltaram seus olhares à erradicação de tais atitudes. Trabalhando por meio do conto africano, A criação da galinha d’angola foi possível abordar, com sutileza e objetividade, parte da história e cultura afro-brasileira, fazendo com que os alunos se percebessem nessas narrativas.

O objetivo geral do trabalho foi sensibilizar os alunos à formação identitária brasileira, heranças históricas e memórias dos povos afro-brasileiros. Como objetivos específicos temos:

  1. Proporcionar aos alunos o contato com formas de culturas e artes distintas;
  2. Estimular o estudo pertinentes ao continente africano e;
  3. Assimilar a Lei nº 10.639/03 ao ensino de Ciências.

Percursos metodológicos

O desenvolvimento dessa proposta ocorreu em cinco aulas de 50 minutos cada na disciplina de Ciências, seguindo os seguintes momentos:

1° momento (em uma aula):

Foi solicitada uma pesquisa (em casa) com as seguintes temáticas envolvendo o país angola: localização geográfica, costumes ou curiosidades do país, características históricas e animais típicos. Nesse momento foi disponibilizado aos alunos um globo terrestre para que localizassem o país angola.

Figura 1: Localização do continente africano e de angola

Fonte: Acervo particular.

2° momento (em uma aula):

Socialização da pesquisa com os alunos apresentando seus resultados de pesquisa. Posteriormente, houve a entrega do texto (fotocopiado) Por que a galinha d'angola tem pintas brancas?. Em seguida foram realizadas leituras individuais e coletivas.

Figura 2: Texto utilizado com os alunos acerca da lenda africana da galinha d’angola

Fonte: https://www.educlub.com.br/lenda-africana-da-galinha-dangola.

Figura 3: Apresentação das pesquisas realizadas pelos alunos

Fonte: Acervo particular.

3° momento (em três aulas):

Foram apresentadas características do gênero Histórias em Quadrinhos (HQ) e solicitado que os alunos escolhessem seus pares para uma atividade subsequente. Após a escolha, os alunos deveriam adaptar o texto recebido para o formato HQ.

Figura 4: Confecção de HQ

Fonte: Acervo particular.

4° momento (em uma aula):

Apresentação das HQ para os demais grupos.

Figura 5: HQ produzida

Fonte: Acervo particular.

5° momento (em uma aula):

Foi solicitada uma pesquisa (em casa) sobre o grupo de animais vertebrados ao qual pertence a galinha d’angola, a função das penas para aquela ave, a esquematização de uma cadeia alimentar em que a galinha d'angola exercesse a função de consumidora secundária, definição de controle biológico e a sua importância nesse processo. Por fim, a descrição das características do corpo da galinha d'angola.

6° momento (em uma aula):

Compartilhamento dos resultados da pesquisa efetuada em casa e, por fim, uma visita à parte exterior da escola, onde os alunos puderam conhecer, observar e analisar um exemplar de galinha d'angola da escola.

Resultados e considerações finais

Os apontamentos deste projeto indicam a carência dos alunos no que se refere ao conhecimento de culturas e histórias africanas, assim como a necessidade de sensibilização sobre a formação identitária brasileira por meio do acesso às histórias que nos remetem às memórias dos povos africanos e afro-brasileiros. Nossos resultados sinalizam para a urgência de trabalhos abordando a temática.

Esperamos que a compreensão e a percepção da identidade negra possam melhorar a maneira de agir dos alunos junto aos seus pares, além de permitir a associação dos conhecimentos científicos e interdisciplinares a partir de leituras diversas e a produção de HQ, conforme relatado.

Trabalhando com o conto africano Por que a galinha d'angola tem pintas brancas?, foi possível colocar em prática a Lei nº 10.639/03, abordando de forma sutil e objetiva parte da história e da cultura afro-brasileiras, fazendo com que os estudantes se percebessem na narrativa.

Referência

EDUCLUB. Lenda africana da galinha d’angola. s/d. Disponível em: https://www.educlub.com.br/lenda-africana-da-galinha-dangola/. Acesso em: 20 maio 2022.

Publicado em 28 de março de 2023

Como citar este artigo (ABNT)

VALE, Ricardo Ferreira; SILVA, Ronaldo Adriano Ribeiro da; FREITAS, Denise Cássia da Silva Barbosa de. Saberes científicos e populares acerca da galinha d'Angola: uma conexão afro-brasileira. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 11, 28 de março de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/11/saberes-cientificos-e-populares-acerca-da-galinha-dangola-uma-conexao-afro-brasileira

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