A ansiedade entre jovens estudantes: uma análise situacional em escola de Ensino Médio no interior cearense
Ana Maria Pereira Vital
Especialista em Geografia Física e das Populações (UCAM), professora na EEMTI Simão Ângelo, em Penaforte/CE
Janice Galvão Ferreira
Estudante da EEMTI Simão Ângelo, em Penaforte/CE
Maria Kayllany Simplício Alves
Estudante da EEMTI Simão Ângelo, em Penaforte/CE
Raniere de Carvalho Almeida
Doutorando em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial (Univasf), professor e coordenador escolar na EEMTI Simão Ângelo, em Penaforte/CE
Ricardo de Macedo Machado
Mestre em Educação Profissional e Tecnológica (IFSertãoPE), professor e coordenador escolar na EEMTI Simão Ângelo, em Penaforte/CE
O ambiente escolar é um espaço diverso do ponto de vista social e cultural. Nele, exercitamos convivência, respeito, empatia e tolerância com o próximo (aluno, professor, diretor, coordenador e porteiro, entre outros), sempre buscando desenvolver competências e habilidades cognitivas, socioemocionais e profissionais que permitam aos sujeitos dessa imensa comunidade se desenvolver integralmente (Freire, 2004).
Porém, tem-se percebido nos últimos anos, especialmente no retorno das atividades escolares presenciais pós-pandemia de covid-19, aumento significativo de alunos(as) com problemas de saúde, especialmente aqueles relacionados à saúde mental. Nesse contexto, ansiedade e possíveis transtornos de ansiedade têm se tornado uma realidade entre muitos jovens estudantes do Ensino Médio, fenômeno que pode afetar a qualidade de vida deles, seus relacionamentos interpessoais e seu desempenho acadêmico (Rocha et al., 2022).
Considerando a gravidade dessa problemática, surge a necessidade de investigá-la mais profundamente no âmbito do espaço escolar, buscando evidenciar fatores desencadeadores da ansiedade e suas consequências para a vida pessoal e acadêmica dos alunos. Nessa seara, indaga-se: existe alguma relação entre o nível de ansiedade dos estudantes e seu desempenho acadêmico?
A hipótese central da presente investigação é a de que discentes com maior nível de ansiedade provavelmente apresentem maiores dificuldades de aprendizagem na escola, acarretando baixo desempenho acadêmico. Outro aspecto importante a se averiguar é se há prevalência de sintomas ansiosos nas alunas em relação aos alunos, uma vez que a literatura consultada apontou para essa possibilidade.
Pretendeu-se com esta investigação científica sensibilizar a comunidade escolar (alunos, pais, funcionários, professores etc.) quanto ao problema, assim como desenvolver ações de prevenção e apoio para melhoria da qualidade de vida dos alunos e fortalecimento do processo pedagógico.
O estudo foi desenvolvido ao longo do ano letivo de 2022, entre maio e novembro, em uma escola de Ensino Médio de Tempo Integral da rede estadual do Ceará, integrante da 20ª Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede-20).
O objetivo geral do estudo foi verificar a interface entre o nível de ansiedade dos estudantes e seu desempenho acadêmico. Como objetivos específicos, pretendeu-se avaliar o nível de ansiedade dos estudantes da 1ª, 2ª e 3ª séries; identificar em qual série há maior nível de ansiedade entre os estudantes; comparar os níveis de ansiedade dos discentes com seu rendimento escolar; e, por fim, relacionar nível de ansiedade e gênero entre os estudantes pesquisados.
Fundamentação teórica
A ansiedade corresponde ao sentimento vago de medo, desconforto e apreensão por parte dos indivíduos de diferentes faixas etárias diante de situações e problemas do cotidiano. Também está relacionada à preocupação excessiva quanto à antecipação de afazeres e atividades que os sujeitos poderão vivenciar e/ou executar em um futuro próximo (Lopes; Santos, 2018).
A ansiedade tem sido definida como “o mal do século 21”, e ela está cada vez mais presente em diferentes idades, gêneros e classes sociais. Ela pode atrapalhar a vida e muitas vezes faz com que as pessoas acreditem em coisas que não são reais. A ansiedade é, acima de tudo, um tema de grande complexidade, já que suas causas, sintomas e consequências costumam variar de acordo com as particularidades de cada indivíduo (Souza; Cunha, 2021, p. 317).
A ansiedade e o medo são mecanismos naturais de defesa do organismo diante de situações de risco e/ou perigo, porém, do ponto de vista empírico e conceitual, há distinção entre ambos: a ansiedade diz respeito à antecipação precipitada de uma possível situação futura, causando no indivíduo mal-estar e medo constante a ponto de gerar desconfortos de ordem fisiológica (tontura, náuseas, vômitos, dores abdominais, dor de cabeça, insônia etc.) e alterações cognitivas (dificuldade de concentração e memorização, esquecimentos, pensamentos negativos etc.). O medo consiste na defesa natural do organismo frente a uma situação real/concreta de perigo, cessando quando eliminado o fato e/ou a situação geradora de tal sentimento. É um mecanismo de defesa do corpo (Oliveira; Oliveira, 2021).
Segundo Castillo et al. (2000), a ansiedade e o medo tornam-se patológicos quando são exagerados quanto ao estímulo recebido pelo indivíduo ou são qualitativamente diversos do comportamento que se espera como norma em determinada faixa etária, interferindo na qualidade de vida dos sujeitos, em seu estado emocional e no desempenho de atividades diárias, a exemplo da realização de tarefas escolares.
Para os autores, sintomas ansiosos (e não os transtornos propriamente ditos) também estão associados a outras patologias mentais, como depressão, esquizofrenia e transtorno bipolar.
Os sintomas ansiosos e transtornos de ansiedade podem ser desencadeados por uma série de fatores, independentemente da faixa etária dos indivíduos, dentre os quais podemos destacar: estresse no ambiente de trabalho ou estudo, desestrutura familiar, predisposição genética, problemas financeiros, incertezas quanto ao futuro profissional e crises conjugais, entre outros (Lopes; Santos, 2018). Tais fatores podem abalar emoções e sentimentos dos indivíduos, alterando drasticamente o percurso de suas vidas (Grolli et al., 2017).
Conforme Oliveira e Oliveira (2021), especificamente na fase da adolescência, entre os 12 e 18 anos de idade, a ansiedade e os transtornos de ansiedade podem ser desencadeados por diversos fatores associados, dentre os quais podemos citar estresse no ambiente escolar, desestrutura familiar, relacionamentos amorosos malsucedidos, uso excessivo de mídias sociais e isolamento social, uso de drogas lícitas e ilícitas, incertezas quanto ao futuro acadêmico e profissional etc.; eles podem afetar o desempenho escolar, os relacionamentos interpessoais, crenças e humor dos sujeitos. Nesse sentido, a ansiedade compromete a qualidade de vida dos indivíduos, impedindo-os de exercer com racionalidade, segurança e autonomia suas atividades cotidianas nos âmbitos pessoal, profissional, acadêmico etc. (Silveira, 2020).
Portanto, a observação dos comportamentos dos discentes no ambiente escolar pode ser fundamental para identificação de indivíduos que sofram com ansiedade e/ou transtornos de ansiedade, elemento importante para posterior elaboração de estratégias de prevenção dessa problemática junto às famílias e à comunidade escolar, assim como para possíveis encaminhamentos desses sujeitos para avaliação e tratamento com profissionais qualificados (Oliveira; Boruchovitch, 2021).
Metodologia
A pesquisa foi de abordagem quantitativa. Quanto aos objetivos pretendidos, caracterizou-se como exploratória e descritiva a partir do estudo de caso baseado em revisões, observação e coleta de dados (Gil, 2002). O estudo foi realizado entre maio e novembro de 2022; seu público-alvo foram discentes da 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio da EEMTI Simão Ângelo, localizada no município de Penaforte/CE.
As bases bibliográficas adotadas foram artigos, e-books, dissertações e livros extraídos de bancos virtuais como o Google Acadêmico e o portal SciELO, utilizando descritores como saúde mental, ansiedade, Ensino Médio, transtornos de ansiedade, evasão escolar, abandono escolar, suicídio, depressão em adolescentes etc., com corte temporal dos últimos cinco anos, exceto para obras clássicas.
O estudo não necessitou de registro e avaliação dos procedimentos éticos no sistema CEP/Conep, pois, conforme a Resolução nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde, Art.1º, incisos II, III, VII e VIII, fez uso de informações de acesso e domínio público, sem a possibilidade de identificação dos participantes, buscando o aprofundamento científico e teórico de situações que emergem da prática profissional docente, com finalidade meramente educativa.
Para atestar o consentimento e participação no estudo, assim como a compreensão dos objetivos e procedimentos empregados, foi apresentado e encaminhado aos pesquisados, via Formulários Google, o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para os participantes maiores de 18 anos e o termo de assentimento para os menores de idade.
O estudo utilizou a Escala de Autoavaliação da Ansiedade de Zung (Self Anxiety Scale – SAS) (Tabela 1) e as notas dos alunos referentes ao 1º semestre letivo de 2022 disponíveis no Sistema Integrado de Gestão Escolar (SIGE-Escolar), da Secretaria da Educação do Ceará.
Tabela 1: Escala de Autoavaliação da Ansiedade de Zung
Nenhuma ou raras vezes |
Algumas vezes |
Boa parte do tempo |
A maior parte ou totalidade do tempo |
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1. Sinto-me mais nervoso do que o de costume |
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2. Sinto-me com medo sem nenhuma razão para isso |
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3. Sinto-me facilmente perturbado ou em pânico |
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4. Sinto-me como se estivesse prestes a explodir |
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5. Sinto que tudo corre bem e que nada de mal me acontecerá |
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6. Sinto os braços e as pernas a tremer |
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7. Tenho dores de cabeça, de pescoço e de costas que me incomodam |
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8. Sinto-me fraco e fico facilmente cansado |
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9. Sinto-me calmo e com facilidade posso me sentar e ficar sossegado |
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10. Sinto o meu coração bater depressa demais |
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11. Tenho crises de tonturas que me incomodam |
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12. Tenho crises de desmaio ou a sensação de que vou desmaiar |
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13. Posso inspirar e expirar com facilidade |
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14. Sinto os dedos das mãos e dos pés adormecidos e com formigamentos |
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15. Costumo ter dores de estômago ou má digestão |
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16. Tenho de esvaziar a bexiga com frequência |
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17. As minhas mãos estão habitualmente secas e quentes |
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18. A minha face costuma ficar quente e corada |
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19. Adormeço facilmente e consigo obter um bom descanso durante a noite |
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20. Tenho pesadelos |
Fonte: Cruz, 2008.
A SAS foi criada por William Zung com o objetivo de quantificar os níveis de ansiedade dos indivíduos que apresentam sintomas ansiosos (Sequeiros, 2009). Sua escolha deveu-se ao fato de possibilitar avaliar a ansiedade estado e não a ansiedade traço, ou seja, mensurar reações ansiosas frente a determinadas situações do cotidiano e não como uma característica da personalidade dos sujeitos (Cruz, 2008).
A SAS é composta por 20 itens (15 apresentam níveis de ansiedade crescente e cinco, nível de ansiedade decrescente), abordando quatro componentes relacionados à ansiedade: dimensões cognitiva, vegetativa, motora e sistema nervoso central (Sequeiros, 2009).
Estruturada em escala Likert, possibilita aos respondentes afirmar em que medida consideram que determinado sintoma está presente em termos temporais, assinalando a opção que melhor caracteriza e à qual é atribuída pontuação específica: nenhuma ou raras vezes = 1 ponto; algumas vezes = 2 pontos; boa parte do tempo = 3 pontos; a maior parte ou a totalidade do tempo = 4 pontos (Cruz, 2008).
A pontuação da SAS pode variar de 20 a 80 pontos; quanto maior for o nível de ansiedade, maior será a pontuação na escala. Para fins de categorização da pontuação, a escala deve ser interpretada da seguinte forma: de 20 a 44 pontos, a ansiedade é normal; de 45 a 59, pontos a ansiedade varia de média a moderada; de 60 a 74, pontos a ansiedade é considerada forte; e de 75 a 80 pontos a ansiedade é considerada extrema (Sequeiros, 2009).
O período de coleta dos dados ocorreu entre 22 de setembro de 2022 a 06 de outubro de 2022, totalizando 15 dias corridos. É importante salientar que a coleta dos dados ocorreu de forma aleatória, não probabilística, sem possibilidade de identificação dos sujeitos respondentes, a fim de resguardar suas identidades e a ética científica, com base no parágrafo único do Art. 1º da Resolução nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Os dados coletados foram analisados com base na Estatística Descritiva por meio da plataforma Google Planilhas, um editor de tabelas eletrônicas, gráficos etc., que possibilitou a tabulação e o estudo das respostas recebidas pelos pesquisados. Isso permitiu aos pesquisadores avaliar, comparar, refutar ou validar hipóteses com base nas informações colhidas.
Após a tabulação dos dados, considerando a ordem e número total de respostas obtidas, série e opção de gênero escolhida, foram selecionadas as 20 primeiras respostas de cada série para composição da amostra do estudo, excetuando-se aquelas em que não foi possível identificar o gênero do(a) participante (respostas do tipo “prefiro não dizer” ou “não sabe”), a fim de equilibrar/igualar o número de amostras por série investigada.
Resultados e discussão
Foram coletadas 122 respostas, das quais 45 (36,9%) foram de alunos(as) da 1ª série A/B/C/D; 42 (34,4%) de alunos(as) da 2ª série A/B/C/D; e 35 (28,7%) de alunos(as) da 3ª série A/B/C (Gráfico 1).
Gráfico 1: Percentual de respostas por série e turma
Desse total, foram extraídas 60 (49,1%) respostas para análise, considerando os(as) primeiros(as) 20 respondentes para cada série/turma pesquisada (Tabela 2).
Tabela 2: Respondentes por série/turma/gênero e composição da amostra
Ordem das respostas ao formulário |
Pontuação da 1ª Série A/B/C/D por Gênero |
Pontuação da 2ª Série A/B/C/D por Gênero |
Pontuação da 3ª Série A/B/C por Gênero |
1ª |
44 / F |
49 / F |
65 / F |
2ª |
33 / M |
34 / M |
42 / M |
3ª |
41 / M |
45 / F |
40 / F |
4ª |
41 / M |
38 / F |
38 / M |
5ª |
39 / M |
41 / F |
33 / M |
6ª |
49 / M |
45 / F |
59 / F |
7ª |
40 / F |
41 / F |
33 / M |
8ª |
36 / F |
44 / F |
36 / M |
9ª |
43 / F |
47 / F |
35 / M |
10ª |
32 / F |
33 / F |
35 / M |
11ª |
54 / F |
37 / M |
49 / F |
12ª |
48 / F |
45 / M |
46 / F |
13ª |
37 / M |
33 / F |
35 / F |
14ª |
35 / M |
42 / F |
38 / M |
15ª |
54 / M |
63 / F |
35 / F |
16ª |
55 / F |
55 / F |
45 / F |
17ª |
45 / F |
46 / F |
54 / F |
18ª |
51 / F |
41 / F |
35 / F |
19ª |
40 / F |
51 / F |
36 / M |
20ª |
55 / F |
32 / F |
37 / M |
Síntese da amostra |
20 primeiras respostas F: 12 M: 8 Média das 20 respostas (F+M/20): 43,6 pontos - Ansiedade normal |
20 primeiras respostas F: 17 M: 3 Média das 20 respostas (F+M/20): 43,1 pontos - Ansiedade normal |
20 primeiras respostas F: 10 M: 10 Média das 20 respostas (F+M/20): 41,3 pontos - Ansiedade normal |
Tomando como referência a amostra selecionada, verificaram-se na 1ª série A/B/C/D 12 (60%) respostas do gênero feminino e 8 (40%) do gênero masculino. Na 2ª série A/B/C/D, 17 (85%) eram do gênero feminino e apenas 3 (15%) do gênero masculino. Quanto à 3ª série A/B/C, eram 10 (50%) do gênero feminino e 10 (50%) do gênero masculino.
Considerando o somatório da amostra das três séries, 60 respostas (100%) e sua relação com a variante gênero, verificou-se o predomínio da colaboração feminina, com 39 (65%) respostas, em relação à masculina, de 21 (35%) respostas, estatísticas que nos permitem compreender que há maior interesse e curiosidade por parte das alunas acerca do tema em análise, assim como a ocorrência de maior nível de ansiedade para esse gênero.
Corroborando achados da presente investigação, Batista e Oliveira (2005) apontam que as meninas são mais ansiosas que os meninos, apresentando altos níveis de ansiedade principalmente em função das atividades escolares (apresentação de trabalhos, situações avaliativas etc.), o que as faz ficarem mais suscetíveis à depressão e à tentativa de suicídio.
Em estudo recente, Silveira (2020) esclarece que a pressão familiar relacionada à escolha profissional do educando, indecisão em relação ao futuro, insatisfação com a vida, com a escola, com a família etc., dificuldade para estabelecer a própria identidade, entre outros fatores, contribuem para que os discentes do Ensino Médio sejam vulneráveis aos transtornos de ansiedade.
Vazquez et al. (2021) também esclarecem que a pandemia de covid-19 alterou a rotina e o comportamento dos jovens estudantes, aumentando os casos de transtornos de ansiedade e depressão, os quais se prolongam para o pós-pandemia. Em estudo recente, os autores verificaram que os sintomas ansiosos e depressivos no contexto da pandemia estavam mais relacionados ao tempo de exposição à tela e à inversão do horário de sono, ou seja, à troca do dia pela noite, afetando mais o gênero feminino.
Comparando o nível de ansiedade entre as séries pesquisadas (Tabela 2), percebeu-se maior pontuação para a 1ª série (43,6 pontos), mas todas apresentaram nível de ansiedade considerado normal, tomando-se como referência os parâmetros referenciais deste estudo.
Ao comparar os níveis de ansiedade com o rendimento global por série/turma, percebeu-se que quanto mais ansiosos são os estudantes maiores são as possibilidades de ocorrência de baixo desempenho escolar, acarretando, entre outras consequências, reprovação, abandono e evasão (Tabela 3).
Tabela 3: Relação entre rendimento escolar e nível de ansiedade
Série/Turma |
Média global no 1º bimestre |
Média global no 2º bimestre |
Nível de ansiedade |
1ª Série A/B/C/D |
6,7 |
6,8 |
43,6 pontos Ansiedade normal |
2ª Série A/B/C/D |
6,7 |
6,8 |
43,1 pontos Ansiedade normal |
3ª Série A/B/C |
7,3 |
7,6 |
41,3 pontos Ansiedade normal |
De acordo com a Tabela 3, considerando que as três séries pesquisadas apresentaram pontuações diferentes para a ansiedade (respectivamente 43,6, 43,1 e 41,3 pontos), porém próximas, e que estão dentro da mesma faixa de nível de ansiedade (de 20 a 44 pontos na escala SAS a ansiedade é considerada normal), verificou-se menor desempenho escolar entre as turmas da 1ª e 2ª séries, as quais apresentaram as mesmas médias para ambos os bimestres. Já as turmas da 3ª série apresentaram melhor rendimento escolar, evoluindo de uma média global de 7,3 no 1º bimestre para 7,6 no 2º bimestre letivo de 2022.
Diante dos dados apresentados, fica evidente que a ansiedade pode influenciar negativamente no desempenho escolar dos educandos. Para Grolli et al. (2017, p. 99), é importante que “os educadores estejam atentos a evidências que possam pressupor que os alunos estejam apresentando sofrimento psíquico, para evitar repercussões negativas como o insucesso ou o abandono escolar”.
É fundamental a promoção da saúde mental dos adolescentes, sendo a escola um ambiente bastante propício para essa função. Nesse contexto, torna-se necessário pensar sobre a possibilidade de criação de ações de prevenção e intervenção em saúde mental no ambiente escolar, investigando-se mais a fundo os contextos dessas sintomatologias e auxiliando os adolescentes a entrar na vida adulta de maneira mais saudável (Grolli et al., 2017, p. 99).
Ademais, a escola configura-se como ambiente gerador de ansiedade, uma vez que os jovens estão expostos a diferentes estímulos e pressões que podem desencadear mudanças de comportamento e atitudes frente às situações próprias do ambiente escolar (falar em público, realização de provas/exames, absorção ou não dos conteúdos etc.). Tais situações podem favorecer e/ou potencializar possíveis transtornos de ansiedade nos estudantes, dificultando a convivência escolar (Souza; Cunha, 2021).
Destarte, a escola torna-se ambiente propício para prevenir, identificar e desenvolver ações que possam contribuir para a saúde mental dos adolescentes, auxiliando-os na construção de uma vida pessoal e acadêmica mais saudável.
Considerações finais
Este estudo possibilitou investigar mais a fundo as possíveis relações entre ansiedade e desempenho escolar no Ensino Médio, ampliando as discussões acerca dos fatores que podem interferir no processo de ensino-aprendizagem e na promoção da saúde mental dos educandos.
A ansiedade faz parte da vida de todos os seres humanos, porém, quando manifestada de forma desproporcional ao estímulo desencadeador, passa a ser um grave problema de saúde mental, afetando a qualidade de vida dos indivíduos, impedindo-os de exercer com racionalidade, segurança e autonomia suas atividades cotidianas no âmbito pessoal, profissional e acadêmico.
Os transtornos de ansiedade podem ser desencadeados por diversos fatores associados, entre os quais podemos destacar o estresse no ambiente escolar, desestrutura familiar, relacionamentos amorosos malsucedidos, uso excessivo de mídias sociais e isolamento social, incertezas quanto ao futuro pessoal e profissional etc.
Considerando a manifestação da ansiedade na adolescência, estágio de vida dos indivíduos caracterizado por transformações físicas e psíquicas que podem levá-los a medos, angústias e sofrimentos, verificou-se que o gênero feminino é mais ansioso que o masculino, o que torna as meninas mais vulneráveis à depressão, à mutilação e a tentativas de suicídio.
Quanto à relação entre ansiedade e desempenho acadêmico/escolar, fica evidente que os educandos mais ansiosos aprendem menos, têm menos interesse pelos estudos e pela escola, fatores que podem culminar em notas baixas, péssimo rendimento escolar, reprovação, abandono e evasão.
Portanto, é fundamental que educadores e instituições de ensino considerem e “mapeiem” essa problemática, identificando os casos mais graves de ansiedade entre os estudantes, para que possam intervir de maneira a prevenir e amparar aos que mais necessitam, contribuindo para uma melhor qualidade vida e preparação educacional dos indivíduos.
Referências
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Publicado em 16 de janeiro de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
VITAL, Ana Maria Pereira; FERREIRA, Janice Galvão; ALVES, Maria Kayllany Simplício; ALMEIDA, Raniere de Carvalho; MACHADO, Ricardo de Macedo. A ansiedade entre jovens estudantes: uma análise situacional em escola de Ensino Médio no interior cearense. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 1, 16 de janeiro de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/1/a-ansiedade-entre-jovens-estudantes-uma-analise-situacional-em-escola-de-ensino-medio-no-interior-cearense
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