Da obra de arte ao texto literário: perspectivas interdisciplinares nas aulas de História

Rodrigo dos Santos Dantas da Silva

Doutorando em Letras (PPGL/UFES), mestre em Letras (ProfLetras/IFES) e licenciado em Letras – Português/Inglês, professor de Língua Portuguesa e Literaturas da SEDU/PMVV, membro dos grupos de pesquisa Literatura e Educação (PPGL/UFES) e Itinerários Interdisciplinares em Estudos sobre o Imaginário, Linguagens e Culturas (Itesi/UPE)

Roney Jesus Ribeiro

Doutorando em História Social (PPGHis/UFES), mestre em História da Arte (PPGA/UFES) e em Educação (PPCE/UA), licenciado em Letras, História e Artes Visuais, membro dos grupos de pesquisa Crítica e Experiência Estética (PPGA/UFES) e Teoria e História da Arte Moderna e Contemporânea (PPGA/UFES), bolsista da Fapes

Primeiras instigações

As renovações geradas no campo da Historiografia a partir da segunda metade do século XX possibilitaram uma grande ebulição de novas discussões acerca do papel do historiador. Isso contribuiu para abrir espaço para a aproximação entre a História, a Arte, a Literatura e outros campos do saber. A partir desses diálogos, surgiram novas possibilidades de trabalhar uma grande vastidão de temas e fontes históricas. Essas inovações teórico-metodológicas no campo do ensino de História voltaram sua atenção para a dimensão cultural da História e as representações sociais, buscando dessa forma estudar as diferentes linguagens artísticas que mantêm ligação com a vida social, como as Artes Plásticas e Visuais, a Literatura, o Cinema, o Teatro e a Música, entre outras, ponto esse que acabou dando maior importância aos assuntos antes ignorados pela Historiografia tida como tradicional.

A natureza desta apresentação se pauta na ideia de fomentar reflexões acerca de uma proposta metodológica para o trabalho de temas variados e fontes históricas tendo como recurso a Arte e a Literatura.

A ideia é oriunda de um estudo teórico-crítico realizado para a conclusão da disciplina Abordagens e Métodos em História Social e Política, cursada no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Nosso estudo objetivou refletir sobre as dimensões históricas da ditadura militar brasileira (1964-1985), sob o viés da Literatura e da Arte de verve política. Desde então, passamos a refletir sobre a importância de dinamizar as aulas de História, tornando-as mais agradáveis e significativas. Desse modo, chegamos à conclusão de que a produção artística e literária desenvolvida no período ditatorial pode servir como importante recurso e fonte para melhor sistematização dos assuntos concernentes a esse recorte temporal e ensejar momentos significativos de discussão em sala de aula.

Nessas reflexões, nos dedicamos a planejar algumas metodologias de aulas pautadas na História do Brasil República, buscando relacionar a História, a Arte e a Literatura. Esse exercício reflexivo nos propiciou a criação de um roteiro exequível e capaz de tornar a análise das fontes artístico-literárias e históricas mais interessante e significativa. O roteiro foi pensado para o trabalho com Literatura ou com Artes Plásticas. No entanto, nada impede que outras fontes de viés artístico e cultural sejam analisadas por meio dele. A análise prevista no roteiro se divide entre externa e interna e visa levantar informações variadas acerca do texto literário e da obra de arte, tratando, assim, de estudar o contexto histórico e político-social em que tais recursos foram produzidos. Esses recursos metodológicos, além de possibilitar ampla reflexão e explicações da realidade a partir da “crise dos paradigmas”, também contribuem para uma reestruturação ou revisão acerca da construção do saber histórico (Pesavento, 2005).

A ideia da análise por meio do roteiro proposto é produzir entendimentos entre a produção plástica, a escrita literária e a construção do corpo social do pós-1964. Para isso, sugerimos como referências obras literárias como Em câmara lenta (1977), de Renato Tapajós; A festa (1976), de Ivan Ângelo; e Incidente em Antares (1971), de Érico Veríssimo. Na produção artística, sugerimos a série Inserções em circuitos ideológicos (1970), de Cildo Meireles; Repressão outra vez - eis o saldo (1968), de Antonio Manuel; e Trouxas ensanguentadas (1969), de Artur Barrio. Essas obras representam com clareza a resistência da classe artística e literária frente à violência, à censura e à repressão praticadas pelo governo militar no período ditatorial, o que contribuirá para maior absorção, pelos estudantes, dos assuntos debatidos nas aulas de História. Para a testagem das aprendizagens, é interessante organizar uma discussão para que alunos e alunas apontem os aspectos culturais, políticos e sociais presentes nos trabalhos em relação ao período em que eles foram produzidos.

O trabalho com Literatura e com Arte no ensino de História é um caminho capaz de tornar a aprendizagem das crises envolvendo a História do Brasil República mais dinâmico, instigante e mais aprazível. Além disso, em diálogo com outras áreas do conhecimento e campos do saber, a História possibilitará maiores oportunidades de aquisição do conhecimento e compreensão do passado recente (Blanch, 2013). Assim, como na obra plástica e no texto literário, o imaginário e a ficcionalidade são pontos que se fazem presentes nos textos históricos. Também é imprescindível levar em conta essas particularidades no momento das análises contextuais.

Essa relação também culminará em momentos para estudar o comportamento adotado pelas pessoas de determinada sociedade, como a ambientada nos anos 1960 a 1980. Sendo assim, reforçamos nossa intenção de fomentar reflexões e propor ideias acerca do ensino de História pelo viés da produção artística e literária de verve política para turmas de Ensino Médio, pois acreditamos que, com a adoção de metodologias interdisciplinares, as aulas de História se tornarão momentos de produção de conhecimentos, ficando menos cansativas e mais atraentes aos educandos.

O texto literário e a obra de arte nas aulas de História

Comumente, quando fazemos alusões a algumas aulas referentes à disciplina de História, momentaneamente recordamos fatos históricos e pontos (personagens, datações e marcos históricos, conflitos de opiniões e divergências ideológicas, entre outros) que os motivaram. Essas colocações também nos remetem aos infindos resumos propostos por um professor ou outro que tivemos no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio cujas aulas eram pouco atrativas ao ponto de não instigar em nós a curiosidade de querer saber mais sobre tais assuntos. A reconstrução dos fatos históricos realizada pelos historiadores sempre gozou de plena legitimidade sobre o passado. Quando essa escrita histórica é levada até a sala de aula pelos professores, os alunos acabam algumas vezes compreendendo essas aulas expositivas como verdades absolutas e não como possibilidades narrativas (ou versões e histórias possíveis) sobre o passado.

As aulas de História ministradas no Ensino Médio têm condições de se tornar mais ricas, atrativas e significativas. Quando são acompanhadas de abordagens significativas aos aprendizes, elas também passam a ser menos enfadonhas e cansativas para os professores. Desde o momento em que nos propomos a renovar o ensino de História com a utilização de recursos como documentos e registros históricos no espaço da sala de aula, criamos possibilidades e caminhos promissores de aprendizado para os discentes e para nós, os professores (e mediadores da interação). Nas palavras de Isabel Barca (2004, p. 133), “o aluno é efetivamente visto como um dos agentes do seu próprio conhecimento; as atividades das aulas, diversificadas e intelectualmente desafiadoras, são realizadas por eles e os produtos daí resultantes são integrados na avaliação”. Estamos de acordo com o posicionamento da autora, uma vez que o ensino de História não deve se resumir ao debate de fatos unicamente a partir da exposição oral. Para que esse ensino se constitua como aquisição de conhecimento de modo agradável, é necessário ensejar momentos mais dialógicos em que os educandos sejam colocados como sujeitos ativos na produção de seu saber.

Em Padrões de intenção (2006), Michael Baxandall orienta seus leitores a fazer um estudo das obras de arte, buscando nelas informações e pistas indicativas de questionamentos político-social condizentes ao contexto histórico em que elas se constituíram. Para o historiador, isso ocorre porque, se existe uma intenção, é porque os documentos e as fontes historiográficas não são inocentes. Em todas as obras de arte – sejam elas plásticas ou literárias –, existe uma intenção subentendida. Essa intenção por sua vez, “não é um estado de espírito reconstruído, mas uma relação entre o objeto e suas circunstâncias” (Baxandall, 2006, p. 81).

Se bem mediados em sala de aula, esses recursos culturais poderão contribuir para que os estudantes se sintam desafiados a questionar muitas verdades absolutas defendidas por alguns historiadores tradicionais. Conforme sugere Pesavento (2005) a partir da chamada crise de paradigmas, tudo no contexto historiográfico pode ser questionado. Isso ocorre porque tudo muda, os temas se diversificam e as fontes se renovam.

Para repensar essas questões, lançamos duas argumentações necessárias para gerar debates acerca do que se pretende nas aulas de História: como nós, professores, poderemos nos apropriar de documentos históricos em sala de aula? Que metodologia ou abordagem poderemos fazer desses registros para tornar as aulas mais enriquecedoras e interessantes? Em resposta às argumentações em questão, trazemos como proposta o uso da Literatura e da Arte como documentos ou registros históricos, recursos que, quando usados adequadamente, são capazes de legitimar práticas significativas em sala de aula. Muitos artistas e escritores se dedicaram a retratar acontecimentos, fatos ou figuras históricas. O cinema, por exemplo, tem grandes produções fílmicas que cumprem esse papel disciplinar de reunir literatura e arte. É inegável a contribuição da indústria cultural, do cenário artístico e literário para retratar distintos fatos históricos. Em posse dessa vastidão de opções, o professor acaba tendo mais possibilidades para dinamizar a contextualização de seus conteúdos ao fazer uso do texto literário ou da obra de arte.

Tendo assim proposto, pode-se incorrer na seguinte pergunta: como trabalhar com Literatura e com Arte em aulas de História? A resposta pode vir seguida de algumas possibilidades, já que a tradição do mundo ocidental difundiu uma ideia de que a Literatura e a Arte são instrumentos da ficção e não da realidade. Isso não quer dizer que essas linguagens artísticas não tenham nada de ficcional. Elas por sua vez são, em dado momento, ficcionais, sim, mas o que muitas vezes contribui para a sua tamanha desvalorização é a difusão da crença de que ficção é fruto da imaginação (ou irreal, ou mentira). Pensar a ficção como algo que não tem nada a ver com a verdade só faz com que a narrativa imagética e o discurso literário dos fatos históricos sejam percebidos com descrédito.

No entanto, apontaremos como proceder metodologicamente nas aulas de História fazendo uso das contribuições da Literatura e da Arte. É válido sugerir que o professor deve criar meios de familiarizar seus estudantes com o contexto que abordará em suas explicações antes de partir para a explanação do conteúdo de história escrita pelos historiadores no recorte temporal que deseja trabalhar. A melhor maneira de fazer isso é por meio do texto literário ou da narrativa visual artística (no uso de uma sequência de pinturas históricas).

Quando o texto literário for o meio utilizado, o professor poderá usar uma obra adaptada ou em versão completa. Há muitas adaptações literárias em que o texto mantém sua narrativa sem prejuízos. Nesse caso, o professor consegue trabalhar a obra completa com os alunos e depois sugerir uma discussão sobre ela aproximando do contexto histórico abordado. Se a obra não for adaptada, o mais viável é o professor selecionar o trecho que melhor ilustra o contexto histórico com o qual trabalhará na aula e/ou trabalhará com aulas de leitura literária, tendo em vista a dificuldade de as bibliotecas escolares terem esses livros (e em quantidade para todos os estudantes).

Dependendo da linguagem utilizada pelos autores da obra selecionada para leitura em aula, é possível que surjam algumas dúvidas. É imprescindível que o professor tenha em sala alguns dicionários para auxiliar seus educandos, oferecendo-lhes esclarecimentos dos significados dessas palavras.

Como mostra Paulo Miceli (2013) em seus estudos, a Literatura e a Arte podem servir como fontes e recursos para realização de metodologias significativas nas aulas de História. Ao escolher a obra literária que introduzirá a aula de História, é importante que o professor busque livros que dialoguem com o assunto em bibliotecas ou meio virtual. Já as obras de Arte podem ser buscadas em sites de museus e galerias, entre outros meios virtuais. Boas aulas requerem textos e imagens que ilustrem os principais pontos dos fatos históricos que serão trabalhados e que, ao mesmo tempo, auxiliem a compreensão do fenômeno artístico e literário. Depois da pesquisa realizada, é interessante imprimir essas imagens e confeccionar placas preservando a cronologia dos fatos, caso não haja possibilidade de impressão; a depender do educandário, o exercício pode ser realizado com uso de slides e datashow. Assim, no decorrer da discussão da obra ou trecho do texto literário, o professor pode ir mostrando as imagens. Essa relação intersemiótica (ou interartística) contribuirá para melhor fixação dos pontos levantados nas discussões realizadas em sala de aula.

Selecionado o material de Literatura e de Arte, o professor pode iniciar sua contextualização levando em conta as informações do autor da obra literária e do artista das iconografias. É valido realizar uma breve biografia desses sujeitos, inserindo-os no contexto histórico, social e ideológico em que suas produções artístico-literárias foram realizadas e o que elas retratam. A partir de então, a aula de História passa a estabelecer um diálogo interdisciplinar com a Literatura e a Arte. O professor de História pode realizar algumas de suas aulas em contato com professores de Literatura e Arte. Esses pontos de contato poderão ocorrer de três formas: os professores das disciplinas de História, Arte e Literatura podem combinar de cada um enfocar o assunto escolhido em suas aulas; podem também realizar essas aulas conjuntamente no auditório da escola ou, por último, o professor de História busca seus próprios recursos visando o diálogo entre essas três áreas por conta própria. A parte interessante de um trabalho com outros professores é que os estudantes terão contato com possibilidades de discursos mais amplos com outros profissionais, ponto esse que pode deixar as aulas mais dialógicas, interessantes e aguçar a curiosidade de todos os envolvidos no evento. No entanto, Boris Kossoy (1980, p. 29) alerta sobre a importância do cuidado com as análises das imagens propostas, para não ocorrer certa negligência relacionada à observação procedente sobre a obra plástica como fonte histórica.

Tendo avançado o passo da contextualização social, histórica e ideológica em que autor/artista e obras se inserem, o professor deve esclarecer aos alunos que a obra literária ou de arte apresentada não surgiu da pura invenção de seus autores. A ideia surgiu em função de fatos verdadeiros, mas que provavelmente seus personagens ou alguns dados apresentados fazem parte do universo ficcional. A pintura histórica, por exemplo, geralmente reconstrói um fato histórico para elevar o valor social de um personagem.

A ambientação geralmente é ficcional, mas a figura homenageada existiu e teve papel importante para o contexto histórico em que viveu. O mesmo pode ocorrer no texto literário, mas a criação verbal requer maior controle discursivo para que a narrativa fique convincente e apropriada ao contexto ambientado. Em alguns casos, tanto as personagens como a situação abordada no texto literário e na obra de arte podem ser ficcionais. No entanto, personagens e situações estão inseridos no contexto histórico e social que o professor de História abordará em sua aula.

Como passo seguinte à realização de uma seleção das obras de arte e dos trechos ou da adaptação da obra que serão utilizados nas aulas, o professor organizará a leitura verbal e visual dos recursos (texto e pinturas) escolhidos. É importante haver uma organização criteriosa para a realização das leituras. Por isso, esse passo precisará ser mediado pelo professor, que deverá usar um roteiro de análise, que serve como instrumento que medeia as informações levantadas da leitura do texto literário e das imagens referentes a iconografia. Como sugestão de roteiro, propomos que as análises sejam realizadas em duas etapas: externa e interna, de acordo com a seguinte ordem:

  • Análise externa:
    • Quem é o(a) autor(a) e o(a) pintor(a) das obras?
    • Em que ano as obras foram produzidas?
    • O(a) artista viveu durante o contexto histórico abordado nas obras?
    • As obras retratam um período anterior ao contexto histórico em que o(a) autor(a) viveu?
  • Análise interna:
    • Qual o contexto histórico e social as obras abordam?
    • O foco das obras adere ao contexto histórico e social abordado?
    • Qual o principal assunto explorado pelas obras?

Após realizar a análise nas duas etapas sugeridas, com o auxílio ou não de profissionais das áreas de Literatura e Arte, o professor de História tem maiores possibilidades de dar prosseguimento ao conteúdo com o qual precisa trabalhar fazendo uso de textos históricos. Dessa forma, o professor pode realizar comparações significativas entre os textos históricos e as obras literárias e iconográficas, transformando a sala de aula em espaço de debate, diálogo e interação, haja vista que “a sala de aula não é apenas um espaço onde se transmitem informações, mas onde uma relação de interlocutores constrói sentidos. Trata-se de um espetáculo impregnado de tensões em que se torna inseparável o significado da relação teoria e prática, ensino e pesquisa” (Schmidt, 1997, p. 57).

Com base nas comparações e interseções entre as perspectivas do literário, do artístico e do contexto histórico e social trabalhado nos textos, os estudantes poderão alcançar níveis elevados de interpretações, o que contribuirá para perceberem que o passado nos alcança por vias e interpretações distintas. No tocante ao tempo necessário para a realização das práticas conforme as sugestões metodológicas propostas aqui, cada professor deve realizar seus planejamentos prevendo o tempo que precisará para explanação de cada conteúdo.

Considerações finais

Na medida em que o professor se dispõe a pensar em propostas educativas inovadoras, ele não só rompe com as práticas tradicionais de ensino como também instiga a curiosidade de seus estudantes. Assim eles almejarão aprender e descobrir mais sobre o conteúdo trabalhado em sala de aula. Aulas em um movimento dinâmico, mais dialógico, contribuem para maior protagonismo do discente, tornando-o um sujeito mais ativo na produção de suas aprendizagens e de seus conhecimentos. Nesse sentido, cabe ao professor de História planejar estratégias cada vez mais significativas e que culminarão em boas discussões e debates em sala de aula. Diante de uma crise nos valores e políticas educacionais, há uma necessidade cada vez maior de fomentar estratégias pedagógicas que proporcionem aos educandos instrumentos para construção de seus saberes acerca das narrativas históricas.

Em outras palavras, diríamos que é necessário ao professor de História apresentar aos estudantes temas, fontes e recursos históricos que estabelecem diálogos múltiplos com outras áreas do conhecimento. A produção de conhecimento se constrói com maior significância quando os educandos são desafiados ao novo. Como discutido, a Arte e a Literatura oferecem meios de produção de amplo conhecimento histórico. A Literatura, por exemplo, é, nas palavras de Sandra Pesavento, uma “fonte de si mesma enquanto escrita de sensibilidade, enquanto registro, no tempo, das razões e sensibilidades dos homens em certo momento da história. Dos seus sonhos, medos, angústias, pecados e virtudes, da regra e da contravenção, da ordem e da contramão da vida”. A autora reitera que “a literatura registra a vida. Literatura é, sobretudo, impressão de vida” (Pesavento, 2006, p. 23).

A partir das proposições listadas e das reflexões tecidas nesta exposição, concluímos que há muitos desafios no ensino de História, além de materiais didáticos que geralmente negligenciam a construção do saber por parte do discente, omitindo dessa forma informações imprescindíveis acerca da História do Brasil. Por esse motivo, vemos como grande demanda pedagógica o professor de História buscar meios capazes de amplificar suas possibilidades na formação de educandos mais críticos e atuantes no meio em que vivem. Para isso, vemos a Arte e a Literatura como duas grandes aliadas na criação de momentos dinâmicos no ensino de História e na formação de sujeitos mais críticos. A proposição de aulas mais dialógicas envolve uma postura inovadora, que reflete as mudanças epistemológicas concernentes à Historiografia e, ao mesmo tempo, mostra como a Literatura e Arte podem servir como campo de análise crítica ao professor/pesquisador historiador.

A utilização de diferentes linguagens artísticas ou variadas áreas do conhecimento como fontes documentais para o ensino de História permite subverter o marasmo da sala de aula, tornando a hora de aprender um momento privilegiado para a construção do conhecimento histórico. Além disso, o uso de linguagens distintas contribui, em um movimento multissemiótico, para uma enriquecedora prática de ensino. Para criar um ambiente proveitoso nas aulas de História, é necessário ao professor criar rotinas com temas e fontes que exploram diferentes perspectivas e recursos didáticos. É por isso que vemos as produções artísticas e literárias como importantes fontes para a formação do educando e leitores críticos nas aulas de História. Fomentar meios de desafiar o educando a produzir seus conhecimentos históricos é uma tarefa difícil, mas quando a aprendizagem acontece e os educandos se sentem motivados a desbravar a historiografia e a imensidão de fontes para trazer conhecimentos para a sala de aula, o professor se realiza e seu esforço passa a valer a pena.

Referências

BARCA, Isabel. Aula oficina: do projeto à avaliação. In: QUARTA JORNADA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA: para uma educação de qualidade. Atas... Braga: CIED/Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004. p. 131-144.

BAXANDALL, Michael. Padrões de intenção: a explicação histórica dos quadros. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

BLANCH, Joan Pagès. As fontes literárias no ensino de História. OPSIS, Barcelona, v. 13, nº 1, p. 33-42, 2013.

KOSSOY, Boris. A fotografia como fonte histórica: introdução à pesquisa e interpretação das imagens do passado. São Paulo: Museu da Indústria, Comércio e Tecnologia de São Paulo, 1980.

MICELI, Paulo. História moderna. São Paulo: Contexto, 2013.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora. A formação do professor de História e o cotidiano da sala de aula. In: BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1997. p. 55-66.

Publicado em 21 de novembro de 2023

Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Rodrigo dos Santos Dantas da; RIBEIRO, Roney, Jesus. Da obra de arte ao texto literário: perspectivas interdisciplinares nas aulas de História. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 45, 21 de novembro de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/45/da-obra-de-arte-ao-texto-literario-perspectivas-interdisciplinares-nas-aulas-de-historia

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