Disrupção da educação: um olhar sobre a exclusão digital de estudantes de baixa renda na pandemia

Marcia Pereira dos Santos

Especialista em Docência de Educação Inclusiva e em Ensino e Tecnologias Digitais (IFMG), bacharel em Comunicação Social (UFRJ), arte-educadora

Elias Pedro Rosa

Mestre em Educação (IFVJM)

A exclusão digital não é ficar sem computador ou telefone celular. É continuarmos incapazes de pensar, de criar e de organizar novas formas, mais justas e dinâmicas, de produção e da distribuição da riqueza simbólica e material

(Schwartz, 2000, p. B2).

A proposta deste artigo tem como tema disrupção da educação: um olhar sobre a exclusão digital de estudantes de baixa renda na pandemia e uma revisão narrativa de literatura. A pandemia interrompeu o processo de ensino-aprendizagem e no âmbito de metodologias que estão passando por transformações, diante do cenário atual, de uma sociedade que foi jogada para o futuro com uma rapidez inesperada.

Seguir adiante significou uma ruptura do acesso à escola, que se apresenta, através de uma disrupção que também pode ser entendida como uma indicação de que o modelo tradicional de ensino não tem muita força para continuar. Traçamos uma estrutura, uma revisão narrativa de literatura por meio de uma conversa entre os tempos remotos que assinala a trajetória e onde essa temática está posicionada.

Nesse caminho, o que vivenciamos no decorrer do ano 2020 até a atualidade era algo inimaginável há algum tempo. Uma pandemia que chegou sem avisar e tomou conta do globo terrestre, diante do desconhecido que se apresentava em torno de nós. Esse advento chegou e foram necessárias ações rápidas para ajustar o ensino, porém tudo ficou meio desconcertado – professores, estudantes, escolas foram levados a mudar o roteiro do ensino, que passou a ser a distância. Metodologias e práticas pedagógicas foram adaptadas para a implementação do ensino remoto emergencial.

Um formato de adaptação em que a pesquisa se apresenta relevante, porque precisamos avançar nessa temática. Uma mudança necessária para que estudantes não fiquem fora desse contexto de evolução e das inovações tecnológicas, que, no momento, pensamos ser o ideal para todos.

A ruptura do acesso à escola se apresenta como uma disrupção, que também pode ser entendida como uma indicação de que o modelo tradicional de ensino precisa ser renovado. Existe um caminho de adaptação a seguir, uma nova pedagogia, em iminência de um novo modelo de sociedade pós-pandemia.

A pandemia rompeu com todas as formas de encontro físico, rompeu o cotidiano do mundo inteiro; a pandemia fez o ensino romper com a educação engessada e correr atrás de metodologias e estratégias avançadas, obrigando à aplicabilidade de inovação, mediante o ensino remoto emergencial; a pandemia posicionou o aluno que não tem acesso à tecnologia fora da escola como um excluído digital e o obrigou a romper com a escola; a pandemia também resgatou a temática da exclusão digital. E também colocou muitas famílias na linha da pobreza extrema, em que a inclusão social se torna essencial, e precisa seguir junto ao avanço da tecnologia, com ferramentas que possam auxiliar professores e alunos que foram obrigados a romper com a escola de maneira presencial para trabalhar pelo ensino remoto (Stevanim, 2020).

A disrupção – uma ruptura com inovação – chegou a partir de um modelo de educação não definido, mas através de maneiras e práticas que posicionassem alunos e professores em um mesmo ambiente – o remoto. A educação disruptiva está sendo discutida através de objetivos, meios de atuação e previsões para o futuro, com foco nas inovações tecnológicas e educativas (Securato, 2019).

As novas tecnologias junto à inclusão, diante das políticas públicas, são essenciais para que os gestores públicos possam mapear a exclusão digital e nela intervir para minimizar seus efeitos negativos na sociedade. Diante disso, as tecnologias de informação e comunicação (TIC) podem oferecer suporte para que a inclusão digital seja legitimada (Rua, 1998).

Diante da inclusão digital, apresentamos a exclusão digital, que é um problema que paralisa o desenvolvimento, principalmente de professores e estudantes em tempos de pandemia. Dessa maneira, foi necessário atuar de maneira a resolver pendências que foram acionadas a partir da necessidade dos sujeitos. Houve interrupção nas engrenagens da vida cotidiana. O lado profissional foi inserido dentro de casa, assim como a escola. O mundo virtual se fez presente diante das famílias que tinham condições financeiras para bancar aparelhos de acesso à internet. Quem não teve esse suporte vivenciou a exclusão digital e social, também pelo isolamento social. A problemática que estudantes enfrentam está em não ter aparelhos eletrônicos de acesso à internet e de não ter condições financeiras para pagar pelo acesso à rede. Como resolver isso? A ajuda do poder público é essencial, mas, como ferramenta urgente, não foi possível fazer muito. Foi necessário, que assim como os alunos, os professores também soubessem lidar com esse universo virtual (Marcon, 2020).

Mas, se já identificamos o problema e temos a solução, o que falta para que isso seja realidade? Talvez falte vontade política. Mas essa solução somente estará posicionada em um grau de importância na medida em que a colocarmos em evidência. Dessa maneira, apresentamos uma pesquisa que possa se materializar através da apresentação de um embate entre a educação a distância e a pandemia da Covid-19 no processo de transformação da sociedade.

A impossibilidade de ir à escola por causa de uma pandemia foi uma situação inesperada para a população mundial. Uma questão de saúde pública que afetou o cotidiano das pessoas; não era mais possível sair para o trabalho ou ir para a escola. Não tinha muito que questionar. A quebra de percurso que a pandemia despertou no mundo, diante das forças de trabalho e da educação, também pode levar a caminhos sem volta, em que o ensino foi interrompido, mas pode se restabelecer de maneira mais democrática, de acordo também com uma possibilidade de rompimento com a pedagogia tradicional, para um novo modelo que não cabe mais na atualidade. Um rompimento que pode gerar um espaço para discussões sobre essa exclusão digital que se impõe para muitas famílias.

O problema: a pandemia rompeu com a educação presencial e tornou o estudante de baixa renda inserido na exclusão digital?

Problema

A exclusão digital está situada em uma dificuldade que está relacionada à desigualdade social, em que as pessoas não são detentoras de posições sociais e econômicas que possibilitem acesso digital e social. A pandemia resgatou essa temática (Stevanim, 2020). Diante do cenário em que ainda nos encontramos, por que as políticas públicas de inclusão não alcançam famílias de baixa renda que não têm acesso à tecnologia? Ao acompanhar esse processo, é difícil admitir que o quadro de exclusão ainda exista, enquanto temos uma revolução tecnológica acontecendo no mundo. Precisamos elaborar questões para que possamos pensar em possíveis saídas. Cysne et al. (2007) e Hetkowski (2010) posicionam as políticas públicas como ponto relevante para que a inclusão digital aconteça.

O cenário atual do que acontece no mundo tira de nossos pés toda e qualquer possibilidade de estarmos seguros de onde estamos pisando. Cada nova notícia, leitura, informações sobre o que está acontecendo em todas as partes nos desestabiliza. Diante disso, veio a busca por uma pesquisa que estivesse no centro das discussões sobre educação, pandemia – que ainda nos deixa aturdidos. O virtual foi convidado a se apresentar para o cumprimento do trabalho profissional e de recuperação do ano letivo.

Justificativa

Percebemos a condição do Brasil em não conseguir atender a todos, não suprir as necessidades de sua população. Há urgência para que políticas públicas de inclusãosejam implementadas em todos os setores e níveis da sociedade, inclusive o acesso à educação, à informação e ao mundo digital. A pandemia trouxe à tona um antigo problema: a falta de acesso digital, que está atrelada à falta de acesso social, econômico. É necessário acabar com a desigualdade. Quando temos uma referência àsdesigualdades sociais citamos Almeida e Paula (2005) e Sorj (2003), que acreditam que existe uma intercessão, e diante disso podemos analisar que existem diferentes contextos e motivos pelos quais a exclusão digital está ligada à desigualdade social.

Objetivos

O objetivo deste estudo se estabelece em analisar, revisitar na literatura estudos que apresentem discussões sobre a disrupção na educação, a exclusão digital de estudantes de baixa renda através do enfoque da pandemia da covid-19.

Nesse processo se torna relevante refletir que o papel do professor na trajetória de cada aluno é primordial, mas não vai suprir a falta de equipamentos de seus alunos, pois que, além do objeto eletrônico – computador, celular, tablet – se torna necessário ter estrutura financeira para ter acesso à internet. Necessário se faz identificar mecanismos de acesso facilitado aos alunos que não têm equipamentos e internet em casa. A inclusão digital posiciona o estudante no centro da sociedade que o valoriza, pois se preocupa com sua inserção através de mecanismos de participação ativa, é preciso identificar estratégias possíveis para que os alunos que não têm acesso à tecnologia não fiquem em desvantagem diante dos alunos que são contemplados com uma realidade social que possibilita esse alcance, diante de uma sociedade que exige uma logística, que muitas famílias não têm.

Estamos a reconhecer o processo de transformação da educação a partir da pandemia e analisamos qual é a melhor maneira de ajudar esses alunos nesse período. Verificamos a importância para que este estudo seja de alguma maneira um suporte de consulta para o movimento que é a educação, no estabelecimento de relações entre a exclusão digital com o contexto da pandemia, diante do processo de disrupção da educação. E ainda temos a percepção de que a educação no Brasil ainda não atingiu um patamar de notoriedade; por isso, pontuar soluções e acionar o poder público junto às escolas para que os estudantes não fiquem desassistidos.

O estudante de baixa renda já tem um histórico de evasão escolar por diversos motivos – gravidez na adolescência, trabalho para ajudar a família e desestímulo, entre outros. A pandemia afastou ainda mais esses estudantes da escola. O momento em que uma disrupção da educação acontece materializa um mundo virtual, com novos ambientes de aprendizagem, que difere da pedagogia tradicional. Temos a interrupção do processo de ensino-aprendizagem sendo direcionado para romper com o ensino tradicional e moldar uma nova perspectiva para a educação.

Referencial teórico

A disrupção, em sua definição clara e objetiva, se apresenta como sendo uma ruptura inovadora. Não é apenas uma ruptura, mas uma ruptura com inovação. A pandemia foi a mola que impulsionou o corte do processo educativo. Com base nessa definição, passamos para a disrupção da educação, onde está caracterizada pelo desprendimento da pedagogia tradicional, para novos processos e mecanismos de aprendizagem. Nesse contexto está o estudante de baixa renda, que não consegue acompanhar as aulas pelo rompimento presencial, não consegue seguir pelo caminho da tecnologia, e ao mesmo tempo existe um novo formato de aprendizado sendo desenvolvido, sendo readaptado, com as discussões sobre o ensino híbrido, que fica cada vez mais distante desses alunos, prejudicados pela falta de acesso à tecnologia. A pandemia interrompeu o processo de ensino-aprendizagem, a educação está em um caminho que rompe com a pedagogia tradicional para novos modelos necessários e o estudante rompeu com a escola, pois não está tendo acesso por nenhum canal, mergulhando na exclusão digital (Costa, 2021).

Christensen, Horn e Johnson (2012) designaram o termo disrupção para descrever inovação na criação de novos mercados consumidores, para desestabilizar líderes concorrentes.Um conceito que tem mais tempo de existência no mundo empresarial, mas que aos poucos foi se adaptando a novas nuances, também ligadas à educação.

No conceito de disrupção temos a inovação da tecnologia diante de serviços ou produtos que têm características disruptivas, que resultam em rupturas, interrompendo os padrões que já estão ultrapassados. Esse termo ficou bastante popular entre empreendedores do Vale do Silício, na promoção de estratégias de marketing direcionadas para resultados inovadores em qualquer área do conhecimento (Christensen; Horn; Johnson, 2012).

A disrupção digital aparece como uma maneira de fomentar funções por meio das tecnologias para que sejam acessíveis ao público. A educação disruptiva tem a pretensão de melhorar o que existe, e essa transformação é urgente e relevante (Christensen; Horn; Johnson, 2012).

Dias (2008) fala do novo modelo de ensino que foi instituído como obrigatório e tirou o chão de muitos professores, uma nova maneira de ensinar e aprender precisou de rapidez para se estabelecer. Como desenvolver a capacidade e autonomia do estudante? Espera-se do professor, entre outras coisas, que seja um ponto de apoio, um suporte que estimule os estudantes, “regulando e orientando as suas emoções, afetos e atitudes” (Moreira et al., 2020, p. 352).

Carl Rogers (1997), em suas pesquisas, assinala a necessidade de uma relação de afeto para o processo de mudanças que o indivíduo precisa. Dessa maneira, podemos dizer que o sujeito pode ter a predisposição em traçar um rumo positivo e transformar a sua própria realidade. O autor se debruçou de maneira persistente no que acreditava – o ser humano precisa ser aceito na sociedade e ter o seu lugar de pertencimento, é relevante para que ele caminhe rumo à autorrealização, com esclarecimentos simples em relação à construção do ser humano e à autoaceitação incondicional centrada na pessoa “com uma afeição em relação a si mesmo”. O autor apresenta um ideal que não está sendo materializado por quem não tem acesso (Rogers, 1997, p. 60).

Assim, o que foi idealizado e apresenta um método de ensino inédito para a democratização, para acessar o ensino de qualidade, é um parâmetro que já foi testado e teve resultados positivos. Uma educação para ser vivenciada por educadores e estudantes a partir do que foi originado através do programa Um Computador por Aluno (Prouca) com incentivo e parceria de políticas públicas de inclusão digital através da escola, que apresenta parcerias com projeções internacionais – econômicas e neoliberais. Apresentamos esse exemplo prático em que as políticas públicas falharam (Echalar; Peixoto, 2017).

Bonilla (2011), Baptista (2006) e Cabeda (2005) são unânimes em resgatar os excluídos e projetar, aprofundar a temática da exclusão digital e ainda mencionam as políticas públicas como um canal que tem urgência em ser acessado e praticado. Quéau (2001) amplia o olhar e visita uma solução por meio de uma filosofia que permita a reflexão do que é local junto a um viver global. “A cibercultura, que acompanha a emergência da sociedade mundial da informação, possui certos atributos dessa cultura ‘global’, da qual a ‘cultura internet’ seria uma prefiguração" (Quéau, 2001, p. 1).

Horn e Stacker (2015), que estudam o ensino híbrido, concordam que essa é a modalidade de ensino que está inserida em processos relevantes para a educação contemporânea, uma inovação disruptiva para o aprimoramento da educação: a inovação como campo fértil para fazer brotar novas ideias de sucesso, criar algo novo, distante de padrões antigos.

Jenkins (2009) apresenta um novo cenário de que estamos vivendo, em sociedade, uma passagem, uma convergência, em que um ciclo está se fechando para uma nova realidade emergir diante de uma simultaneidade no que tange à comunicação das redes e dos meios de comunicação de massa. Estamos em um momento de grande virada para o mundo estritamente digital.

Para o acesso democrático à internet, na atualidade, o problema maior não é a distância geográfica, mas a diferença econômica entre ricos e pobres; a distância cultural que se estabelece na educação permanente, a ligada à ideologia através do pensamento e do emocional, e dessa maneira a vertente tecnológica.

Silveira (2008), ao discorrer apoiado nos conceitos de inclusão e exclusão digital, se liga a Lévy (1999) quando menciona o debate e o surgimento da exclusão digital, assim como a função da tecnologia e a inclusão digital. Eliminar a exclusão digital está diretamente relacionado à democratização do acesso ao mundo digital, que visa reduzir a desigualdade social por oportunidades; entre elas está o alcance do mercado de trabalho.

Apesar da desigualdade na utilização de equipamentos eletrônicos pela sociedade, Warschauer (1999) reconhece o papel da tecnologia na promoção de oportunidades de aprendizagem. O autor foi visionário da alfabetização digital. Seu trabalho insiste em promover o acesso digital, um caminho da tecnologia que visa promover uma ampliação intelectual e social.

O advento da tecnologia como algo positivo para Warschauer (1999) trouxe para DiMaggio (2004) e para Dias (2011) pessimismo, pois o avanço nos países pobres na década de 1999 não passou da distribuição de computadores.

Imaginava-se que, com a chegada desses equipamentos, quando começaram a serem disponibilizados na década de 1999, o programa de inclusão de países desfavorecidos seria contemplado com os programas de inclusão digital através dos pontos de acesso, das bibliotecas em diversos pontos do globo – África, Ásia, América Latina, difundidos por entidades ligadas aos governos, empresas de tecnologia da informação, entre outras.

O projeto de Dias (2011) foi restaurado a ponto de eliminar os problemas encontrados, mas muitos alunos não tinham equipamentos para lançar um sistema viável e, quando tinham o material, faltava empenho para manter os equipamentos funcionando e realmente colaborando para o desenvolvimento. Outro programa também do Ministério das Comunicações, em que os equipamentos são doados para as prefeituras, o Kit Telecentro cobria somente 6,6 mil, distribuídos em dezembro de 2010, o que diz a assessoria do Ministério das Comunicações. A realidade é que na atualidade não conseguimos acesso a tais informações no Ministério das Comunicações, mas através do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (Dias, 2011).

A partir dos conceitos de inclusão e exclusão digital, Silveira (2008) lança a “cibercidadania” e volta ao pensamento de Lévy (1999), que apresenta a origem da exclusão, que se relaciona com a perspectiva de dentro das tecnologias, da inclusão social, e as discussões entre os que já fazem parte de uma inclusão digital e as ideias que envolvem as diversas camadas sociais e democráticas, com uma ampliação digital através de uma inclusão digital com autonomia (Warschauer, 1999).

Neri (2003)lançou o mapa da exclusão digital, que tem como base uma atuação que abrange acabar com a desigualdade social e não permitir que a exclusão digital ganhe força. Um mapa que permite a implantação de uma análise de ações de inclusão digital que sejam a base de estratégias em que as instituições civis e governamentais promovam o combate à pobreza, à desigualdade e com a intenção de elevar o índice de desenvolvimento humano e incentivar o debate em todas as instâncias.

A visualização de todo o processo de discussão crítica a que remete esta pesquisa se relaciona com a intenção de visitar temas relevantes por meio de revisão de literatura, que pode contribuir para traçar novas metodologias de integração com a sociedade.

Metodologia

Diante do panorama em que nos encontramos na atualidade – de pandemia – visualizamos a pesquisa bibliográfica como a que contempla o tema a ser discutido. Uma pesquisa realizada com a busca de informações que se encontram em artigos, textos, livros, com identidade científica que estão representadas em citações e referenciais que oferecem a base para que o estudo fosse desenvolvido. Uma pesquisa com o objetivo de confrontar diferentes ângulos de pensamentos sobre o tema em comum, por meio da comparação de informações para a construção de observações e questões conclusivas ou não.

Apresentamos a elaboração de uma pesquisa bibliográfica que contempla o centro de nossos estudos. Os artigos de revisão de literatura têm como característica também utilizar resultados de pesquisa de outros autores (Rother, 2007).

Em um projeto de pesquisa em educação, encontramos na metodologia, em primeiro lugar, uma reflexão teórica sobre a metodologia da pesquisa qualitativa e a modalidade de pesquisa escolhida para o trabalho – uma pesquisa bibliográfica, pois que ainda nos encontramos na pandemia, com perspectivas de melhora, mas com cuidados ainda necessários (Rother, 2007).

Repositórios

Identificamos os seguintes repositórios: UnB, UFBA, Unesp, Capes, Medline, Lilacs, SciELO, Biblioteca Cochrane, Scopus, BDTD, IBICT, FGV e Google Acadêmico. A nossa intenção era encontrar descritores que pudessem fornecer campo de estudo com todos os conceitos. No que se refere àdisrupção da educação, achamos interessante partir do conceito de disrupção. O termo foi criado por Christensen (2021) para designar um rompimento de aspectos engessados no mundo empresarial. Dessa maneira, partimos para a disrupção da educação, que aparece solitária, mas é contemplada a considerar uma ruptura com inovação, que abrange o lugar cômodo da educação tradicional, fazendo impulsionar para que esse lugar seja transformado, cresça e se desenvolva. Encontramos artigos com proposta parecida com a nossa temática. Encontramos muito as palavras-chave separadamente, e algumas unidas.

Tabela 1: Fontes primárias - artigos

Primárias

Endereço

Acesso

Características

Google Acadêmico

http://scholar.google.com/

Gratuito

Abrangente

SciELO

https://scielo.org/

Gratuito

Biblioteca digital com viés cooperativo

Cochrane

https://www.cochrane.org/

Gratuito

Interoperabilidade e cooperação e revisão sistemática

Unesp

https://www.unesp.br

Gratuito

Permite acesso aberto

IBICT

https://www.gov.br

Gratuito

Acesso e visibilidade

Fiocruz

https://portal.fiocruz.br

Gratuito

Preservado com acesso aberto

USP

https://www5.usp.br

Gratuito

Produção intelectual da USP

Researchgate

https://www.researchgate.net

Gratuito

Alta disponibilidade, acessibilidade e interatividade

Unesc

https://unesc.br

Gratuito

 

Fonte: Etapas de busca e seleção de artigos e revisões de literatura. Disponível em: www.scielo.iec.gov.br.

A revisão de literatura traça uma trajetória que torna bastante acessível o entendimento sobre que caminho seguir e alcançar um resultado promissor mediante passos iniciais essenciais para a pesquisa bibliográfica, que responde à necessidade que existe em se fazer presente para qualquer tipo de trabalho científico (Souza, 2006).

É desafiadora a busca por descritores para este estudo. Identificamos relacionados com o tema em questão o número de conceitos e palavras citadas no título. Alguns descritores estão de acordo com a nossa proposta de efetivar o estudo através da relevância com que se legitimam.

Educação disruptiva, exclusão digital, inclusão digital, estudantes de baixa renda, pandemia, desigualdade social, desigualdade digital, democratização da internet, inovação, educação e pandemia covid-19, exclusão social, inclusão social, tecnologia, democratização da educação, autonomia, novas tecnologias, políticas públicas de inclusão.

Busca a partir das palavras-chave

Alguns estão de acordo com a nossa proposta, de efetivar o estudo através da relevância com que as palavras-chave se legitimam. Aqui apresentamos as principais: Educação disruptiva, Exclusão digital, Inclusão digital, Desigualdade social, Pandemia da covid-19, Políticas públicas, Inovação tecnológica, Inclusão social, Revisão narrativa de literatura.

A revisão narrativa de literatura traça uma trajetória que torna bastante acessível o entendimento sobre que caminho seguir e alcançar um resultado promissor mediante passos iniciais essenciais para a pesquisa bibliográfica que responde à necessidade de trazer esse tema à tona. Precisamos nos adaptar à iminência de uma nova pedagogia para um novo modelo de sociedade pós-pandemia. Identificar experiências positivas e indicadores se torna essencial para o intercâmbio de conhecimentos para o combate da exclusão digital (Lucas, 2002).

A sociedade em processo constante de desenvolvimento possibilita transformações que acentuam o crescimento de processos de comunicação com visualização ligada aos processos pedagógicos. Era difícil imaginar que algo como uma pandemia poderia provocar uma urgência por meio do ensino remoto emergencial, em que tudo passou a ser realizado pelo distanciamento que o vírus provocou, com práticas de ensino sem qualidade digital diferenciada (Moreira; Henrique; Barros, 2020).

Esta pesquisa apresenta uma revisão narrativa de literatura que trata do processo educativo que foi interrompido e, dessa maneira, provocou o ressurgimento da exclusão digital. Possui aspectos que constatam que, apesar dos estudos produzidos, ainda não foi possível estabelecer claramente as ferramentas necessárias para que a exclusão digital seja banida (Moura et al., 2020).

A disrupção chegou a partir de um modelo de educação não definido, mas através de maneiras e práticas que posicionassem alunos e professores em um mesmo ambiente – o remoto.

Resultados

Este artigo apresenta uma revisão narrativa de literatura sobre a disrupção da educação a partir da exclusão digital de alunos de baixa renda na pandemia da covid-19. Os resultados encontrados fazem referência ao interesse em solucionar essa problemática, diante de um panorama de transformação tecnológica, social e educacional. Existe uma rede que parte das políticas públicas, com parcerias que precisam ser mais objetivas e práticas. No movimento entre a exclusão digital e a inclusão digital percebemos a contribuição das publicações para que as consequências da exclusão sejam amenizadas no âmbito socioeconômico e cultural (Sorj et al., 2005). Identificamos 102 textos a partir do ano de 1997 e, com os critérios de exclusão, selecionamos 19 artigos em que o foco era de outras áreas de atuação e analisamos 83 a partir do critério de inclusão, com as palavras-chave, pesquisas relevantes realizadas no Brasil (França; Matta; Alves, 2012).

O mapa da exclusão digital apresentado por Neri (2003) fornece uma visão ampla dos resultados sobre o que já foi realizado no Brasil, na América Latina e as relações com a desigualdade social.

As ideias de Costa (2021) se aproximam bastante da proposta deste artigo: a ruptura com a pedagogia tradicional através de uma disrupção, ao questionar se a exclusão digital se fez presente na pandemia e como essa existência aconteceu. Foi necessário visualizar a desigualdade social em toda a sua amplitude – econômica, cultural e diante da evolução da tecnologia.

Foi realizada com base em toda a documentação e nas entrevistas com 55 pessoas de nove escolas de Goiânia que foram selecionadas para o Programa Um Computador por Aluno (Prouca). Diz-se que esse projeto vive em uma ilusão de que a sociedade teve uma evolução qualitativa na aquisição de novas tecnologias. A abordagem das problemáticas e das deficiências na estrutura no programa se torna essencial, assim como a formação dos docentes; sendo assim, essas características não têm força para equilibrar a desigualdade social. Echalar e Peixoto (2017) apresentam um exemplo prático em que as políticas públicas falharam e todo o aparato que foi destinado para minimizar a desigualdade social e digital não foi suficiente, os problemas foram identificados na raiz de sua estrutura – o que desfavorece a aplicação de ações paliativas.

No cenário brasileiro, as tecnologias digitais foram sendo adotadas por meio do processo de ensino-aprendizagem. Os dados da Pesquisa TIC Domicílios 2019 (CGI.br, 2019) mostram que 39% das residências brasileiras possuem computador e 28% não dispõem de acesso às redes. O que vai além do acesso está na busca por onde seja possível a apropriação da tecnologia e uma crítica com possibilidades autorais com criatividade através da cidadania. “Nesse sentido, o que significa estar excluído em um contexto de isolamento social? Que educação estamos praticando e para quem, nesse contexto de pandemia?” (Marcon, 2020, p. 80).

DiMaggio (2004) considera o viés cultural da internet e realiza uma comparação entre o virtual e o advento da TV na década de 1950, momento em que a população também não tinha muito acesso, mas era mais democrático do que em relação à internet. Enquanto 90% da população tinham TV, na década de 1994, 60% das famílias norte-americanas tinham acesso à internet. A divisão em relação ao mundo digital mostra a desigualdade de renda, raça e escolaridade. Aqui os excluídos digitais têm características bem visíveis. Existe um pessimismo que não vislumbra a inclusão digital, mas reforça o poder das classes privilegiadas, que só cresce. O rico aumenta o seu acesso, e o pobre se afasta cada dia mais (DiMaggio, 2004).

Mesmocomo um bom observador com previsões futuristas, Warschauer (1999) não conseguiu constatar a sua ideia de lutar pelo acesso digital indistintamente. A intenção era incontestavelmente positiva, mas viu seu plano dar errado quando as escolas de alto padrão ficaram melhores em tecnologia e os problemas das escolas de nível inferior ficaram piores.

Outro fracasso foi vivenciado em Nova Délhi, na Índia, na Irlanda e no Brasil, onde Warschauer (2006) se dedicou, mas não conseguiu ter um resultado satisfatório. No programa do governo em 2005 no serviço de inclusão digital e com apoio ao usuário no intercâmbio de conexão para escolas públicas e centros das comunidades através do Ministério das Comunicações foi constatado que ⅓ dos 3,6 mil pontos de disponibilidade estavam, na verdade, sem conexão (Dias, 2011).

Temos na atualidade o Programa Digitaliza Brasil, associado à TV digital, com previsão de digitalização global até 2023.

O Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, ligado à Casa Civil, passou a ser responsável pela inclusão digital a partir de 2006, no governo Lula. A última atualização do sistema relacionado a esse assunto foi realizada em 31 de outubro de 2017. Foram criados 4,4 mil telecentros com apoio do Governo Federal, com investimento de R$ 24,3 milhões. Percebemos as tentativas de fazer com que a inclusão fosse real, mas, como mencionamos antes, não falta dinheiro, falta vontade política e uma continuidade dos processos, que devem ser acompanhados com rigor e, ao longo do tempo, fazer adaptações diante das transformações sociais, aplicações reais e efetivas das políticas públicas (Brasil, 2017).

A apresentação de todo o processo desta pesquisa enfatiza as dificuldades, os percalços que os estudantes de baixa renda ainda vão passar diante de tudo o que foi analisado. Não foi possível visualizar um projeto que fosse realmente eficaz em sua plenitude. Esbarramos em situações que freiam o progresso do mundo digital. Percebemos que as ações governamentais são essenciais para que ocorram parcerias que fomentem essa trajetória.

Conseguimos analisar, descrever e estabelecer relações com a temática como campo de estudo. As metodologias para a instrumentalização de processos virtuais no ensino remoto podem ajustar o ensino híbrido – a junção do ensino virtual e presencial –, para que a educação a distância aconteça com planejamento e eficácia. Muitas vezes é necessário desconstruir para construir (Moreira; Henriques; Barros, 2020).

As pessoas de baixa renda ficam posicionadas fora dos mecanismos de sociabilidade, que estão além dos equipamentos eletrônicos, para que a comunicação aconteça. O ideal é que a inclusão se dê onde o mundo digital possa ser possível para todos. Depois de mais de 20 anos de pesquisa sobre o tema, estamos na era da web 3.0, do metaverso e ainda existem muitas pessoas na linha da exclusão digital e social.

Considerações finais

Apresentamos para o futuro uma possível plataforma no formato de blog, através do Google Web, para análise de ações sobre inclusão digital, aprofundar a temática para não deixar que a temática deste artigo seja esquecida e acompanhar o processo de transformação da educação disruptiva, que é o futuro da educação. Um blog com a permissão de balizar ações estratégicas por parte de instituições da sociedade civil e dos diversos níveis de governo. O objetivo é proporcionar uma perspectiva de atuação integrada com outras ações que visam combater a miséria e a desigualdade e elevar o nível de bem-estar social demaneira sustentável. Buscamos, dessa forma, motivar o debate em nível nacional e local em torno de ações contra o chamado apartheid digital (Neri, 2003).

Referências

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Publicado em 07 de fevereiro de 2023

Como citar este artigo (ABNT)

SANTOS, Marcia Pereira dos; ROSA, Elias Pedro. Disrupção da educação: um olhar sobre a exclusão digital de estudantes de baixa renda na pandemia. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 5, 7 de fevereiro de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/5/disrupcao-da-educacao-um-olhar-sobre-a-exclusao-digital-de-estudantes-de-baixa-renda-na-pandemia

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