A importância da utilização da música na escola

Francisco de Assis Souza Junior

Doutor (Universidade Ecumênica dos EUA)

Licia Maria Eleutério Fernandes

Doutora (Universidade Ecumênica dos EUA)

A educação, bem compreendida, não é apenas uma preparação para a vida; ela própria é uma manifestação permanente e harmoniosa da vida. Assim deveria ser com todos os estudos artísticos e, particularmente, com a educação musical, que recorre à maioria das principais faculdades do ser humano
(Willems, 1970, p. 10).

É prática comum, nas escolas e nas creches, principalmente nos anos iniciais, ouvir músicas na entrada e na saída do período escolar, assim como nos momentos de festividades, que obedecem ao calendário. Porém, embora a música esteja presente no cotidiano da escola ou da creche é preciso explicar um pouco sobre a sua importância na vida dos nossos discentes e docentes.

A música possui um papel importante na educação das crianças. Ela contribui para o desenvolvimento psicomotor, socioafetivo, cognitivo e linguístico, além de ser um recurso facilitador na aprendizagem (Bréscia, 2003). A musicalização é um processo de construção do conhecimento, favorecendo a sensibilidade, a criatividade, a noção rítmica, o prazer pela audição musical, além de desenvolver a imaginação, a concentração, estimulando o respeito ao próximo, a socialização e a afetividade. A música contribui, enfim, para uma efetiva consciência corporal. A musicalização na Educação Infantil relaciona-se a uma motivação diferente do ensinar, pois favorece a autoestima das crianças, sendo uma grande aliada para a sua saúde emocional.

Desse modo, acreditamos ser importante explicarmos a respeito de como a música foi introduzida na história do ensino infantil e sobre a sua importância nesse período para o indivíduo. Falaremos, assim, um pouco do nosso projeto dentro da nossa creche e de como ocorre esse desenvolvimento e quais são as suas principais consequências.

Isso posto, teremos condições de chegarmos às conclusões a respeito da melhor forma de se trabalhar a musicalidade dentro do contexto escolar da Educação Infantil.

A Educação Musical nas escolas de Educação Infantil: uma incursão histórica

A música vem desempenhando importante papel no desenvolvimento do ser humano, no aspecto religioso, moral e social, contribuindo para a aquisição de hábitos e valores indispensáveis ao exercício da cidadania.

A palavra música vem do grego mousike e designava, juntamente com a poesia e a dança, a “arte das musas”. O ritmo, denominado comum nas três artes, fundia-as numa só. Como nas demais civilizações antigas, os gregos atribuíam aos deuses a sua musicalidade, definida como uma criação ou expressão integral dos espíritos, um meio de alcançar a perfeição.

Ao longo dos tempos, a música foi introduzida na educação dos gregos, como uma forma de elevar a cultura musical, associando-a ao conhecimento dos indivíduos. Com a invasão do Império Romano no mundo grego, esse quadro se altera, pois a “sensibilidade”, típica do cidadão grego, não condizia com a dureza dos soldados romanos. Somente com a incursão do “helenismo” na cultura romana, a cultura musical foi mais valorizada.

Na Idade Média, a Igreja Católica demonstrou grande interesse pela música incluindo-a nos cultos cristãos, pois acreditava que ela exercia forte influência sobre os homens. Assim, houve necessidade de que a disciplina Música fosse implantada na grade curricular das primeiras universidades, surgidas na Idade Média. Com o iluminismo, movimento intelectual que proporcionou outro olhar sobre as artes, a música foi valorizada dentro e fora das escolas, por toda a Europa medieval.

O ensino da Música, no Brasil, remonta aos primórdios do processo de colonização, iniciando-se com a vinda dos jesuítas. Essa ordem religiosa surge na Europa, em meio às lutas religiosas deflagradas pela Reforma Protestante. Em 1549, as primeiras escolas, com música, foram abertas e, por dois séculos, os inacianos detiveram o sistema educacional vigente nas colônias. Com a presença da corte portuguesa no Brasil, houve um significativo desenvolvimento do processo de modernização da música, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, sede do governo real. Nesse quadro, surgiram as primeiras instituições especializadas em ensinar com atividade musical.

O século XIX foi marcado por mudanças culturais, sociais, políticas e econômicas, culminando com a Proclamação da República, o que dá início a nova expansão das artes, marcada ainda mais pela influência europeia. Já no século XX, o ensino da Música é intensificado nas universidades e nas escolas públicas, como disciplina, a princípio, não obrigatória. Hoje, a Arte consta como disciplina obrigatória de todos os currículos, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.     

A importância da música na Educação Infantil

Apresentar a importância da música para o desenvolvimento da sabedoria e do convívio social dos alunos da Educação Infantil, assim como sobre o seu poder na contribuir para a aprendizagem, faz-se cada vez mais necessário, levando-se em conta que esse tipo de atividade está cada dia mais presente na vida escolar.

Saber aliar a prática educativa e a música torna a escola um lugar mais alegre e receptivo. A música, além de ser facilitadora do processo de ensino-aprendizagem, também amplia o conhecimento musical do aluno, como um bem cultural. Portanto, experimentar a música e aprender a usá-la não deve ser um privilégio de poucos.

Conceito de música:

A música está sempre associada à cultura e às tradições de um povo e de sua época. Ao longo do tempo, as preferências musicais da população podem mudar constantemente. Isso acontece devido ao avanço tecnológico e a grande influência que os meios de comunicação exercem sobre os indivíduos.

Segundo Bréscia (2003, p. 25), a música é “uma linguagem universal, tendo participado da história da humanidade desde as primeiras civilizações. Conforme dados antropológicos, as primeiras músicas foram usadas em rituais”.

Atualmente, existem diversas definições para a música, porém, de um modo geral, ela é considerada Ciência e Arte. Gainza (1988, p. 22) ressalta que, “a música e o som, enquanto energia estimula o movimento interno e externo no homem, impulsionando-o a ação e promovem nele uma multiplicidade de condutas de diferentes qualidades e grau”.

A música é composta basicamente por sons, ritmos, melodia e harmonia. Os sons são as vibrações, o ritmo é o efeito da duração dos sons, a melodia é a sucessão ou repetição do ritmo e a harmonia é a combinação dos sons, de forma que se torne agradável aos ouvidos. A música eleva os sentimentos mais profundos do ser humano. Não é necessário gostarmos de todos os estilos, porém precisamos conhecê-los.

É também fator determinante na personalidade do indivíduo, uma forma de expressão social e cultural pouco valorizada e muitas vezes banalizada. Contudo é, sem dúvida, uma das mais valiosas formas de expressão da humanidade, porém em nossas escolas ainda há certo descaso em relação a essa prática. 

A música e a educação escolar

Atualmente, a fim de conquistar uma aprendizagem significativa e de acordo com as necessidades impostas pela sociedade, torna-se necessária a ludicidade no ambiente educacional, pois ela é capaz de fazer com que o ensino seja mais estimulante. É preciso compreender a importância da presença do lúdico, como um instrumento de superação e inclusão, na escola, pois a cultura lúdica está intrínseca nas crianças. Desde quando chegam à escola, trazem consigo essa grande herança, na medida em que quase tudo que se aprende na infância decorre das brincadeiras produzidas a partir do seu convívio social.

Negrine (1997, p. 4), em estudos realizados sobre aprendizagem e desenvolvimento infantil, afirma que "quando a criança chega à escola, traz consigo toda uma pré-história, construída a partir de suas vivências, grande parte delas através da atividade lúdica". Sendo assim, a música pode em muito contribuir, tornando o ambiente escolar mais agradável e propício à socialização do grupo, podendo ainda ser usada como instrumento de relaxamento depois de atividades físicas ou como proposta de auxílio meditativo diante da tensão de uma prova, além de ser um poderoso recurso didático.

Conforme Mársico (1982, p. 148) afirma,

tarefa primordial da escola é assegurar a igualdade de chances, para que toda criança possa ter acesso à música e possa educar-se musicalmente, qualquer que seja o ambiente sociocultural de que provenha.

As aulas nas quais a música se faz presente introduzem a magia dos sons. Nessas aulas, os alunos podem construir instrumentos musicais com materiais sucateados, desenvolvendo a coordenação motora, enquanto se descontraem cantando e se divertindo, uns com os outros.

A música, no cotidiano escolar, pode não somente ajudar as crianças no aprendizado, mas também nos casos de crianças com problemas de relacionamento ou inibição, quando aliada ao movimento de expressão corporal ou às atividades de dança, contribuindo para a adaptação dessas crianças ao meio escolar.

Distintas áreas do conhecimento podem ser estimuladas com a prática da musicalização, pois ela atende diferentes aspectos do indivíduo, desde o físico, o mental, o social até o emocional e o espiritual. Nesse sentido, faz-se necessária a sensibilização dos educadores, a fim de que despertem para as possibilidades da música como recurso didático-pedagógico, favorecendo o bem-estar e o avanço dos alunos em todas as áreas, trabalhando diretamente com o corpo, a mente e as emoções infantis.

Para que a aprendizagem da música possa ser fundamental na formação de cidadãos é necessário que todos tenham a oportunidade de participar ativamente como ouvintes, intérpretes, compositores e improvisadores, dentro e fora da sala de aula. Envolvendo pessoas de fora no enriquecimento do ensino e promovendo interação com os grupos musicais e artísticos das localidades, a escola pode contribuir para que os alunos se tornem ouvintes sensíveis, amadores talentosos ou músicos profissionais (Brasil, 1997, p. 77).

A inserção do lúdico na Educação Infantil vai além de estabelecer e implantar currículos ou aplicá-los às crianças, sem nenhum recurso que chame sua atenção. Isso implica uma renovação na formação continuada do professor, pois todo educador necessita estar em constante processo formativo, a fim de sustentar a sua práxis a partir de mudanças e práticas educacionais que facilitem a absolvição e acomodação da aprendizagem realizadas pelo aluno. Para Bréscia (2003, p. 81), “o aprendizado de música, além de favorecer o desenvolvimento afetivo da criança, amplia a atividade cerebral, melhora o desempenho escolar dos alunos e contribui para integrar socialmente o indivíduo”.

A música e a dança

Desenvolver a musicalidade e a expressão corporal na Educação Infantil é muito importante, principalmente no que diz respeito ao reconhecimento do corpo, de suas possibilidades e limitações espaciais, temporais e laterais.

As crianças sabem que se dança música, isto é, que a dança está associada à música, e geralmente sentem grande prazer em dançar. Se os professores levarem isso em conta e considerarem como ponto de partida o repertório atual de sua classe e puderem expandir este repertório comum com o repertório do seu grupo cultural e de outros grupos, criando situações em que as crianças possam dançar, certamente contribuirão significativamente para a formação das crianças (Estevão, 2002, p. 33 apud Ongaro et al., 2006).

Cunha (1992, p. 13 apud Gariba, 2005) também ressalta a importância da dança dentro do processo de escolarização infantil. Ele afirma: “acreditamos que somente a escola, através do emprego de trabalho consciente de dança, terá condições de fazer emergir e formar um indivíduo com conhecimentos de suas verdadeiras possibilidades corporais-expressivas”.

É necessário salientar que as atividades que envolvem música e dança são, sem dúvida, importantes meios de inserção da cultura e do prazer na escola, julgando que as crianças desta fase (idade-série) já sabem relacioná-las, pois se trata de algo instintivo, vindo do seio materno. Com certeza, perceberão as atividades de música com dança, como possibilidades de brincar e de aprender brincando. É difícil imaginar uma criança que, ao ouvir determinada música, não acabe dançando, já que isso vem de diferentes vivências e situações nas quais os adultos, mesmo sem perceber, acabam demonstrando, trazendo a música e a expressão corporal quando desejam transmitir suas emoções.

Nesse sentido, o trabalho com a música, aliado à dança, pode favorecer o desenvolvimento corporal da criança, combinando movimento e ritmo adequados, de acordo com a estrutura da melodia. Facilitar a socialização, contribuindo para o relaxamento muscular e psicológico da criança, é um dos objetivos dessa prática na escola.

A música tem que ser entendida como uma linguagem e não como uma forma de estratégia para banalizá-la. Tem que mostrar um amplo universo de sons para o aluno. Isso vai ajudá-lo a ampliar seus sentidos, como a visão, o tato e, principalmente, a audição. Nosso propósito com essas aulas não é o de formar músicos profissionais, mas como música é cultura, ela vai despertar nessa pessoa também o senso crítico, fazendo com que esse indivíduo não aceite passivamente todo esse material cultural descartável (Lima apud Laginski, 2008).

A banalização da música no contexto escolar, porque os profissionais da Educação a utilizam apenas como fonte de recreação dos alunos, ignorando a sua riqueza cultural e social. Não é isso que queremos para essa atividade, mas que ela seja um meio de ampliar a linguagem oral e corporal das crianças, de forma inclusiva e não discriminadora.

O ensino efetivo da música vem sendo negligenciado em nossas escolas. Essa situação tende a mudar, com a Lei nº 11.796, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com ela, teremos a obrigatoriedade do ensino musical nas escolas brasileiras, pois propõe que as escolas devem ensinar música dentro de um contexto abrangente e formativo.

Referências

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. 3ª ed. Brasília: Ministério da Educação/Secretária de Educação Fundamental, 2001.

BRÉSCIA, V. L. P. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003.

DURAN, M. C. G. Alfabetização: teoria e prática. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/alf-i.php?t=001. Acesso em: 07 jun. 2008.

GAINZA, V. H. Estudos de Psicopedagogia Musical. 3ª ed. São Paulo: Summus, 1988.

GARIBA, C. M. S. Dança escolar: uma linguagem possível na Educação Física. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd85/danca.htm. Acesso em: 18 out. 2008.

LAGINSKI, F. A importância da música na educação. Disponível em: http://www.parana-online.com.br/editoria/almanaque/news/320514/. Acesso em: 15 out. 2008.

MÁRSICO, L. O. A criança e a música: um estudo de como se processa o desenvolvimento musical da criança. Rio de Janeiro: Globo, 1982.

NEGRINE, A. S. Aprendizagem e desenvolvimento infantil a partir da perspectiva lúdica. Revista Perfil, v. 1, n° 1, p. 04-12, 1997.

ONGARO, C. F.; SILVA, C. S.; RICCI, Sandra Mara. A importância da música na aprendizagem. Disponível em: http://www.alexandracaracol.com/ficheiros/music.pdf. Acesso em: 07 jun. 2008.

Publicado em 14 de fevereiro de 2023

Como citar este artigo (ABNT)

SOUZA JUNIOR, Francisco de Assis; FERNANDES, Licia Maria Eleutério. A importância da utilização da música na escola. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 6, 14 de fevereiro de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/4/a-importancia-da-utilizacao-da-musica-na-escola

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