A busca pela dinamização do ensino-aprendizagem e a formação continuada em Geografia para além do desenvolvimento individual do docente

Maria Eduarda Souza Ribeiro

Professora, especialista em Metodologia do Ensino da Geografia (FESL)

Este texto busca retratar o docente de Geografia e as contribuições de sua formação contínua para si próprio e principalmente para a sociedade que o envolve. Nessa procedência, é necessária uma ressalva analítica sobre como funcionam as graduações de licenciatura atualmente, se realmente constituem a base para tal formação, uma vez que existe uma decadência político-social e econômica ainda considerável quando o assunto é educação funcional no país.

Assim, partindo do curso de licenciatura, é ideal e importante, a partir da observação, destrinchar diálogos relacionados a professores de uma escola do município de Nazaré da Mata/PE que seguem uma formação continuada após a base da graduação, como cursos de especialização lato sensu, stricto sensu ou apenas referenciais pedagógicos que contribuem para a dinâmica educacional, em uma variação de pesquisa em geral.

Em um destaque ainda maior, é observada anuência relacionada à questão de que o quadro de titulação de professores não deve ser levado em conta apenas para exaltação de necessidade ou ego pessoal, mas para a contribuição precisa e mútua da qual a educação carece atualmente.

Nessa linha, e conforme Santana e Noffs (2016), a formação continuada apresenta-se como um espaço qualificado de aperfeiçoamento dos professores nas dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais. No caso da Geografia, a qual Milton Santos remete em suas teses à globalização perversa, o docente precisa estar antenado usufruindo do máximo de conhecimento possível para repassar aos discentes e à sociedade conceitos e explicações do mundo em todas as suas faces, tramando uma fuga da alienação e da incapacitação da educação atual.

Metodologia

Em procedimento, o trabalho que aqui se delineia é pesquisa qualitativa, em que, de início, foi necessário utilizar os instrumentos de levantamento bibliográfico atrelados à necessidade do professor de aprimorar seus conhecimentos, a exemplo de dizeres como Hypolito (2004) e Tardif (2002), entre outros. Nesse aparato, buscou-se base para análise de trabalho de docentes da Educação Básica, se emparelhando a diálogos com dois professores de uma escola pública no município de Nazaré da Mata/PE para melhor distribuição das discussões incitadas e seguindo na análise de projetos realizados em concessão da escola que envolve parte da pesquisa.

A realidade observada nesta pesquisa se associa à análise de conteúdo, que, segundo Chizzotti (2001, p. 98), tem como objetivo “compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas”. Pois bem; tem–se a observação, por permitir uma aproximação através do contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado e, assim, pôde-se lançar mão dos “conhecimentos e experiências pessoais como auxiliares no processo de compreensão e interpretação do fenômeno estudado” (Lüdke; André, 2000, p. 26).

Logo, cabe à pesquisa, minuciosamente, observar os casos propostos para trazer significados e discussões precisos. Como exemplo, foram analisadas aulas na disciplina de Estágio Supervisionado, em perpasse à interatividade com o corpo de professores presente na escola. Nessa linha, a observação do papel do professor na educação atualmente é o laço de introdução desta pesquisa, embasando os meios para sua personificação. Este estudo se direciona aos professores em formação inicial e aos de demais com congruência no campo educacional.

Resultados e discussão

Partindo da análise curricular de um recém-licenciado, por apenas esse processo, o professor, como universitário, se deparou com docentes mestres ou doutores que surgiram com suas histórias de vida e superação, trazendo suas próprias concepções sobre o mundo e determinações sobre a Geografia (neste caso de análise), instigando o discente da universidade a seguir o mesmo caminho e buscar evoluir, embora existam outras situações contrárias, em que não há estímulo algum por parte dos professores universitários em contribuir para o interesse de formação continuada dos alunos licenciandos.

A partir do que aprende na graduação, o futuro professor vai concretizando seus procedimentos socioculturais e propriedades científicas para entrar no método de congruência social da profissão, seguindo em disputa por trabalho e publicações, entre outros fatores. Logo, se esse docente não se encontra bem preparado, com um bom, ou melhor, um ótimo currículo, se encontrará em partida igual a qualquer outro candidato em uma possível concorrência na profissão. Então sua única saída seria, no caso, a prova objetiva e/ou dissertativa para determinada seleção, o que de fato não é suficiente para a sobreposição de uma posição empregatícia atualmente, fazendo-se necessário o aprimoramento do currículo, aparentando aperfeiçoamento e atualização, como retrata Hypolito (2004, p. 1):

A modernidade exige mudança, adaptações, atualizações e aperfeiçoamento. Quem não se atualiza fica para trás [...]. A concepção moderna de educador exige uma sólida formação científica, técnica e política, viabilizadora de uma prática pedagógica crítica e consciente da necessidade de mudanças na sociedade brasileira.

Nesse contexto, é necessária a formação a mais que a graduação, em que se tem o destaque da pesquisa. Assim, o professor precisa ser um pesquisador; afinal, como lidar com a realidade e criar argumentos sobre tal se não existem os procedimentos de análise, dissertação e comprovação? Tudo isso está envolto ao campo da pesquisa. Além do que, é esse mesmo processo que leva o docente a se aperfeiçoar na área pretendida e seguir outros caminhos, como especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado e tantos outros, fomentando um pensamento pedagógico crítico perante as transformações sociais, envolvendo o campo educacional em primeiro aparato, na dinâmica interpessoal com os alunos, em determinados grupos-classe.

Sendo assim, seguindo a perspectiva da Geografia em moldes de aperfeiçoamento do campo científico e educacional, parte-se aqui para o diálogo com dois professores da área, sendo um homem e uma mulher, da escola em Nazaré da Mata/PE.

Na primeira parte, os docentes foram questionados sobre o que acham do envolvimento da educação na perspectiva de funcionamento do mundo atualmente; a professora responde que “o principal destaque do mundo, atualmente, são os jovens, e que precisamente ungidos de educação e dialética saberão como se portar e confrontar a realidade imperante, sendo importante a influência do professor”. O professor por sua vez destacou que mediante o aparato da Geografia (de análise e crítica perante o mundo globalizado), se ater de conhecimento sobre o mundo é uma tarefa do professor inicialmente, o que precisa ser repassado aos alunos, e que é também objetivo do docente procurar meios para conseguir formar esse conhecimento, podendo ser por meio de leituras, realização de cursos extensivos etc.

Em uma segunda parte, foram questionados sobre a atuação da escola campo da pesquisa diante da ação de atividades relevantes ao realce das noções pensantes dos alunos; a professora respondeu ressaltando que, “em sua maioria, os professores são instigados a despertar a busca de conhecimento dos estudantes, a fim de se colocarem perante o mundo munidos de saber”.

O professor remete à ideia de que “diretores ou coordenadores raramente irão incrementar meios e atividades que realmente busquem o ato pensante dos alunos, e que o principal agente desse objetivo é o professor”.

Nessa perspectiva, também foram questionados acerca de como observam suas formações sendo importantes para a construção acadêmica de seus alunos; a professora respondeu frisando que, até o momento, possui apenas uma especialização e cursos extensivos, reconhecendo que precisa se integrar ainda mais aos processos de pesquisa e conhecimento, mas não adianta se ater a títulos representativos e não conseguir adequar os saberes à realidade de seus alunos.

O professor indica que, no quadro de formação da escola, tem-se 22 professores, onde apenas dois possuem mestrado, um é mestrando e o restante possui especialização. Porém é um corpo escolar que no todo possui saberes que se concretizam bem nas dinâmicas frente aos alunos, não sendo à toa a visibilidade que a escola tem hoje na Zona da Mata Norte. Voltando para observar que possui duas graduações, sendo uma em Geografia e outra em Turismo, além da especialização, o docente reconhece que precisa continuar sua formação para ter melhores práxis do ensino, indo além de títulos e adentrando com afinco os meios de diversidade pedagógica.

Neste labor, durante as conversações com os docentes participantes da pesquisa foi possível relembrar uma atividade teatral que foi desenvolvida no período de estágio, em conjunto com os referidos professores, com direcionamento às crianças do 7° ano do Ensino Fundamental, referente a mecanização do campo, êxodo rural e desigualdade social (Figuras 1 e 2). A atividade despertou o interesse dos discentes, que acabaram buscando assistir a documentários, que muitas vezes só são repassados e reconhecidos por quem já está na graduação. A partir dessa atividade foi realizada uma oficina na I Mostra Científica da UPE – câmpus Mata Norte para futuros professores, retratando justamente uma análise científica e propondo métodos pedagógicos, como elaboração de cartolina e discussão entre os participantes (Figuras 3 e 4).

Figuras 1 e 2: Projeto teatral realizado no período de estágio, com coordenação dos professores de Geografia da escola campo da pesquisa

Figuras 3 e 4: Oficina aplicada com método pedagógico, na I Mostra Científica Multidisciplinar

Na realização das atividades e a partir dos diálogos, ficou claro que a necessidade de o professor continuar sua formação vai além de conhecimentos puramente científicos, sendo importante o incremento de elementos didáticos na construção profissional. Demo (2008, p. 124 apud Abreu, 2015 p. 71) propõe uma visão crítica, reflexiva e transformadora perante a educação, em que “o saber pensar dos sujeitos, numa prática não linear em sala de aula, está condicionado, primeiramente, à autocrítica”.

Fica então o aparato de que a dinamização em classe para com a aprendizagem necessária dos alunos é um critério de incremento do professor em sua formação sobre o mundo, partindo de leituras e conhecimentos adentro da realidade em que se enquadram determinados grupos-classe, pois, como diz Tardif,

a prática pode ser vista como um processo de aprendizagem através do qual os professores retraduzem sua formação e a adaptam à profissão, eliminando o que lhes parece inutilmente abstrato ou sem relação com a realidade vivida e conservando o que pode servir-lhes de uma maneira ou de outra (Tardif, 2002, p. 53).

Em perpasso à normatividade de todo esse processo de caminho acadêmico e apreensão de conhecimento do docente em formação, é válido ressaltar que o professor está sempre em formação, independente de em qual patente ele se situa na sociedade. Trabalhar com aprendizagem envolve um contínuo movimento de reflexão. Para que os professores possam ensinar seus alunos é preciso rever seu próprio modo de aprender e de construir a experiência (Nazar, 2016). Corroborando essa ideia e diante da formação do professor, temos que

didática é, acima de tudo, a construção de conhecimentos que possibilitem a mediação entre o que é preciso ensinar e o que é necessário aprender; entre o saber estruturado nas disciplinas e o saber ensinável mediante as circunstâncias e os momentos; entre as atuais formas de relação com o saber e as novas formas possíveis de reconstruí-las (Pimenta et al., 2013, p. 150).

Nesse processo, o professor irá adquirir reconhecimento pela forma como se autoproduz em sociedade, conduzindo-se a cargos de ascensão, aumento salarial e argumentação sobre o mundo. Embora muitas vezes seja difícil se expressar e conseguir o que almeja, é válido ressaltar que o conhecimento nunca é demais, principalmente quando se trata de um professor da área da Geografia, que se vê diante de uma retórica enorme de associação homem-meio e tem o poder de despertar no aluno um conhecimento sobre aspectos sociais.

Podemos dizer que esses saberes constituem os conhecimentos com os quais desenvolvem uma concepção de Geografia e as bases teórico-metodológicas com as quais se afirmam como sujeitos do processo de ensino-aprendizagem, pois, a partir desses princípios, elaboram as metodologias e desenvolvem os conteúdos dessa disciplina em sala de aula, incorporando esses saberes à sua prática escolar (Greco, 2000, p. 3).

Sendo assim, a Geografia por destaque insere o professor em uma dinâmica de análise demasiada perante o mundo, perante teses e dizeres teórico-metodológicas que a disciplina exige, envolvendo a relação de ensino-aprendizagem que direciona o docente em classe.

Considerações finais

Conforme Freire (1987), só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, paciente, permanente, que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros. Uma questão que volta sempre para o centro da pesquisa é a necessidade de se ater ao mundo, em suas formas dinâmicas e intrínsecas, aprendendo de todas as formas possíveis com o objetivo de repassar esse conhecimento mais tarde e contribuir para o atual aparato educacional.

Em síntese de experiência, em uma das escolas polo de estágio da Universidade de Pernambuco, foi interessante observar como funciona o trabalho de ensino dos professores, em específico de Geografia. Funcionalmente nada relacionado a títulos acadêmicos, mas à necessidade de se ater às literaturas científicas e retratos de atividades pedagógicas da área, é um dos grandes atributos dos docentes da Geografia presentes na escola. Portanto, é um caso de análise que se remete bem à questão de que a formação continuada pode estar relacionada à obtenção de cursos de pós-graduação, mas não é baseada apenas neste caso; vai além, é um aparato de aperfeiçoamento que se reproduz em diversos caminhos.

Eis então uma experiência que afirma a questão de que o professor bem instruído, seja qual for seu tipo de aperfeiçoamento, vai conseguir atrair a atenção do aluno e conduzir bem uma aula, repassando aquilo que aprendeu cientificamente de maneira coincidente com a realidade em que se põe determinado grupo-classe.

A partir daí surge outra argumentação: a necessidade de o professor se instruir cientificamente não é o suficiente. Na verdade, existe precisão de determinação didática, que está atrelada à forma como o professor vai conduzir tudo aquilo que sabe, repassando ao aluno da melhor forma.

Em verdade, o professor deve ser um pesquisador, mas acima de tudo um referencial pedagógico de ensino, afinal a pesquisa é um meio de incremento e a didática é sua principal função.

Referências

ABREU, P. R. de. Rumos do professor contemporâneo: a epistemologia genética e o pensamento complexo. São Paulo: Lura, 2015.

CHIZZOTTI, A. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

GRECO, F. Construir-se como professor de Geografia: saberes, práticas e trabalho docente. Revista Olhares e Trilhas, Uberlândia, v. 2, nº 1, jan./dez. 2001.

HYPÓLITO, D. Repensando a formação continuada. Conteúdo Escola, 2004. Disponível em: http://www.conteudoescola.com.br. Acesso em: 01 jul. 2021.

LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 2002. (Coleção Temas Básicos de Educação e Ensino.)

NAZAR, R. et al. A formação do professor, a prática reflexiva e o desenvolvimento de competências para ensinar. Universidade Brasil, 2016. Disponível em: http://universidadebrasil.edu.br/portal/a-formacao-do-professor-a-pratica-reflexiva-e-o-desenvolvimento-de-competencias-para-ensinar. Acesso em: 01 jul. 2021.

PIMENTA, S. G. et al. A construção da didática no GT Didática – análise de seus referenciais. Revista Brasileira de Educação, v. 18, nº 52, p. 143-162, 2013.

SANTANA, T.; NOFFS, N. Formação continuada de professores: práticas de ensino e transposição didática. Curitiba: Appris, 2016.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.

Publicado em 24 de janeiro de 2023

Como citar este artigo (ABNT)

RIBEIRO, Maria Eduarda Souza. A dinamização do ensino-aprendizagem e a formação continuada em Geografia para o desenvolvimento do docente. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 3, 24 de janeiro de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/3/a-busca-pela-dinamizacao-do-ensino-aprendizagem-e-a-formacao-continuada-em-geografia-para-alem-do-desenvolvimento-individual-do-docente

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