Aprendizagem baseada em problema: uma prática colaborativa na perspectiva da Taxonomia de Bloom
Rita de Cassia Firme Thevenard de Negreiros Piffer
Graduada em Ciências Biológicas e Pedagogia, especialista em Gestão Escolar e Arte na Educação, mestranda em Tecnologias Emergentes em Educação (Must University)
Maria Eduarda de Lima Menezes
Doutora e mestra em Educação: Currículo (PUC-SP), professora adjunta da Must University
Os recursos tecnológicos estão presentes e intrínsecos na rotina da sociedade contemporânea. Nessa perspectiva, o processo educacional sofreu alterações, afinal a sociedade passou a utilizar cada vez mais a internet e a escola não poderia ficar alheia a essa crescente demanda (Silveira et al., 2012). Assim, o uso de aplicativos, softwares, redes sociais e multimídias vem ganhando, cada vez mais, espaço entre os jovens e, em virtude disso, o setor educacional não poderia ficar alheio a essa crescente demanda.
Segundo Galhardi e Azevedo (2013), os estudantes atuais estão familiarizados com a utilização de tecnologia e, por isso, utilizá-las nas práticas pedagógicas é uma das premissas para que os espaços de aprendizagem sejam reestruturados e ressignificados de forma a atender à expectativa das novas gerações de estudantes. Para Coberllini (2011), os recursos tecnológicos devem ser utilizados como ferramentas pedagógicas visando criar ambientes que fomentem o compartilhamento de experiências, de aprendizagens e de soluções criativas por meio da participação ativa dos educandos.
Dessa maneira, é essencial que os profissionais da Educação utilizem os recursos digitais em seu fazer pedagógico para que suas aulas possam ser, intencionalmente, mais atrativas, dinâmicas e motivadoras para os estudantes.
Ancoradas nesse entendimento, as aulas precisam ser planejadas considerando o tema a ser trabalhado, o público a ser atendido, a metodologia que norteará o processo e os objetivos que se espera alcançar, lembrando sempre de alinhar quais recursos tecnológicos melhor incidirão nos objetivos de aprendizagem de cada planejamento (Kenski, 2003). Então, este trabalho visa responder à seguinte questão: como propor uma prática pedagógica que fomente a aprendizagem colaborativa utilizando recursos tecnológicos?
Diante disso, o objetivo deste trabalho é apresentar uma prática por meio da aprendizagem baseada em problema (ABP), estruturada na perspectiva da Taxonomia de Bloom utilizando diferentes recursos tecnológicos. A metodologia utilizada foi um ensaio teórico subsidiado por pesquisa bibliográfica.
Este trabalho aborda a aprendizagem colaborativa e como essa metodologia potencializa o ensino por meio de trabalhos desenvolvidos coletivamente, em que os estudantes são partícipes no processo de ensino-aprendizagem. Em seguida, aborda a Taxonomia de Bloom e, por fim, apresenta a metodologia de aprendizagem baseada em problema e as etapas de uma prática baseada nessa metodologia, alinhada à Taxonomia de Bloom.
Aprendizagem colaborativa
A aprendizagem colaborativa apresenta-se como uma metodologia que encoraja e valoriza o protagonismo do estudante (Torres; Alcantara; Irala, 2004). Essa estratégia de ensino norteia-se pela participação ativa dos educandos intencionando elevar o engajamento, a troca de aprendizagem e a motivação para o desenvolvimento, tanto cognitivo quanto socioemocional.
Para Minhoto e Meirinhos (2011), a aprendizagem colaborativa é vantajosa aos educandos, pois potencializa o desenvolvimento de habilidades, seja a níveis pessoais, seja a níveis de grupo. Logo, quanto mais diversos forem os grupos de trabalho, maior será a pluralidade de habilidades e a riqueza nas interações e integrações.
A aprendizagem colaborativa baseia-se na premissa de que o conhecimento é resultado de um consenso entre os partícipes que construíram, dialogaram e refletiram juntos tentando solucionar um problema, um projeto ou um estudo (Torres; Alcantara; Irala, 2004). Dessa maneira, os trabalhos propostos pelos docentes devem ser refletidos, dialogados e desenvolvidos coletivamente, de forma a promover os estudantes como protagonistas no processo de ensino-aprendizagem.
Na perspectiva da aprendizagem colaborativa, o professor é apenas o articulador, estimulador e facilitador da aprendizagem. Para Coberllini (2011), o professor precisa estar constantemente alinhado às novas tecnologias e aos novos métodos pedagógicos para realizar seu papel de mediador do conhecimento e do aprendizado.
Segundo Minhoto e Meirinhos (2011), a centralidade da aprendizagem colaborativa está no trabalho em grupo, contribuindo tanto para uma aprendizagem coletiva quanto para uma aprendizagem individual. Dessa maneira, a interação entre os sujeitos é fundamental; afinal, as habilidades de cada um são combinadas para potencializar o desenvolvimento do trabalho de maneira colaborativa (Silveira et al., 2012).
Este trabalho apresenta uma proposta de ABP nos contornos da aprendizagem colaborativa, pois, de acordo com Souza e Dourado (2015), essa metodologia baseada em problema valoriza as relações interpessoais e sociais dos estudantes, que utilizarão habilidades preexistentes como caminhos para o desenvolvimento de novas competências não só cognitivas, mas sociais e emocionais de maneira consciente, proativa e corresponsável.
Taxonomia de Bloom
A Taxonomia de Bloom, conhecida também como taxonomia dos objetivos educacionais, elaborada por Benjamin Bloom em parceria com especialistas, em 1956 foi apresentada à sociedade como um sistema de classificação que intencionava definir e organizar os objetivos de aprendizagem em domínios cognitivos, afetivos e psicomotor (Galhardi; Azevedo, 2013).
Definir objetivos de aprendizagem, na visão de Ferraz e Belhot (2010), perpassa a ideia de estruturar o processo educacional com o objetivo de promover mudanças significativas e conscientes. Para isso, é preciso que os profissionais da Educação entendam que é primordial o planejamento de todo o processo de ensino, refletindo inclusive sobre quais ferramentas e caminhos são necessários para avaliar o processo de aprendizagem.
Mesmo sabendo que são descritos três domínios na Taxonomia de Bloom, este trabalho trata apenas do cognitivo, pois, segundo Ferraz e Belhot (2010), esse domínio ancorou o fazer pedagógico de diversos educadores.
Dessa maneira, as aprendizagens do domínio cognitivo propostas na taxonomia se estruturam, segundo Araújo et al. (2013), em seis níveis: conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação. Pinto (2015) aponta que ela intenciona organizar hierarquicamente os objetivos de aprendizagem em níveis, considerando que o estudante parte de competências e habilidades mais simples e, à medida que caminha em seu processo educacional, ganhando robustez, alcança os níveis mais complexos previstos pela taxonomia.
Nessa mesma ótica, essa é uma vantagem da taxonomia apontada por Ferraz e Belhot (2010), uma vez que auxilia os docentes a estimular os alunos a adquirir habilidades de maneira linear, ou seja, partindo das mais simples para alcançar as habilidades mais complexas.
Diante de reflexões acerca dos melhores caminhos para uma educação realista e completa e com a crescente evolução tecnológica, a escola passou a agregar os recursos digitais como ferramentas para instigar, engajar e potencializar o conhecimento cognitivo dos estudantes. Dessa maneira, a Taxonomia de Bloom foi revisada considerando a necessidade de integrar as novas descobertas e os recursos tecnológicos que impactaram diretamente o ambiente educacional (Ferraz; Belhot, 2010).
Então, de acordo com Galhardi e Azevedo (2013), a taxonomia passou a considerar como níveis/categorias os verbos de ação: lembrar, entender, aplicar, analisar, avaliar e criar que subsidiariam o planejamento e indicariam os objetivos de aprendizagem a serem alcançados pelos estudantes.
Assim, como base na proposta da Taxonomia de Bloom, podemos organizar de forma sistêmica o aprendizado dos estudantes de maneira que em cada nível sejam articulados conteúdos considerados como pré-requisitos para a próxima etapa, bem como estruturar atividades que apoiem a consolidação do conhecimento.
Aprendizagem baseada em problema
A aprendizagem baseada em problema (ABP) constitui-se em uma estratégia de ensino fundamentada na participação ativa do estudante, visando o desenvolvimento de habilidades que subsidiarão os processos de ensino e de aprendizagem (Souza; Dourado, 2015).
Dessa forma, o educando produz seu conhecimento por intermédio da investigação e precisa ser estimulado a analisar, refletir e buscar soluções para o problema proposto a ele. Nessa linha, Borges et al. (2014) apontam que o momento de aprendizagem precisa ser respeitoso e reflexivo, de maneira que cada estudante se sinta seguro para expor ao grupo em que está inserido ou para o professor suas ideias e argumentos, promovendo o desenvolvimento de habilidades argumentativas, comunicativas e colaborativas, além do respeito individual e coletivo.
De acordo com Souza e Dourado (2015), a ABP se contrapõe a modelos de ensino tradicionais quando intencionalmente os educandos são deslocados como peça central e ativa no processo de ensino. Para Borges et al. (2014), essa metodologia estimula a participação ativa dos estudantes na busca pela resolução de problemas ou situações reais, em que, por meio de diálogos e reflexões em grupo, retomam os conhecimentos e encontram alternativas que promovam novos conhecimentos.
Nessa perspectiva, a ABP apresenta-se como uma metodologia transdisciplinar e integradora, em que os estudantes são desafiados e estimulados a resolver em grupo uma problemática proposta pelo professor, tutor ou mediador da aprendizagem (Borges et al., 2014). Para isso, os estudantes utilizam habilidades que os apoiem na busca por soluções, e nesse processo estimula-se a construção de novos conhecimentos e o desenvolvimento de habilidades.
A ABP, segundo Souza e Dourado (2015), ganhou destaque no meio acadêmico como uma prática que pode ser aplicada em diferentes etapas e modalidades de ensino. Assim, caberá ao professor, em conjunto com a instituição de ensino e seus gestores, encontrar quais serão as necessidades de ajustes pedagógicos e adequações das práticas e rotinas fundamentais para cada realidade e contexto no qual estão inseridos.
Etapas de uma ABP na perspectiva da Taxonomia de Bloom
É desafiador implementar uma prática educacional pautada na participação ativa do estudante agregando a utilização de recursos tecnológicos; portanto, faz-se necessário um planejamento detalhado dos passos a serem trilhados e das habilidades que se espera desenvolver nos estudantes. Pinto (2015) afirma que planejar é escolher os objetivos de aprendizagem agregando a eles as melhores estratégias educacionais.
Assim, esta prática foi planejada utilizando a metodologia da aprendizagem baseada em problema (ABP), tendo como público os estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental, em uma abordagem interdisciplinar. Esta proposta partiu do tema hábitos da vida moderna e produção de lixo impactando a sociedade.
Para que ocorra um bom planejamento, Borges et al. (2014) afirmam que é preciso investimento financeiro na aquisição e implementação de recursos tecnológicos e educacionais, bem como na ampliação de espaços físicos e virtuais. Assim, os docentes serão estimulados a pensar estratégias pedagógicas diversificadas e inovadoras direcionando o aprendizado dos educandos para algo mais contextualizado e significativo. Alinhado a isso, Frison (2016) esclarece que é papel do professor estimular o desenvolvimento de competências e habilidades que visem um processo de ensino mais efetivo e significativo.
Na busca por aulas mais estimulantes e desafiadoras, a proposta apresentada a seguir tem como objetivo geral traçar possíveis soluções para resolver a problemática apresentada na prática ABP. E tem como objetivos específicos envolver os estudantes ativamente no processo de ensino, desenvolver as habilidades cognitivas do currículo de maneira integrada, estimular nos estudantes o pensamento criativo na resolução do problema e fomentar o uso de recursos tecnológicos.
Para facilitar a organização e a melhor compreensão, esta prática foi dividida em etapas. Na etapa 1 o professor deverá apresentar a temática aos grupos de trabalho, buscando identificar os conhecimentos que os estudantes possuem sobre o assunto por meio de um recurso tecnológico conhecido como nuvem de palavras. O professor, nessa etapa, terá o papel de estimular os estudantes, garantindo maior engajamento.
Segundo Minhoto e Meirinhos (2011), é preciso que a escola incorpore as ferramentas que a sociedade vem utilizando para se comunicar. Assim, na etapa 2 os estudantes se apoiarão em vídeos, podcasts e pesquisas em sites, livros físicos e digitais para se aprofundar nos conhecimentos necessários para compreender o que são resíduos sólidos, os tipos de lixos, tempo de decomposição deles e hábitos consumistas da sociedade moderna, entre outros.
Nesse momento, caberá ao docente acompanhar o desenvolvimento dos educandos e, como forma de avaliar essa etapa, solicitar a elaboração de mapas mentais, conceituais e relatos que possam compilar o que os estudantes aprenderam; assim perceberemos a categoria lembrar, da Taxonomia de Bloom, sendo trabalhada.
Agora que os estudantes já adquiriram habilidades cognitivas fundamentais para conhecer o problema que estão pesquisando, é o momento de iniciar a próxima etapa. Para tanto, na etapa 3 os educandos buscarão entender a problemática proposta por meio de reflexões colaborativas do grupo, ampliando a complexidade argumentativa, estimulando a interação entre eles e o respeito à pluralidade de ideias. O docente deverá solicitar que os estudantes resumam quais foram as contribuições e explicações do grupo referentes aos impactos e desafios que a sociedade moderna enfrenta com o lixo produzido.
Araújo et al. (2013) ressaltam que o nível entender orienta-se na interpretação do que foi aprendido pelos educandos. Assim, indicamos a utilização de questionário via Formulários Google como forma de identificar se o objetivo de aprendizagem foi consolidado nessa etapa.
Na etapa 4, o professor precisará fomentar que os educandos apliquem os conhecimentos que aprenderam para dialogar e refletir como a comunidade do entorno responde sobre a problemática do lixo. Os estudantes deverão, de forma colaborativa, coletar as informações por meio de entrevistas, observações, imagens e o que mais julgarem ser pertinente. Caberá ao docente solicitar que os estudantes organizem ideias robustas e específicas para apontar quais estratégias o bairro precisará adotar para resolver a situação problema estudada. Nessa etapa, perceberemos a categoria aplicar sendo desenvolvida pelos estudantes.
Nas etapas 5 e 6 os educandos precisarão estruturar as informações para posterior análise e avaliação. Para que o professor consiga realizar o monitoramento e a verificação da aprendizagem, será preciso solicitar que os estudantes analisem e comparem dados da produção de resíduos de diferentes locais para, em seguida, explicar como o lixo produzido pela comunidade do entorno da escola impacta o meio ambiente do município, estado e país. Dessa maneira, poderá ser observado se os estudantes desenvolveram a habilidade de emitir ideias, argumentos e questionamentos, habilidades percebidas na categoria analisar e avaliar da Taxonomia de Bloom.
O recurso tecnológico que poderá ser utilizado nessa etapa é o Padlet ou o Jamboard para potencializar a construção coletiva, pois, como afirma Kenski (2003), os recursos tecnológicos quando aplicados em práticas colaborativas permitem a construção de espaços de inteligência pessoal e coletiva.
Para a etapa 6, os estudantes serão desafiados a elaborar um produto com a colaboração de todos os participantes do grupo para ser apresentado em uma feira de ciências na escola. O produto poderá ser desenvolvido tanto com recursos físicos como digitais, como folders, vídeos, jogos, infográficos, podcasts, blogs e sites, entre outros.
Por meio desse produto, os estudantes serão estimulados a consolidar a categoria/nível criar; com isso, o professor poderá perceber se essa habilidade foi desenvolvida pelos educandos.
A nuvem de palavras a seguir reforça os principais pontos mencionados na prática proposta aqui.
Figura 1: Nuvem de palavras
A Figura 1 destaca as palavras que mais foram utilizadas, apresentando-as em tamanhos diferenciados. Percebe-se então que a palavra colaborativa ocupou o centro da nuvem e com maior destaque; afinal, a aprendizagem colaborativa pode ser fomentada por diversos recursos tecnológicos, bem como organizada e direcionada por meio da Taxonomia de Bloom, visando ao alcance dos objetivos de aprendizagem dos estudantes.
Portanto, toda essa prática visou direcionar para um trabalho colaborativo como forma de valorizar a atividade, garantindo o respeito ao pensamento diverso e plural, a interação e a superação dos desafios em busca de soluções que sejam aceitas por todos os integrantes do grupo.
Considerações finais
É notório que a aprendizagem colaborativa agregada a recursos tecnológicos amplia o aprendizado dos estudantes de forma integrada e potencializa o desenvolvimento de habilidades necessárias ao processo educacional e à formação integral do estudante.
Diante disso, notamos que a ABP proposta na prática apresentada promove o desenvolvimento de habilidades não só cognitivas, mas socioemocionais também, uma vez que estimula o estudante a uma participação efetiva e a uma escuta ativa dos colegas, respeitando uns aos outros.
Conclui-se que para a educação alcançar patamares robustos e assertivos é fundamental que o docente busque estratégias pedagógicas alinhadas aos objetivos de aprendizagem elencados na Taxonomia de Bloom, que subsidiarão seu planejamento, e que utilize recursos digitais que funcionarão como facilitadores e estimuladores do processo de ensino-aprendizagem dos estudantes.
Referências
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Publicado em 19 de setembro de 2023
Como citar este artigo (ABNT)
PIFFER, Rita de Cassia Firme Thevenard de Negreiros; MENEZES, Maria Eduarda de Lima. Aprendizagem baseada em problema: uma prática colaborativa na perspectiva da Taxonomia de Bloom. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 36, 19 de setembro de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/36/aprendizagem-baseada-em-problema-uma-pratica-colaborativa-na-perspectiva-da-taxonomia-de-bloom
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