Uso de jogo didático no ensino de Ciências em uma escola do campo: uma abordagem em sala de aula
Fernanda de Souza Muller
Licenciada em Educação do Campo (UFFS)
Alexandre Monkolski
Mestre em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais (UEM), professor da UFFS
Jakeline Galvão de França Monkolski
Doutora em Aquicultura (Unesp), bolsista de Apoio Técnico na UFFS
Vitor de Morais
Doutor em Sociedade, Cultura e Fronteiras (Unioeste), professor da UFFS
Elisangela Gomes Ferreira Garcia
Bióloga, especialista em Educação, Pedagogia Escolar e Educação do Campo, professora da rede estadual do Paraná
No processo de ensino da Educação do Campo, há o desafio de trabalhar os conteúdos de forma interdisciplinar, relacionando as diferentes áreas do saber com as experiências vivenciadas no cotidiano para o desenvolvimento de práticas que atendam à realidade do estudante (Britto; Silva, 2015; Ribeiro; Bueno, 2015; Muenchen; Sául, 2020).
Dentro dessa percepção, o ensino de Ciências também atua como uma ferramenta que leva em consideração a interação de diversas áreas do conhecimento como Física, Química, Biologia, Astronomia, Geologia e temas transversais. Contudo, existe uma cortina que impede que vejamos a Ciência na rotina de nossas vidas, nos privando de entender uma série de processos e fenômenos. Essa sobreposição (da atividade de campo e do ensino de Ciências) nos permite explorar uma grande diversidade de conteúdos, melhorando a compreensão dos fenômenos pelo contato direto com o ambiente, transformando as aulas em um momento de motivação e de aprendizado (Viveiro; Diniz, 2009).
Pesquisas têm demonstrado que os alunos chegam cada vez mais desinteressados na escola, acarretando baixo desempenho, repetência e evasão escolar (Torres, 1999; Zenti, 2000). De acordo com Zenti (2000), muitos são os problemas causados pela desmotivação, no entanto acreditamos que a maior dificuldade esteja em competir com os atrativos tecnológicos e os brinquedos que encantam as crianças.
Áreas mais complexas do conhecimento, como a área das Ciências, são frequentemente acometidas com essa adversidade, pois faltam materiais didáticos e laboratórios, estendendo a lacuna entre estudante e conteúdo. Por essa razão, a busca por alternativas que tragam resultados favoráveis ao processo de ensino-aprendizagem é bem-vinda. Os materiais didáticos são os meios e os recursos que auxiliam e facilitam nesse processo, porque tornam as aulas mais prazerosas, motivadoras e participativas, levando o aluno a socializar-se e a adquirir novas experiências, o que facilita na aprendizagem de conteúdos abstratos (Melo; Ávila; Santos, 2017).
Um método que vem contribuindo para o ensino de Ciências é a utilização de jogos didáticos, afinal o jogo possibilita discussões e interações entre os estudantes, permitindo a construção do conhecimento de modo lúdico e coletivo. A produção de jogos didáticos, diante da inovação do processo de ensino-aprendizagem, promove a participação ativa do aluno na construção do conhecimento, permitindo-o desenvolver suas competências intelectuais e sociais e proporcionando ao professor flexibilidade para contextualizar a interlocução entre as diferentes áreas do conhecimento (Gonzaga et al., 2017).
De acordo com Fortuna (2003) para jogar em sala de aula é preciso que o professor tenha uma postura diferente da que é habitualmente relacionada ao ensino. Em função do jogo, os papéis rígidos e estereotipados perdem a vez. No ambiente lúdico e descontraído, ocorre uma via de mão dupla na qual professores e estudantes aprendem e ensinam ao mesmo tempo.
As disciplinas de Ciências e Biologia possuem conteúdos complexos e extensos, fazendo prevalecer a falta de motivação no momento de estudar a matéria, levando o aluno a memorizar mecanicamente os conteúdos sem aprendê-los de fato. Diante disso, os professores buscam alternativas para driblar as dificuldades na tentativa de tornarem suas aulas mais interessantes e estimulantes aos estudantes. Por terem viés lúdico, os jogos didáticos permitem a utilização de mecanismos que chamem mais a atenção dos estudantes. De acordo com Cotonhoto, Rossetti e Missawa (2019), pedagogos, professores e psicólogos têm considerado os jogos e as brincadeiras como importantes ferramentas de motivação para o desenvolvimento de diversas habilidades, tais como, a linguagem oral, a escrita, o raciocínio lógico-matemático, entre outras capacidades. Assim, ao considerar a importância das atividades lúdicas para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e afetivas, a escola deve promover que os estudantes tenham uma prática educativa na qual o uso do lúdico seja explorado.
Levando em consideração o processo ensino-aprendizagem para a área de Ciências em escolas do campo, este artigo descreve o desenvolvimento e a avaliação de um jogo didático concebido para motivar o aprendizado do ensino de Ciências.
Metodologia
O estudo foi desenvolvido em uma escola do campo, localizada no Assentamento Ireno Alves, pertencente ao município de Rio Bonito do Iguaçu/PR (Figura 1) e ao Núcleo Regional de Educação (NRE) de Laranjeiras do Sul/PR, durante o período de abril a junho de 2017. O critério de escolha do colégio levou em consideração a disponibilidade dos professores atuantes em supervisionar as atividades propostas para levantamento de dados. Adotou-se o método da pesquisa de campo exploratória para abordagem do tema, na tentativa de contribuir para o aprimoramento de estudos referentes à produção de material didático, adaptado ao universo escolar regional.
A primeira etapa da pesquisa constituiu-se de diagnóstico do ensino-aprendizagem da escola, mediado pela proposta de construção de materiais didáticos pedagógicos com ações que poderão ser usadas. O levantamento dessas informações foi realizado por meio de questionário entregue aos professores, com o intuito de conhecer o seu perfil como professor atuante em Ciências e ainda entender a sua realidade e o contexto no qual está inserido. O roteiro de entrevista semiestruturado, contendo perguntas subjetivas foi preparado previamente junto a um termo de consentimento livre esclarecido para preservação das informações. As perguntas foram formuladas levando-se em consideração o ensino de Ciências atrelado ao uso de material didático em sala de aula por professores que atuam na área (Quadro 1).
Quadro 1: Questionário aplicado aos professores de Ciências
1) Professor(a), qual sua formação acadêmica? |
2) Há quantos anos você leciona Ciências? |
3) Quais são os desafios enfrentados para lecionar Ciências? |
4) Quais são os materiais didáticos existentes para o ensino de Ciências na escola onde você trabalha? |
5) Durante as aulas de Ciências, qual a metodologia (quadro-negro com aula dialogada, aulas de laboratório, aulas em ambientes informais etc.) mais utilizada? |
6) Você faz uso de outros materiais didáticos, além do livro durante as aulas de Ciências? ( ) Sim ( ) Não. Se sim, quais: |
7) Levando em conta as limitações, qual a frequência do uso de outros materiais didáticos (tecnologias educacionais, por exemplo) de Ciências em sala de aula? |
8) Você considera o uso de materiais didáticos como um recurso pedagógico importante para o ensino-aprendizagem de Ciências? Por quê? |
9) Quais os benefícios da utilização desses outros materiais durante as aulas de Ciências? |
10) Diante de atividades que utilizem materiais didáticos que não são habituais como o livro didático, por exemplo, qual a atitude dos estudantes? ( ) Interessados do início ao fim; ( ) Cresce o interesse no decorrer da atividade; ( ) Perdem o interesse durante a atividade; ( ) Não têm interesse. |
11) Em sua trajetória como educador(a), em qual área específica da Ciência o uso de materiais didáticos como ferramenta complementar e de apoio para o ensino-aprendizagem é mais indicada? Por quê? |
Após consulta à professora regente, delimitaram-se as informações que seriam exploradas dentro do tema abordado no material didático, definindo-se qual tipo de instrumento seria produzido (um jogo, uma experiência, uma maquete ou outro tipo de material) e quais materiais físicos seriam utilizados para a sua composição e produção (cartolina, isopor, garrafa PET ou outro). O tema escolhido foi “vírus e suas doenças relacionadas”, conteúdo que estava sendo abordado na turma do 7° ano. Considerando a faixa etária entre 11 e 12 anos, escolhemos um jogo de trilha com personagens lúdicos para deixar o jogo mais interessante e atrativo aos estudantes.
Durante a elaboração do jogo “Trilha sobre vírus e suas doenças” foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre outros jogos educativos publicados na literatura científica como referências (Abreu; Maia, 2016; Siqueira; Antunes, 2013; Legey, et al., 2012).
Para a construção do material didático, houve a preocupação de utilizar materiais de baixo custo e de fácil manuseio, de forma a facilitar o acesso à atividade.
Os materiais necessários para a confecção do jogo foram:
- 2 cartolinas brancas (96 x 66 cm);
- Papel Contact
- Tesoura
- Lápis
- Lápis de cor
- Dado
- Borracha
- Régua
- Caneta esferográfica preta
Desse modo, a composição final do jogo (Figura 1) contém um baralho com 22 perguntas a respeito de onze doenças causadas por vírus, um tabuleiro de trilha (contendo 86 casas); cinco personagens (vírus) que percorrem a trilha e um dado. O objetivo do jogo é possibilitar ao aluno a obtenção de informações sobre prevenção, sintomas, transmissão e formas de contágio de vírus associados com doenças em humanos e também a compreensão do ciclo e as diferentes formas de dispersão.
Figura 1: Composição do tabuleiro (66cm x 50cm) de trilha sobre vírus
A terceira etapa consistiu na aplicação de um questionário na aula subsequente à explanação teórica dos conteúdos, denominado de pré-teste. Este questionário constituiu o parâmetro de comparação com o teste aplicado, após a realização do jogo (pós-teste). Ambos os testes apresentaram as mesmas questões (Quadro 2).
Quadro 2: Questões aplicadas aos alunos para avaliação de conhecimentos no pré-teste e pós-teste
Escolha a alternativa correta: |
1) Das doenças abaixo, qual alternativa indica aquela que tem como uma das formas de prevenção: evitar o uso de agulhas/seringas que não estejam devidamente esterilizados e tem como agente causador o vírus do HIV? a) Catapora b) Rubéola c) AIDS |
2) Os seguintes sintomas: febre, dores no corpo, fraqueza, perda de apetite, aparecimento de manchas vermelhas pelo corpo e coceira, estão relacionados a qual doença? a) Sarampo b) Catapora c) Dengue |
3) A caxumba é uma das inúmeras doenças causadas por vírus; das alternativas a seguir, qual indica corretamente o agente causador dessa doença? a) Vírus Paramyxovirus b) Vírus Influenza c) Vírus do gênero Lyssavirus |
4) Evitar o acúmulo de água parada, evitar contato com o mosquito transmissor, fazendo uso de mosquiteiros, inseticidas e repelentes, estas formas de prevenção estão associadas a que doença? a) Dengue b) Raiva c) Febre amarela |
5) Em locais silvestres o mosquito transmissor é o Haemagogus e em áreas urbanas é o Aedes aegypti, uma das maneiras de prevenção é a vacinação, de qual doença estamos falando? a) Dengue b) Gripe c) Febre amarela |
6) Febre alta, calafrios, cansaço, tosse, coriza e congestão nasal, são alguns dos sintomas da gripe, que é transmitida pelo vírus Influenza. Qual alternativa indica corretamente a forma de prevenção? a) Evitar o acúmulo de água parada b) Vacinação, evitar o contato com pessoas que estejam contaminadas c) Ficar em ambientes fechados com pessoas contaminadas |
7) A hepatite C é uma doença causada pelo vírus C (HCV), em relação aos seus sintomas indique a alternativa correta. a) Aparecimento de manchas vermelhas pelo corpo e coceira b) A principal característica é o aumento das glândulas salivares próximas aos ouvidos c) Não apresenta sintomas claros, em alguns casos são semelhantes ao de uma gripe |
8) Febre e dor de garganta, infecções gastrintestinais como náusea, vômito, constipação (prisão de ventre), dor abdominal e diarreia. Em casos mais graves pode causar paralisia ou até mesmo levar a morte, estes são sintomas da poliomielite ou paralisia infantil. Indique a alternativa que corresponde corretamente a forma de prevenção dessa doença. a) Vacinação, saneamento básico, cuidados com a higiene pessoal b) Vacinação, evitar o contato com pessoas que estejam contaminadas c) Vacinação e evitar o contato com o mosquito transmissor |
9) Morbillivirus e Rubellavirus, são os vírus responsáveis por causar, respectivamente, quais doenças? a) Sarampo e caxumba b) Sarampo e rubéola c) Febre amarela e rubéola |
10) A raiva pode ser transmitida através da mordida de animais que estejam contaminados, como cães, gatos e morcegos. Indique a alternativa que corresponde ao vírus causador dessa doença. a) Rubellavirus b) Vírus do gênero Lyssavirus c) Poliovirus |
Após a aplicação do pré-teste, realizamos o jogo com os alunos com as seguintes regras:
- os estudantes devem se organizar em pequenos grupos, sendo que um aluno atua como moderador e não participa de nenhum grupo. Ele é o responsável apenas pela administração das cartas do baralho.
- para iniciar o jogo, todos os grupos rolam o dado. Todos devem estar na casa “Início” e o grupo que tirar o maior número começa sendo seguido pelo segundo número mais alto e, assim, sucessivamente.
- quando o grupo parar na casa com ponto de interrogação, o moderador retira do baralho a carta pergunta, faz a leitura e confere se o grupo acertou a resposta, caso o grupo tenha acertado avança o número de casas correspondentes do dado, caso contrário permanecem na mesma casa e a pergunta retorna para o baralho.
- o primeiro grupo a alcançar a casa “Chegada” ganha o jogo.
O quarto momento da pesquisa consistiu na aplicação do pós-teste, sete dias após a ocorrência do jogo e da análise dos dados por meio da comparação do pré e pós-teste.
Resultados e discussão
A primeira etapa desenvolvida foi o levantamento de dados, por intermédio da aplicação de um questionário aos professores que lecionam Ciências na escola. Quando perguntados sobre qual era a sua formação acadêmica e há quantos anos estavam lecionando a disciplina, todos os professores responderam serem licenciados em Ciências Biológicas, lecionando a disciplina há alguns anos, entre 3 e 19 anos.
No que diz respeito aos desafios enfrentados para lecionar Ciências, os professores entrevistados relataram que a falta de estrutura física é a principal delas, porque muitas escolas da região não possuem laboratórios, faltam materiais específicos, recursos e espaços. Com relação aos materiais didáticos existentes na escola, embora os professores destaquem a existência de alguns equipamentos e recursos didáticos para o suporte das aulas, como microscópio, lupa, banners, vidrarias, TV e computador, observamos a precariedade dos elementos citados.
Diante dessa realidade, a infraestrutura das escolas interfere de maneira significativa na qualidade da educação. A existência de prédios e instalações adequadas, bibliotecas escolares, espaços esportivos, laboratórios, materiais pedagógicos, relação adequada entre o número de alunos e professor na sala de aula, podem melhorar o desempenho dos alunos (Sátyro; Soares, 2007).
A metodologia de ensino-aprendizagem é outro aspecto relevante para o ensino de Ciências nas escolas do campo, pois tem muito pouco a oferecer em termos de manuais metodológicos para a aplicação de algumas atividades experimentais ou práticas relacionadas aos conteúdos. Dessa forma, segundo o que foi reportado pelos professores, as atividades de reforço com a aplicação dos materiais didáticos, não são frequentemente executadas, ficando a apropriação de conhecimentos restrita ao uso de livros didáticos, ao quadro, às aulas dialogadas, às saídas a campo e, quando possível, aos vídeos e às imagens que são apresentadas em projetor multimídia.
A limitação de recursos didáticos faz com que muitos professores encontrem refúgio no livro didático, adotando a educação tradicional e resistindo às novas propostas de ensino. O livro didático se torna o principal instrumento de trabalho, ao invés das atividades extras, como aulas práticas e projetos de pesquisa, explorando mais as habilidades cognitivas do aluno. Ocorre, portanto, uma ação passiva do professor durante o processo de elaboração dos conteúdos, da didática e da metodologia empregada (Lima; Vasconcelos, 2006; Seixas; Calabró; Sousa, 2017; Eichler; Del Pino, 2010).
Quando indagados sobre o uso de materiais didáticos como recursos pedagógicos importantes para o ensino-aprendizagem de Ciências, os professores consideram que esses instrumentos são essenciais para a fixação do assunto abordado. Assim, a visualização prática da aula e a compreensão da relação do cotidiano do campo com os fenômenos que envolvem a disciplina, torna os assuntos mais atrativos aos estudantes. Santos e Belmino (2013) evidenciam que os materiais didáticos são importantes elementos do espaço educacional, incentivadores do fazer dos estudantes. Eles melhoram e facilitam a aprendizagem, proporcionando ampliação dos conhecimentos.
Em outra etapa do estudo, foram apresentados os dados obtidos no pré-teste, como exposto na Figura 2. Até esse momento, os alunos tiveram apenas aulas expositivas, sem o uso de recursos didáticos senão o livro. Nota-se que, nesse período, a média do número de questões corretas foi maior (8,6) do que o número das respostas erradas (5,7). Além disso, ainda foi observada uma pequena parcela de questões que os estudantes não souberam responder (0,7).
Após a aplicação do pré-teste, os estudantes foram organizados em 5 grupos para esclarecimento das regras do jogo e de seus objetivos. Durante a aplicação do jogo, observamos que a postura dos estudantes era de descontração e interesse no que estava sendo desenvolvido. Ao mesmo tempo que brincavam, aprendiam sobre as doenças relacionadas aos vírus. Os estudantes também tiveram a oportunidade de discutir qual resposta era a correta em relação às questões feitas, o que favoreceu um crescimento coletivo de todo o grupo. Como destacam Rocha e Rodrigues (2018), usar jogos didáticos estimula a construção coletiva de conhecimentos, em trabalhos em grupo, auxilia na socialização com os colegas e favorece na construção e na aquisição de novos conhecimentos.
Figura 2: Gráfico da média do número de questões respondidas no pré-teste e pós-teste. NR: não respondida
Os resultados obtidos no pós-teste evidenciaram uma discreta melhora nos números de questões acertadas em comparação ao pré-teste (figura 2). Verificou-se ainda que todas as questões foram respondidas com o auxílio do material didático. No trabalho realizado por Santos e Guimarães (2010), com estudantes da 6ª série, verificamos um aumento na capacidade de compreensão dos conteúdos com o uso do jogo no ensino de Zoologia. Resultados similares também foram reportados por Siqueira, Franco e Moreira (2016) que observaram melhoria na aprendizagem de conceitos científicos ligados à produção agrícola local no município de Salinas/MG com o uso de jogo de trilha aplicado às séries finais do Ensino Fundamental. Os autores verificaram que as dificuldades iniciais associadas ao processo de leitura e relacionadas ao vocabulário científico, reduziram-se substancialmente ao término do jogo.
Analisando a Figura 3 pela comparação do percentual de respostas corretas entre o pré-teste e o pós-teste, observamos que, mesmo com uma semana de diferença entre a aplicação de um teste e outro, os estudantes tiveram uma melhora que pode ser observada nas perguntas 1, 4 e 6, com 100% de acerto. No entanto, apesar desse avanço, a porcentagem de respostas corretas em algumas questões do pós-teste ficou abaixo de 50%, sendo que nas questões 2, 5 e 8 o número de acertos foi menor se comparado ao pré-teste. Resultados semelhantes ao presente estudo foram encontrados por Torres et al. (2020) durante a aplicação de um jogo didático para o ensino de Microbiologia. Eles verificaram que embora o percentual de respostas corretas tenha aumentado significativamente, o número de respostas incorretas em algumas questões, no pós-teste, ainda foi alto. De acordo com os autores, os dados obtidos não sugerem uma explicação plausível, no entanto uma hipótese explicativa para tais dificuldades pode ser advinda do próprio conteúdo, focado exclusivamente em informações menos difundidas.
Figura 3: Percentual de respostas corretas dos pré e pós testes
Contudo, mesmo que o presente estudo não tenha alcançado os resultados esperados, torna-se evidente, frente às limitações de recursos nas escolas do campo, que o uso de materiais didáticos tem sido uma importante ferramenta no auxílio do ensino-aprendizagem, pois permitem a visualização do conteúdo tanto na teoria como na prática. Outra questão relevante é que o jogo didático, como ferramenta pedagógica, permite ao aluno trazer seus conhecimentos prévios, vindos de suas experiências cotidianas, e os associar com o conhecimento científico desenvolvido no ambiente escolar.
Considerações finais
De acordo com os resultados obtidos a partir do questionário feito aos professores, constatamos que mesmo com as limitações existentes na escola, os professores ressaltam a importância dos materiais didáticos para a compreensão do tema trabalhado em aula.
Em relação aos dados coletados tanto no pré-teste como no pós-teste, entendemos que o desempenho não foi tão bom quanto o esperado. No entanto, notamos que ocorreu uma sensível melhora em alguns aspectos e uma maior aproximação do conteúdo com a realidade do estudante, o que mostra a importância do uso de materiais didáticos.
Quanto a proposição e a validação do jogo, a sua aplicação foi positiva, pois todos os alunos da classe participaram da atividade com entusiasmo e descontração. Por meio de uma competição sadia, buscaram sanar suas dificuldades e dúvidas.
Dessa forma, o tema aqui explorado constitui um universo de interações e uma forma de desenvolver com criatividade o exercício da docência para ambientes educacionais que dispõem de poucos recursos.
Referências
ABREU, N. S.; MAIA, J. L. O ensino de Química usando tema Baía de Guanabara: uma estratégia para aprendizagem significativa. Revista Química Nova na Escola, v. 38, n° 3, p. 261-268, 2016.
BRITTO, N. S.; SILVA, T. G. R. Educação do Campo: formação em Ciências da Natureza e o estudo da realidade. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 40, n° 3, p. 763-784, 2015.
COTONHOTO, L. A. et al. A importância do jogo e da brincadeira na prática pedagógica. Revista Construção Psicopedagógica, v. 27, n° 28, p. 37-47, 2019.
EICHLER, M. L.; DEL PINO, J. C. A produção de material didático como estratégia de formação permanente de professores de Ciências. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, v. 9, n° 3, p. 633-656, 2010.
FORTUNA, T. R. Jogo em aula. Revista do Professor, v. 19, n° 75, p. 15-19, 2003.
GONZAGA, G. R. et al. Jogos didáticos para o ensino de Ciências. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 17, p. 1-11, 2017.
LEGEY, A. P. et al. Desenvolvimento de jogos educativos como ferramenta didática: um olhar voltado à formação de futuros docentes de Ciências. Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v. 5, n° 3, p. 49-82, 2012.
LIMA, K. E. C.; VASCONCELOS, S. D. Análise da metodologia de ensino de Ciências nas escolas da rede municipal de Recife. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, v. 14, n° 52, p. 397-412, 2006.
MELO, A. C. A.; ÁVILA, T. M.; SANTOS, D. M. C. Utilização de jogos didáticos no ensino de ciências: um relato de caso. Ciência Atual, v. 9, n° 1, p. 02-14, 2017.
MUENCHEN, C.; SÁUL, T. S. A interdisciplinaridade nas licenciaturas em Educação do Campo nas Ciências da Natureza: possibilidades e desafios. Ensino Em Re-Vista, v. 27, n° 1, p. 203-227, 2020.
RIBEIRO, L. F.; BUENO, B. A Educação do Campo e a interdisciplinaridade: desafios e possibilidades. Revista Monografias Ambientais, v. 14, p. 121-130, 2015.
ROCHA, D. F.; RODRIGUES, M. S. Jogo didático como facilitador para o ensino de Biologia no Ensino Médio. Revista Cippus, Canoas, v. 6, n° 2, p. 1-8, 2018.
SANTOS, A. B.; GUIMARÃES, C. R. P. A utilização de jogos como recurso didático no ensino de Zoologia. Revista Electrónica de Investigación en Educación en Ciencias, v. 5, n° 2, p. 52-57, 2010.
SANTOS, O. K. C.; BELMINO, J. F. B. Recursos didáticos: uma melhoria na qualidade da aprendizagem. São Paulo: USP, 2013.
SÁTYRO, N.; SOARES, S. A infraestrutura das escolas brasileiras de ensino fundamental: um estudo com base nos censos escolares de 1997 a 2005. Texto para discussão 1267. Brasília: IPEA, 2007.
SEIXAS, R. H. M.; CALABRÓ, L.; SOUSA, D. O. A formação de professores e os desafios de ensinar Ciências. Revista Thema, v. 14, n° 1, 289-303, 2017.
SIQUEIRA, I. J.; ANTUNES, A. M. Jogo de trilha “Lixo Urbano”: Educação Ambiental para sensibilização da comunidade escolar. Ensino, Saúde e Ambiente, v. 6, n° 3, 2013.
SIQUEIRA, L. G.; FRANCO, M. A. M.; MOREIRA, L. M. Trilha da vida em Salinas: uma ferramenta lúdica no ensino de Ciências e na construção de conceitos científicos ligados à produção agrícola local. Experiências em Ensino de Ciências, v. 11, n° 1, p. 88-100, 2016.
TORRES, B. B. et al. Um jogo didático para o ensino de Microbiologia. Experiências em Ensino de Ciências, v. 15, n° 1, p. 1-23, 2020.
VIVEIRO, A. A.; DINIZ, R. E. S. Atividades de campo no ensino das Ciências e na Educação Ambiental: refletindo sobre as potencialidades dessa estratégia na prática escolar. Ciência em Tela, Rio de Janeiro, v. 2, n° 1, p. 1-12, 2009.
ZENTI, L. Aulas que seus alunos vão lembrar por muito tempo: motivação é a chave para ensinar a importância do estudo na vida de cada um de nós. Nova Escola, v. 134, ago. 2000.
Agradecimentos
Os autores agradecem aos professores e aos estudantes do Colégio Estadual do Campo Ireno Alves dos Santos que participaram das avaliações.
Publicado em 25 de abril de 2023
Como citar este artigo (ABNT)
MULLER, Fernanda de Souza; MONKOLSKI, Alexandre; MONKOLSKI, Jakeline Galvão de França; MORAIS, Vitor de; GARCIA, Elisangela Gomes Ferreira. Uso de jogo didático no ensino de Ciências em uma escola do campo: uma abordagem em sala de aula. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 15, 25 de abril de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/15/uso-de-jogo-didatico-no-ensino-de-ciencias-em-uma-escola-do-campo-uma-abordagem-em-sala-de-aula
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.