A ludicidade na construção do conhecimento na Educação Básica
Andressa Aline de Queiroz Sena
Licenciada em Letras (UFAM), graduada em Pedagogia (Uniasselvi), professora do Ensino Fundamental em Manaus
Muito se discute acerca da educação e da importância da inovação de propostas metodológicas em benefício da construção do conhecimento, visto que o processo de alfabetização, com o aprendizado acerca dos números e o hábito de leitura para o desenvolvimento de conhecimentos nas mais diversas áreas, deve ser proposto e construído da melhor forma pelos professores junto a seus alunos. A partir de um método de pesquisa bibliográfico e experiências em sala de aula nos anos iniciais do Ensino Fundamental, observou-se a relevância da ludicidade no processo da aprendizagem. A presença de jogos, brincadeiras e materiais lúdicos podem tornar o conhecimento ainda mais significativo e atrativo para os estudantes das diversas séries.
É importante destacar que, por meio de aulas lúdicas, diversos saberes são construídos, inclusive saberes socioemocionais. É durante a realização de atividades lúdicas que muitas vezes há trabalho em equipe, discussões, problemas a serem resolvidos e, com isso, os aspectos emocionais, sociais e até mesmo afetivos vão sendo trabalhados. Em vista disso, já é possível perceber alguns dos benefícios existentes acerca da ludicidade no contexto escolar.
Por isso, o presente texto se dispõe a responder os seguintes questionamentos: “De que maneira podemos utilizar a ludicidade durante o processo de leitura?”, “Qual seria o jogo pedagógico eficaz para o conhecimento dos números e ordem numérica?”, “Há formas lúdicas de apenas revisar conteúdos trabalhados anteriormente?”, “Que outras atividades lúdicas podem ser realizadas para a construção de conhecimentos nas demais disciplinas?”. As perguntas propostas não apenas nortearão este relato de experiência, mas também criarão possibilidades para a prática de ensino.
A aplicação do lúdico
Quando se trata de alfabetização muitos podem ser os métodos utilizados para iniciar esse processo em sala de aula. Jogos pedagógicos, atividades coletivas e individuais, consciência fonológica e brincadeiras são algumas das ferramentas de ensino que podem ser usadas. Acredita-se, portanto, que o método lúdico é proposto como uma eficaz maneira de construir esse conhecimento. Marafon (2013) afirma que,
no processo de alfabetização, deve-se considerar o lúdico e as múltiplas linguagens sendo elas os jogos de imitação, diálogos com as crianças, linguagem corporal (dança e teatro), representar algo usando o desenho, a modelagem e leituras de histórias onde as crianças possam interpretar o que ouviram, enfim o movimento – o ato de brincar.
Nos registros fotográficos a seguir é possível identificar algumas dessas propostas citadas. Na atividade lúdica intitulada Batata da Leitura, as crianças são incentivadas a pegar uma ‘batata’ com uma palavra e realizar a leitura dessa palavra. Essa atividade foi destinada aos estudantes do 2° ano do Ensino Fundamental, porém, dependendo da série, a atividade pode ser adaptada. No lugar das palavras podem ser textos, frases, famílias silábicas ou letras para as crianças das séries menores. Do mesmo modo, a atividade Pintura da Leitura. Ela permite que o aluno colabore com a pintura coletiva da turma, feita em uma cartolina colada na lousa. Caso o estudante realize a leitura proposta, poderá pegar o pincel e pintar como preferir.
As crianças ficaram muito animadas com essas atividades e sentiram-se estimuladas a realizar a leitura corretamente para que pudessem pintar ou cumprir o que foi sugerido. Até mesmo os estudantes mais quietos e pouco participativos, demonstraram interesse e participaram dessas atividades.
Figura 1: Atividade lúdica de leitura: Batata da leitura
Figura 2: Atividade lúdica de leitura: Pintura da leitura
A respeito do aprendizado acerca dos números, também é possível utilizar métodos lúdicos para promover e construir essa aprendizagem. Para o RCNEI (Brasil, 1998), “essas modalidades são essenciais para o desenvolvimento da criança, porque, através das brincadeiras, é ampliado o seu saber”. Então, é importante que o professor busque trabalhar os números não apenas utilizando a lousa, os cadernos e os livros, mas promova jogos, brincadeiras e recursos pedagógicos que permitirão a visualização de cada número, sua forma e suas respectivas quantidades. Nas imagens, a seguir, é possível conferir uma atividade lúdica que foi proposta com os objetivos de: apresentar aos estudantes os números, a ordem que eles têm e propor alguns cálculos matemáticos mais simples, de adição. Atividade destinada para a turma do 1° ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
O jogo Boliche da Matemática consiste em aprender a ordem dos números para manter os pinos organizados e acertar a bola nos números propostos. Assim, como a maioria dos jogos, esse pode ser adaptado, dependendo da série das crianças, pois é possível trabalhar conta de adição, subtração, multiplicação e até divisão, propondo para a criança acertar a bola no resultado correto ou permitindo que a criança jogue a bola apenas se acertar a conta matemática. Durante a realização da atividade foi solicitado que as crianças formassem filas e assim cada uma teria a sua vez de jogar. O estudante pegava uma carta com uma conta de adição e, se acertasse, poderia jogar a bola, em seguida teria que organizar os pinos em ordem para o próximo jogador. Como resultado foi possível observar que a turma ficou muito animada, dedicando-se a realizar as contas para que pudesse jogar, além disso, os alunos que apresentavam mais dificuldades em ordenar corretamente os números conseguiram ter uma melhora significativa quanto a isso.
Figura 3: Atividade lúdica: Boliche da Matemática
Ainda na disciplina de Matemática, outra atividade muito interessante foi realizada: o Mercadinho do 2º ano. Nas imagens abaixo é possível observar uma proposta de atividade lúdica destinada ao aprendizado acerca de preços, compras, trocos, custos e economia. Foi solicitado que cada estudante trouxesse alguns produtos - poderia ser apenas a embalagem vazia ou o produto identificado com o nome da criança - para que pudesse ser depois reenviado para casa. Com isso, os alunos trouxeram vários produtos e estavam empolgados com o que viam. Organizaram a mesa, separaram por categorias e até colocaram preços. Após isso, a turma foi dividida em grupos de vendedores e consumidores e cada comprador tinha seu dinheiro e escolhia seus produtos. Os vendedores precisavam somar para verificar o total da compra, receber o dinheiro e dar trocos, em seguida, os grupos eram trocados para que todos participassem ativamente de tudo. Essa atividade foi um pouco mais demorada, mas foi enriquecedora para o processo de ensino-aprendizagem das crianças, pois elas aprenderam brincando, por meio dos erros, acertos, diálogos e interações. Essa atividade foi destinada à turma do 2° ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Figuras 4 e 5: Atividade lúdica: Mercadinho
Afirma-se que é possível trazer a ludicidade para as aulas de revisão de conteúdo ou mesmo para praticar determinado assunto que foi trabalhado com os alunos. As atividades abaixo foram realizadas com turmas de 2° e 3° anos do Fundamental, com o objetivo de rever alguns conteúdos antes da semana de avaliações e, assim, por meio da diversão e da alegria, os estudantes revisaram diversos assuntos, participando das atividades. Na atividade ‘Boom da leitura’, cada criança escolhe uma bomba de papel que está colada na lousa e responde à pergunta proposta nela. Caso acerte, ganhará um brinde, mas se errar, voltará para a sua cadeira e poderá tentar novamente. De modo semelhante ocorre no ‘Pop it’ da revisão. Cada aluno estoura um balão e responde à questão que estava dentro dele. Caso acerte, ganha o bombom. Além das crianças estarem estimuladas a participar da brincadeira, ficaram atentas para conferirem se acertariam ou não. Com isso, todos iam relembrando os assuntos e se preparando para as avaliações escritas da semana seguinte.
Figura 6: Atividade lúdica: Boom da revisão
Figura 7: Atividade lúdica: Pop it da revisão
Conforme foi citado, em outras áreas do conhecimento também a ludicidade pode estar presente. Uma proposta lúdica e interessante para a aula de Ciências em que a temática seja ‘Plantas’ é: solicitar que os estudantes tragam suas plantas para a escola. Por meio dessa atividade, cada aluno observa e identifica as partes das plantas e cuida delas. Caso tenha horta na escola, é possível plantar também e assim muitas habilidades e conhecimentos estão sendo construídos. Apesar dessa proposta de ensino não se tratar de um jogo ou brincadeira, acredita-se que é uma atividade lúdica por envolver uma participação ativa e prazerosa na aula, construindo o seu conhecimento de forma prática. Também foi uma atividade destinada aos alunos do 2° ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental e todos os alunos participaram, trazendo suas mudas de planta, ou mesmo um ramo. Em um primeiro momento, fizemos a exposição para as demais turmas e posteriormente cada aluno apresentou a sua própria planta para a classe, nomeando suas partes, conforme foi estudado nas aulas e dizendo sua espécie, caso soubessem.
Figuras 8 e 9: Atividade lúdica: Conhecendo as partes das plantas na prática
Em uma aula de Geografia para trabalhar ruas, bairros, cidades etc., a construção de uma maquete coletiva pode ser bem interessante, pois os estudantes podem participar ativamente, contribuindo com materiais, pintando, recortando, colando, montando e assim se trabalham também aspectos emocionais e sociais. Oliveira e Silva (2018) afirmam que “Aprender dá grande prazer as crianças. Aprender é parte de sua vida ou melhor dizendo, é parte principal de sua vida”. Quando o professor facilita esse processo de aprendizagem, por meio de atividades lúdicas interessantes, o aluno constrói o seu conhecimento acerca de algo e se sente feliz com isso, tornando-se mais motivado. Essa atividade de construção da maquete foi realizada com a turma do 2° ano do Ensino Fundamental. Embora os estudantes ainda não tenham tanta autonomia para essa produção, eles participaram de cada etapa, trazendo as caixas para serem casas e prédios e pintando-as, depois produziram carros com rolo de papel higiênico e tampas de garrafa e criaram árvores com papelão e papel crepom. Por fim, organizaram a disposição de cada item na maquete. Ou seja, participaram de forma ativa dessa atividade e desenvolveram seus conhecimentos acerca do que são bairros, ruas, moradias, trânsito e outros aspectos que também fazem parte de seu dia a dia.
Figura 10: Atividade lúdica: Maquete do meu bairro
Figura 11: Atividade lúdica: Ampulhetas
Por fim, outra proposta lúdica foi a construção de ampulhetas, pois na disciplina de História se trabalham noções de tempo, relógios atuais e antigos. Com certeza é mais lúdico e eficaz para a criança a construção de algo físico, pois o concreto facilita a sua aprendizagem, ao invés de apenas observar as imagens de um livro. É interessante que haja uma experimentação do que está sendo estudado. Outros relógios também podem ser construídos e trabalhados de diversas formas, utilizados para diversos fins. O importante é utilizar a criatividade para propor o conhecimento.
Essa atividade foi proposta para alunos no 2° e 3° anos dos anos iniciais do Ensino Fundamental e foi realizada em casa com o auxílio dos pais. Na data combinada, cada criança trouxe para a escola a sua ampulheta para o desenvolvimento da atividade. Os alunos apresentaram seus trabalhos nas outras salas, explicando às turmas como funcionava e dizendo que era uma maneira de contar o tempo antes da existência do relógio. Por fim, explicaram de que modo foi realizado e com quais materiais. Dessa forma, as crianças refletiram e aprenderam sobre o que fizeram e entenderam o objetivo da atividade.
Resultados e discussões
Levando em consideração as atividades lúdicas apresentadas e a relação estabelecida entre teoria e prática, tem-se como principal resultado os benefícios que a ludicidade traz para os estudantes. Ademais, os autores pesquisados ressaltaram a importância do lúdico no processo de ensino-aprendizagem e ainda foi visto que existem diversas possibilidades de aplicação das atividades. Portanto, afirma-se como necessário que o exercício divertido e atrativo esteja presente no contexto escolar para o trabalho com os conteúdos nas diversas séries e diferentes disciplinas.
Conclusão
Em vista das vivências e dos argumentos apresentados, conclui-se que apenas métodos tradicionais em sala de aula podem não ser tão eficazes para os estudantes. É mais que necessário que o professor utilize os métodos lúdicos para propor a construção do saber.
Por meio da ludicidade, conforme foi visto, os estudantes tendem a ficar mais motivados, interessados e empenhados em seus estudos, pois se tornará algo prazeroso para eles. Além disso, foi observado que as atividades lúdicas não são difíceis de serem feitas, pois pode-se usar materiais recicláveis e simples materiais pedagógicos para obter um ótimo trabalho. Existem brincadeiras e jogos que geram aprendizado e não precisam sequer de materiais, apenas criatividade e empenho por parte do professor e dos alunos.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. v. 3. Brasília: MEC/SEF, 1998.
MARAFON, Danielle. Alfabetizar com o lúdico: brincadeira ou aprendizado? A experiência do Pibid de Pedagogia da Unespar – Campus Paranaguá. Paranaguá: Kaygangue, 2013.
OLIVEIRA, Luciana de; SILVA, Giovana Maria Di Domenico. A importância da ludicidade nos anos iniciais do ensino. Florianópolis, 2018.
Publicado em 12 de dezembro de 2023
Como citar este artigo (ABNT)
SENA, Andressa Aline de Queiroz. A ludicidade na construção do conhecimento na Educação Básica. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 48, 12 de dezembro de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/48/a-ludicidade-na-construcao-do-conhecimento-na-educacao-basica
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.