Nas ondas da Matemática: o uso do podcast no ensino da Matemática Financeira para alunos do Proeja

Julia Sione Justino

Graduada em Engenharia Civil (UVA), licencianda em Matemática (IFPB-CG), pós-graduanda em Docência para a Educação Profissional e Tecnológica (IFPB-Cabedelo)

A tecnologia está presente no nosso dia a dia e normalmente utilizamos celulares para bate-papos, vídeos, lives, conteúdos diversos; por que não em estudos de Matemática?

Bottentuit Junior e Coutinho (2009, p. 2.114-2.115) já relataram a importância das tecnologias de informação e comunicação, apresentando as facilidades e possibilidades na realização de diversas atividades, entre elas o seu uso por professores no desenvolvimento de estratégias de ensino e aprendizagem.

Pensando nessa utilização, como introduzir determinado assunto aos alunos do Proeja, que já chegam cansados à aula? Todos possuem um celular e o utilizam durante o dia nos trajetos de casa para o trabalho, nas atividades domésticas etc. Então, por que não utilizar o áudio com esses assuntos para escutar previamente e na aula tirar dúvidas ou aprofundar o conteúdo?

A disciplina de Matemática Financeira é ofertada pelo Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio de Administração do IFPB - câmpus Campina Grande, na modalidade Proeja no horário noturno. São adultos buscando novas oportunidades, mudanças em suas situações e recuperando os estudos, o que não foi possível no período regular. Durante o dia, esses estudantes estão ocupados com as tarefas de casa ou com o trabalho.

O fato foi observado pela autora durante o período de monitoria voluntária da turma do 3º ano do curso citado, no período em que as aulas estavam no formato remoto. A autora auxiliou, de forma remota, durante cinco meses, uma aluna com deficiência visual nos estudos dos conteúdos da disciplina de Matemática Financeira.

Com essa experiência, foi possível pensar numa forma em que os alunos pudessem ter acesso ao conteúdo de modo mais rápido e simples, pois, mesmo com a disponibilização de vídeos e material na plataforma Google Classroom, muitos alunos justificaram não ter tido tempo para ver. E mesmo com a disponibilização da gravação pela professora da disciplina do encontro pelo Google Meet, muitas vezes escapava algum sentido ou descrição para a aluna com deficiência visual.

Com essa ideia em mente, seria possível agregar a agilidade e facilidade que um áudio proporciona a algo dinâmico e acessível para os alunos, com a possibilidade de escutar, em qualquer lugar, um áudio com o cuidado de uma linguagem clara, humanizada e inclusiva para atender a todos.

O presente artigo apresenta a proposta de intervenção pedagógica sobre o uso do podcast Nas ondas da Matemática produzido durante o período de planejamento deste artigo com a proposta metodológica do uso do podcast, muito difundido entre jovens e adultos, para auxiliar o estudo dos alunos de forma inclusiva. 

Este artigo está dividido em quatro partes: o referencial teórico, o método da pesquisa, os resultados esperados e a conclusão.

Das rodas de conversa ao podcast

A civilização cresceu e se desenvolveu em sociedades pela oralidade de seus agrupamentos físicos e culturais. Seus membros preservavam suas histórias e culturas pela repetição das palavras, histórias reproduzidas em cantos e contos ao redor das fogueiras, costume que mantivemos até hoje, com rodas de conversa (Kenski, 2013).

As rodas de conversa sempre ocorreram após o almoço de domingo: crianças sentadas sob a mangueira do quintal e os mais velhos na varanda. Os assuntos variam das cenas do capítulo final da novela e do jogo de futebol à festa de aniversário dos avós etc. Podemos contar essa história em qualquer localidade, em qualquer época do ano; e o melhor, em qualquer família.

Kenski (2013) relata que as informações eram obtidas pelas janelas das casas ou quando conversavam com vizinhos ou viajantes em rodas de conversas. Nos dias de hoje, as pessoas recorrem ao uso de noticiários e jornais digitais para ficar informadas.

Lévy (2010) reflete sobre a importância da palavra, pois a palavra é a oralidade primária, formadora da construção cultural das nossas lembranças, gerindo a memória social além das expressões e comunicações cotidianas. Na escrita suméria, a representação da sabedoria é uma cabeça com orelhas grandes, denotando a importância de ouvir.

Vários séculos se passaram, com a oralidade ganhando formas e sistemas de signos, até chegarmos ao século XX, com os avanços das formas de comunicação; Lévy (1998) demonstra a indissociabilidade entre a evolução das comunicações e a mobilidade física pelo uso do telefone móvel, do laptop, da conexão sem fio etc., pois a comunicação está em evolução, sendo mantida ao longo dos séculos, e as rodas de conversa e o grupo físico de pessoas conversando estão cada dia mais distantes.

Significa que não devemos, sobretudo, nos polarizar a propósito do estado atual de desenvolvimento da rede, mas considerar antes de tudo a tendência, claramente de rápida extensão, muito mais veloz do que a de qualquer outro sistema de comunicação anterior. Haverá, logo, cada vez menos “excluídos”. Mas o interesse final reside menos na conexão física (condição necessária, mas não suficiente para participar dos novos processos de inteligência coletiva) do que no tipo de utilização adotado: passivo e unidirecional ou dialógico e interativo? Emancipador ou criador de novas dependências? (Lévy, 1998, p. 42-43).

O fato aconteceu. Cada dia mais dependemos da rede de internet, uma rede de comunicações ativa, veloz e com oportunidades, em que temos a informação passiva, que é aquela recebida pela televisão e rádio, e a interativa, que é recebida pelas redes sociais.

Para Kenski (2013), a tecnologia presente nas atividades diárias é tão comum que não é mais percebida. As pessoas vivem a tecnologia, estudam, pesquisam e produzem tecnologias resultando em melhorias na vida em sociedade.

Segundo Lévy (1993 apud Kenski, 2013, p. 15), as "tecnologias da inteligência são construções internalizadas nos espaços da memória das pessoas”; essas tecnologias estão articuladas às tecnologias de comunicação e informação, realizando ações por meio dos meios de comunicação e difundindo informações em todo o mundo.

As mídias há muito tempo abandonaram suas características de mero suporte tecnológico e criaram suas próprias lógicas, suas linguagens e maneiras particulares de comunicar-se com as capacidades perceptivas, emocionais, cognitivas, intuitivas e comunicativas das pessoas (Kenski, 2013, p. 17).

Diante disto, Kenski (2013) apresenta as novas tecnologias de informação e comunicação como midiáticas, resultado da associação interativa da comunicação e a “linguagem digital”.

É importante ressaltar que as tecnologias de informação e comunicação podem e são utilizadas em diversos contextos; entre eles falaremos sobre a educação escolar.

Tradicionalmente, a aprendizagem de informações e conceitos era tarefa exclusiva da escola. Os conhecimentos teóricos eram apresentados gradativamente às crianças após o ingresso nas instituições formais de ensino. Eles eram finitos e determinados. Ao final de um determinado grau de escolarização, a pessoa podia considerar-se formada, ou seja, já possuía conhecimentos e informações suficientes para se iniciar em alguma profissão (Kenski, 2013, p. 23).

Sendo assim, o ato de ir à escola estava estabelecido, com espaços físicos e tempos determinados de aprendizagem. Com o advento das tecnologias, Kenski (2013) destaca o movimento da informação, seu deslocamento no espaço físico e sua atualização no tempo.

Essa “explosão de informação”, como diz Galvão (1997), se, de um lado, presta-se “a criar meios cada vez mais eficientes para o armazenamento e a circulação instantânea de informações, de outro, desenvolve softwares e programas de busca e de filtro que nos ajudam a administrar um espaço que já beira o infinito” (Kenski, 2013, p. 24).

Dessa forma, quebram-se os vínculos de lugares fixos para o aluno aprender; com as tecnologias digitais, “é o saber que viaja veloz nas estradas virtuais da informação” (Kenski, 2013, p. 27), o aluno passa a ter acesso às informações, aos conhecimentos disponíveis na internet independentemente do tempo ou do espaço físico em que estiver.

Bottentuit Junior e Coutinho (2007) relatam o avanço das tecnologias digitais, hardwares e softwares que viabilizaram o avanço de novas ferramentas de acesso a usuários comuns. Com isso, plataformas de streaming de áudio e de vídeo permitem a transmissão simultânea enquanto ocorre o download. Essas “funcionalidades tiveram enorme importância nos novos aplicativos da web” (Bottentuit Junior; Coutinho, 2007, p. 837).

O podcast é um áudio produzido com flexibilidade de formato e conteúdo, de forma diferente dos programas de rádio. São áudios produzidos em arquivos de MP3, podendo ser gravados pelo próprio celular e ouvidos via streaming ou por download em aparelhos celulares ou computadores (Freire, 2011, p. 196).

Segundo Primo (2005, p. 17, apud Bottentuit Junior; Coutinho, 2007, p. 839), “o podcast é um processo midiático que emerge a partir da publicação de arquivos áudio na Internet”.

Num mundo globalizado onde o tempo é escasso, o podcast surge como uma tecnologia alternativa extremamente potente para ser utilizada ao serviço do processo de ensino e aprendizagem tanto na modalidade a distância (e-learning) como no complemento ao ensino presencial (b-learning) (Bottentuit Junior; Coutinho, 2007, p. 837).

Segundo Foschini e Taddei (2006 apud Bottentuit Junior; Coutinho, 2009, p. 2.121), “essa nova forma de comunicação” está associada às alterações comportamentais relacionadas à sociedade globalizada e dependentes de informações que precisam estar disponíveis online para seu acesso. O podcast vem ao encontro dessa necessidade, com conteúdos variados e de diversos países, em que o ouvinte escolhe entre notícias, histórias, piadas e estudos.

Para Campbell (2005, p. 34, apud Carvalho, 2009, p. 97), o podcast no ensino consiste na “facilidade em publicar, na facilidade em subscrever e na facilidade em usar em múltiplos ambientes”.

Carvalho (2009) relata as facilidades do uso do áudio com características inclusivas, permitindo aos alunos personalizar seu próprio ritmo de aprendizagem. Dessa forma, são apresentadas por Bottentuit Junior e Coutinho (2007, p. 841) as vantagens do uso do podcast na educação: o interesse na aprendizagem com uma nova modalidade; o recurso que permite a aprendizagem no ritmo do aluno; o poder de acessar os áudios em qualquer lugar; a possibilidade de os alunos produzirem os podcasts, estimulando o estudo do conteúdo; e considerar o aprendizado significativo em falar e ouvir, além das atividades em grupo.

Essas vantagens no uso de podcast para Educação podem ser utilizadas no ensino de jovens e adultos?

Dar significados aos contextos já vividos pelos discentes na Educação de Jovens e Adultos

Em qual contexto podemos dizer que os discentes do Proeja aprendem?

Barros (2018) apresenta a diferenciação etimológica entre Pedagogia e Andragogia: a primeira trata da ciência do ensino de crianças; a segunda, do ensino de adultos. Knowles (1980, p. 40-42 apud Barros, 2018, p. 4) enfatiza que Andragogia é “a arte e ciência de ajudar os adultos a aprender”.

Podemos distinguir que, na educação de adultos, torna-se evidente a influência humanista, representada especialmente por Carl Rogers, o qual acredita na capacidade do ser humano de identificar suas tristezas e angústias e gerar a transformação. Essa capacidade pode estar reprimida devido a fatos vividos, entretanto é imperativo que o professor atue, vendo “o sujeito como pessoa, como um todo, como integração e inseparabilidade de pensamentos, sentimentos e ações” (Moreira, 2016, p. 55), respeitando o tempo de cada um para aprender a aprender.

Knowles, (1980, p. 59 apud Barros, 2018, p. 6) responde ao questionamento de como os discentes do Proeja aprendem relacionando três ideias fundamentais:

primeiro, que a habilidade para aprender permanece intacta ao longo da vida; segundo, que o processo de aprendizagem é um processo interno controlado pelos indivíduos e que implica todas as dimensões da pessoa, nomeadamente a intelectual, a emocional e a fisiológica; terceiro, que existem certos pressupostos que, ao serem considerados na aprendizagem, podem conduzir mais facilmente ao crescimento e ao desenvolvimento de quem aprende.

Dessa forma, voltando o olhar para os princípios de aprendizagem de Rogers (1969, p. 157-163), destacamos dois deles.

A independência, a criatividade e a autoconfiança são todas facilitadas, quando a autocrítica e a autoavaliação são básicas e a avaliação feita por outros é secundária.

A aprendizagem socialmente mais útil, no mundo moderno, é a do próprio processo de aprender, uma contínua abertura à experiência e à incorporação, dentro de si mesmo, do processo de mudança (Rogers apud Moreira, 2016, p. 55).

Para proporcionar o ensino e o progresso dos estudantes, os professores necessitam desenvolver um perfil baseado em autenticidade, confiança e compreensão empática para que o ensino objetive o aluno com liberdade para aprender no seu ritmo (Moreira, 2018).

De acordo com o Proeja (Brasil, 2007), podemos caracterizar os sujeitos da Educação de Jovens e Adultos como possuidores de saberes, formando grupos por idade, conhecimentos e ocupação. São pessoas ativas que não dispõem de tempo livre para estudar fora da escola. Dessa forma, o ensino deve extrapolar os limites físicos da escola, com metodologias diferenciadas na construção dos saberes escolares, no convívio familiar e social, respeitando a pluralidade e gerando novas formas de ser, estar e de se relacionar com o mundo (Brasil, 2007, p. 52).

Tarouco et al. (2014, p. 262) relatam que o método de ensino tradicional mantém os alunos como sujeitos passivos, e os alunos são sujeitos portadores de saberes, de conhecimentos e de experiências de vida, algumas vezes sofridas, pelas condições de desigualdade impostas pela sociedade.

Com isso, temos as metodologias ativas, com o aluno sendo o ator principal no processo de aprendizagem, respeitando seus saberes, trazendo materiais contextualizados com seus cotidianos, incentivando e respeitando o ritmo de cada um.

Moran (2015) apresenta o ambiente virtual a ser utilizado para reunir as informações básicas e a sala de aula para práticas e desenvolvimento das atividades. Essas informações são escolhidas pelo professor, que atua como incentivador, orientador, cuidador e facilitador da aprendizagem.

Voltemos às palavras, à oralidade, ao diálogo. Com o diálogo, vivenciamos nossas culturas, nossas alegrias e nossos sofrimentos; sua ação transforma, humaniza e liberta. Segundo Tarouco et al. (2014, p. 64), “a colaboração, a união, a organização e a síntese cultural são características necessárias da dialogicidade, essência da educação libertadora”.

Vivemos em um mundo com tecnologias, da mais simples à mais inovadora. Temos a internet, as redes sociais e as informações armazenadas em nuvens e comunicações em âmbito mundial. Os alunos estão habituados com essa realidade, mesmo com as dificuldades de conexão ou de acesso à internet, o que possibilita o uso dessas tecnologias na educação.

Tarouco et al. (2014, p. 55) relatam o uso das “tecnologias de informação e comunicação e das mídias no ensino, como a internet, softwares educacionais, vídeo, áudio, hipermídia”, por professores com interesses em novas tecnologias e novas formas de aprender e ensinar.

O objeto de aprendizagem (OA) “é qualquer recurso digital que pode ser reusado para apoiar a aprendizagem” (Wiley, 2000 apud Tarouco et.al, 2014, p. 13). Ele é utilizado como recurso no ensino e na aprendizagem em formatos variados, como textos, imagens, áudios; e compartilhado pelo professor pela internet, cuidando para ser reutilizado e não simplesmente uma produção sem sentido e somente para aulas online (Tarouco et al., 2014).

Quando utilizados dentro da perspectiva dialógica, que incentivem o diálogo transformador, ético e a preocupação com o ser humano integral, esses OAs são os tipos que refletem o enfoque humanista. O planejamento e o uso desses OAs devem procurar englobar as aprendizagens cognitiva, afetiva e psicomotora, gerando situações interativas e colaborativas de aprendizagem, com vistas às relações interpessoais e intergrupais (Tarouco et al., 2014, p. 64).

As tecnologias da informação e comunicação permitem essa autonomia de aprendizagem aos discentes do Proeja através de recursos como OA.

Cheal e Rajagopalan (2007, apud Tarouco et al., 2014, p. 71-72) apresentam exemplos de OAs relacionadas às atividades didáticas e a teorias de aprendizagem. Um dos exemplos é o podcast, que assume a perspectiva pedagógica das teorias construtivistas e humanistas. Ao utilizar o OA sob a ótica contestativa, o professor proporciona a aprendizagem humanista.

Diante do exposto, a proposta de nossa intervenção pedagógica trata do uso do podcast Nas ondas da Matemática como recurso tecnológico, um objeto de aprendizagem para alunos do Proeja no tocante ao ensino da Matemática Financeira.

Essa disciplina é ofertada pelo curso técnico de Administração integrado ao Ensino Médio, na modalidade Proeja, no IFPB - câmpus Campina Grande, no horário noturno. São adultos buscando novas oportunidades, mudanças em suas situações e recuperando os estudos que não foi possível fazer no período regular; durante o dia, estão ocupados com as tarefas de casa ou com o trabalho. Então como introduzir determinado assunto aos alunos do Proeja, que já chegam cansados à aula?

O celular é muito utilizado durante o dia, nos trajetos de casa para o trabalho, nas atividades domésticas etc. Dessa forma, os alunos não teriam dificuldades em escutar áudios com os assuntos e durante a aula tirar dúvidas ou aprofundar o conteúdo.

A produção e divulgação do podcast, um objeto de aprendizagem, atende às facilidades de reprodução pelos alunos do Proeja, com a liberdade de ouvir onde quiser e na hora que quiser, com uma proposta inclusiva, possuindo características educativas.

Método da pesquisa

O presente artigo foi desenvolvido como projeto de intervenção pedagógica, do escopo do curso de pós-graduação em DocentEPT do IFPB - câmpus Cabedelo, sendo da linha de pesquisa aplicada de Tecnologias Educacionais para Educação Profissional Tecnológica.

A intervenção pedagógica é um processo investigativo com o intuito de promover o desenvolvimento e a inovação nos processos de ensino e aprendizagem. “As pesquisas do tipo intervenção pedagógica são aplicadas, ou seja, têm como finalidade contribuir para a solução de problemas práticos” (Damiani et al., 2013, p. 58).

A finalidade desta intervenção pedagógica foi a produção do podcast Nas ondas da Matemática como recurso tecnológico, um objeto de aprendizagem, e sua utilização pelos alunos da disciplina de Matemática Financeira, no curso técnico de Administração integrado ao Ensino Médio, na modalidade Proeja, ofertada pelo IFPB - câmpus Campina Grande, no horário noturno.

A metodologia aplicada será o envio do link do podcast com antecedência à aula ministrada, de forma que os alunos tenham tempo para escutar o conteúdo; dessa forma, no dia da aula, será possível aplicar a resolução de problemas.

Para chegar até essas gravações, foram feitas pesquisas sobre Educação Financeira nas escolas, programa que o MEC disponibiliza, leitura de livros didáticos e conversa com a professora da disciplina de Matemática Financeira do Curso Técnico Integrado de Administração do Proeja do IFPB - câmpus Campina Grande.

Em seguida, pesquisando sobre o uso do podcast na educação, foi encontrado vasto material bibliográfico, com podcast em Matemática cujos conteúdos tratavam de resolução de exercícios, além de podcast para alunos com deficiência visual. Um fato animador, pois já estava na prática de docentes pelo mundo todo.

Para nossa intervenção pedagógica, utilizamos o podcast expositivo/informativo, com a apresentação do conteúdo de Matemática Financeira, cujo tema trata de juros. Seguindo as orientações de Bottentuit Junior e Coutinho (2008, p. 132-134), foi montado o roteiro das gravações, separado em quatro etapas.

A primeira etapa tratou da preparação do roteiro. Com o roteiro pronto, foi feita uma leitura em voz alta, verificando a entonação da voz e conferindo a pontuação do texto, procurando criar um diálogo com o ouvinte, contando uma história, com o cuidado no conteúdo de Matemática, com as palavras para descrever seus significados, pois, além de ser um podcast, deve ter o cuidado de ser inclusivo, atendendo à aluna com deficiência visual e a todos os outros alunos que possuam deficiência.

Na segunda etapa, foi preciso um ambiente silencioso, caso contrário, as gravações teriam que ser refeitas, além do cuidado com o diálogo inclusivo no contexto da Matemática.

Na terceira etapa, foi encaminhada a gravação para a equipe do Departamento de Ensino Técnico do IFPB - câmpus Campina Grande (DET), para a edição, que consiste em cortes, inclusão de vinhetas e músicas.

Na última etapa, foi feita a conferência do podcast e em seguida a sua postagem nos sites. A liberação do link do podcast será feita com uma semana de antecedência da aula programada com o conteúdo do áudio.

A gravação, a edição e a publicação foram efetuadas utilizando o celular, o notebook e softwares específicos. Com a parceria do IF News, o DET dará apoio na edição, com a participação dos alunos do ensino técnico.

Dessa forma, as gravações foram feitas em cinco episódios referentes à Matemática Financeira, nos quais foi tratado o assunto de juros.

O primeiro episódio consiste em uma breve introdução sobre em que situações utilizamos a Matemática Financeira; os dois seguintes falam sobre juros simples e juros compostos; os dois últimos episódios trazem exemplos práticos de juros simples e juros compostos.

Os episódios estão disponíveis em duas plataformas: Anchor e Spotify.

Com o link disponibilizado, os alunos terão acesso ao podcast, possibilitando a audição antecipada do conteúdo da aula, com a possibilidade de escutar offline quantas vezes quiserem. Assim, o aluno terá o conhecimento e a compreensão do que será discutido em sala de aula, participando ativamente do diálogo com seus companheiros de sala de aula e o professor.

Resultados esperados

A proposta de intervenção pedagógica é o uso do recurso tecnológico como complemento didático à aula do conteúdo de Matemática Financeira, possibilitando enviar o conteúdo previamente, no formato de áudio, permitindo aos alunos uma melhor compreensão da matéria a ser dada, de forma inclusiva, pois a intenção do uso de um recurso, de um objeto de aprendizagem, é o fato de sua reutilização em outras turmas, outras pessoas que pesquisem no site o conteúdo para estudar.

Esse resultado poderá ser analisado após a aplicação da atividade e da correção conforme a matriz de correções.

A proposta de atividades ocorrerá em uma ou duas aulas, com a metodologia de resolução de problemas, em que os alunos serão separados em grupos de três e receberão questões contextualizadas para apresentar soluções possíveis para resolvê-las. A avaliação será indireta, pois o recurso do podcast servirá como complemento das aulas.

Quadro 1: Matriz de correções

 

1 ponto

3 pontos

5 pontos

Sobre o podcast

O grupo não escutou o podcast

-

O grupo escutou o podcast

Sobre as questões

O grupo não leu a questão e não interpretou o que se pedia

O grupo leu a questão e não interpretou o que se pedia

O grupo leu a questão e interpretou o que se pedia

Sobre as soluções

O grupo não apresentou uma solução

O grupo apresentou uma solução, mas não a argumentação

O grupo apresentou soluções com argumentações

Sobre o grupo

Não houve consenso entre os participantes

Houve consenso e alguns não participaram

Houve consenso e todos participaram.

Na avaliação das questões, os grupos receberão uma questão, com valor total de 20 pontos para ler e apresentar as soluções argumentadas. Esse resultado poderá ser analisado após a aplicação da atividade e da correção conforme o Quadro 1.

Conclusão e considerações

Este artigo tem como objetivo a proposta de intervenção pedagógica com o uso do podcast Nas ondas da Matemática como recurso tecnológico, um objeto de aprendizagem para alunos do Proeja, no tocante ao ensino da Matemática Financeira.

Quando falamos em tecnologia, observamos sua presença em nosso dia a dia. Em atividades cotidianas, nos deparamos e vivenciamos as tecnologias de comunicação e informação pela internet, pelo celular, em computadores e na televisão.

A tecnologia de comunicação e informação quebra os limites físicos da informação e da comunicação, permitindo sua transmissão em qualquer lugar e em qualquer horário, permitindo sua utilização pela Educação para o ensino e aprendizagem.

Dessa forma, o uso do OA como recurso tecnológico agrega ao professor métodos de proporcionar aos seus alunos novas formas de aprender. O podcast permite ao aluno personalizar seu aprendizado, escutando de acordo com o número de vezes que julgar necessário, e ao professor, respeitando o tempo de aprendizado de cada aluno de aprender a aprender.

Entretanto, somente os episódios foram elaborados e disponibilizados nas plataformas de streaming (Spotify e Anchor), ficando sua aplicação em sala de aula para outro momento.

Esta proposta de intervenção possui o diferencial de os episódios do podcast Nas ondas da Matemática estarem disponíveis ao público, pois está em plataformas de streaming. Essa condição permite que o conhecimento investido nos episódios atravesse as fronteiras físicas do IFPB, atingindo assim um propósito de um objeto de aprendizagem: sua reutilização.

Como resultado esperado da intervenção pedagógica, estão a interação e a compreensão por parte dos alunos do Proeja do conteúdo dos episódios e a participação nas aulas em debates, desenvolvendo o aprendizado e o saber.

Referências

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BOTTENTUIT JUNIOR, João Batista; COUTINHO, Clara Pereira. Recomendações para produção de podcasts e vantagens na utilização em ambientes virtuais de aprendizagem. Revista Prisma.com, nº 6, p.125-140, 2008. Disponível em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/8001/1/Recomenda%c3%a7%c3%b5es%20Podcast.pdf. Acesso em: 23 dez. 2021.

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TAROUCO, Liane Margarida Rockenbach et al. Objetos de aprendizagem: teoria e prática. Porto Alegre: Cinted/UFRGS, Evangraf, 2014.

Publicado em 27 de junho de 2023

Como citar este artigo (ABNT)

JUSTINO, Julia Sione. Nas ondas da Matemática: o uso do podcast no ensino da Matemática Financeira para alunos do Proeja. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 24, 27 de junho de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/22/nas-ondas-da-matematica-o-uso-do-podcast-no-ensino-da-matematica-financeira-para-alunos-do-proeja

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