Saneamento básico e meio ambiente em Formosa/GO: relato de uma prática interventiva no Ensino Médio

Cleibiane Susi Peixoto

Graduada em Pedagogia (UFG) e em Matemática (UNIP), mestra em Educação Matemática (Uniube), doutoranda em Educação Matemática (Unesp - câmpus Rio Claro)

Cleiliane Sisi Peixoto

Graduada em Letras/Língua Portuguesa (UFG), doutora em Estudos Linguísticos (Unesp), professora de Linguística e Língua Portuguesa no IFG - câmpus Goiânia

Pablyne Ferreira da Silva

Graduada em Ciências Biológicas (IFG), especialista em Docência para a Educação Profissional e Tecnológica (DocenteEPT)

Vânia Aparecida Silva Nóbrega

Graduada em Ciências Biológicas (IFG), especialista em Docência para a Educação Profissional e Tecnológica (DocenteEPT)

Segundo o IBGE (2019), a cidade de Formosa/GO apresenta uma área total de 5.813,24km², com 121.617 habitantes. O município tem 42,9% de domicílios com esgotamento sanitário adequado, 59,5% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização e 9,2% de domicílios urbanos com urbanização adequada, com a presença de bueiros, calçadas, pavimentação e meios-fios, ressaltando-se que o bioma natural da cidade é o cerrado.

Cabe mencionar que o número habitacional da cidade cresceu consideravelmente. Com isso, houve o aumento populacional da demanda por saneamento básico e pela preservação ambiental. Com o aumento populacional, as cidades crescem de forma desordenada, ocasionando o risco de epidemias, doenças infectocontagiosas e problemas com habitação, tornando-se um ponto de atenção para a sociedade e para o governo público. Assim, a relação entre saneamento básico e meio ambiente envolve uma interdependência direta de constituição e manutenção da vida.

De acordo com estudos realizados pelo Observatório do Mundo do Trabalho (2009) e da Educação Profissional e Tecnológica, verificou-se que há uma carência de profissionais na área de saneamento e de pessoas capazes de atuarem diretamente na construção de soluções para o gerenciamento de tratamento de água, bem como para a gestão e a execução de projetos de infraestrutura hidrossanitária. A necessidade da formação de técnicos em saneamento no município de Formosa deve-se, portanto, ao fato de que a expansão urbana e industrial tem gerado a necessidade de um número maior de profissionais de nível técnico. Por isso, a referida cidade conta com o Curso Técnico Integrado em Saneamento no Instituto Federal de Goiás, câmpus Formosa, composto por disciplinas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e de âmbito técnico, aplicadas a um currículo integrado, com duração de três anos.

Além de disponibilizar a formação básica de Ensino Médio, presente nas Diretrizes Nacionais para o Ensino Médio, o curso possui também a atribuição da formação profissionalizante aos alunos. Assim, a relação teoria/prática está presente em todos os momentos escolares para que os egressos se preparem integralmente. Desse modo, convém ressaltar que no processo de ensino-aprendizagem a relação da teoria com a prática deve ser indissociável e imprescindível, com o uso de estratégias educacionais favoráveis à compreensão dos significados e à sua integração para a vivência da prática profissional.

No que se refere à Educação Ambiental, observa-se a premência de um trabalho voltado para o princípio da responsabilidade, da participação e da conscientização, aplicado diretamente em relação com o saneamento básico e o meio ambiente. O envolvimento dos alunos com a sociedade em busca de soluções ativas para esses problemas torna-se um modo fundamental de trabalho educativo, constituindo-se assim uma oportunidade de interação entre os conteúdos aplicados em sala de aula e a prática social.

Destarte, é latente a necessidade de interação entre os alunos do Curso Técnico Integrado em Saneamento e a sociedade para uma análise das condições atuais na cidade de Formosa, assim como a proposição de soluções relacionadas aos problemas identificados. Por isso, este trabalho aborda a realização de uma prática interventiva no 2º ano do referido curso, haja vista que os alunos não tiveram a oportunidade de aulas práticas devido à pandemia da Covid-19.

Observa-se, portanto, que o curso em Saneamento tem como objetivo a formação de profissionais técnicos aptos a atuarem na tomada de decisões sobre soluções relativas às questões ambientais. Desde o início do curso é muito importante que os alunos entendam a integração entre a teoria e a prática para que, quando iniciarem o 3º ano, o estágio aconteça de modo mais ameno. Por isso, a escolha da referida turma para a aplicação da prática interventiva.

É de suma importância que se considere o saber docente formado não apenas pela teoria, mas fundamentalmente pela prática. É imprescindível a compreensão de que, não obstante seja essencial, somente a formação oferecida em sala de aula não é suficiente para preparar os alunos para o pleno exercício de sua profissão. Faz-se necessária a inserção na realidade do cotidiano escolar com a prática pedagógica.

Com base no princípio dessa correlação entre teoria e prática e no fato de o 2º ano ainda não ter participado de aulas práticas, este trabalho torna essa interação possível, buscando de forma diferenciada a possibilidade de os alunos protagonizarem sua própria aprendizagem. 

Assim, propõe-se estabelecer uma integração entre os conceitos trabalhados na sala de aula da mencionada turma do Curso Técnico em Saneamento e a atual realidade vivenciada pela cidade de Formosa, no âmbito do saneamento básico relacionado ao meio ambiente, com base numa proposta de intervenção pedagógica que se valha da produção de vídeos como metodologia de ensino. Dentre outros objetivos, pretende-se, mais especificamente, identificar os impactos que o saneamento pode trazer à comunidade e ao meio ambiente.

Fundamentação teórica

Saneamento é uma temática importante para o desenvolvimento de grandes cidades e fundamental para se evitar certos tipos de doenças com os impactos que a sua falta faz ao meio ambiente. Ele envolve vários fatores (a serem abordados em seguida) que podem ser divididos em três partes fundamentais: aspectos sobre saneamento, aspectos sobre saúde e relações entre saneamento e saúde ambiental.

Aspectos sobre saneamento

De acordo com Andreazzi et al. (2007), devido ao processo de urbanização e ao adensamento urbano, no fim do século XIX foi necessário fornecer água com quantidade e qualidade, assim como recolher e tratar os dejetos humanos. Ocorreram então as primeiras intervenções de saneamento nas grandes cidades, gerando a redução de indicadores como a mortalidade infantil e a ocorrência de epidemias.

No entanto, essas intervenções foram consideradas inadequadas com o passar do tempo e com o contínuo aumento populacional, haja vista que a estratégia de universalização de técnicas e meios para a sua implementação, que pareceram inexoráveis no século XX, mostraram-se insuficientes para suprir as necessidades de todos (Andreazzi et al., 2007).

Conforme Kobiyama et al. (2008), o saneamento é definido como o conjunto de serviços e ações com o objetivo de alcançar níveis crescentes de salubridade ambiental, nas condições que maximizem a promoção e a melhoria das condições de vida nos meios urbano e rural.

Sabe-se que o saneamento envolve áreas como a saúde pública e o meio ambiente. No entanto, vários cidadãos brasileiros ainda não possuem acesso a um bem comum e de direito. Em diversos locais ainda não há abastecimento de água potável, a coleta dos resíduos é insuficiente e o tratamento do esgoto é quase nulo. Devido a isso, existem inúmeros problemas na área da saúde e do meio ambiente.

De acordo com o Art. 3º da Lei nº 11.445/07 (Brasil, 2007), que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico, os conjuntos de serviços de saneamento são assim definidos:

  1. abastecimento de água potável: conjunto de atividades, infraestruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição;
  2. esgotamento sanitário: conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente;
  3. limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas;
  4. drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas.

O saneamento ambiental abrange aspectos que vão desde o saneamento básico, englobando o abastecimento de água potável, a coleta, o tratamento e a disposição final dos esgotos e dos resíduos sólidos e gasosos. até a limpeza urbana, a drenagem urbana, o controle ambiental de vetores e reservatórios de doenças, a disciplina da ocupação e de uso da terra, além da observação de obras especializadas para proteção e melhoria das condições de vida (Kronemberger, 2011).

Aspectos sobre saúde

De acordo com Ribeiro (2004), a Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua saúde ambiental como a parte da saúde pública que se ocupa das formas de vida, das substâncias e das condições em torno do homem, podendo exercer alguma influência sobre a saúde e o bem-estar.

Cabe salientar que, até a década de 1940, os estudos sobre a relação entre saúde e ambiente eram relacionados apenas à água potável e ao saneamento básico. Somente quando a OMS formulou seu conceito de saúde, o considerando como estado de completo bem-estar físico, mental e social, em detrimento de não somente mera ausência de doença ou enfermidade, se resgatou a concepção integral de saúde.

Vale ressaltar que os pré-requisitos e as perspectivas para a saúde não são assegurados somente pelo seu setor específico, mas também por ações coordenadas entre todas as partes envolvidas, como governo, setores sociais e econômicos, organizações voluntárias e não governamentais, autoridades locais, indústria e mídia (Brasil, 2002).

Batistella (2007) afirma que o modelo de determinação social sobre saúde/doença busca articular as diferentes dimensões da vida envolvidas nesse processo, considerando os aspectos históricos, econômicos, sociais, culturais, biológicos, ambientais e psicológicos que configuram certa realidade sanitária. Nesse modelo de determinação social, a explicação de saúde e doença é mais abrangente e a noção de "causalidade" é substituída pela noção de "determinação", na qual a hierarquia das condições ligadas à estrutura social é a base da explicação sobre saúde e doença, ou seja, está associada à compreensão dos modos de vida, como fatores culturais, práticas sociais e constituição do espaço.

A promoção da saúde busca reduzir as diferenças no estado de saúde da população a fim de assegurar oportunidades e recursos igualitários para capacitar todas as pessoas a realizarem o seu potencial de saúde, o que inclui ambientes favoráveis, acesso à informação, experiências e habilidades na vida, bem como oportunidades que permitam fazer escolhas por uma vida mais saudável (Brasil, 2002).

Além disso, para se buscar soluções, Batistella (2007) esclarece que é necessário realizar uma investigação histórica da ocupação, das características físicas, econômicas, sociais e culturais do território, da disposição e da qualidade dos equipamentos e serviços públicos, do perfil epidemiológico e dos principais problemas da comunidade.

Relações entre saneamento e saúde ambiental

O saneamento constitui o controle de todos os fatores do meio físico do homem que exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre seu bem-estar físico, mental ou social. A partir desse conceito, o saneamento possui enfoque ambiental ao situá-lo no campo do controle dos fatores do meio físico e abordagem preventiva em saúde, assumindo que a própria OMS considera bem-estar físico, mental e social como definição de saúde.

A definição de saúde como resultado do equilíbrio entre o indivíduo e o meio ambiente resume a relação entre todos os fatores externos ao indivíduo (que exercem pressões sobre ele), levando à ocorrência de agravos à sua saúde. Assim é importante ressaltar que a problemática da relação saúde-ambiente se caracteriza pela multidisciplinaridade dos fatores que a compõem, podendo ser de ordem política, econômica, social, cultural, psicológica, genética, biológica, física e química.

A relação entre saneamento e desenvolvimento é bastante clara, uma vez que países com maior grau de desenvolvimento apresentam menores carências de atendimento de suas populações por serviços de saneamento. Ao mesmo tempo, países com melhores coberturas por saneamento têm populações mais saudáveis, o que por si só constitui um indicador de nível de desenvolvimento, conforme salienta Heller (1998).

Cabe ressaltar que, ao analisar as consequências das condições de saneamento sobre a saúde de populações pobres, tem-se em mente que essas áreas estão sujeitas a uma grave conjunção simultânea de riscos, que incluem muitas vezes a falta de acesso a serviços de saúde e outras deficiências habitacionais.

O risco é formulado a partir do perigo de haver um evento, fenômeno ou atividade humana potencialmente danosos, bem como da vulnerabilidade que corresponde ao grau de suscetibilidade do elemento exposto ao perigo. Dessa forma, o impacto do evento depende das características, da probabilidade e da intensidade do perigo e da vulnerabilidade das condições físicas, sociais, econômicas e ambientais dos elementos expostos (Tominaga et al., 2009).

A complexidade do funcionamento e dos processos necessários para a manutenção da vida humana, segundo o modelo econômico capitalista, torna essencial a implantação, a execução, a manutenção e a utilização de indicadores de um sistema de saneamento básico eficaz para garantir a integridade e a qualidade do meio ambiente para as gerações atuais e futuras (Kobiyama et al., 2008).

Após abordarmos os pressupostos básicos norteadores do saneamento, cabe enfatizar que a proposta da prática interventiva mostrará aos alunos a premência de se conhecer a realidade dos moradores de sua cidade, com relação ao saneamento básico e à preservação ambiental, levando-os à busca de melhorias aos moradores da região. Assim, os alunos poderão colocar em prática tudo que a teoria aborda de relevante sobre saneamento na sala de aula, evidenciando a correlação intrínseca entre a teoria e a prática para a formação do profissional na área de saneamento.

Importância da integração entre teoria e prática para a formação profissional

No processo de ensino-aprendizagem, a relação entre teoria e prática é indissociável. Para tanto, devem ser utilizadas estratégias educacionais favoráveis à compreensão dos significados e à sua integração para a prática educacional profissional.

Desse modo, afirmamos que a aula prática é necessária para que os alunos possam ter a construção de uma aprendizagem plena por meio da qual desenvolvam as habilidades e sejam estimulados ainda mais, para uma educação completa. Destaca-se que, com as aulas práticas, o desempenho dos alunos pode melhorar de forma significativa, pois esses métodos o ajudam a desenvolver o pensamento crítico, a curiosidade científica, a autonomia, o trabalho em equipe, o uso educativo da tecnologia e a autoconfiança.  Além do mais, as aulas práticas estimulam o pensamento crítico e criativo. Eles passam a entender o assunto de modo intuitivo, percebendo pessoalmente a relação entre o conteúdo da sala de aula, o mundo e o seu cotidiano.

Disciplinas e conteúdos trabalhados

A prática interventiva foi aplicada no 2º ano do Curso Técnico Integrado de Saneamento do Câmpus Formosa do Instituto Federal de Goiás. Para a sua aplicação, foram abordadas duas disciplinas ministradas: o Sistema de esgotamento sanitário e o Gerenciamento de Resíduos Sólidos.  A escolha dessas disciplinas se justifica por se relacionarem integralmente com a proposta realizada, uma vez que ambas tratam de conteúdos diretamente ligados à questão de saneamento básico interligado com a preservação ambiental. Os conteúdos abordados pelas disciplinas foram:

Gerenciamento de Resíduos Sólidos:

  • Segregação / Coleta Seletiva / Usina de Triagem;
  • Rotulagem Ambiental.

Sistema de Esgotamento sanitário:

  • Sistemas individuais de vias secas;
  • Sistemas Individuais de via úmida;
  • Tanque Séptico;
  • Disposição final do esgoto.

Objetivo geral

O principal objetivo da prática interventiva foi estabelecer uma integração entre os conceitos trabalhados na sala de aula do Curso Técnico em Saneamento e a atual realidade vivenciada pela cidade de Formosa.

Mediante a prática, os alunos analisaram as condições atuais de saneamento na cidade, assim como os impactos positivos e negativos sofridos pelo meio ambiente, com o propósito de correlacionar teoria e prática.

Objetivos específicos

Objetivou-se, especificamente:

  • Registrar a relação entre saneamento básico e meio ambiente, baseando-se nos conteúdos estudados em sala de aula;
  • Identificar quais impactos a falta de saneamento pode trazer à comunidade e ao meio ambiente;
  • Identificar os impactos positivos do Saneamento no meio ambiente;
  • Estabelecer ações que os cidadãos podem realizar para a manutenção do saneamento e da preservação ambiental;
  • Observar os impactos ambientais negativos causados pela falta de saneamento na cidade de Formosa;
  • Propor soluções aos problemas identificados.

Metodologia

A prática interventiva contou com a participação de 30 alunos do 2º ano do Técnico Integrado em Saneamento cursando o 3º bimestre e constituiu-se de seis fases, descritas a seguir:

  • Primeira fase: levantamento de cursos técnicos integrados disponíveis para a aplicação do projeto. Foi identificado que o câmpus Formosa apresentava o curso ativo, voltado para a temática inicialmente almejada.
  • Segunda fase: contato com o coordenador do curso para a apresentação da intervenção pedagógica e a averiguação da disponibilidade de aplicação. Nesse momento, foi-nos informado que as aulas estavam acontecendo remotamente, via plataforma Moodle e Google Meet. Em reunião com a professora regente da disciplina selecionada, foi-nos informado ainda que essa turma era diferenciada, pois as aulas dos alunos ocorriam somente online desde o início da pandemia, dificultando a correlação entre a prática pedagógica e a teoria. Para o acompanhamento dos conteúdos ministrados e das atividades realizadas, a prática iniciou-se com a mediação via plataforma Moodle, de acordo com a sugestão da professora regente. Desse modo, realizou-se um levantamento minucioso dos conteúdos aplicados e a forma como eles tinham sido aplicados. Foi observada a relevância dos conteúdos e com isso a importância de sua aplicação de modo a integrar a teoria com a prática que, por sua vez, foi proposta em forma de produção de vídeos pelos próprios alunos. Eles realizaram um levantamento das condições atuais de saneamento em um relatório contendo as informações apresentadas nos vídeos, bem como as propostas de soluções para os problemas identificados.
  • Terceira fase: apresentação do projeto aos alunos, com a utilização de 2 aulas. Como as aulas ocorriam remotamente, a apresentação aconteceu via Google Meet, com o propósito de abordar alguns temas já estudados pelos discentes, correlacionando-os com a prática de aplicação. Nessa fase, orientou-se sobre a gravação dos vídeos (seguindo as normas da OMS) e sua postagem no Moodle, além de procedimentos para a realização dos relatórios concernentes ao levantamento dos dados captados.
  • Quarta fase: criação dos vídeos. Essa etapa consistiu no esclarecimento de dúvidas dos alunos. Nesse momento, o professor assumiu o papel de mediador, enquanto os alunos assumiram o papel de protagonistas.
  • Quinta fase: postagem dos vídeos e dos relatórios no Moodle pelos alunos.
  • Sexta fase: análise dos vídeos e dos relatórios postados.

Portanto, realizou-se uma prática interventiva baseada em metodologia ativa, pois na construção dos vídeos os alunos assumiram o papel de protagonistas da sua própria aprendizagem. Com base nesse pressuposto, percebe-se que esse recurso é uma forma colaborativa a partir da qual os alunos utilizam tanto a cultura científica quanto a cultura cotidiana em contextos específicos, construindo seus próprios conhecimentos numa visão otimista de favorecimento da emancipação humana e da consciência crítica.

Resultados esperados

Esperava-se que, com a metodologia abordada, os alunos pudessem correlacionar de forma efetiva os conteúdos aprendidos em sala de aula com a realidade vivenciada no dia a dia no meio urbano, formando uma ponte entre a teoria e a prática. Esperava-se ainda que os discentes fossem capazes de propor soluções para os problemas identificados relacionados com o saneamento e a preservação ambiental.

Avaliação da prática interventiva

A avaliação da prática interventiva ocorreu de forma contínua, mediante observação e registro da participação dos alunos, desde a primeira fase, durante a elaboração dos vídeos e das entrevistas, até a sua finalização.

Como foco principal, realizou-se a produção de um vídeo mostrando a realidade da cidade sobre o saneamento básico, os impactos causados ao meio ambiente e à saúde pública na cidade, destacando os pontos positivos e negativos do saneamento por meio de visita in loco, além de entrevistas com os moradores. A partir daí, os alunos relacionaram sugestões para os problemas detectados. Ao final, eles postaram relatórios abordando o que analisaram durante a produção dos vídeos e suas sugestões de melhorias.

Essa prática interventiva levou os alunos a aplicarem a teoria estudada em sala de aula. Assim, foi-lhes propiciada a oportunidade de terem uma visão da realidade local, percebendo a importância de uma política pública bem estruturada para sanar os problemas por eles diagnosticados.

As visitas aos locais públicos mostraram a real necessidade do saneamento básico e seus impactos na comunidade. A participação da população foi de extrema valia para os alunos compreenderem o que os moradores locais vivenciam e terem uma visão totalmente realista da teoria aplicada em sala de aula.

Discussão dos resultados da prática interventiva

A temática abordada na prática interventiva estabelece uma relação direta entre teoria e prática de modo diferenciado, pois os alunos tiveram a oportunidade de realizar visitas e entrevistas com os moradores. Os vídeos gravados pelos alunos, bem como os relatórios realizados, foram postados na plataforma Moodle para a realização da análise.

Foi possível observar que os alunos se empenharam de forma excepcional para realizar a produção dos vídeos, de modo que todos os grupos participantes entrevistaram os moradores com o propósito de realizar um levantamento mais amplo na abordagem da real situação do saneamento básico atrelado à preservação ambiental na cidade de Formosa.

Observou-se também que os alunos usaram de forma efetiva os conhecimentos por eles estudados em sala de aula para a análise das entrevistas, identificando diversos problemas de saneamento na referida cidade, a fim de buscar soluções para amenizá-los. A partir dos vídeos analisados, verificamos que os alunos usaram a prática para relacionar os conteúdos das disciplinas específicas do curso, de modo a serem capazes de relacioná-los de forma crítica com a política pública ambiental.

A seguir, os principais problemas identificados pelos alunos em relação ao saneamento e à preservação ambiental na cidade de Formosa:

  • Falta de manutenção das estruturas de saneamento;
  • Aterro sanitário que não cumpre a lei específica;
  • Falta de coleta seletiva de lixo;
  • Manutenção e limpeza das galerias de captação de águas pluviais;
  • Destinação adequada do lixo;
  • Coleta de lixo eletrônico.

As soluções apontadas pelos alunos para os problemas identificados estão diretamente ligadas ao poder público:

  • Criação de política municipal de saneamento;
  • Criação do plano municipal de saneamento, como também o conselho municipal de saneamento;
  • Coleta seletiva e manutenção das estruturas do saneamento;
  • Conscientização da população com relação à educação ambiental e sanitária, a fim de reduzir muitos problemas detectados.

Nos vídeos apresentados, os alunos correlacionaram diversos problemas sanitários e suas possíveis soluções com as disciplinas de Gerenciamento de Resíduos Sólidos e Sistema de Esgotamento Sanitário.

Com base nos vídeos analisados e no feedback da professora regente da turma, identificou-se que a presente prática interventiva contribuiu significativamente para o aprendizado dos alunos e, por meio dela, eles agregaram conhecimento de modo diferenciado do modelo tradicional de ensino.

Considerações finais

Este trabalho se propôs a relatar uma prática interventiva realizada no 2º ano do Curso Técnico em Saneamento do Instituto Federal de Goiás, no câmpus Formosa. O intuito principal foi integrar os alunos aos conceitos trabalhados em sala com a atual realidade vivenciada pela cidade de Formosa no âmbito do saneamento básico e do meio ambiente.

Para a realização da prática, propõe-se a metodologia ativa da produção de vídeos pelos alunos, a fim de entrevistarem os moradores da cidade e identificarem os problemas de saneamento existentes. Pelas entrevistas realizadas, os alunos constataram os impactos que o saneamento pode trazer à comunidade e ao meio ambiente, usando, de forma efetiva, os conhecimentos estudados em sala de aula para analisar as entrevistas e identificar problemas de saneamento em Formosa, cujas soluções estão ligadas ao poder público.

A realização da prática foi de grande pertinência, tanto para os alunos quanto para as professoras proponentes da intervenção, pois, como dizia Cora Coralina, "feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina" (1997).

Referências

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BATISTELLA, C. O território e o processo saúde-doença. Rio de Janeiro: EPSJV/Fiocruz, 2007. Disponível em: http://www.epsjv.fiocruz.br/pdtsp/index.php?livro_id=6&area_id=2&autor_id=&capitulo_id=13&arquivo=ver_conteudo_2 Acesso em: 20 out. 2016.

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Portal do IBGE. s/d. Disponível em: Portal do IBGE. Acesso em 11 nov. 2021.

KOBIYAMA, M. et al. Recursos hídricos e saneamento. Curitiba: Organic Trading, 2008.

KRONEMBERGER, D. M. et al. Saneamento e meio ambiente. Atlas de Saneamento, Rio de Janeiro, 2011.

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RIBEIRO, H. Saúde pública e meio ambiente: evolução do conhecimento e da prática, alguns aspectos éticos. Saúde e Sociedade, São Paulo, n° 1, p. 70-80, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v13n1/08.pdf. Acesso em: 1 mar. 2016.

TOMINAGA, L. K. et al. Desastres naturais: conhecer para prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009.

Publicado em 12 de setembro de 2023

Como citar este artigo (ABNT)

PEIXOTO, Cleibiane Susi; PEIXOTO, Cleiliane Sisi; SILVA, Pablyne Ferreira da; NÓBREGA, Vânia Aparecida Silva. Saneamento básico e meio ambiente em Formosa/GO: relato de uma prática interventiva no Ensino Médio. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 35, 12 de setembro de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/35/saneamento-basico-e-meio-ambiente-em-formosago-relato-de-uma-pratica-interventiva-no-ensino-medio

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