O estímulo da consciência fonológica na educação infantil: contribuições para o processo de alfabetizar
Soraia Soares da Silva
Licenciada em Pedagogia (UNEB) e em Geografia (UEFS), pós-graduada em Educação Infantil e Alfabetização (Facuminas), pós-graduanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional (FAT) e em Neuropsicopedagogia Clínica (Rhema)
O presente trabalho foi pensado e elaborado visando compreender o processo da Educação Infantil como o momento em que a criança inicia o desenvolvimento da sua capacidade de aprendizagem, de adaptação escolar, relacionando-se com o mundo que a cerca.
Portanto, segundo alguns pesquisadores, que veremos no decorrer deste trabalho, uma das capacidades necessárias a ser inicialmente estimulada durante a Educação Infantil é a consciência fonológica, habilidade que auxilia o desenvolvimento da aprendizagem durante todo o processo de alfabetização. Estudos têm considerado que as crianças que adquirem bom desenvolvimento fonológico possuem maior capacidade de compreender a relação entre fonema e grafema.
Nesse sentido, faz-se necessário saber se os docentes têm utilizado, em suas práticas pedagógicas, atividades que despertem a consciência fonológica dos seus educandos e quais são contribuições delas para o processo de alfabetizar.
Assim, espera-se que ao longo da pesquisa se estabeleça o entendimento de que são desenvolvidas atividades voltadas para o estímulo da consciência fonológica da criança desde a Educação Infantil e que elas contribuem para a consolidação de saberes necessários para a fase da alfabetização.
Considera-se que uma criança desde a idade pré-escolar precisa experienciar momentos de aprendizagem com significado, e o estimulo da consciência fonológica deve acontecer de maneira sistematizada e contextualizada, desenvolvendo a capacidade cognitiva para manipular fonemas e grafemas, aguçando a atenção, a memorização e a capacidade de ouvir e interpretar, consolidando saberes que promovam a leitura e a escrita com mais facilidade.
Educação Infantil: a fase que reflete durante todo o percurso da vida escolar
Observando o desenrolar histórico da Educação Infantil no Brasil, faz-se notar que sua destreza só se fez inicialmente notória a partir de um contexto social vivenciado na época em que o processo de urbanização se fazia intenso, reconfigurando o modo de vida das famílias, em que a mulher passou a contribuir na renda familiar. Se antes ela dispunha seu tempo para cuidar da família, com a sua inserção no mercado de trabalho tornou-se necessário haver um lugar especifico para deixar as crianças que naquele momento não possuíam idade suficiente para adentrar o sistema de ensino vigente.
Nesse sentido, observando a demanda, setores governamentais e da sociedade civil buscaram medidas de atendimento assistenciais destinando locais específicos para crianças pequenas. Assim, com o passar do tempo esse auxilio e suas funções foram considerados essenciais, o que fez elevar a categoria da Educação Infantil a ser reconhecida pela Constituição Federal de 1988, como registra o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) dizendo que,
a partir de então, a Educação Infantil em creches e pré-escolas passou a ser, ao menos do ponto de vista legal, um dever do Estado e um direito da criança (Art. 208, inciso IV). O Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, destaca também o direito da criança a esse atendimento (Brasil, 1998, p. 11).
Assim, a Educação Infantil foi promulgada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) em 1996 fazendo parte do processo da Educação Básica, sendo a primeira fase da vida estudantil da criança; por isso é considerada não somente uma fase de adaptação ao ambiente escolar, mas muito mais que isso; é conceituada como momento estratégico para o desenvolvimento das habilidades essenciais ao ser humano, como a convivência com o outro, exercitando o brincar, o participar, o explorar, expressando-se e principalmente se conhecendo como ser interativo, dinâmico, capaz.
Nesse sentido, sabe-se que a Educação Infantil atende a faixa etária de 0 a 5 anos; as crianças de 0 a 3 anos frequentam as creches e de 4 aos 5 a pré-escola, como consta na Base Nacional Comum Curricular (BNCC):
Entretanto, embora reconhecida como direito de todas as crianças e dever do Estado, a Educação Infantil passa a ser obrigatória para as crianças de 4 e 5 anos apenas com a Emenda Constitucional nº 59/2009, que determina a obrigatoriedade da Educação Básica dos 4 aos 17 anos. Essa extensão da obrigatoriedade é incluída na LDBEN em 2013, consagrando plenamente a obrigatoriedade de matrícula de todas as crianças de 4 e 5 anos em instituições de Educação Infantil (Brasil, 2018, p. 36).
Assim, é de extrema importância a manutenção e permanência da criança em um ambiente prazeroso, que seja criado e destinado especificamente para nortear o caminho do seu desenvolvimento de forma ampla, possibilitando o despertar de suas capacidades como um ser de iterações sociais, cognitivas, físicas e motoras desde os seus primeiros anos de vida.
A instituição de Educação Infantil se constitui num espaço de socialização por excelência, que cumpre papel de promover o cuidar e o educar da infância, bem como o favorecimento da inserção da criança nas relações éticas e morais que permeiam a sociedade (Revista Espaço Pedagógico, 2007, p. 232).
É nesse sentido que se compreende a Educação Infantil como um momento que, por suas minuciosidades, requer cuidados específicos de manejo com seu público-alvo – discentes, docentes e demais envolvidos que compõem o quadro de assistência direta e indireta no dia a dia desses espaços – por meio de ações coordenadas que propiciem resultados significativos para todos os envolvidos.
Como partícipes que ganham destaque nesse processo, docentes e discentes configuram maiores aspectos de integração entre si, por suas atividades diretas e rotineiras entre ambas as categorias, que fortalecem laços afetivos e de convívio com pessoas diferentes daquelas que compõem o quadro familiar da criança. Como afirma a Revista Espaço Pedagógico (2007, p. 237-238), “tendo em vista o atendimento à infância na Educação Infantil, o binômio cuidar e educar tem função integrada na prática pedagógica do educador”. Nesse sentido, a Base Comum Curricular destaca que,
nas últimas décadas, vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar (Brasil, 2018, p. 36).
Partindo desse pressuposto, verifica-se que as ações do professor educador ganham destaque, pois ele prepara o ambiente, desenvolve atividade, constrói laços de aprendizagens muito próximas do contexto familiar e escolar, como a socialização, a autonomia e a comunicação, cabendo a ele
ouvir e sentir as crianças, o que pensam, observar do que brincam e como brincam, as suas concepções, o seu desenvolvimento, pois nessa fase inicia-se a formação do ser humano sensível, de uma base de valores que proporcionarão às mesmas a busca e a vontade de aprender, mas também ser (Pietrobon, 2010, p. 19).
Assim, a prática pedagógica do educador como mediador na Educação Infantil requer um olhar que seja norteador para as crianças, oferecendo-lhes um mundo de possibilidades em espaços coloridos, divertidos, sistematicamente organizados para despertar o interesse e a curiosidade, instigando o brincar como fator relevante para o desenvolvimento humano.
O cuidar-educar-brincar atende a uma demanda de 0 a 5-6 anos, na qual há toda uma estruturação do indivíduo enquanto cidadão, construindo a sua identidade, a sua autonomia. Nesse momento, enquanto o educador está cuidando, ao mesmo tempo ele está educando e brincando (Pietrobon, 2010, p. 57).
É nesse universo, dinâmico, colorido, participativo, lúdico e prazeroso, em que a contação de histórias, as cantorias, as brincadeiras fazem parte do cotidiano, que se constrói a identificação da criança para com a escola como lugar de convivência significativa, onde se brinca mas também aprende, se desenvolve e conquista autonomia para prosseguir no caminho da aprendizagem escolar e na vida.
Isso posto, percebe-se que os espaços que acolhiam crianças pequenas apenas com foco assistencial, objetivando atender a demanda de um momento histórico (em que mães não tinham com quem deixar seus filhos para trabalhar), tornaram-se ambientes que buscam cada dia mais garantir a dignidade da criança, reconhecendo que possuem elevado potencial de aprendizagem e que seu futuro depende também desse tratar, cuidar e zelar fora do ambiente familiar, sendo considerável salientar que o percurso durante a vida escolar de uma criança está intrinsecamente relacionado à maneira como elas percebem e vivenciam esses espaços em sua vida em sua fase inicial de desenvolvimento.
Consciência fonológica: habilidade preditora para a leitura e a escrita
A análise sobre a relação entre a linguagem oral e escrita encontra-se presente há décadas no campo da Educação, porém na atualidade vêm sendo intensificados, destacados e discutidos diversos estudos e pesquisas realizados no âmbito da alfabetização sobre a importância da consciência fonológica nas práticas de ensino nas salas de aula.
Sabe-se que a consciência fonológica refere-se à capacidade de reflexão dos sons da fala, bem como a correspondência entre as letras (grafema) e os sons (fonemas), possuindo uma diversidade de habilidades que compõem o repertório necessário na construção desse conhecimento. Assim, a consciência fonológica é compreendida como uma das habilidades metalinguísticas,
isto é, a consciência de que a fala pode ser segmentada e que os segmentos (palavras, sílabas, fonemas) podem ser manipulados. Essa habilidade é desenvolvida gradualmente conforme a criança experimenta situações lúdicas (cantigas de roda, jogos de rima, identificação de sons iniciais de palavras) e é instruída formalmente em atividades grafofonêmicas (Pestum, 2005, p. 407).
A consciência fonológica, ou o conhecimento acerca da estrutura sonora da linguagem, desenvolve-se nas crianças ouvintes no contato delas com a linguagem oral de sua comunidade. É na relação dela com diferentes formas de expressão oral que essa habilidade metalinguística desenvolve-se, desde que a criança se vê imersa no mundo linguístico (Brasil, 2013, p. 4).
Nesse sentido, Buzzetti e Capellini também se referem à consciência fonológica considerando que ela
envolve o reconhecimento pelo individuo de que as palavras são formadas por sons diferentes que podem ser manipulados, abrangendo não só a capacidade de reflexão (constatar e comparar), mas também a de operação com fonemas, silabas, rimas e aliterações (contar, segmentar, unir, adicionar, suprimir, substituir, transpor) (Buzzetti; Capellini, 2020, p. 19).
Verifica-se, portanto, que a consciência fonológica é uma das habilidades preditoras para o início do processo de alfabetização das crianças e que essa competência deve ser estimulada desde o processo de inserção dos pequenos no ambiente escolar, sendo intensificada ao longo do tempo, formando conceitos necessários para facilitar a aquisição da leitura e da escrita nos anos seguintes.
Segundo Buzzetti e Capellini (2020, p. 55), no que se refere ao desenvolvimento da fala, “desde os primeiros anos, as crianças adquirem amplo conhecimento de diversos aspectos da linguagem falada com os sons das palavras, as regras de combinação entre as palavras, o significado das palavras e seu uso social”.
É notável que a fala, a leitura e a escrita são modos diferenciados de expressão e que, embora pertençam ao mesmo sistema linguístico (no nosso caso, o português), possuem muitas diferenças entre si; uma delas é que a fala ocorre de forma natural e espontânea, e para a aquisição da leitura e escrita é necessária a reflexão e instrução de normas e regras, e por isso exige disponibilidade para aprendê-la.
Aprender a ler e a escrever não é um processo natural como o de aprender a falar. Um dos passos cruciais na iniciação à leitura e à escrita consiste na promoção da reflexão sobre a oralidade e no treino da capacidade de segmentação da cadeia de fala (segmentar o contínuo sonoro em frases, as frases em palavras, as palavras em sílabas e estas nos sons que as compõem). Para aprender a ler e a escrever em função de um código alfabético, é necessário saber que a língua, no seu modo oral, é formada por unidades linguísticas mínimas – os sons da fala ou os segmentos – e que os caracteres do alfabeto representam, na escrita, essas unidades mínimas (Freitas et al., 2007, p. 7).
Nesse sentido, “a linguagem escrita exige da criança a consciência dos diferentes signos linguísticos que compõem o sistema alfabético” (Buzzetti; Capellini, 2020, p. 55); assim, é notável a importância de desenvolver a consciência da fala para que se adquira o conhecimento leitor e escritor. Pestum (2005) afirma que alguns pesquisadores argumentam que a aprendizagem é uma via de mão dupla, pois
existe uma relação de reciprocidade, isto é, ao mesmo tempo que as habilidades metalinguísticas são fundamentais para a aquisição e o desenvolvimento da leitura e da escrita, o treinamento em leitura favorece o desenvolvimento da consciência fonológica.
No que tange à aquisição da consciência fonológica em crianças em fase pré-escolar que ainda não possuem conhecimentos acerca da linguagem formal escrita, Martins e Guidotti (2016, p. 47) discorrem que
os estímulos para a identificação dos sons desde a infância são muito importantes para o processo de alfabetização, pois eles serão facilitadores para as demais etapas que as crianças terão que percorrer na construção da leitura e da escrita. Sendo assim, a criança que recebe estímulos para esse objetivo na escola e também na família poderá ter mais facilidade para alfabetizar-se. Após esse período de reconhecimento dos sons do cotidiano, a criança poderá participar de brincadeiras com rimas e separação de palavras.
Cabe ao professor conhecer o caminho que a criança percorre para adquirir tais habilidades, buscando as estratégias que favoreçam o desenvolvimento dos seus potenciais leitores e escritores. Assim, Pestum et al. (2010 apud Godoy, 2003) afirma que as crianças de 4 a 5 anos dispõem de competências fonológicas silábicas, entretanto ainda não possuem de habilidades fonêmicas, pois estas são conquistadas por volta dos 6 anos durante o processo de aquisição de leitura e escrita.
É, portanto, necessário desenvolver nas crianças a aptidão acerca da sensibilidade, a rima e a aliteração, que é
caracterizada pela descoberta, por parte da criança, de que determinadas palavras apresentam um mesmo conjunto de sons em seu princípio (aliteração) ou fim (rima). Implica uma capacidade para detectar estruturas sonoras semelhantes em diferentes palavras (Pestum et al., 2010, p. 96).
Assim como o conhecimento silábico “corresponde a uma capacidade para segmentar e operar com as estruturas silábicas das palavras, que implica um processo de divisão da palavra em seus constituintes silábicos” e junto a ele o conhecimento intrassilábico que permite “a compreensão de que as sílabas podem ser subdivididas em elementos menores do que elas mesmas e maiores do que um fonema”, os autores ainda falam da importância do conhecimento segmental e registram que “as palavras são compostas por um conjunto de segmentos sequenciados denominados fonemas” (Pestum et al., 2010, p. 96-97).
Portanto, para a utilização de estratégias que objetivam estimular a consciência fonológica na Educação Infantil, o professor deve estar atento e oportunizar os mais variados meios de aprendizagem, buscando combinação de atividades com elementos que sejam familiares aos alunos e que envolvam toda a turma.
Metodologia
Para a realização deste estudo foram utilizadas diretivas da abordagem qualitativa, que “se preocupa com o nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, de motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes” (Minayo, 2014).
Assim, inicialmente foi realizada a revisão de literatura, em que foi possível discutir os temas, dando subsídios ao pensamento do autor e fundamentando as discussões a fim de tornar o referido trabalho cientificamente embasado.
Nesse processo de estudo, o levantamento de dados foi realizado mediante aplicação de questionário, que foi distribuído em versão digital, via e-mail ou WhatsApp, para onze professores que lecionaram no ano anterior (2021) na Educação Infantil de escolas públicas municipais e particulares de cidades distintas.
No questionário, foram abordadas doze questões que possuem relevância acerca do conhecimento dos docentes sobre consciência fonológica, suas contribuições para o processo de ensino-aprendizagem e alguns procedimentos didáticos adotados pelos profissionais em sua prática de ensino com crianças pré-escolares.
Resultados e discussões
Como mencionado anteriormente, o questionário foi o instrumento de coleta de dados e por ele verificamos que, dos onze professores que se propuseram a responder às questões, três não deram o retorno esperado, porém justificaram que não tiveram tempo disponível diante das demandas das aulas ministradas remotamente (devido ao período de pandemia), o que, segundo eles, exige maior tempo de planejamento e dedicação diante das devolutivas dos educandos nas aulas.
Para contextualizar a pesquisa foi necessário conhecer o perfil profissional dos docentes e se verificou que, dos oito que responderam ao questionário, sete têm licenciatura plena em Pedagogia e um deles em Letras Vernáculas. Apenas três possuem especialização, os outros cinco iniciaram e não concluíram ou nem mesmo deram início a alguma pós-graduação, como pode ser verificado a seguir.
Gráfico 1: Sobre graduação e pós-graduação dos docentes que responderam à pesquisa
Mesmo não sendo o objeto de discussão deste trabalho, conhecer a formação acadêmica dos pesquisados se torna relevante, uma vez que sua prática está diretamente relacionada à sua profissionalização inicial e continuada.
Partindo desse pressuposto, ao serem questionados sobre o estudo da consciência fonológica durante o período da graduação, dos oitos professores apenas três responderam que sim; cinco disseram que não ou que não recordavam, porém já haviam estudado a temática durante a especialização e/ou outros cursos de formação, como afirmam a professora A e a B.
A exemplo posso citar o curso Tempo de Aprender, oferecido pelo MEC aos professores, coordenadores e gestores escolares, que se referia a um programa de alfabetização cujo objetivo era minimizar as principais causas das deficiências da alfabetização no país. Posso citar também o curso do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) tanto para o Ensino Fundamental quanto para a Educação Infantil, que focava nessa temática a fim de que os professores pudessem desenvolver, com qualidade, o trabalho com a linguagem oral e escrita, tendo como eixo norteador os trabalhos com consciência fonológica. Atualmente, estou realizando o curso Alfabetização Baseada na Ciência (ABC), oferecido pelo MEC em parceria com a Capes; ele, dentre outras abordagens, retrata também o trabalho voltado para a alfabetização através de evidencias científicas.
Em 2020 fiz o curso Tempo de Aprender, do governo federal, que tratou da questão, nos orientando com atividades para serem usadas em sala. Salientando que, mesmo sem saber que o termo correto é consciência fonológica, já usava trabalhando o som da letra, da sílaba, trabalhando atividades de base alfabética.
No que concerne à estimulação da consciência fonológica na Educação Infantil, foi unânime entre os docentes a resposta de que ela possui extrema importância para o desenvolvimento das aprendizagens que auxiliam os educandos no período da alfabetização, como afirma a professora D: “As crianças que trabalham com consciência fonológica têm mais facilidade na leitura, na escrita e no entendimento da linguagem oral e escrita”. Nesse mesmo sentido, a professora F diz que, “através do som, ela [a criança] conhecerá mais profundamente nosso sistema de escrita”. A professora G conclui que “é importante, insiro nas minhas práticas e pretendo estudar mais sobre o assunto”.
Sobre a inserção das atividades voltadas para a estimulação da consciência fonológica durante as aulas, todos os professores responderam que realizam planejamentos que contenham atividades que desenvolvam as habilidades metalinguísticas; a docente F afirma:
trabalhamos as letras iniciais, finais, sons das letras. Nessas atividades eles conseguem identificar as letras e alguns já fazem associação com os sons que elas produzem. Alguns, ao final do grupo 4, com o uso dessas atividades já conseguem identificar algumas sílabas de palavras fáceis.
O reconhecimento das letras iniciais e finais das palavras e os textos orais com destino escrito (aqueles que as crianças ditam e o professor segue como escriba), assim, eles percebem que aquilo que se fala pode ser escrito.
A professora A defende que “contar histórias, ler poemas e cantar canções com rimas são ótimas atividades para desenvolver a consciência fonológica de forma divertida”; como está diante de crianças pequenas, a maneira de apresentá-las ao mundo leitor e escritor o interesse pela aprendizagem deve estar sempre associado a momentos de ludicidade, sendo prazeroso e ao mesmo tempo educativo.
Considerações finais
Durante todo o processo de desenvolvimento desta pesquisa foi notada a relevância que a consciência fonológica possui para a aprendizagem dos educandos desde o início da sua vida escolar. Essa importância ficou bastante nítida no processo de revisão de literatura, em que pesquisadores do mundo inteiro se dedicam na busca do entendimento e da contribuição dessa habilidade metalinguística para a aquisição da aprendizagem leitora e escritora.
Assim, as respostas obtidas no questionário revelaram que as atividades desenvolvidas em sala de aula que envolvem componentes grafofonêmicos contribuem para a promoção consciência fonêmica e silábica dos alunos pré-escolares e, dessa forma, podem favorecê-los no período da alfabetização.
Porém é de extrema relevância considerar alguns aspectos que foram percebidos durante a análise do instrumento de pesquisa. Verificou-se que a maioria dos docentes não teve em sua formação acadêmica estudos e pesquisas sobre a consciência fonológica e a contribuição dela no processo de ensino-aprendizagem; nesse sentido, faz-se necessária a ampliação do acesso a programas de capacitação.
Ao salientar a necessidade de formação continuada sobre consciência fonológica, os docentes deixaram transparecer que, embora possuam conhecimento de que determinadas atividades ajudam no processo de aprendizagem da leitura e da escrita, não possuem a percepção de que o objetivo maior seria incitar cognitivamente nos educandos o estímulo à consciência fonológica.
Conclui-se este estudo destacando que, por não haver clareza sobre a sistematização das práticas de ensino, faz-se necessária a realização de pesquisa mais prolongada e in loco, a fim de verificar as atividades, como são aplicadas e quais são as contribuições delas para o processo de alfabetizar. Também é importante o acompanhamento do percurso da criança ao avançar para a próxima etapa de ensino (1º ano), já que estamos nos referindo aos alunos pré-escolares.
Referências
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REVISTA ESPAÇO PEDAGÓGICO, Passo Fundo, v. 14, nº 1, p. 231-240, 2007.
Publicado em 07 de março de 2023
Como citar este artigo (ABNT)
SILVA, Soraia Soares. O estímulo da consciência fonológica na educação infantil: contribuições para o processo de alfabetizar. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 23, nº 8, 7 de março de 2023. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/23/8/o-estimulo-da-consciencia-fonologica-na-educacao-infantil-contribuicoes-para-o-processo-de-alfabetizar
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