Relação entre saúde física e emoções positivas na aprendizagem: aspectos gerais e perspectivas para o cenário educacional

Alessandro Pereira dos Santos

Especialista em Treinamento de Força e Fisiologia do Exercício, Professor de Educação Física

Fernanda Dias Rangel

Mestra em Ensino das Ciências, professora de Biologia e orientadora educacional

A formação humana depende de vários aspectos. Dentre eles, está o convívio no ambiente educacional, que, cada vez mais, torna-se um desafio para os profissionais educadores, visto que são muitos os obstáculos encontrados no cotidiano escolar. Dentre os principais destacam-se: a capacidade de intervenção do educador perante os problemas psicológicos dos estudantes, a prática da socialização em um ambiente cada vez mais rico em diversidade e questões básicas ligadas à saúde e ao bem-estar. Juntos, esses fatores afetam os processos cognitivos ligados à aprendizagem.

Diante dessa visão, cabe enfatizar o aspecto psicológico como tendência cada vez mais forte dentro de um cenário preocupante e assustador que estamos vivenciando no âmbito do ambiente escolar, como brigas, intolerâncias de todos os tipos e a falta de políticas públicas voltadas para o acompanhamento e enfrentamento dessas situações. Hernandez (2003) apresenta diferentes manifestações sobre a origem das ideias que fundamentam essa nova abordagem psicológica. A relação entre professor e aluno está mudando de forma acelerada e desafiadora, causando impactos na construção do ensino.

Com a introdução de novas tecnologias, os momentos de diálogo, que antes aconteciam de forma descontraída e natural, estão se tornando cada vez mais raros. A forma de pensar e agir dos estudantes compete com a mídia e tudo que vem junto com ela, ocasionando impactos no comportamento dentro da escola. As relações familiares estão comprometidas devido a situações diversas, ocasionando uma geração de conflitos e valores que resultam em momentos de tensão e estresse, afetando o bem-estar psicológico e físico do indivíduo.

A partir de então, torna-se evidente a contribuição da Psicologia como base para o enfrentamento desses desafios. Seligman (2002) afirma que é chegado o momento para a Psicologia Positiva. O fortalecimento e a construção de qualidades positivas podem colaborar para uma melhoria no campo pedagógico e de saúde física do estudante, promovendo o processo de aprendizagem através do fortalecimento pessoal, aumentando assim sua capacidade para lidar com frustrações e momentos difíceis da vida.

Hábitos de vida mais saudáveis e menos sedentários, como alimentação balanceada, prática de exercícios e menos exposição da vida social, também contribuem para uma mudança de comportamento. Esses cuidados, quando tomados desde a adolescência, diminuem as chances de ansiedade e irritabilidade, aumentando a probabilidade de se ter um adulto mais comprometido e consciente de seu papel na sociedade e promovendo uma interação entre a saúde física e emocional.

Dessa forma, podemos considerar que existe forte relação entre o ser e o fazer, que dá sentido ao que somos e à nossa visão de mundo. O processo de aprendizagem depende também dos fatos e comportamentos que ocorrem ao longo da vida. Alunos e professores devem dialogar ativamente sobre essas transformações, tendo em vista as demandas da atualidade. Cabe também às famílias o papel de construir parcerias entre escola e comunidade para que a autonomia e a reflexão façam parte da mudança da sociedade.

A aprendizagem é um processo que depende das condições de saúde física do indivíduo, além de ter relação direta com o estado emocional. Essa relação começa na fase pré-escolar e vai até a universidade. Aspectos como nível de habilidade, autoestima, personalidade e fatores psicológicos estão relacionados quando se fala em bem-estar físico e mental. Assim, a capacidade de valorizar as experiências positivas da vida depende do propósito e do sentido que é dado a ela no contexto educacional e no desenvolvimento pessoal.

Podemos considerar que a relação entre os fatores emoção, aprendizagem e qualidade de vida, quando bem estimulados e desenvolvidos, traz benefícios a longo prazo para o estudante. Essa perspectiva faz-se necessária para a prevenção de inúmeras patologias, além da interface entre a pedagogia e a psicologia em nível educacional. O desempenho escolar e acadêmico pode, na medida do possível, ter resultados positivos, tendo esses pontos mencionados anteriormente como primordiais nessa e nas próximas gerações.

Saúde física

Podemos ressaltar a importância da prática de exercícios físicos regulares para melhoria da qualidade de vida, aptidão física e aprendizagem da infância até a fase adulta. Nos últimos anos foram reconhecidos que os benefícios do exercício físico auxiliam para um melhor estado de saúde física e emocional, diminuindo o índice de doenças que estão diretamente correlacionadas à aprendizagem. A prática de exercícios físicos nas aulas de Educação Física Escolar, de maneira recreativa ou até mesmo em esportes de alto rendimento, pode contribuir de forma significativa para o desenvolvimento motor e cognitivo, assim colaborando para a melhoria das condições da saúde funcional, cognitiva e orgânicas (Guedes; Guedes, 1995).

Alguns indivíduos podem apresentar dificuldade na aprendizagem devido à falta de exercício físico, como menor perspicácia na memorização, discernimento, alterações psicológicas e educacionais. Os problemas emocionais, as adversidades familiares e o ambiente social são fatores que dificultam na participação nas aulas. A forma com o aluno enxerga a instituição de ensino, bem como a afeição, é de suma importância para que ele mantenha sua frequência, sendo mais assíduo nas aulas. Essa atitude é um ponto importante para a performance na sua vida escolar, pois está correlacionada à importância de ações e sentimentos. A saúde física e mental é determinante para um bom desempenho afetivo, educacional e comportamental (Enumo; Ferrão; Ribeiro, 2006).

Indivíduos com má qualidade de sono também apresentam menor produtividade escolar e no trabalho. O exercício físico favorece a liberação do hormônio melatonina, promovendo melhoria no período da noite, além de colaborar para a diminuição dos sintomas de doenças como ansiedade e depressão e alterações no humor, quando realizado de forma continua, com duração e intensidade adequadas, melhora nas funções cognitivas, agilidade, força muscular, flexibilidade, benefícios cardiorrespiratórios, cardiovasculares, aumento da densidade mineral óssea e memória, dentre outros. Indo além dos benefícios estéticos, nosso cérebro também é beneficiado, pois o exercício físico promove alterações na integridade cerebrovascular, aumentando o transporte de oxigênio para o cérebro (Mello et al., 2005).

Uma alimentação inadequada pode causar impactos negativos na saúde dos indivíduos, como desnutrição, doenças cardíacas, obesidade e diabetes, dentre outros, interferindo na qualidade de vida e no seu processo de aprendizagem. Uma boa alimentação é quesito básico para um desenvolvimento motor e cognitivo significativo. Atualmente, vemos a falta e a carência alimentar da população e a desigualdade social.

A dificuldade em conseguir determinados alimentos faz com que muitas pessoas consumam alimentos com muito sódio e gordura, com baixíssimo valor nutricional, contribuindo para um aumento de peso excessivo. Por fim, pode-se realizar ações de conscientização para toda a população pelos veículos midiáticos, ações de empoderamento e cartilhas educacionais (Ferreira; Magalhães, 2007).

Dessa forma, a refeição escolar contribui de forma muito significativa para a criança, já que uma boa refeição interfere diretamente no seu ânimo na escola, na sociedade e em suas relações psicossociais. As criança e os adolescentes que se alimentam de forma adequada e realizam exercícios físicos regulares, quando entram na fase de maturação, apresentam melhora relevante no desenvolvimento físico, motor e no processo de aprendizagem, gerando maior interação com os colegas de classe e professores, participando mais das aulas e atividades em grupo. As vitaminas, macro e micronutrientes absorvidos nas refeições são estritamente necessários para um bom desenvolvimento escolar (Ribeiro; Silva, 2013).

Emoções positivas

Durante algum tempo, a Psicologia foi vista como uma área ligada apenas ao tratamento de patologias. Essa visão foi aos poucos tomando nova tendência, graças a estudos realizados por autores como Abrahan Maslow, Erich Fromm e Carl Rogers. Essa nova visão proporcionou que outros estudiosos da área desenvolvessem estudos sobre motivação e autorrealização, tendo como objetivo a busca por um modo de vida mais saudável e produtivo, por intermédio de um estímulo dessas emoções positivas.

Esses estudos sobre a Psicologia Positiva ganharam força a partir de um movimento liderado por Martin Seligman, objetivando dar ênfase ao aspecto positivo dos indivíduos, como parte de um processo para a melhoria da saúde emocional. As virtudes passariam a ser instrumentos de incentivo para que as emoções despertassem de forma a contribuir para um bem-estar físico e mental. Para Keyes e Haidt (2003), a Psicologia Positiva define-se como “uma condição que permite o desenvolvimento pleno, saudável e positivo dos aspectos psicológicos, biológicos e sociais dos seres humanos”.

Nessa perspectiva, podemos entender que o desenvolvimento das emoções positivas baseia-se em aspectos como forças e virtudes pessoais que, ao longo da vida, fortalecem-se de acordo com nosso convívio em sociedade. A saúde física está diretamente relacionada aos aspectos anteriormente mencionados. Em um cenário educacional, essa motivação e resgate das qualidades poderiam contribuir para uma forte diminuição dos quadros de ansiedade e depressão, quando alinhados às atividades físicas constantes.

Essa proposta, quando alinhada a hábitos de vida mais saudáveis, vem como uma alternativa viável, pois trabalha com prevenção de patologias, por meio do fortalecimento do convívio coletivo e das relações intrapessoais. Os benefícios para a escola são inúmeros, visto que cada uma apresenta contextos variados e realidades distintas. A utilização desses estudos pode ser relevante para promover a resiliência e a tolerância dentro do ambiente escolar, promovendo melhoria no processo de aprendizagem como um todo.

Perspectivas para o cenário educacional

No ambiente educacional, pode-se ressaltar a importância dos conteúdos ensinados nos temas transversais, como saúde, por exemplo, que se enquadra nessa temática e pode ser abordada em diferentes contextos, como construir bons hábitos alimentares e físicos. As estratégias utilizadas são ensinadas na Educação Básica e podem ser utilizadas por toda a vida, tendo em vista que se faz necessário para o desenvolvimento da aprendizagem desde a infância, contribuindo para formar adultos mais conscientes, pois atualmente vemos o aumento de doenças como obesidade, problemas cardíacos e transtornos alimentares psicológicos, como anorexia e bulimia (Santos et al., 2015).

A elaboração de novos projetos e a utilização dos veículos midiáticos, como as redes sociais, para idealização de ações de prevenção e controle de diferentes tipos de doenças são fundamentais. Esses programas serão grandes ferramentas nas instituições de ensino, onde tanto o educador quanto o educando irão aprender sobre diversas temáticas dentro desse contexto. A parceria com profissionais da Saúde também é de suma importância, pois estarão inserindo um olhar técnico-científico dentro dessa perspectiva. Assim, diferentes estratégias podem ser utilizadas de acordo com o nível sociocultural da população daquela região, pois a compreensão de cada cidadão interfere de forma significativa em como eles vivem e consomem (Couto et al., 2016).

Mediante essas perspectivas, não podemos esquecer que a merenda escolar é importante, porque muitos alunos têm somente as refeições consumidas dentro da escola, passando por privação de alimentos em suas casas. Assim, a nutrição escolar tem impacto direto na qualidade de vida dos alunos, contribuindo diretamente em aspectos físicos, psicológicos e cognitivos e no processo de aprendizagem, na interação e na participação nas aulas. É necessário que haja acompanhamento nutricional para que sejam realizadas as recomendações nutricionais. Novos métodos de utilização dos alimentos podem ser empregados para enriquecer a refeição dos alunos, como reaproveitamento dos alimentos, contribuindo para menor desperdício (Gomes; Teixeira, 2017).

Ações de empoderamento das famílias podem ser realizadas como estratégia de inclusão para realizar maior adesão à saúde dentro e fora do ambiente escolar, criando maior integração entre educação, saúde e assistência social, promovendo melhor qualidade de vida, fortalecendo o vínculo familiar, o âmbito social, cultural e econômico, por meio de palestras, campanhas informativas, debates e cursos de capacitação, favorecendo maior integração de todos e até mesmo podendo gerar mais empregos para a região. Tais ações promovem uma real compreensão sobre o assunto, envolvendo escola e família em uma mudança de hábitos e fortalecendo a aprendizagem. Os professores, nesse processo, são atores importantes, uma vez que possuem a missão de proporcionar uma visão alem da acadêmica para os educandos (Vieira et al., 2014).

Considerações finais

Considerando o que foi apresentado, podemos concluir que a aprendizagem está, de maneira geral, relacionada às questões físicas e emocionais. As questões físicas, como nutrição, bem-estar e saúde, dependem de ações realizadas em políticas públicas e projetos que viabilizem melhores condições de acesso da população a esses serviços básicos e que cada escola, bairro, comunidade ou município possa melhorar as condições de infraestrutura nessas áreas, por meio de investimento que leve em consideração as suas especificidades.

A questão emocional está cada vez mais evidenciada dentro do ambiente escolar, englobando múltiplos fatores; dentre os principais temos a situação familiar, as condições econômicas, sociais e culturais, além do excesso de consumo promovido pelas mídias sociais. Tais fatores, quando em desequilíbrio, trazem malefícios para os estudantes, que cada vez mais sofrem com crises de ansiedade, estresse emocional e depressão. O acompanhamento familiar na escola torna-se peça fundamental, assim como forte investimento em equipes multidisciplinares dentro dos espaços educacionais.

A importância da participação da família no que se refere ao processo de aprendizagem é fundamental. O diálogo e a observação dos aspectos comportamentais dos seus filhos no dia a dia em suas instituições de ensino são essenciais. Saber quem faz parte do círculo de amizades, participar das reuniões de pais e responsáveis, manter contato com os professores sobre a interação, desenvolvimento e comportamento são ações que fazem a diferença na forma de identificar o desempenho nas avaliações e nas suas atitudes. Por fim, é necessário que haja viabilização de boas políticas públicas e interação entre família, escola e sociedade.

Referências

COUTO, Analie Nunes et al. O ambiente escolar e as ações de promoção da saúde. Cinergis, v. 17, 2016.

SANTOS, Marcelli Evans Telles dos et al. Tema transversal Saúde no contexto escolar: análise da formação e da prática pedagógica docente nos anos iniciais da Educação Básica. Revista Ciências & Ideias, v. 7, nº 1, p. 85-101, 2015.

ENUMO, Sônia Regina Fiorim; FERRÃO, Erika da Silva; RIBEIRO, Mylena Pinto Lima. Crianças com dificuldade de aprendizagem e a escola: emoções e saúde em foco. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 23, p. 139-149, 2006.

FERREIRA, Vanessa A.; MAGALHÃES, Rosana. Nutrição e promoção da saúde: perspectivas atuais. Cadernos de Saúde Pública, v. 23, p. 1.674-1.681, 2007.

GOMES, Michelle Efigênia Moreno; TEIXEIRA, Catarina. Aproveitamento integral dos alimentos: qualidade nutricional e consciência ambiental no ambiente escolar. Ensino, Saúde e Ambiente, v. 10, nº 1, 2017.

GUEDES, Dartagnan Pinto; GUEDES, Joana Elisabete Ribeiro Pinto. Atividade física, aptidão física e saúde. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, v. 1, nº 1, p. 18-35, 1995.

HERNANDEZ, J. Psicologia Positiva e Psicologia Humanista: aproximações teóricas e conceituais. Revista de Psicologia da UnC, v. I, p. 24-30, 2003.

KEYES, C. L.; HAIDT, J. Flourishing: Positive psychology and the life well lived. Washington: American Psychological Association, 2003.

MELLO, Marco Túlio de et al. O exercício físico e os aspectos psicobiológicos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 11, p. 203-207, 2005.

RIBEIRO, Gisele Naiara Matos; SILVA, João Batista Lopes da. A alimentação no processo de aprendizagem. Rev. Eventos Pedagógicos, v. 4, nº 2, p. 77-85, 2013.

SELIGMAN, M. Positive psychology, positive prevention, and positive therapy. In: SNYDER, C. R.; LOPEZ, S. J. (ed.). The Oxford Handbook of Positive Psychology. New York: Oxford University Press, 2002. p. 3-9.

VIEIRA, Marlene A. et al. Saúde mental na escola. In: ESTANISLAU, G. M.; BRESSAN, R. A. (org.). Saúde mental na escola: o que os educadores devem saber. Porto Alegre: Artmed, 2014. p. 13-24.

Publicado em 13 de junho de 2023

Como citar este artigo (ABNT)

SANTOS, Alessandro Pereira dos; RANGEL, Fernanda Dias. Relação entre saúde física e emoções positivas na aprendizagem: aspectos gerais e perspectivas para o cenário educacional. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 22, 13 de junho de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/22/relacao-entre-saude-fisica-e-emocoes-positivas-na-aprendizagem-aspectos-gerais-e-perspectivas-para-o-cenario-educacional

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