Letramento digital no curso técnico em Guia de Turismo: reflexões a partir de uma proposta de intervenção pedagógica

Adrielly Benigno de Moura

Doutoranda (UFPB), mestre em Ensino (UEPB), coordenadora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Governador Dix-sept Rosado

Nayara Soares de Oliveira

Especialista em Docência para Educação Profissional e Tecnológica (IFPB), graduada em Letras (UFPB), assessora na Secretaria Municipal de Educação de Governador Dix-sept Rosado

Considerando a comunicação como processo importante para a compreensão da sociedade, vale ponderar que ela está sendo frequentemente inundada por mudanças, que perpassam desde mensagens instantâneas, por meio de aplicativos e da utilização de jogos interativos, em diversas práticas sociais, inclusive na educação, até a multiplicação exacerbada da informação, permitida a partir do uso das inovações tecnológicas. Assim, a comunicação na perspectiva de um processo de linguagem, deve ser amplamente estudada em suas novas formas de interação. Nesse contexto, o letramento digital se apresenta como uma possibilidade de reflexão e percepção dessas mudanças no processo comunicativo, a partir das interações com as tecnologias digitais, bem como para a construção do conhecimento na relação professor/aluno.

Pimentel (2018) considera que a internet é um dos avanços tecnológicos mais importantes da sociedade, instrumento fundamental para o convívio de todos. Ainda na perspectiva do autor, por exemplo, os dias atuais configuram-se, de certa forma, como um mundo cada vez mais conectado. O estudioso também ressaltou que é cada vez mais importante que as aplicações pedagógicas estejam em consonância com as novas tecnologias digitais de informação e comunicação.

Nas últimas décadas é perceptível que as práticas sociais de comunicação têm demonstrado o quanto é necessário o remodelamento da sociedade, conforme Manuel Castells (1999) afirmou, ao observar que a inovação na comunicação precisa ser pensada como uma linguagem universal, para promover o conjunto de imagens e as individualidades de cada cidadão.

Nessa perspectiva, a elaboração de um plano de intervenção para a disciplina Português Aplicado ao Turismo, em um curso técnico, acontece de forma concomitante ao Ensino Médio na Escola Cidadã Integral Técnica Benjamin Maranhão. A instituição de ensino está localizada no município de Araruna/PB e a escolha do curso, bem como da disciplina, se deu a partir das informações administradas no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNCT) e de um projeto pedagógico do mesmo curso disponibilizado no Instituto Federal de Mato Grosso (CNCT, 2022; IFMT, 2015).

Cabe ressalvar que este artigo é proveniente da finalização do curso de especialização em Docência para Educação Profissional e Tecnológica e do trabalho final de curso, projeto de intervenção pedagógica na Educação Profissional, possibilitado pela disciplina que carrega o mesmo nome do trabalho.

Portanto, considerando a importância da construção de conhecimentos teóricos para a formação de saberes dos futuros especialistas em Docência para Educação Profissional e Tecnológica, este artigo representa relevância no âmbito acadêmico e profissional, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de competências relacionadas à cultura digital.

Nesse cenário, o objetivo deste artigo é apresentar uma proposta de intervenção pedagógica na perspectiva do letramento digital no curso técnico de Guia em Turismo. Para efeito de organização, ele está ordenado nos seguintes tópicos: introdução, nuances do Ensino Técnico Profissionalizante, práticas de letramento digital, procedimentos metodológicos e os resultados esperados, seguido das considerações (in)conclusivas e referências.

Nuances do ensino técnico profissionalizante

A formação técnica profissional deve pautar-se, segundo Costa e Coutinho (2018, p. 6), “pelos princípios da politécnica, para que os trabalhadores não sejam apenas um artefato ao mercado de trabalho”, mas que sejam, especialmente, aptos a desempenhar suas funções laborais, dominando a dualidade entre a prática e a teoria. Nesse viés, a educação profissional deve também ser emancipadora, induzindo ainda uma abordagem crítica nessa relação entre o labor, a educação e o capital.

A esse respeito, a Lei nº 13.415/17 trouxe em sua publicação uma grande mudança frente ao percurso formativo do Ensino Médio, alterando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e observando que essa etapa da Educação Básica deve ser esquematizada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), bem como pelos itinerários formativos (Brasil, 1996, 2017). Em acordo com o dispositivo da lei, essa programação deverá ser ofertada por meio de arranjos curriculares diferenciados e de acordo com a relevância contextual de cada localidade e do sistema de ensino ao qual se insere (Brasil, 2017).

A oferta dos itinerários formativos, por meio dos arranjos curriculares, seguindo as especificidades da oferta local, disponibilizará o ensino de Linguagens e suas Tecnologias, da Matemática e suas Tecnologias, das Ciências da Natureza e suas Tecnologias, das Ciências Humanas, Sociais e Aplicadas, bem como a Formação Técnica Profissional (Brasil, 2017). 

Importante destacar, a respeito do Ensino Médio junto ao Ensino Técnico, que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nº 9.394/96, afirma que o Ensino Médio pode preparar o aluno para “o exercício de profissões técnicas”. A modalidade para o Ensino Técnico visa preparar o educando para o trabalho e poderá ser desenvolvida nas próprias instituições escolares que a ofertam, como também ser realizada em conjunto com outros estabelecimentos educacionais, especializados no técnico profissionalizante. Além desses aspectos relevantes, essa modalidade poderá ainda ser oferecida de forma articulada com o nível médio ou o nível subsequente para educandos que já concluíram o Ensino Médio (Brasil, 1996).

Portanto, apresentamos, neste tópico, as nuances do Ensino Técnico Profissionalizante por meio de teorias que conceituam a modalidade, bem como a legislação pertinente à perspectiva, pautando a estrutura na qual deve ser articulada para a formação técnica profissional, respeitando-se os marcos legais para essa formação.

Práticas de letramento digital

Apresentada uma breve seção a respeito da educação profissionalizante, é importante pensar em teorias que regem a era da informação e como as formas de comunicação foram sendo revolucionadas nos últimos tempos, com o surgimento de novas práticas sociais e, por conseguinte, a necessidade de quebrar as amarras em processos de ensino-aprendizagem presos há séculos passados.

Manuel Castells, em A sociedade em rede (1999), afirmou que por volta do fim do segundo milênio da Era de Cristo, próximo aos anos 2000, a revolução tecnológica, junto à explosão das novas tecnologias de informação, gerou a necessidade de um remodelamento da sociedade. Além disso, o autor também destacou que, com o crescimento da rede mundial de computadores, surgiram novos canais de comunicação, que “falam cada vez mais uma língua universal digital tanto está promovendo a integração global da produção e distribuição de palavras, sons e imagens de nossa cultura, como personalizando-os ao gosto das identidades e humores do indivíduo” (Castells, 1999, p. 40).

Enquanto isso, Pierre Lévy (1999) denominou que a rede, também chamada de ciberespaço, surge com a comunicação mundial dos computadores e como uma forma inovadora de se comunicar. Lévy afirmou que aqueles que navegam na rede estão mergulhados em um longo campo de informações. A cibercultura, como o estudioso ponderou, é o lugar da expressão de um mundo renovado, onde a comunicação é cada vez mais ágil e personalizada, “pois cada novo nó da rede de redes em expansão constante pode tornar-se produtor ou emissor de novas informações, imprevisíveis, e reorganizar uma parte da conectividade global por sua própria conta” (Lévy, 1999, p. 15, 113). Vale acrescentar que, quando o autor falou em ‘nó’, ele fez referência à rede mundial de computadores conectados entre si e salientando que, dentro dessa cultura digital, as informações mudam rapidamente, sem oferecer capacidade de previsão.

Dentro desse novo contexto, foram surgindo novas formas de comunicação, assim como também maneiras inovadoras de desenvolver processos de ensino. Pesquisas que contemplassem o estudo dessa nova forma de se comunicar e as necessidades que dela surgiram, tornaram-se importantes para a perspectiva do letramento e de seus desmembramentos.

Assim, para trazer conceituações importantes, a teoria de Soares (2002), por exemplo, afirma que a formação da palavra letramento já revela a ideia de estado, trazendo, no seu sufixo ‘mento’, a colaboração da substantivação de um determinado verbo, com o “verbo letrar (ainda não dicionarizado, mas necessário para designar a ação educativa de desenvolver o uso de práticas sociais de leitura e de escrita, para além do apenas ensinar a ler e a escrever, do alfabetizar), a fim de formar a palavra letramento, estado resultante da ação de letrar” (Soares, 2002, p. 146).

Nessa perspectiva, Santos e Lima (2019) entendem que, quando um indivíduo é letrado, ele consegue adentrar situações sociais que requerem a construção de sentidos. As autoras pontuam que ser letrado não significa ser alfabetizado. Letrado significa habilitado para fazer reflexões críticas como leitor. Já aquele que é alfabetizado é quem consegue apenas decodificar sons e palavras, mas não tem habilidades necessárias para interpretações textuais avançadas.

Além da prática do letramento isolado, existe ainda a perspectiva do letramento digital. Buzato (2006, p. 16) observou que o letramento digital é uma rede de prática social caracterizada pelo apoio dos dispositivos digitais, sejam eles computadores, aparelhos celulares, TV ou vários outros, com a finalidade “tanto em contextos socioculturais limitados fisicamente, quanto naqueles denominados online, construídos pela interação social mediada eletronicamente”. Anterior a isso, Kleiman (1995) observou que o letramento digital é uma prática utilizada para a escrita, por intermédio da tecnologia em que o letrado está mergulhado.

Dudeney, Hockly e Pegrum (2016, p. 17) seguem para uma conceituação de letramento digital como “habilidades individuais e sociais necessárias para interpretar, administrar, compartilhar e criar sentido eficazmente no âmbito crescente dos canais de comunicação digital”. Esse letramento pode também ser compreendido como a junção de competências que colaboram para que o letrado compreenda e utilize as informações em diferentes formatos, ora trazidas pelo computador ora pela internet, os quais poderão ser compartilhados socialmente.

Pertinente ao que diz respeito às tecnologias e às práticas de letramento digital, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) avança em algumas competências gerais para toda a Educação Básica. Em sua quinta competência, descreve a idealização de que o aluno deverá ser habilitado para entender, usar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação, de maneira que ele possa refletir criticamente e eticamente perante suas próprias práticas de comunicação (Brasil, 2018).

A respeito da formação dos professores e do conhecimento da temática abordada no parágrafo anterior, Freitas (2010, p. 340) afirma que os multiplicadores do saber “precisam conhecer os gêneros discursivos e linguagens digitais que são usados pelos alunos, para integrá-los, de forma criativa e construtiva, ao cotidiano escolar”. A autora ainda explicou que as práticas já existentes não devem ser abandonadas, mas que novas devem ser acrescentadas, pois é preciso que os docentes e discentes sejam letrados digitalmente. “O esperado é que o letramento digital seja compreendido para além de um uso meramente instrumental” (Freitas, 2010, p. 340). Segundo a autora, essas práticas precisam ser concebidas além da utilização como um mero suporte pedagógico, pois fazem parte do cotidiano empírico dos discentes.

Além do mais, em um estudo realizado por Santos e Lima (2019), foi considerada, por exemplo, a necessidade de mais estudos acerca do tema de letramento digital, bem como a inclusão de práticas docentes que incentivem o uso racionalizado da cibercultura e de leituras equilibradas para formar seres reflexivos e não indivíduos que consomem internet de forma irracional e desestruturada.

Em suma, este tópico possibilitou a construção de saberes por meio de suportes teóricos que trouxessem conceituação acerca do letramento, do letramento digital, bem como também da necessidade de pesquisas relacionadas à temática, contribuindo para o remodelamento das práticas pedagógicas na perspectiva do mundo digitalizado e considerando as competências gerais expostas na BNCC.

Procedimentos metodológicos

Este artigo é produto decorrente da disciplina Trabalho Final de Curso, em cujos quesitos avaliativos estão: a) a construção de um projeto de intervenção pedagógica, no curso de especialização em Docência para Educação Profissional e Tecnológica, em que o curso/disciplina escolhido/a deveria ser de algum curso técnico, à escolha do aluno, mas que estivesse explanado dentro do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNCT); e b) a elaboração de um artigo científico em que fossem apresentados os resultados alcançados ou esperados na referida intervenção.

A partir disso, a proposta foi planejada para a disciplina de Português Aplicado ao Turismo, no curso técnico em Guia de Turismo, sob o eixo tecnológico de Turismo, Hospitalidade e Lazer. A instituição de ensino para a qual a intervenção foi inicialmente pensada é a Escola Cidadã Integral e Técnica Benjamin Maranhão, localizada no município de Araruna/PB. A temática idealizada foi elaborada sobre os princípios e as técnicas de produção de panfletos aplicados ao turismo.

No entanto, devido ao agravamento epidemiológico decorrente da pandemia do covid-19 e a reforma inacabada na escola, a realização desta intervenção foi inviabilizada. Por isso, neste artigo, são apresentados exclusivamente o planejamento e os resultados esperados para tal realização, ficando assim uma proposta a ser realizada nos mais diversos estabelecimentos de ensino e por outros profissionais da área de linguagens, por tratar das competências de produção de texto na perspectiva do letramento digital.

O objetivo da intervenção está em colaborar para que o aluno compreenda as técnicas na produção de panfletos, avisos e convites para determinados eventos relacionados ao turismo. Seguindo as orientações do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNCT, 2022), chegou-se ao entendimento de que o profissional deverá ser habilitado para planejar e organizar a execução de roteiros turísticos, prestando informações turísticas sobre a região na qual o técnico exerce suas funções e colaborando nas relações entre os visitantes e a comunidade local, com os turistas e seus roteiros turísticos locais.

Esta proposta de intervenção também está alinhada à ementa do curso técnico em Guia de Turismo, disponibilizado no projeto pedagógico do curso, do Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT, 2017). Dessa forma, a proposta de intervenção apresentada também tem o intuito de colaborar para que o aluno possa compreender estratégias e práticas de letramento digital, possibilitadas a partir do convívio com as tecnologias digitais de informação e comunicação (TIC), entendendo as considerações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que dispõe sobre as competências gerais para a Educação Básica, dentre elas, que os discentes sejam capazes de compreender, usar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação, de maneira reflexiva perante as novas práticas sociais de comunicação (Brasil, 2018).

Nesse viés, para melhor detalhamento, cabe mencionar quais os recursos necessários para administrar a intervenção: a) uma apostila com as informações da aula, como os princípios e as técnicas necessárias para a produção de panfletos aplicados ao turismo; b) um aparelho smartphone; e c) um aplicativo.

Sendo assim, a apostila deve ser organizada pelo professor com suportes teóricos que colaboram para a realização de uma aula expositiva, construindo saberes que incluem a utilização da norma culta da Língua Portuguesa, os objetivos de um panfleto/aviso, os objetivos para alcançar uma comunicação clara e objetiva e a importância de adequação a ambientes virtuais para a produção de atividades. Cabe destacar que, nesse material de apoio, devem estar expressamente enfatizadas a importância de se utilizar a norma culta da Língua Portuguesa e o seu domínio nas produções dos panfletos. 

Como os alunos devem ser convocados para produzirem panfletos de autoria própria, configurando assim a oficina de manuseio prático de cartazes virtuais, o aplicativo Canva, uma ferramenta online lançada em 2013, disponível para download em aparelhos Android ou iOS, visando o desenvolvimento de designs autorais e que permite ao usuário partilhar ideias nos mais variados designs gráficos (Ferreira; Silva, 2020), foi o aplicativo escolhido para que possam confeccionar um panfleto de maneira digital, alcançando assim o desenvolvimento das competências de letramento digital.

Além desses primeiros suportes, a utilização de aparelhos smartphones, celulares inteligentes e de alta tecnologia, com capacidade de processar as mais diversas tecnologias (Coutinho, 2014) é recomendada, a fim de que as produções dos panfletos sejam feitas exclusivamente no celular, considerando ser um aparelho de uso habitual. No entanto, para atender aos critérios de inclusão, aos alunos sem um aparelho, pode ser facultada a organização e produção da tarefa em duplas ou em grupos, formando equipes de trabalho.

Para a compreensão clara dos momentos descritos no decorrer desta seção, o próximo quadro atenderá ao passo a passo da realização da proposta de intervenção:

Quadro 1: Momentos para a realização da intervenção

Passo a passo da proposta de intervenção e aula expositiva com oficina

1º Momento

Organizar as carteiras em círculo

2º Momento

Leitura da apostila

3º Momento

Momento “tira dúvidas”

4º Momento

Instalação do aplicativo Canva

5º Momento

Reflexão inicial para pensar nas características importantes de um panfleto (Figuras 1 e 2)

6º Momento

Produção de panfletos virtuais (oficina de produção)

7º Momento

Avaliação

Nesse sentido, além dos suportes pedagógicos necessários para a proposta de intervenção, é importante destacar a preparação do ambiente para o momento do desenvolvimento da atividade. Para uma aula com maior engajamento, as cadeiras podem ser organizadas em círculo de modo que cada aluno possa visualizar todos os seus outros colegas de classe.

A apostila, citada anteriormente e pertinente como suporte pedagógico, deve ser esmiuçada com os discentes, a partir da leitura, relevando os pontos mais importantes e deixando um instante específico quando os alunos poderão tirar suas dúvidas. Realizado esse momento, os alunos têm um tempo reservado específico para instalação do aplicativo Canva em seus próprios aparelhos smartphones. Com os aplicativos instalados, os alunos são orientados a produzirem o panfleto, informando a realização de um determinado evento, com todas as informações pertinentes, considerando as aprendizagens construídas na aula.

Quadro 2: Exemplo do enunciado da oficina prática

Veja exemplo:

Olá, aluno(a)! Considerando que você adquiriu informações importantes no que diz respeito à produção de panfletos em ambientes virtuais, imagine que você é um profissional já formado em técnico em Guia de Turismo e irá receber um grupo de visitantes na cidade em que você atua. Nesse período em que os viajantes estão na localidade, haverá um determinado evento que será muito importante para a exposição das formações culturais, exposição dos pontos turísticos e a História da cidade. Pensando nisso, você deverá produzir um panfleto/aviso que servirá de convite para os excursionistas.

Considere o modelo disponibilizado na apostila, mas utilize sua própria imaginação. Bom trabalho!

Cabe aqui a ressalva da importância de oferecer uma orientação aos discentes quanto à necessidade do pensamento reflexivo em suas produções, pois precisam se imaginar e se colocar no lugar dos turistas, a fim de considerarem todas as informações necessárias, claras e contundentes que devem estar presentes nos panfletos. Nesse momento anterior à oficina prática, os pontos relacionados à confecção de panfletos e a importância das informações completas devem ser mais uma vez enfatizados. Todas essas considerações constarão na apostila exclusiva da aula.

Nas próximas imagens, por exemplo, consta um leiaute, ou seja, uma forma ou uma composição a ser utilizada como referência na folha de papel (Hurlburt, 1986), produzido no Canva e considerado a partir de algumas mudanças de cores e de outras especificidades realizadas pelas autoras do artigo. O modelo pode ser utilizado como sugestão para apresentar aos discentes da turma, no momento exato em que eles farão a confecção do panfleto.

Figura 1: Frente ilustrativa e exemplificada de um panfleto

Figura 2: Verso ilustrativo e exemplificado de um panfleto

Como demonstrado nas últimas imagens, as informações mais relevantes são aquelas que devem ser levadas para o panfleto, as quais repassam informações de nomeação de um determinado evento, data, horário, localidade, bem como quais serão as atrações da solenidade. Além disso, frases de convencimento ou chamadas persuasivas para que o leitor final seja estimulado a participar do evento também são elementos importantes para a configuração textual final.

É válido enfatizar que no decorrer da proposta de intervenção, os discentes da turma serão avisados quanto à necessidade de maior atenção no tange a escolha dos elementos informativos e objetivos para que os panfletos não fiquem com poluição visual e informações desconexas. 

Por fim, a forma de avaliação da intervenção acontecerá em um momento de engajamento coletivo, focada não somente nos aspectos valorativos de atribuição de nota, mas ainda nas aprendizagens adquiridas ao longo do processo didático, bem como no reconhecimento das construções de saberes que os alunos desenvolveram com a aula e com o reconhecimento da importância de apropriarem-se dos potenciais construídos.

Resultados esperados

O objetivo da proposta de intervenção pedagógica é colaborar para que o aluno reflita sobre as técnicas para a produção de panfletos, avisos e convites para eventos relacionados ao turismo. Assim, o projeto foi pensado de forma estratégica e intencional para que alunos possam desenvolver habilidades necessárias e importantes para a profissionalização efetiva do técnico em Guia de Turismo.

Isso posto, a proposta de intervenção tem a intenção de alcançar os objetivos traçados, a saber, que os alunos desenvolvam competências básicas necessárias relacionadas às confecções de panfletos, bem como com as reflexões acerca da importância de desenvolver habilidades para o sucesso em sua futura profissão. 

Com isso, espera-se que os alunos adquiram bases importantes da Língua Portuguesa e da prática do letramento digital ao confeccionarem panfletos, avisos e convites, pertinentes à explanação de informações na área do Turismo e com informações claras e objetivas, nas práticas do letramento digital, a exemplo da utilização do aplicativo Canva no cotidiano das atividades laborais.

Ademais, apesar de tratar-se de uma aula expositiva, se espera que os alunos tenham um engajamento e uma curiosidade aguçada para à intervenção, pois a realização da oficina prática na produção de panfletos, possibilita um momento diferente do cotidiano vivenciado em sala de aula.

Considerações (in)conclusivas

O desenvolvimento de conhecimentos de base científica na área de letramento digital, bem como aplicações no âmbito do Ensino Técnico e Profissionalizante, promove a ampliação dos olhares tanto docentes quanto discentes para este campo de atuação. Uma proposta de intervenção pedagógica que visa trabalhar o contexto do letramento digital e as bases importantes da Língua Portuguesa, com as informações pertinentes para confeccionar panfletos, avisos e convites, colabora no desenvolvimento de competências e habilidades referente à formação do profissional técnico em Guia de Turismo. Desse modo, ela promove o aprofundamento de conteúdos importantes para essa formação técnica e profissional, bem como para a melhoria do ensino em todo o país.

A escrita deste artigo, bem como o seu planejamento, colabora para o aperfeiçoamento do profissional em formação e a disseminação dos conhecimentos técnicos científicos à comunidade acadêmica. Portanto, a proposta de intervenção aqui apresentada se configura como um ponto de partida para avançar nas discussões e reflexões sobre o letramento digital nos cursos técnicos, considerando-se o contexto de aproximação entre a teoria e a prática, sugerindo a implementação de propostas, como a aqui delineada, em outros cursos de maneira interdisciplinar.

Referências

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Publicado em 14 de fevereiro de 2023

Como citar este artigo (ABNT)

MOURA, Adrielly Benigno de; OLIVEIRA, Nayara Soares de. Letramento digital no curso técnico em Guia de turismo: reflexões a partir de uma proposta de intervenção pedagógica. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 6, 14 de fevereiro de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/6/letramento-digital-no-curso-tecnico-em-guia-de-turismo-reflexoes-a-partir-de-uma-proposta-de-intervencao-pedagogica

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