Interdisciplinaridade nas regências na residência pedagógica: uma experiência em Gurupi/TO

Keyliane dos Anjos Leitão

Pedagoga (Unirg)

Este trabalho teve como intuito relatar a experiência vivenciada no Programa Residência Pedagógica para a formação no curso de Licenciatura em Pedagogia e atuação na turma de 2º ano Ensino Fundamental, na Escola Municipal Professor Joel Ferreira Soares, na cidade de Gurupi/TO, de modo a apresentar a interdisciplinaridade por meio das intervenções no Componente Curricular de Língua Portuguesa, de Artes e de Geografia durante a aplicação das regências.

A interdisciplinaridade é pouco aplicada no cotidiano escolar, pois os componentes curriculares ainda são fragmentados, sem um elo entre si, de modo que a especificidade deste artigo tem, como principal ponto de reflexão, o papel da interdisciplinaridade no processo de ensino-aprendizagem dentro da escola, como um instrumento de articulação de abordagens pedagógicas.

De acordo com Fazenda (2005), o projeto interdisciplinar nasce espontaneamente, a partir de uma prescrição do currículo, pois o fazer interdisciplinar é construído de modo coletivo e em prol de um novo conhecimento, despojado dos conceitos pré-concebidos e arraigados no consciente. Com isso, uma das finalidades ao trabalhar a interdisciplinaridade na escola é aprender os conteúdos de forma mais contextualizada, trazendo sentido junto à realidade e contribuindo para que os alunos se interessem na maneira que pensamos os componentes curriculares como um todo, de modo a tornar a escola um lugar mais participativo e interessante aos estudantes.

A concepção da interdisciplinaridade como uma atitude que exige posicionamentos pessoais é bastante evidente nos trabalhos de Ivani Fazenda e Severino (2001). Segundo eles, a interdisciplinaridade é uma questão de atitude diante do problema da fragmentação do conhecimento, exigindo humildade. Nesse sentido, a interdisciplinaridade é mais que a unificação das disciplinas curriculares: são as mudanças de comportamentos em relação ao conhecimento.

Mesmo com tantas propostas educacionais para a introdução da interdisciplinaridade, existem muitas instituições de ensino que mantêm os currículos divididos em disciplinas tradicionais e isoladas. Para Luck (2001, p. 68), o estabelecimento de um trabalho interdisciplinar provoca certo medo de errar, de perder privilégios e direitos estabelecidos. A orientação para esse tipo de enfoque na prática pedagógica implica em romper com hábitos e acomodações a fim de se buscar algo novo e desconhecido, certamente um grande desafio.

Em contexto geral, a interdisciplinaridade é uma importante articulação entre o ensinar e o aprender, entre a teoria e a prática, de modo a auxiliar os educadores e as escolas no trabalho pedagógico em termos de currículo, métodos, conteúdos, avaliação e na organização dos ambientes para a aprendizagem.

Com isso, o relato das experiências que ocorreram no segundo ano dos anos iniciais, coletadas por meio das observações e das regências aplicadas ao Documento Curricular do Tocantins e à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), tem como importância destacar a aplicação do método interdisciplinar entre os Componentes Curricular de Língua Portuguesa, Geografia e Artes.

Contextualização

A Escola Municipal Professor Joel Ferreira Soares está situada na Rua 56, quadra 111, no Setor Nova Fronteira, na cidade de Gurupi/TO. Atualmente, atende 519 alunos, 125 matriculados na Educação Infantil e 394 nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, nos períodos matutino e vespertino.

O espaço físico conta com cinco prédios, sendo três na Educação Infantil, que acomodam as turmas de Maternal II, Pré I, Pré II e banheiros. Há um pátio calçado com tijolos de cimento e um parquinho com balanços, gangorras, gira-gira e escorrega.

Os outros dois prédios acomodam os anos iniciais do Ensino Fundamental, nos períodos matutino e vespertino com doze salas de aulas ao todo, banheiros femininos e masculinos e lavatório na parte externa do banheiro. Além disso, sala de recursos multifuncionais, coordenação pedagógica com banheiro, sala dos professores com banheiro, secretaria, almoxarifado, direção escolar, orientação educacional, depósito de material de limpeza, laboratório de informática, biblioteca, cantina, depósito de alimentação e depósito de utensílios de cozinha. Há uma cobertura entre os dois prédios do Ensino Fundamental I, uma quadra de areia paralela à construção e um pátio gramado para atender a todos, não só os alunos como todos os envolvidos no processo educacional.

A seguir estão fotos da parte externa e interna da escola campo.


Figura 1: Escola Municipal Gilberto Rezende Rocha Filho
Fonte: Arquivo pessoal da residente.

A experiência a ser relatada foi vivenciada no 2° ano do Fundamental, em uma turma com 17 alunos. Nas experiências, trabalhamos o poema com o nome "O palhaço Paçoca", quando se aplicou, com o componente curricular de Língua Portuguesa interligada à Geografia a partir da palavra paçoca, o trabalho com a localidade de origem da comida denominada 'paçoca'. Por meio da aplicação do componente curricular Geografia, após trabalhar os objetivos sobre conhecimentos do uso dos recursos naturais (solo e água) no campo e na cidade, trabalhamos o componente curricular Artes.

Discussão

No primeiro relato, iniciamos o trabalho com o componente curricular Língua Portuguesa, abordando o objeto: formas de composição de textos poéticos. O poema tinha como título "O palhaço paçoca". Após o estudo dirigido, a professora aplicou a intervenção em Geografia, a partir da palavra 'paçoca'. No momento em que se terminou a interpretação do texto, a residente falou: "Agora, vamos fazer Geografia". Mais que depressa, os alunos disseram: "O quê?". A partir da pergunta, "Como é o nome do palhaço?". Eles responderam: 'Paçoca'. Dessa maneira, fizemos um esquema na lousa e começamos a dialogar a partir de perguntas do tipo: "Vocês sabem o que é paçoca?". Uns disseram que era 'farofa' e outros 'um docinho de amendoim'. A residente disse: "Sim, estão corretíssimos". Continuamos a conversa na linha da interdisciplinaridade com a Geografia: "Vocês sabiam que 'paçoca' é uma comida típica do estado do Tocantins?". Assim, seguiu-se a discussão.

Segundo David e Tomaz (2008) e Maranhão (2009), a interdisciplinaridade permite ao aluno ampliar as suas formas de participação com as atividades escolares, afinal, essas são mais integradas com suas realidades pessoais, pois o conteúdo estudado se torna aplicável em diferentes situações cotidianas. Em função dessa possibilidade de aplicação no dia a dia do aluno, o cotidiano se torna mais significativo.

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 2000, p. 97), a interdisciplinaridade e a contextualização são recursos complementares que ampliam as inúmeras possibilidades de interação entre as disciplinas e as áreas nas quais as disciplinas venham a ser agrupadas. Juntas, elas se comparam a um traçado, cujos fios estão dados e os resultados podem ter infinitos padrões de entrelaçamento, com alternativas para combinar cores e texturas.


Figura 2: Regência
Fonte: Arquivo pessoal da residente.

O segundo relato traz a interdisciplinaridade entre o componente curricular Geografia e o componente curricular das Artes. Ao utilizar o objetivo de conhecimento: os usos dos recursos naturais (solo e água) no campo e na cidade. Assim, abordamos questões a partir das quais os alunos diferenciavam elementos do campo e da cidade. Foram utilizados blocos de atividades para a realização do conteúdo. A partir disso e por meio de ação interdisciplinar, utilizamos o componente Artes com a unidade temática das Artes Visuais, de forma a aplicar os objetos de conhecimento: ponto, linha, forma, cor, espaço e movimento. Passamos uma folha para que os alunos fizessem uma lista no meio. De um lado, precisavam desenhar um elemento da natureza e do outro lado, uma realização humana.

Segundo Krausz (2011, p. 1), no trabalho interdisciplinar, uma área enriquece o conhecimento da outra e o resultado é a construção de um saber mais complexo e menos fragmentado, que buscará trazer nexos ao estudante, pesquisado e discutido sob diferentes pontos de vista.

Figura 3: Regência
Fonte: Arquivo pessoal da residente.

Resultados

Por meio das experiências vivenciadas, nota-se a dificuldade de fazer a inclusão da interdisciplinaridade em um ensino educacional que ainda se encontra em um universo fechado em relação à utilização dos componentes curriculares. No momento de aplicar a regência por meio dos blocos de atividades, a separação dos componentes curriculares, sem ligação um com o outro, tornava-se visível. Realmente o desafio de trabalhar a interdisciplinaridade se faz presente no cotidiano e entre os principais atores do processo educacional.

Outro resultado da pesquisa constatado foi na prática adotada, pois há grande dificuldade, tanto da parte do docente como da parte do sistema escolar, de abandonar uma metodologia na qual o professor fala e o aluno ouve e/ou escreve. A premissa da interdisciplinaridade é colocar o aluno no centro do processo de construção do conhecimento, cabendo ao professor fazer a mediação. Por isso, durante a observação e regência, percebia-se, no olhar dos alunos, como tudo parecia uma novidade.

Ao final de cada regência, revelou-se a empolgação dos estudantes, pois dialogavam sobre o assunto exposto, algo muito significativo, conquistado por meio de ações simples, mas que pela interdisciplinaridade promovem a comunicação e a interação entre alunos e docentes.

Considerações finais

Ao estabelecer relação entre os dados coletados e o objetivo central do artigo, evidencia-se como a interdisciplinaridade é importante na articulação entre o ensinar e o aprender. Quando utilizada, potencializa educadores e escolas na ressignificação do trabalho pedagógico curricular, em métodos, conteúdos, avaliações e formas de organização dos ambientes de aprendizagem.

Entende-se, assim, que há a necessidade de uma educação holística, que considere o ser humano integral. As propostas de interdisciplinaridade não têm a função de eliminar ou superar as disciplinas, mas incrementar a educação pela visão globalizada do conhecimento.

Diante do exposto, a residência pedagógica não colaborou somente com o aperfeiçoamento da formação da futura licenciada em Pedagogia, mas permitiu uma melhor compreensão da comunidade escolar, assim como uma percepção mais abrangente em relação ao seu desenvolvimento didático.

Referências

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC, 2000.

DAVID, Maria Manuela Martins Soares; TOMAZ, Vanessa Sena. Interdisciplinaridade e aprendizagem da Matemática em sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes; SEVERINO, Antonio J. Conhecimento, pesquisa e educação. Campinas: Papirus, 2001.

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia. São Paulo: Loyola, 2005.

KRAUSZ, Mônica. Onde as disciplinas se encontram. Revista Educação, setembro de 2011. Disponível em https://revistaensinosuperior.com.br/onde-as-disciplinas-se-encontram/. Acesso em: 11 mar. 2022.

LUCK, Heloisa. Dimensões da gestão escolar e suas competências. Curitiba: Positivo, 2001.

MARANHÃO, Maria Edmir. A importância da interdisciplinaridade e contextualização. Web artigos, janeiro de 2009. Disponível em: https://www.webartigos.com/artigos/a-importancia-da-interdisciplinaridade-e-contextualizacao/13408/. Acesso em: 07 mar. 2022.

Publicado em 29 de agosto de 2023

Como citar este artigo (ABNT)

LEITÃO, Keyliane dos Anjos. Interdisciplinaridade nas regências na residência pedagógica: uma experiência em Gurupi/TO. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 33, 29 de agosto de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/32/interdisciplinaridade-nas-regencias-na-residencia-pedagogica-uma-experiencia-em-gurupito

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