Liderança empreendedora como fator de melhoria na gestão escolar
Alex Miller Peres da Silva
Especialista em Gestão de Projetos e MBA executivo em Gestão de Negócios (UCAM), mestre e doutorando em Ciências de Administração de Negócios (World Christian University, EUA)
Felício Júlio de Azevedo Hungria
Historiador, jornalista, especialista em Tecnologias da Educação (PUC-Rio), doutor em Ciências da Educação (Christian Business School, EUA) e em Ciências de Negócios (Universidad Mártin Lutero, EUA)
O empreendedorismo é mais do que apenas abrir um negócio; ele tem sido estudado e analisado em diversas áreas, inclusive na Educação. A educação empresarial envolve um processo de reflexão e conscientização que visa transformar experiência e conhecimento em aprendizado para formar pessoas e líderes inovadores, conscientes e éticos no seu dever.
Há uma necessidade generalizada na sociedade de revitalizar as escolas com potencial inovador, captar a atenção dos alunos e tornar-se um meio de educação. A demanda por sujeitos mais proativos em suas ações desafia as escolas a pensar na formação de seus alunos.
Dentro de tal realidade, a educação para o empreendedorismo é reconhecida como um potencial que as escolas devem abordar. O progresso social se reafirma com o advento da educação ressurgente, a educação empreendedora (Lopes, 2010).
Mas o senso comum ainda vê o potencial empreendedor como uma característica inata de algumas pessoas, como Dolabella (1999, p. 11) afirma: “uma minoria eleita nasceria com esse dom, enquanto uma maioria menos privilegiada estaria fadada a se submeter às vontades e ordens de terceiros”.
Todavia, vários estudos de Fernando Dolabella já apontavam que essas competências poderiam ser desenvolvidas por meio de uma aprendizagem diferenciada. Uma educação formadora de atitudes é uma educação voltada para o desenvolvimento da sociabilidade que preconiza a formação de sujeitos mais críticos e ativos, ou seja, empreendedores.
A formação de alunos mais ativos leva diretamente à necessidade não somente de professores empreendedores para que possam inovar em sala de aula com perspectivas mais amplas e práticas positivas, mas também de todos os que lideram dentro da instituição escolar.
Diante de tal contexto, surge-nos um questionamento: como a liderança empreendedora pode ser fator de melhoria no processo de gestão escolar?
Para responder a essa questão, nosso objetivo torna-se entender como o modelo de liderança empreendedor pode afetar a melhoria da gestão escolar. Acredita-se que esse trabalho possa contribuir com a melhoria da gestão escolar por meio da abertura do diálogo. O presente artigo pretende trazer luz e novas considerações sobre essa temática essencial para a Educação em período pós-pandemia e com uma série de mudanças acontecendo a cada momento e apresentar uma tendência de gestão pautada em assertividade, criatividade, inovação e estratégias de escuta que permitam tornar a escola um ambiente integrado, acolhedor e desafiador.
Fundamentação teórica
Esta fundamentação trata primeiramente do conceito de empreendedorismo e sua relação com a escola. No segundo momento discute e apresenta como a gestão escolar empreendedora e participativa pode auxiliar no desenvolvimento da instituição escolar; por último, traz a importância da liderança empreendedora como fator de extrema importância para a melhoria do desempenho do ambiente escolar.
A educação empreendedora
A origem da palavra empreendedorismo está no latim imprendere, que significa “decidir, realizar tarefa difícil e laboriosa” (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001), “colocar em execução” (Dicionário Aurélio, 1975) ou “prender nas mãos, assumir, fazer”. Do ponto de vista histórico, Hungria relata que a Revolução Industrial de 1760, na Inglaterra, foi um ponto marcante para a expansão do movimento empreendedor. Alguns historiadores afirmam que já em 1725 o economista franco-irlandês Richard Cantillon (1680-1734) usou pela primeira vez o termo “empreendedor”.
Os empreendedores sempre foram a chave do progresso e da inovação na sociedade, no desenvolvimento de produtos ou ideias. Na economia, por exemplo, são extremamente cruciais porque, como bem salienta Schumpeter (1949), continuamente eles geram e introduzem inovações de suma importância para o progresso econômico de cada país e do mundo como um todo.
Sanábio (2011) apresenta o resumo de uma definição aproximada do que é ser um empreendedor associado à gestão de negócios, sendo responsável por adicionar valores. Na opinião de Schumpeter (1949), a inovação é a chave do comportamento empreendedor, é o ponto crucial para criar novas demandas de mercado. Teoricamente, os empreendedores, ao transformar as estruturas sociais, políticas e culturais, podem transformar as estruturas sociais existentes, introduzindo novas formas de organização e relacionamento no conflito entre o velho e o novo. Romper a ordem: isso é definido por ele como “destruição criativa”.
Assim, um empreendedor é uma pessoa que propõe mudanças e inovações para reorganizar um ambiente estabelecido em geral e gerar lucros e valor agregado. Para McClelland (apud Sanábio; Magaldi; Machado, 2016), os empreenderes são individuos que possuem como inspiração e necessidade de vida a busca pela realizações de coisas excepcionais, acima do normal. São relacionais, assumem riscos calculados, estabelecem objetivos criticos que, pela maioria, são quase impossíveis de ser alcançados.
Hoje, cada vez mais, tem emergido o entendimento de que empreendedorismo não é apenas algo voltado a um negócio ou ao mundo business, mas sim a algo mais amplo, uma forma de ser, “ligado a estilo de vida, visão de mundo, protagonismo, inovação, capacidade de introduzir mudanças em si mesmo e no ambiente, meios e formas de buscar a autorrealização” (Dolabella, 2003b, p. 37).
Alguns estudos já realizados na área, especialmente o de Fernando Dolabella, já afirmavam que a característica empreendedora pode ser desenvolvida em um processo de aprendizado diferenciado e contínuo.
Uma educação que vise e tenha foco no desenvolvimento social, que busque a formação de um sujeito mais crítico e proativo pode ser considerada uma educação que propicia atitude empreendedora. O empreendedor é um visionário e estrategista por natureza, mas, em especial, é um individuo extremamente sonhador.
Dolabella (2003b, p. 38), em Teoria Empreendedora dos Sonhos, define que “é empreendedor, em qualquer área, alguém que sonha e busca transformar seu sonho em realidade”. Assim, uma atividade torna-se empreendedora somente quando o sonho torna-se ação; portanto, o empreendedor é um sonhador que age. Filion (apud Sanábio; Magaldi; Machado, 2016) vem nessa mesma direção quando define o empreendedor como aquele que busca por meio de sua incrivel imaginação o desenvolvimento e a realização de suas visões e aspirações futuras, desejando sempre entregar aos seus clientes mais do que uma venda de produtos ou serviços, mas uma experiência encantadora, conquistando seu espaço no ambiente.
Os empreendedores passam por um ciclo de aprendizagem que se divide em duas fases, ou seja, em dois momento importantes, que Dolabella (2003b) conceitua como sendo, em primeiro lugar, o estágio da imaginação, da visão e do sonho; no segundo momento, a busca apaixonada pela realização deles, aprendendo tudo que o que for necessário para tal.
Dornelas (2007), por sua vez, também listou algumas características que, segundo ele, os empreendedores tendem a compartilhar: ter visão de futuro e insights; ser um bom tomador de decisões; ser um gerador de mudanças; saber aproveitar ao máximo as oportunidades; ser decisivo e dinâmico; ser otimista, entusiástico e apaixonado pelo que está criando e desenvolvendo; ser independente e capaz de construir seu próprio destino; ser um líder e construtor de equipes; ser um bom comunicador; saber planejar e organizar; conhecer o negócio em que pretende entrar; capacidade de assumir riscos calculados, além de gerar valor para a sociedade.
Escarlate (2010) adiciona mais características a essa lista: saber estalecer metas, buscar oportunidades, possuir ação proativa, buscar informações, ter capacidade de persuasão e comunicação, possuir a necessidade da busca frequente pela qualidade e eficiência, planejamento e controle sistemático, possuir determinação, foco e persistência, autonomia e autoconfiança.
Dadas as múltiplas características do empreendedorismo e daqueles que são empreendedores, é importante destacar que as escolas também podem facilitar, desenvolver e potencializar essas competências em seu ambiente, haja vista que são locais muito propícios à disseminação dessas ideias, permitindo o fomento, a criatividade, a experimentação e o questionamento. É papel das escolas a promoção dessas competências para seus alunos, para que eles sejam cada vez mais bem informados, proativos, motivados e capazes de construir uma sociedade mais justa, desenvolvida e inovadora.
Nesse ponto, é importante destacar que isso não quer dizer que seja papel da educação empreendedora fazer de cada criança e aluno um agente de criação de empresas (Martins, 2010); essa não é a finalidade central, mas sim desenvolver agentes que integrem valores, atitudes, comportamentos, percepções de mundo e “autoequilíbrio”, ou seja, construir seres humanos mais extrovertidos, inovadores, persistentes e sociáveis com aqueles que os cercam, na vida de cada individuo da escola.
Assim, a aprendizagem empreendedora pode ser compreendida como “um processo dinâmico de conscientização, reflexão, associação e aplicação que envolve transformar a experiência e o conhecimento em resultados aprendidos e funcionais” (Lopes, 2010, p. 22).
Nesse sentido, a educação empreendedora aparece como fator essencial para concretizar os ideais de uma sociedade mais justa e inovadora. É por isso que ter professores, mentores, líderes e gestores escolares com visão empreendedora é tão importante no âmbito escolar.
O professor como empreendedor é um individuo que deve saber convencer seus colegas e alunos, deve ter bastante energia, perseverança e entusiasmo para construir e realizar seus sonhos e perseverar, apesar dos obstáculos e desafios (Martins, 2010).
A aprendizagem empreendedora e a disseminação de ideias empreendedoras nas escolas visam estimular a diferenciação educacional. No entanto, não se trata apenas de transmitir qualidades empreendedoras aos alunos e professores, mas sim incentivá-los a descobrir-se, a descobrir o conhecimento, a pô-lo em prática e a capacitá-los a “aprender a perseverar”.
Assim sendo, a educação empreendedora tem como base a busca por uma educação diferenciada que inclua alunos e educadores e esteja comprometida com uma educação holística e interdisciplinar. O empreendedorismo é fundamental para a escola, e buscamos reconher seus efeitos na gestão escolar.
Gestão escolar participativa e empreendedora
A gestão escolar é considerada um dos meios mais importantes para projetar e desenvolver uma educação de qualidade, porque, quando devidamente planejada e organizada, a gestão escolar pode facilitar a execução de diversas iniciativas importantes de impacto escolar e potencialmente desenvolver uma força de trabalho motivada e engajada. Ela contém muitos detalhes que devem ser respeitados para fins de aprendizado do aluno.
Assim, a gestão escolar, para Lück (2009), é uma das áreas onde o profissional da Educação se debruça em todo o processo da administração, planejando, organizando, dirigindo e controlando.
Idealmente, a equipe de gestão da escola deve trabalhar em conjunto. Essa equipe é formada pela diretoria da escola, coordenação pedagógica e secretária. Todavia, é importante enfatizar também que professores, alunos e a comunidade escolar como um todo são reconhecidos como importantes atores na gestão de uma escola sob o olhar de uma governança democrática escolar.
A governança democrática é uma marca da atual gestão escolar moderna, em que a ação gestora se torna participativa e envolve toda a comunidade escolar nas tomadas de decisão. A gestão participativa pressupõe colaboração, em que professores, pais, alunos e funcionários buscam analisar, decidir e agir de forma conjunta com seus supervisores. Assim, o diretor escolar compartilha poder e autoridade, delegando e dividindo responsabilidades para o alcance dos objetivos da escola.
Nesse ponto, Lück (2002, p. 37) enfatiza o fator liderança quando afirma que “a liderança participativa é uma estratégia empregada para aperfeiçoar a qualidade educacional. É a chave para liberar a riqueza do ser humano que está presa dentro do sistema de ensino”.
Cada vez mais estudos têm mostrado que ambientes mais participativos têm capacidade de superar os obstáculos do status quo e os métodos rígidos propostos pelos sistemas escolares para aumentar a conscientização dos alunos e o valor da participação.
Em escolas onde prevalece a liderança escolar participativa existe alto envolvimento de toda a comunidade escolar. As diversas opiniões são respeitadas e estimuladas, a constante troca de ideias garante maior participação e cooperação em um ambiente em que o aprendizado é mais efetivo e inclusivo.
Outro aspecto que vem surgindo hoje nos centros educacionais é a distribuição de tarefas entre os diferentes componentes da equipe (administração, supervisão, professores e funcionários). Essa divisão entra em jogo quando há confiança entre as equipes, permitindo que algumas decisões e direções sejam delegadas a outras partes.
Segundo Lima (2010), dificilmente uma única área numa escola será capaz de dar conta da complexidade em determinadas situações, exigindo, assim, o trabalho em equipe e a divisão de tarefas, aliados à confiabilidade nas instituições de ensino. Somente assim a escola poderá alcançar seus objetivos e lidar com as questões desafiadoras do dia a dia.
Além de evitar ônus administrativos e permitir que outros membros do núcleo participem da tomada de decisões, essa estratégia ainda é relevante por agregar valor democrático às condições de ensino da unidade escolar.
Lück et al. (2001) defendem também a possibilidade do aumento da motivação da comunidade no apoio a escola por meio do desenvolvimento do espírito do trabalho em equipe; desenvolvem-se objetivos comuns da escola para a comunidade e da comunidade para a escola, provocando sinergia de propósitos e ações.
É por isso que o fator liderança é uma questão de extrema relavância para o desempenho da gestão escolar, uma vez que o líder é o individuo capaz de promover sentido, direção, espiríto de equipe e busca de anseios comuns, em que alcançam-se esses feitos por meio de sua influência e reconhecimento para tal.
Mas o que é ser um líder? Para Faria (1982 apud Lück, 2002), líder “é aquele que é seguido, mesmo não dispondo de qualquer autoridade estatutária, porque consegue ser aceito e respeitado, unindo e representando o grupo na realização dos anseios comuns” (Faria, 1982 apud Lück, 2002, p. 38).
Nesse sentido, é importante ressaltar mais uma vez que ser líder exige observar e refletir sobre a busca pelo bem maior do grupo de trabalho. Por isso, Lück (2009) salienta que todos aqueles que assumem funções que trazem sobre si questões que envolvem liderança devem se colocar em constante aprendizagem e reflexão sobre isso.
A liderança envolve o processo de produzir ações que tenham impacto direto na equipe, e os líderes devem realizar essas ações com comprometimento e diligência. Isso leva a uma gestão escolar diferenciada, que determina a qualidade da escola (Lück, 2002).
No tópico anterior já relacionamos o empreendedorismo à educação, reconhecendo a necessidade da ação empreendedora na formação de professores e alunos. Nessa direção, entende-se que, da mesma forma que é uma questão necessária a presença de professores visionários, empreendedores, com ideias inovadoras, capazes de criar, planejar e estruturar iniciativas que impactem positivamente na formação de seus alunos, é de fundamental importância também que o gestor escolar busque atuar de maneira empreendedora, buscando sempre soluções inovadoras em sua escola.
Oliveira (2011) salienta que os líderes escolares devem ser empreendedores. Isso significa pensar coletivamente, promover o bem-estar das comunidades, dialogar com as comunidades e gerar capital social, que é uma contribuição fundamental para o desenvolvimento, porque o diretor é considerado o último órgão administrativo da escola e goza do respeito do grupo e de um contato maior com os demais interessados, motivando-os a participar de grupos de trabalho e a serem atuantes dentro da escola. Sendo ele um empreendedor, poderá alcançar resultados significativos com a ajuda de um grupo ou equipe, o que acredita-se que aconteça com grande progresso. Todavia, sem tal visão, encontrará dificuldades e percalços pelo caminho; poderá até conseguir alguns resultados, no entanto mais a longo prazo.
Assim sendo, gestores empreendedores fornecem visão, otimizam ambientes, mobilizam pessoas, identificam, perseguem e buscam ajuda em oportunidades que muitos acham difíceis e influenciam grupos inteiros.
Liderança empreendedora e o desempenho escolar
Existe uma crença comum entre os educadores de que uma forte liderança educacional é um fator que determina o nível de eficácia de uma escola. Acredita-se amplamente que nenhuma escola pode florescer na ausência de uma liderança robusta dos diretores.
Pesquisas já mostraram claramente que as qualidades de liderança de um diretor influenciam a eficácia geral de uma escola (Leithwood; Jantzi, 2006).
Assim sendo, a liderança empreendedora vem se destacando como um tipo único de liderança que tem se tornado cada vez mais necessária para enfrentar os desafios emergentes e as crises do ambiente organizacional atual (Gupta; McMillan; Surie, 2004).
Esse estilo de liderança permite que os líderes liderem com sucesso uma organização e resolvam seus diferentes problemas ao longo de seu cliclo de vida de crescimento e desenvolvimento organizacional (Chen, 2007; Swiercz; Londres, 2002). Também tem grande influência na competência dos líderes em reconhecer novas oportunidades para melhorar o desempenho da organização (Chen, 2007; Okudan; Rzasa, 2006; Gupta; McMillan; Surie, 2004).
Devido a esses efeitos influentes, os cientistas estão usando cada vez mais a liderança empreendedora para melhorar vários aspectos relacionados à educação, especialmente o desempenho escolar (Xaba; Malindi, 2010; Berglund; Holmgren, 2006; Collins; Hannon; Smith, 2004; Eyal; Kark, 2004; Eyal; Inbar, 2003). A liderança empreendedora tem sido destacada como aquela capaz de criar um ambiente cada vez mais estimulante para a mudança e inovação nas escolas (Park, 2012).
Demandas crescentes por melhor qualidade da educação escolar pública, ambientes em rápida mudança e crescente escassez de recursos e financiamento escolar apresentam uma variedade de complexidades e desafios na organização escolar (Xaba; Malindi, 2010; Eyal; Kark, 2004; Eyal; Inbar, 2003).
Os estudiosos acreditam que os diretores de escola precisam cada vez mais de qualidades, conhecimentos e competências de liderança empreendedora para cumprir suas funções sob os princípios modernos de gestão diante dos desafios atuais (Philie; Asuimiran; Bagheri, 2014). No entanto, existem poucos estudos sobre a relação entre as práticas de liderança empreendedora dos diretores e o desempenho escolar, particularmente a inovação escolar (Park, 2012).
Educadores e pesquisadores analisam os benefícios do empreendedorismo para a melhoria escolar por meio de dois prismas: primeiro, o empreendedorismo em geral e o empreendedorismo em particular têm sido analisados como uma forma de pensar e um estilo de vida, não apenas como iniciar um novo negócio (Kuratko, 2007; Klein; Bullock, 2006; Hytti; O’Gorman, 2004). Nesse sentido, as características e abordagens empreendedoras podem ser utilizadas para melhoria de todos os aspectos da educação e formação, especialmente a gestão escolar, influenciando o comportamento individual e o desempenho das tarefas (Berg; Iund; Holmgren, 2006). Portanto, é necessário que os diretores aprendam e pratiquem as características da liderança empreendedora para aumentar a eficiência escolar e promover o processo de inovação da escola (Hamzah; Yusof; Abdulah, 2009).
Em segundo lugar, os pesquisadores têm se concentrado nas vantagens do empreendedorismo organizacional (Holt; Rutherford; Clohessy, 2007; Kuratko et al., 2007; Gupta; McMillan; Surie, 2004; Swiercz; Lydon, 2002; Kuratko; Hornsby, 1999) para a melhoria da organização escolar. Nesse contexto, a inovação organizacional reflete a capacidade de uma escola desenvolver e implementar novas ideias que levem a mudanças e melhorias críticas na escola (Eyal; Kark, 2004; Eyal; Inbar, 2003). A inovação organizacional, nesse contexto, refere-se à capacidade da escola de desenvolver e implementar novas ideias que conduzam a mudanças e melhorias significativas (Eyal; Kark, 2004; Eyal; Inbar, 2003).
A inovação escolar tem três componentes principais: a capacidade de explorar novas oportunidades educacionais, a vontade e a predisposição de agir e captar as oportunidades e, por fim, a mudança que a inovação traz para o desempenho escolar (Eyal; Inbar, 2003).
Assim sendo, recursos do empreendedorismo são aplicados em organizações escolares com a finalidade de aumentar seu sucesso no fornecimento de ambientes eficazes de ensino e aprendizagem (Philie; Asuimiran; Bagheri, 2014).
As competências de liderança auxiliam os líderes escolares quanto a saber lidar com as complexidades e restrições do ambiente escolar, como as mudanças rápidas que surgem no ambiente, recursos limitados, múltiplos fatores que afetam o desempenho escolar e a necessidade urgente de preparar seus alunos para o futuro que os aguarda altamente competitivo (Xaba; Malindi, 2010; Morris et al., 2007; Eyal; Kark, 2004; Eyal; Inbar, 2003).
Essas competências também permitem que os líderes escolares promovam mudanças e inovações disruptivas muito necessárias nas escolas públicas e desenvolvam novas oportunidades para a melhoria da escola, além de seu estado atual (Eyal; Kark, 2004).
Enquanto a primeira abordagem analisa o papel crítico dos indivíduos na adoção de comportamentos empreendedores, a segunda destaca a importância dos elementos empreendedores na organização escolar (Park, 2012; Eyal; Inbar, 2003).
Estudos anteriores sobre as inovações implementadas nas escolas forneceram evidências empíricas de que elas não podem mudar e melhorar fundamentalmente o desempenho escolar (Park, 2012; Eyal; Inbar, 2003). Isso pode estar parcialmente relacionado à liderança escolar que não conseguiu fornecer um ambiente de apoio para que as mudanças e inovações na escola acontecessem (Park, 2012).
Em um estudo recente, Xaba e Malindi (2010) conseguiram identificar e especificar características empreendedoras em diretores de escolas historicamente desfavorecidas. Os pesquisadores concluíram que os diretores dessas escolas praticam inconscientemente a inovação, a proatividade e possuíam capacidade de assumir riscos a fim de superar as restrições no ambiente escolar, particularmente em relação aos recursos necessários.
Mais recentemente, Park (2012) encontrou uma relação significativa entre o estilo de liderança dos diretores e o apoio à inovação nas escolas. Eyal e Inbar (2003, p. 230) examinaram a relação entre a proatividade dos diretores de escolas primárias e a inovação escolar. Eles definiram a proatividade dos diretores escolares como “a vontade de iniciar ações intrinsecamente motivadas, que não são impostas pelas autoridades” e a inovação escolar como “a quantidade percebida de inovações implementadas na escola durante determinado período”.
Eles descobriram que apenas um pequeno número de escolas implementou vigorosamente abordagens empreendedoras, e a maioria estava ainda nos primeiros passos para iniciar a orientação empreendedora em suas atividades. Os resultados da pesquisa também sugerem a influência significativa da criatividade dos líderes escolares nas práticas inovadoras da escola, como a relação entre a escola e os pais (Reppa et al., 2010).
Além disso, o estilo de liderança dos diretores escolares desempenha papel crítico na criatividade e inovação organizacional da escola (Yýlmaz, 2010). Eyal e Kark (2004) relacionaram o estilo de liderança dos diretores escolares às estratégias empreendedoras nas escolas de Ensino Fundamental. Suas descobertas confirmaram a relação hipotética entre a liderança transformacional dos diretores e as estratégias empreendedoras da escola. Além disso, os dirigentes escolares demonstraram diferentes níveis de características empreendedoras, incluindo proatividade e inovatividade.
Metodologia
A presente pesquisa foi fundamentada em pesquisas bibliográficas que incidem na análise da bibliografia, bem como na pesquisa exploratória para classificação e apreciação do que já foi lançado sobre o assunto abordado como tema da pesquisa científica. Para o levantamento da bibliografia, foram escolhidos livros, revistas, fontes de pesquisa em sites de autores do campo da Educação, comportamento organizacional e empreendedorismo. Foram utilizados autores renomados que relataram detalhes sobre o tema em questão. Segundo Prodanov e Freitas,
pesquisa exploratória é quando a pesquisa se encontra na fase preliminar, tem como finalidade proporcionar mais informações sobre o assunto que vamos investigar, possibilitando sua definição e seu delineamento, isto é, facilitar a delimitação do tema da pesquisa; orientar a fixação dos objetivos e a formulação das hipóteses ou descobrir um novo tipo de enfoque para o assunto. Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso (2013, p. 51-52).
Fonseca (2002, p. 32) classifica a pesquisa bibliográfica como aquela que
é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos e páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta.
Resultados e discussão
Compreendemos que um empreendedor é uma pessoa que propõe mudanças e inovações para reorganizar um ambiente estabelecido em geral e gerar lucros e valor agregado. O empreendedorismo vai além da simples criação de um negócio e tem sido estudado e analisado em diversas áreas, inclusive na educação. A educação empreendedora envolve um processo de reflexão e compreensão voltado para a transformação da experiência e do conhecimento. Aprender a desenvolver talentos inovadores, conhecedores e líderes, de acordo com os princípios éticos, é o que proprõe a educação empreendedora e participativa.
Empreender na gestão escolar requer plena convicção do que se pretende como propósito. Compreender aonde se vai chegar, isto e, a visão, e estabelecer o que se pretende, isto é, a missão e justamente o norte da liderança na escola.
Hungria (2022) apresenta a ação de um personagem fundamental para ampliar o escopo do processo empreendedor: a burguesia, que conseguiu visualizar novos horizontes apesar de tantas dificuldades naquele contexto histórico. Ela nos traz a visão empreendedora.
Schumpeter (1949) traz a inovação como chave do comportamento empreendedor; um conceito importante no ambiente escolar, tendo em vista que a Educação deve estar em constante atualização em seu processo produtivo e construtivo.
De maneira complementar, Sanábio, Magaldi e Machado (2016) apontam a construção de redes relacionais com vistas a apoiar as conexões comunicativas assertivas na comunidade escolar. Ainda nessa trilha, temos a autorrealizacao dos estudantes como ponto chave de uma boa gestão escolar apontado por Dolabella (2013).
Dornelas (2007) indica a tomada de decisões e o dinamismo como características essenciais de um líder empreendedor.
De maneira subsidiária, a educação empreendedora também está no bojo dessa construção integrada na medida em que é a alma da ação do gestor escolar. Lopes (2010) inclui o ato de aprender de maneira colaborativa como característica fundamental dessa ação pedagógica recheada de intencionalidades.
Martins (2010) amplia a perspectiva incluindo a escuta ativa interna como um dos baluartes dessa conexão com o propósito da gestão. Ainda nessa mesma linha, temos os atos inerentes ao gestor escolar, que são o planejar, organizar e liderar equipes e comunidades escolares, distribuindo as tarefas de forma a empoderar com responsabilidade e compromisso, gestando a capacidade empreendedora dos gestores escolares (Lück, 2009; Lima, 2010; Oliveira, 2001).
Considerações finais
Compreendemos que a educação para o empreendedorismo procura estimular o desenvolvimento de competências mediante um processo de aprendizagem contínua que forma indivíduos que saibam observar, avaliar e tomar decisões e comecem a agir positivamente, tornado-se um potencial agente de mudança.
Para isso, as escolas necessitam cada vez mais de líderes educacionais visionários e inovadores para ajudar os alunos a aprender por meio de uma educação de qualidade. Esse líder inspira outras pessoas a encontrar soluções criativas para todos os tipos de problemas educacionais, sociais e ambientais. Ao integrar efetivamente a educação em suas vidas, os alunos podem se tornar participantes ativos na sociedade. Isso incentiva uma melhor qualidade de vida para todos os envolvidos.
O gestor empreendedor sabe convencer seus colegas da comunidade escolar, tem energia, perseverança e amor para traçar metas, planejar e seguir em frente, superando os obstáculos que surgem. O empreendedorismo afeta a gestão de uma unidade escolar que deseja empreender. Com uma gestão inovadora haverá interações limpas entre todos os membros da comunidade escolar. A mudança acontece quando há de fato esforço por parte de todos para inovar, e o trabalho árduo torna isso possível para todos os envolvidos, não apenas para os alunos.
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Publicado em 14 de novembro de 2023
Como citar este artigo (ABNT)
SILVA, Alex Miller Peres da; HUNGRIA, Felício Júlio de Azevedo. Liderança empreendedora como fator de melhoria na gestão escolar. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 44, 14 de novembro de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/44/lideranca-empreendedora-como-fator-de-melhoria-na-gestao-escolar
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