Utilização de jogo didático no processo de ensino-aprendizagem em ciências: vivência no 6º ano do Ensino Fundamental
Waldemar Borges de Oliveira Júnior
Mestre em Docência em Ciências e Matemáticas (UFPA), doutor em Educação e Ciências e Matemáticas (UFPA), professor da Unifesspa
Jaciane do Socorro Rodrigues
Licenciada em Ciências Naturais (UFPA), professora de Ciências na Prefeitura Municipal de Cametá/PA
Se fizermos uma análise, logo nos daremos conta de que o mundo se encontra em constante transformação e isso nos traz uma série de informações e conhecimentos necessários para nossa inserção na sociedade. A disciplina de Ciências foi inserida nos currículos escolares graças a essas mudanças, sejam elas sociais, culturais ou econômicas.
Na década de 1960, começa-se a notar uma certa importância nas disciplinas científicas, fato ocorrido devido à Guerra Fria e sua corrida tecnológica espacial, ocasionando inúmeras mudanças locais e mundiais, bem como gerando uma série de projetos de ensino que influenciaram o ensino de Ciências nos nossos dias. Embora o Brasil não tenha participado dessa guerra, sentiu os impactos do fato. No ano de 1961, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 4.061/61), a disciplina de Ciências passou a ser obrigatória nas escolas. Inicialmente, nas últimas séries do Ensino Fundamental e, posteriormente, em todas as oito séries que correspondem ao Primeiro Grau.
De acordo com Vaccareza (1999), no final dos anos de 1970, o pensamento a respeito da produção científica, em geral, era pautado em um discurso teórico-ideológico, originado a partir de uma práxis científica idealizada politicamente por seus pensadores. Desse modo, o pensamento apresentava pouca reflexão teórica e seus conceitos se davam apenas pelas experiências pessoais.
Depois de muitos anos, o Ensino de Ciências, infelizmente, ainda é trabalhado dentro das salas de aulas não levando em consideração todo esse progresso ocorrido durante o período. Muitos sequer sabem de todo o processo que aconteceu na área das Ciências até os dias atuais para que estivesse presente nos bancos escolares. Notam-se, ainda, resquícios de um ensino tecnicista, no qual se prioriza a tecnologia, a indústria e o capital, não o aluno. Este modelo de ensino não colabora para o processo de compreensão de conceitos dentro da área da Ciência, pois a escola deve formar alunos críticos e reflexivos.
Essa proposta de ensino foi usada durante o regime militar em nosso país, uma vez que se tornava necessário formar mão de obra para o mercado de trabalho, por meio de estímulos, contribuições negativas e positivas para se obter a resposta desejada, adaptando a conduta do sujeito, de forma a controlá-lo. Era ensinado apenas o necessário para que os indivíduos pudessem atuar de maneira prática em seus trabalhos. Este modelo de ensino ainda é visto em muitos cursos, com forte utilização de manuais didáticos, permanecendo o seu caráter instrumental e técnico.
O Ensino de Ciências, em geral, é bastante complexo e, muitas vezes, acaba tornando difícil a sua compreensão. Nessa perspectiva, torna-se necessário que o professor se utilize de outros métodos para auxiliar e facilitar essa compreensão. Nesse sentido, alguns pesquisadores da área do Ensino de Ciências, como Nardi et al.(2004), propõem a necessidade de uma reflexão que nos faça pensar em diferentes alternativas para as aulas de Ciências, levando em consideração, também, a faixa etária dos alunos e o assunto a ser ministrado em sala de aula.
Acredita-se que as incorporações de novas práticas de ensino sejam de grande importância para a superação dos obstáculos impostos dentro da sala de aula. A utilização de jogos didáticos no Ensino de Ciências vem sendo uma estratégia bastante diversificada e com grande contribuição para uma melhor assimilação dos conteúdos, pois os jogos, por terem um caráter lúdico, diferente e significativo, influenciam no desenvolvimento da inteligência e contribuem na motivação dos alunos a participarem, de forma espontânea, das atividades desenvolvidas, tornando-se assim uma ferramenta indispensável para o processo de ensino-aprendizagem.
O jogo didático se torna um instrumento pedagógico nas mãos do professor, uma vez que lançando mão dele pode desenvolver aulas mais interessantes, com diversas técnicas auxiliando em sua metodologia, sanando algumas lacunas deixadas pelas aulas teóricas e se tornando uma forma dinâmica de aprender.
Essa prática e reflexão sobre as ferramentas lúdicas no Ensino de Ciências vêm sendo discutidas e ganhando espaço no contexto da Educação Básica. Maurício (2014) fala que por meio das atividades lúdicas, tais como o jogo didático, por exemplo, os conteúdos acabam tornando-se mais atrativos para os alunos e a aprendizagem é bastante satisfatória, desenvolvendo tanto a parte motora quanto as habilidades intelectuais da pessoa, bem como a imaginação e a criatividade. É necessário, entretanto, que tal prática esteja relacionada ao conteúdo proposto e não a um mero passatempo, visando sempre o ensino de qualidade. O professor pode estimular as habilidades dos alunos com a utilização deste recurso, proporcionando, assim, diversos benefícios em sua prática pedagógica e facilitando a sua assimilação.
De acordo com o exposto, o objetivo geral do trabalho é analisar a importância do jogo didático na construção dos conhecimentos científicos no Ensino de Ciências, no 6º ano do Ensino Fundamental, em uma instituição do município de Cametá/PA.
Referencial teórico
Para a melhor fundamentação desta pesquisa, nós a dividimos em dois tópicos. No primeiro, faz-se uma abordagem do Ensino de Ciências no Ensino Fundamental, buscando verificar como essa disciplina está sendo difundida em sala de aula, suas dificuldades e alguns caminhos percorridos por ela, até os dias atuais. Posteriormente, abordamos o jogo didático como instrumento de aprendizagem na disciplina de Ciências. Neste tópico, algumas temáticas importantes para que esse processo aconteça. Primeiro, falamos do lúdico na educação e, em seguida, de como ele contribui, em muitos aspectos, na aprendizagem do aluno.
O ensino de Ciências no Ensino Fundamental
A disciplina de Ciências Naturais traz consigo um mundo novo, cheio de descobertas e questionamentos. Porém, uma disciplina que é tão interessante para alguns pode não ser tão atrativa para outros, como observa-se em diversas salas de aulas. Muitos alunos encontram dificuldades em construir conhecimentos na sala de aula e associá-los à realidade. Não conseguem distinguir o conhecimento científico em seu cotidiano (Carvalho et al., 1998).
Carvalho et al. (1998) afirmam que o ensino só pode ser realizado e receber a nomenclatura de ensino se ele for eficaz com o objetivo de fazer realmente o aluno aprender. O trabalho deve direcionar-se para a aprendizagem do aluno. Nesse sentido, há um desafio muito grande para o professor tornar o ensino de Ciências prazeroso e criativo, pois ensinar Ciências não é só ensinar conteúdo, mas ensinar a pensar, a refletir e a questionar. A Ciência é fruto do questionamento e, a partir dele, iniciamos o processo científico.
Autores como Fumagalli (1998) ressaltam que a educação científica, dentro das escolas, possui papel importante, pois, a partir do momento que o conhecimento científico é adquirido, as pessoas passam a agir de forma mais consciente, sendo mais responsáveis por si e respeitando o que há em sua volta.
Muitas discussões já foram feitas sobre o ensino de Ciências no Ensino Fundamental e, também, em outros níveis de escolaridade. A importância de tal disciplina é discutida no mundo todo e reconhecida por diversos pesquisadores. Mas, apesar de sua importância, do reconhecimento mundial e da incorporação nos currículos escolares, ainda se notam muitas crianças saindo das escolas com conhecimentos científicos insuficientes para poder compreender o mundo em que vivem. Entende-se que o conhecimento científico visa esclarecer e verificar fatos por meio de investigações. Destes questionamentos, tenta-se explicar os resultados. O professor de uma forma clara mostrará a importância do saber científico e poderá instigar a curiosidade do aluno tornando a aula mais atrativa e interessante. Blaszko, Ujiie e Carletto (2014, p. 152) descrevem que
o ensino de Ciências aborda conteúdos articulados com a realidade, com o meio ambiente, com o desenvolvimento do ser humano, com as transformações tecnológicas, dentre outros temas. A reflexão e a ação sobre o meio natural, físico e social possibilitam que a criança desde a primeira infância possa observar, manusear, explorar, investigar e construir conhecimentos científicos.
A aprendizagem do ensino de Ciências é muito importante para os alunos, pois contempla diversas áreas, bem como nossas próprias necessidades relacionadas à saúde, ao meio ambiente, a fatores que estão ligados à nossa própria sobrevivência. Para Selbach (2010, p. 24), “aprender Ciências ou conceitos de qualquer outra disciplina é colher informações e, dependendo da natureza destas, o aprender pode também se transformar”. O modo como o ensino de Ciências vem sendo trabalhado dentro de nossas escolas ainda é muito superficial, não abrangendo todas as contemplações que essa disciplina nos permite, pois, a mesma deve ser entendida como uma disciplina que traz consigo não só conceitos científicos, mas, uma bagagem cultural e social.
Segundo Fracalanza, Amaral e Gouveia (1986), o ensino de Ciências não pode ser pautado na memorização, como nota-se na maioria das escolas. Torna-se necessário mudarmos essa realidade e ministrar aulas pautadas em um ensino reflexivo, que relacione a teoria à prática, começando já nos primeiros anos do Ensino Fundamental, pois “a ação da criança, a sua participação ativa durante o processo de aquisição do conhecimento, a partir de desafiadoras atividades de aprendizagem” (Frizzo; Marin, 1989, p. 14).
O ensino de Ciências, além de trazer consigo conhecimentos específicos e habilidades características dessa disciplina, também traz a capacidade de expandir o pensamento lógico do aluno, instigando-o a momentos de investigação, desenvolvendo assim competências e habilidades dessa disciplina, instrumentos essenciais na vida de um educando e do seu processo educativo. “Para o exercício pleno da cidadania, um mínimo de formação básica em ciências deve ser desenvolvido, de modo a fornecer instrumentos que possibilitem uma melhor compreensão da sociedade em que vivemos” (Delizoicov; Angotti, 1990, p. 56).
Assim, a disciplina de Ciências Naturais é essencial não só para a formação escolar, mas também para a cultura, uma vez que, o conhecimento científico está inserido no contexto cultural e social. Pretto (1995) ressalta que o conhecimento científico vem como uma forma de interpretação dos fenômenos naturais que estão à nossa volta e que, por muitas vezes, passam despercebidos. A Ciência faz parte integrante da cultura na qual o indivíduo está inserido, podendo ser percebida nas formas de organização da sociedade.
A importância do jogo didático no ensino de Ciências
Kishimoto (2004, p. 15) afirma que “não se conhece a origem dos jogos [...] sabe-se, apenas, que são provenientes de práticas abandonadas por adultos, de fragmentos de romances, poesias, mitos e rituais religiosos”. Intermediados por essa fala pode-se entender que o surgimento da atividade lúdica se confunde com a história da humanidade. Para muitos, os jogos podem ser considerados uma prática fútil cuja finalidade é apenas a distração, o chamado “passatempo”, entretanto esse conceito é totalmente errôneo, pois pela prática do jogo didático, inserido no contexto escolar, pode-se estabelecer uma efetiva aprendizagem em sala de aula e fora dela também.
Carvalho (1992) afirma que o ensino, quando absorvido de maneira lúdica por meio de um jogo didático, acaba se tornando bastante significativo para o aluno, fazendo com que o seu desenvolvimento se modifique e se transforme. Ressalta-se que o jogo deve ser uma atividade que possibilite ao aluno a escolha de querer ou não participar, pois quando não há decisão voluntária de participar, perde-se o seu caráter lúdico.
Sendo assim, conteúdos lúdicos são importantes na aprendizagem, porque incutir nos alunos a noção de que aprender pode ser algo divertido. As iniciativas lúdicas nas escolas potencializam a criatividade, contribuindo para o desenvolvimento intelectual dos alunos. Friedmann (1996) relata que a oportunidade de trazer o jogo para dentro da sala de aula é uma possibilidade de se mostrar à educação, como uma prática criadora e pluralista pode ser difundida de várias maneiras e métodos, criando um ambiente favorável à aprendizagem.
Fora do ambiente escolar é muito fácil reconhecer o quanto os jogos motivam as pessoas de qualquer idade, seja por celular, computador, vídeo games ou outros. Coelho et al. (2010) expõem que os jogos aparecem como uma opção viável para o ato de aprender, podendo ser desenvolvidos até mesmo pelos próprios alunos com a mediação do professor. Braga et al. (2007) ressaltam que a prática do jogo é muito enriquecedora, pois revela resultados significativos na aprendizagem.
Materiais e métodos
O presente trabalho foi realizado no 6º ano da E. M. E. F. General Osório, no município de Cametá/PA. A presente pesquisa é de cunho qualitativo, que, de acordo com Cervo e Bervian (2002), se dá de várias maneiras, registrando os fatos, analisando-os e os relacionando a fenômenos sem manipulação.
Utilizou-se, também, a pesquisa bibliográfica para auxiliar na elaboração deste trabalho e a aplicação de uma aula teórica sobre o “Sistema Solar”. Posteriormente, realizou-se a aplicação do jogo didático para perceber como se ocorre a aprendizagem do aluno com a metodologia utilizada e uma entrevista com a professora da turma para colher dados importantes para a pesquisa, pois a visão dela se torna imprescindível para a discussão.
Empregaram-se, ainda, questionários para os alunos com perguntas a respeito das duas práticas aplicadas. A partir das respostas, verificou-se a influência e as contribuições do jogo didático, assim como a sua facilidade ou dificuldade de acesso para os alunos, no processo de ensino-aprendizagem. Segundo Gil (1999), o questionário é definido como uma técnica de cunho investigativo composto por um número de perguntas apresentadas ao público que se deseja atingir, com o objetivo de se obter respostas, visões, opiniões e, assim, possibilitar a discussão dos dados obtidos.
Por essa razão, considera-se o questionário um instrumento importante, pois por seu meio obtém-se a opinião do aluno e a visão que ele tem sobre a temática empregada. A metodologia adotada visa analisar a importância que a utilização do jogo didático traz para o ensino de Ciências.
Participantes da pesquisa
Os participantes da pesquisa foram 25 alunos entre 11 e 16 anos do 6º ano do Ensino Fundamental e a professora de Ciências da instituição citada.
Instrumentos e técnicas da pesquisa
Para a obtenção das informações das análises descritas neste trabalho, foram aplicados dois questionários aos alunos da turma, com perguntas abertas e fechadas (um antes e outro depois da aplicação do jogo didático). Também foi realizada uma entrevista com a professora da turma. Os questionários têm o intuito de fazer uma análise das informações sobre a problemática em pauta.
Etapas da pesquisa de campo
Aula teórica e questionário com os alunos do 6º ano antes da aplicação do jogo didático.
A aula teórica foi elaborada a partir de um plano de aula sobre o tema sugerido pela professora de sala de aula: “Sistema Solar”. Sobre a aplicação do questionário, o tema foi desenvolvido com os alunos após a aula teórica, com o objetivo de obter os dados referentes à percepção dos alunos a respeito das aulas teóricas e práticas pedagógicas da professora de Ciências.
O jogo didático
O conteúdo do Sistema Solar, por meio do Jogo do sistema solar – Supertrunfo, que foi elaborado por alunos do curso de Astronomia da USP, baseado na exploração dos conceitos do Sistema Solar, pode ser encontrado na internet. Foi assim escolhido a partir dos jogos didáticos, escolhido para se trabalhar com os alunos do 6º ano. O objetivo desse jogo é explorar os conceitos do sistema solar, conhecer os planetas, cometas e instigar o aluno a querer saber mais. Por meio dessa metodologia, eles irão poder compreender os nomes de cada planeta, sua velocidade, temperatura e muitas outras características, que muitas vezes só a aula teórica não é suficiente para a apreensão desse campo de aprendizagem.
Questionário com os alunos do 6º ano depois da aplicação do jogo didático e entrevista com a professora de Ciências
A aplicação do segundo questionário foi realizada após a prática com o jogo didático. Este momento tinha como objetivo central, obter informações a respeito da visão dos alunos perante a inserção e a utilização do jogo na aula. Por final, foi realizada a entrevista com a professora de Ciências, objetivando analisar sua concepção no que tange a temática abordada na pesquisa em tela.
Resultados e discussão
A concepção da docente sobre a utilização do jogo didático na sala de aula
Analisando os dados obtidos após a entrevista com a professora de Ciências, observou-se que ela é formada em Ciências Naturais e técnica em Enfermagem, o que lhe possibilita maior facilidade em repassar conteúdos mais complexos. Quando questionada sobre a utilização de jogos didáticos nas suas aulas, obteve-se a seguinte resposta: “Utilizo, mas não com muita frequência”. Nota-se, pela fala da professora, que não está de acordo com Campos et al. (2003), pois não considera que o jogo tenha grande influência na vida do aluno e no seu processo de aprendizagem, contribuindo na sua formação.
Ao ser perguntada sobre a importância dos jogos para a aprendizagem do aluno, a docente respondeu: “Sim. Considero de extrema importância para o processo de aprendizagem dos alunos, porém muitas vezes fica difícil trabalhar essa metodologia, pois a escola e os pais não apoiam e isso acaba gerando algumas críticas, o que nos desestimula”. Sabe-se que para todo e qualquer processo de ensino-aprendizagem, o apoio e o incentivo da família são essenciais para que haja êxito nessa caminhada. Na resposta da professora, percebe-se a falta de apoio tanto da escola, que não oferece os subsídios necessários, quanto da família, que critica certas práticas feitas pelo professor. Rego (1996, p. 97) afirma que a família, entendida como o primeiro contexto de socialização, exerce, indubitavelmente, grande influência sobre a criança e o adolescente. A atitude dos pais e de suas práticas de criação e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e, consequentemente, influenciam no comportamento da criança na escola.
A concepção discente sobre a utilização do jogo didático em sala de aula
Após a aplicação do questionário aos estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental, foi realizada análise dos dados obtidos, verificando qual a visão dos alunos a respeito da temática abordada.
Ao perguntar aos alunos se a professora realizava atividades práticas com eles, cerca de 70% dos alunos responderam que a professora não realiza atividades práticas com eles. Esse resultado é bastante preocupante e se diferencia dos autores Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002), quando ressaltam que se faz necessária a incorporação de novas práticas de ensino, por parte dos professores, porque a disciplina de Ciências tem um caráter complexo. Desse modo, com as atividades práticas, se pode desenvolver o aprendizado de uma forma instigante e interessante para o aluno.
Quando indagados se a forma de ensino utilizada pelo seu professor facilitava a compreensão do conteúdo, 70% dos alunos disseram que a metodologia do professor não facilita a compreensão dos assuntos abordados na disciplina de Ciências. Esse resultado mostra que a prática utilizada pela professora não consegue facilitar o entendimento do aluno e, consequentemente, encontra mais dificuldades em sua prática. O professor reflexivo que parte do cotidiano do aluno e das condições do aluno, consegue incorporar à prática elementos que facilitam o aprendizado do aluno. Dessa maneira, percebe-se que a valorização do aluno, como um sujeito que possui conhecimentos advindos de suas interações sociais e culturais, constitui um melhor aprendizado.
Com a aplicação do questionário após o jogo didático, os discentes foram indagados se o jogo aplicado teria facilitado o entendimento do tema abordado na aula. Constatou-se, portanto, que 90% dos alunos destacam que a utilização do jogo didático facilitou a compreensão do assunto abordado na aula teórica. Esse resultado é significativo uma vez que as atividades lúdicas são essenciais para o aprendizado, assim como também Fortuna (2003) coloca que, por meio dos jogos, diversas habilidades dos alunos são desenvolvidas, a imaginação e a criatividade tomam conta, tornando esses momentos marcantes na vida do aluno, além de possibilitarem a espontaneidade em querer participar das atividades propostas, instigando-o a entender determinados conteúdos que estão sendo ensinados no jogo.
Quanto à importância dos jogos nas aulas de Ciências, 80% dos alunos consideraram ser importantes e 20% responderam que não. Pode-se perceber que a maioria dos alunos receberam bem a proposta, como observa-se no discurso de um aluno: “Sim, porque é mais prático para aprender e mais fácil”. Friedmann (1996) relata que a utilização do jogo didático é uma prática prazerosa, que propicia momentos de interação e produção de conhecimento. Por meio do instrumento, os alunos desenvolvem aspectos cognitivos, motores, afetivos e sociais e que se constituem como prática natural do ser humano. Consubstanciando essa mesma ideia, Kishimoto (2008) enfatiza que o jogo proporciona a experiência do sucesso, pois é um processo que possibilita a descoberta e a interação com o meio e com o mundo. O modo como ela joga demonstra sua maneira de pensar, de sentir e, nesse momento, diversas habilidades estão sendo desenvolvidas.
Considerações finais
Levando em consideração as respostas obtidas dos alunos, por meio da aplicação dos questionários, pode-se concluir que os jogos didáticos são de suma importância para o processo de ensino-aprendizagem e precisa, cada vez mais, ser difundido dentro de nossas escolas. Percebe-se que o jogo didático, como uma ferramenta extremamente motivadora, traz um caráter lúdico que exerce forte influência na aprendizagem do aluno.
Nota-se também que a metodologia da professora de Ciências é limitada e isso acaba deixando um pouco a desejar, no sentido de que os conteúdos não são assimilados pelos alunos, justificado pelo fato de que a escola não oferece o auxílio necessário para a sua prática. Porém, sabemos que existem muitas práticas que podem ser desenvolvidas em sala que não precisam de tantos instrumentos e que podem ser feitas com coisas do cotidiano do aluno, unicamente por iniciativa do professor, visando uma melhor participação e um maior entendimento do aluno.
É necessário também formar professores mais reflexivos que estejam aptos a incorporar novas práticas de ensino. O objetivo dessas práticas consiste em superar as estratégias tradicionais. Sabemos o quanto é difícil para os professores, com uma formação tradicional, adentrarem nesse mundo, ou seja, é preciso mudar a nossa visão como professores, a fim de enxergarmos as práticas lúdicas como instrumentos de aprendizagem e não como meros passatempos. Constata-se que ainda há muita falta de informação a respeito dessa temática, tornando-se imprescindível a mudança desse cenário.
Isso posto, percebemos quão importante é estarmos abertos para mudanças metodológicas nos currículos escolares. Só assim, poderemos abrir novas possibilidades de intervir em sala de aula de forma inovadora, tornando o aluno como parte na construção da sua aprendizagem.
Ademais, constatou-se, por meio da pesquisa, que o jogo didático é uma prática pedagógica eficaz, pois os alunos passam a assimilar e a entender o conteúdo de maneira mais ativa, promovendo também a sua interação. Dessa maneira, notam-se as diversas contribuições do jogo para com o ensino das Ciências, assim como para a educação em geral, com atividades diferenciadas que chamam a atenção do aluno, possibilitando a construção do conhecimento.
Conclui-se, com os resultados obtidos, que o jogo didático possibilita ao aluno compreender o assunto abordado, fazendo com que a aula seja mais dinâmica e produtiva.
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Publicado em 17 de janeiro de 2023
Como citar este artigo (ABNT)
OLIVEIRA JÚNIOR, Waldemar Borges de; RODRIGUES, Jaciane do Socorro. Utilização de jogo didático no processo de ensino-aprendizagem em ciências: vivência no 6º ano do ensino fundamental. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 2, 17 de janeiro de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/2/utilizacao-de-jogo-didatico-no-processo-de-ensino-aprendizagem-em-ciencias-vivencia-no-6-ano-do-ensino-fundamental
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