O que é o átomo?

Quando penso no átomo, estariam os meus átomos pensando também? Que átomos pensam dentro do meu pensar? Ou será que não existem como tal, mas existem como entes coletivos, como uma população ou coisa agregada qualquer, em um emaranhado quântico de enlaces? O que estão trocando entre si? Será que reclamam deste hospedeiro? Fariam eleições ou coisa que o valha, como para decidir se cabe aqui ou acolá uma vírgula ou um ponto? E quem lhes advogará primeiro? Mas não são todos, para um mesmo número atômico, iguais? Se não, quem lhes subverteu a ordem natural?

Eu nunca vi um átomo. Testemunhei, bem verdade, seus contornos em microscópios de tunelamento, entretanto mais pareciam as bolinhas do velho Dalton, versão distante dos pomposos modelos de Rutherford e Bohr. Pior ainda quando atribuem seus elétrons às funções de onda. A sua existência depende de probabilidades, cuja lógica bloqueia os mais bem intencionados. Não, ninguém nunca viu um átomo, pelo menos não aquele que dizem ser o mais verdadeiro. Ver o átomo é um ato de fé.

Por isso, está decidido: os átomos não existem e ponto. Mas eles teimam a se rebelar à incredulidade. Aproximam-se uns dos outros e formam substâncias. Basta colocar-lhes um pouco de reagente ou solvente e aparecerão diferentes sensações. Aqueça-lhes e mostrarão várias cores. Conte-lhes um a um, mesmo uma pequena porção deles, e um número seguido de 23 zeros aparecerá. Colida-os abruptamente e se partirão em subpedaços. Muitos deles têm brilhos como o da prata, outros são ecléticos, como o carbono, ou sutis, como o hélio e, mesmo assim, permanece o mistério: o que é o átomo?

Tanto o átomo quanto o ser humano parecem não fazer sentido. Um ser humano isolado, não existe. Para começar, de algum ventre saiu. Se bem-aventurado, foi amamentado, educado, construiu sua visão de mundo, criou vínculos, formou amizades, amou, lutou e sofreu. Se estivesse sozinho, o que faria? O que seria?

Átomos são como pessoas, pois se relacionam e, a partir dessa relação, se constroem. A concha de um molusco, um pedaço de giz, a estrutura dos ossos ou um pedaço de mármore têm, em essência a mesma composição química (i.e.: CaCO3), mudando apenas a forma como seus átomos interagem.

Seres humanos também se juntam e se organizam, vão ganhando personalidade, individual e coletiva, constroem pontes, elegem papas e poluem rios. A mão que afaga não é a mesma que atira a pedra?

Átomos, como você e eu, não existem, mas se relacionam e, a partir daí, suas existências ganham sentido!