O ensino de Biologia em perfis do Instagram

Luéliton de Lima Victor

Graduado em Ciências Biológicas (UFRR), mestrando do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Biodiversidade (UFRR)

Bianca Maíra de Paiva Ottoni Boldrini

Graduada em Ciências Biológicas (UFRN), mestra em Bioecologia Aquática (UFRN), doutora em Entomologia (INPA), professora de Biologia e Ciências do Colégio de Aplicação (Ceduc/UFRR)

Lucilia Dias Pacobahyba

Graduada em Ciências Biológicas (UFPE), mestra em Criptógamos Ficologia (UFPE), doutora em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCar), professora titular da UFRR

Instagram como ferramenta de ensino

O Instagram é uma plataforma de mídia social voltada para o compartilhamento de imagens, sendo uma rede social gratuita e de fácil acesso com utilização simples. Pode ser usada em computadores, tablets e smartphones, entre outros. A plataforma surgiu em 2010, com mais de 700 milhões de usuários ativos, tendo o seu foco sobre imagens que podem ser editadas e/ou compartilhadas, com ou sem legendas/hashtags (Ranginwala; Towbin, 2018; Shafer et al., 2018). Ela ainda permite ao usuário postar fotos, vídeos, comentar, curtir e publicar stories. Talvez, por isso, seja a ferramenta mais dinâmica oferecida por essa rede social para trabalhar conteúdos escolares (Folha de S. Paulo, 2017). Além disso, o aplicativo tem sido utilizado para compartilhar informações das mais diversas áreas de conhecimentos, contribuindo e auxiliando nos processos de aprendizagem (Shafer et al., 2018).

Em 2017, o Instagram era a rede social que mais crescia em relação ao número de usuários, contando com mais de 1 bilhão de usuários ativos no mundo. O Brasil era o segundo país com mais usuários, de acordo com dados da Folha de S. Paulo (2017). Ratifica-se a possibilidade do uso do Instagram para promover a aprendizagem, por meio do planejamento educativo, com a participação de todos os integrantes da comunidade acadêmica: professores, alunos, administração e setores da sociedade. Assim, o Instagram possibilita estudos educativos para as mais variadas áreas (Costa, 2019).

Junto a um levantamento bibliográfico realizado por Pereira (2021), o campo da divulgação científica (DC), por meio do Instagram para o ensino da Ciências e Biologia, mostrou-se bastante restrito. Foi possível encontrar estudos que mostraram o Instagram como instrumento principal para o foco da DC no ensino da Física, mas para o ensino das Ciências e/ou da Biologia, os artigos encontrados apenas citam o Instagram em determinados momentos, mas não o coloca como foco principal de recurso da DC. O autor conseguiu levantar 640 artigos que correspondiam à busca “Instagram x ensino de Ciências e Biologia”, quando apenas 50 deles foram avaliados. A partir dos artigos avaliados, 48 citaram o Instagram em algum momento do texto, mas não correspondiam ao foco do trabalho; apenas dois investigavam a utilização do Instagram como instrumento de ensino-aprendizagem em Ciências e Biologia (Pereira, 2021).

Em uma pesquisa realizada por Lins et al. (2019), evidencia-se a ideia do quão positivo e impactante é aos professores o manuseio dessa rede, caso a enxergassem como ferramenta dinamizadora para suas aulas. Dessa maneira, o objetivo não seria fazer com que a página do Instagram substituísse as aulas ministradas. Pelo contrário, tendo em vista o pouco tempo em sala de aula, a ideia seria fazer com que os alunos produzissem Ciência, mesmo que básica, daquilo que eles aprendem. O professor poderia propor a sua classe, por exemplo, que utilizassem dessa ferramenta para fazer pesquisas, divulgar Ciência e relacionar teoria e prática, aguçando a curiosidade dos alunos, fazendo-os atrelar a teoria vista na escola à sua realidade. Para Fraga (2012, p. 22), “cada vez mais alunos acham a escola um lugar chato e sem graça. Eles saem de lá sem interesse pelas disciplinas e, muitas vezes, sem aprender o que é ensinado”.

O Instagram pode ser utilizado como mais uma ferramenta didática de DC. A compreensão atual, porém, é a de que se trata de uma ferramenta de ensino ainda pouco explorada. Entretanto, se alunos e público conseguem compreender o que está sendo postado, temos uma DC contextualizada e simples, que impulsiona o conhecimento científico desconhecido por uma grande parcela da população (Lins et al., 2019).

Assim, o objetivo deste trabalho foi analisar três perfis de Instagram que abordam o Ensino de Biologia. Buscou-se identificar se tais publicações podem ser utilizadas nas três séries do Ensino Médio, observando: como os três perfis promovem o ensino da Biologia por intermédio de suas postagens e se as informações sobre os conteúdos de Biologia estão corretas.

Caminhos da pesquisa

O presente estudo caracteriza-se por sua abordagem qualitativa. A abordagem qualitativa se apresenta na forma como interpretamos e atribuímos significados ao analisarmos os fenômenos abordados sem empregar métodos e técnicas estatísticas para obter resultados sobre o problema ou tema estudado (Reis, 2012, p. 61). 

Para Lüdke e André (1986), os documentos são considerados uma importante ferramenta de pesquisa, pois trazem consigo abundante fonte de informações, das quais podem ser extraídas evidências capazes de fundamentar ou não as hipóteses do pesquisador, além de serem fontes naturais, ricas e estáveis que surgem em um contexto, fornecendo informações sobre ele (Macedo, 2010).

Nesse sentido, os documentos que foram examinados no presente estudo foram as postagens de três perfis no Instagram que abordam o Ensino de Biologia. As postagens foram analisadas durante os meses de junho, julho e agosto de 2021, totalizando três meses.  Visando identificar os conteúdos de Biologia abordados nos perfis selecionados, utilizou-se o método de análise de conteúdo, seguindo as três etapas definidas por Bardin (2011): pré-análise; exploração do material; e tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

Para a escolha dos perfis, utilizaram-se três critérios de inclusão:

  1. As contas deveriam abordar os conteúdos de Ensino em Biologia,
  2. As contas deveriam possuir no mínimo 1.000 seguidores e
  3. As contas deveriam exibir postagens frequentes nos meses a serem analisados – no caso, junho, julho e agosto de 2021.

Para encontrar os perfis para serem analisados neste trabalho, realizou-se uma pesquisa tanto na plataforma Google, em que digitou-se na barra de pesquisa “Páginas no Instagram de Ensino de Biologia”, como no próprio aplicativo do Instagram, com as hashtags #biologia e #ensino. Assim, considerando-se os critérios de inclusão supracitados, foram selecionados três perfis: @lacasadabiologia, @bio.resumida e @profleandrocosta.

Exploração do material: análise dos perfis do Instagram

A análise de cada conta se constituiu sob os seguintes critérios: quantidade de seguidores, organização da conta acerca dos conteúdos postados, sequência lógica e visível de publicações, identidade visual de cada perfil, número de postagens durante o período da pesquisa, postagens que possuíam mais e menos curtidas, publicações mais comentadas e sobre qual conteúdo elas se referiam e qual a regularidade média das postagens.

Também foi observado se havia alguma postagem com foco no novo coronavírus, tendo em vista que a covid-19 foi a responsável pela pandemia iniciada em 2020.

Objetivando identificar quais os conteúdos mais abordados nas postagens, dividimos o trabalho por temas gerais: Citologia, Histologia, Reprodução, Diversidade da vida, Vírus, Botânica, Zoologia, Genética, Evolução e Ecologia.

As temáticas relacionadas à Biologia e postadas nos três perfis do Instagram selecionados foram transcritas e comparadas com os conteúdos de Biologia, os quais são abordados nos três anos do Ensino Médio Regular. Para a realização dessa análise tivemos como fonte de dados os livros didáticos da coleção Biologia Hoje (Linhares; Gewandsznajder; Pacca, 2016). Como critério de escolha para essa coleção foi utilizado o Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2018 - Guia de Livros Didáticos (Brasil, 2017), que apresenta as coleções aprovadas de livros didáticos para a utilização nas escolas.

Com base nessa análise, verificamos se as postagens do Instagram estavam em acordo com os conteúdos abordados nos livros da coleção Biologia Hoje e se as mesmas podiam ser utilizadas pelos professores de Biologia. As descrições das postagens do Instagram relacionadas à Biologia foram agrupadas nas temáticas abordadas nos três anos do Ensino Médio Regular.

Resultados da pesquisa

A partir da análise dos perfis selecionados, é possível constatar que a conta @bio.resumida apresenta o maior número de seguidores (11 mil), seguida pelo perfil @lacasadabiologia, com 8.253, e @profleandrocosta, com 1.437 seguidores. Ao longo do período da pesquisa, os perfis do Instagram fizeram, respectivamente, 37, 22 e 24 postagens, totalizando 83 postagens, conforme o Quadro 1.

Quadro 1: Perfis do Instagram, número de seguidores de cada e número de publicações no período de junho, julho e agosto de 2021

Perfil do Instagram

Número de seguidores (em setembro de 2021)

Número de publicações no período

@bio.resumida

11.000

37

@lacasadabiologia

8.253

22

@profleandrocosta

1.437

24

 Total

83

No intervalo dos três meses de pesquisa, observou-se uma média de 12,3 posts por mês na conta @bio.resumida, 7,33 posts em @lacasadabiologia e, na conta @profleandrocosta, uma média de 8 posts mensais.

Cada perfil se apresenta visualmente de maneiras diversas e únicas.

Figura 1: Feed dos perfis @bio.resumida, @lacasadabiologia e @profleandrocosta mostrando as postagens

Fonte: Instagram, 2021.

No perfil @bio.resumida, as postagens são como resumos de determinados conteúdos e seguem um padrão de formatação e cores. Aparentemente, as postagens são feitas tanto de forma aleatória, sem sequências lógicas, como podem apresentar uma sequência em relação aos conteúdos postados, tendo como exemplo uma publicação sobre as camadas da epiderme. Dois posts após a publicação, há uma postagem de um exercício sobre o conteúdo citado anteriormente.

A utilização de resumos no processo de ensino-aprendizagem é essencial para o desenvolvimento e o entendimento da leitura. O objetivo do resumo é transmitir informações, facilitando o processo de seleção de texto com a atenção nas informações mais pertinentes, ou seja, o resumo auxilia o aluno no entendimento das principais ideias propostas pelo autor e ainda o incentiva à leitura ativa (Brito et al., 2014). Dessa forma, as publicações do perfil @bio.resumida se apresentam como formas alternativas para a revisão de conteúdos, uma vez que seus posts são em formato de pequenos resumos e flashcards. A aprendizagem então se dá de forma ativa pelo aluno. Após ter uma aula teórica, utiliza seu celular e sua rede social para revisar o conteúdo ministrado anteriormente em sala de aula.

O perfil @lacasadabiologia possui uma vertente interessante acerca do design. Seu nome faz referência a uma das séries com maior destaque na atualidade: La Casa de Papel. A série pode ser assistida pela plataforma Netflix® sendo o Brasil um dos países em que a série possui maior alcance. Entre seu público, destacam-se os jovens e os adolescentes (Arduino, 2021). Esse perfil se destaca dos demais, pois ele não somente está inserido na rede social, como também faz associação de outro material midiático que é bastante consumido pela juventude que são as séries. Seus posts não possuem um padrão, vão desde postagens com apenas uma imagem com conceitos até publicações com cinco ou seis imagens, seguindo uma lógica sequencial de conteúdos, conhecidas como super posts. Essa ferramenta do Instagram permite em um único post mais de uma imagem, proporcionando aos usuários das páginas uma abordagem de conteúdo inteiro ou de diversos conteúdos em apenas uma publicação, mesmo quando as publicações são heterogêneas. Todas elas apresentam um leiaute mais despojado que faz referência à série.

Nesse sentido, esse perfil se torna muito mais atraente para o público jovem, tendo em vista que os alunos são bem ativos nas redes sociais e no mundo das séries. Perfis como esse ganham destaque, pois conseguem articular duas ferramentas utilizadas pelos alunos, levando os conteúdos de forma leve e descontraída, unindo três universos: a biologia, a rede (Instagram) e a série. A utilização do nome do perfil aumenta ainda mais o público, pois faz referência à série na área de pesquisa da plataforma para o perfil @lacasadabiologia.

Já o perfil do @profleandrocosta é diferente dos anteriores. As suas publicações possuem uma abordagem mais esquematizada, com ilustrações leves e divertidas, como se fossem em forma de mapas mentais e algumas de fato são. Em sua maioria apresentam algumas anotações em post-its, nas quais há informações sobre o conteúdo, proporcionando destaque à publicação na visualização pelo público. Suas publicações são bastante informativas e seguem um padrão de fundo branco. O referido perfil não utiliza as publicações “super posts", com mais de uma foto.

De acordo com Lima e Manini (2016), os mapas mentais são representações que tentam mapear, por meio da utilização de símbolos (palavras, figuras, desenhos ou esquemas), uma ideia, um conceito ou uma definição. Os mapas mentais podem auxiliar na memorização de conteúdos, favorecendo, portanto, a organização das ideias (Lima; Manini, 2016). As publicações do perfil @profleandrocosta evidenciam uma alternativa para a revisão de conteúdos que podem promover a aprendizagem significativa de acordo com a teoria de Ausubel (1980). Conforme a teoria, a aprendizagem significativa aconteceria caso os alunos tivessem um contato prévio com o conteúdo e um contato posterior com o mapa mental das publicações do perfil.

Conteúdos de Biologia abordados nas postagens

Das 83 publicações que serviram como amostras no período deste estudo, apenas 64 apresentaram conteúdos diretamente ligados à Biologia, podendo ser utilizados nas três séries do Ensino Médio. A conta @bio.resumida foi a que mais teve publicações no período. Por outro lado, onze de suas publicações foram desconsideradas, pois não abordavam conteúdos de Biologia. Consequentemente, não podiam ser utilizadas. Ressalta-se que, dentro desse universo, o perfil ainda apresentou uma publicação contendo informações sobre as vacinas Astrazeneca, Janssen, Pfizer e Coronavac. Esse foi o post com o maior número de curtidas. No perfil @lacasadabiologia, desconsideramos seis publicações, pois elas não tinham como objeto de estudo os conteúdos de Biologia e dentre essas publicações analisadas nenhuma apresentou referência à covid-19. Ainda não foi possível observar o número de curtidas da conta pelo fato de a visualização ser privada. Por fim, o perfil @profleandrocosta apresentou 23 publicações que faziam referência aos conteúdos da disciplina de Biologia. Dentre eles, um post tinha como objetivo informar sobre a utilização correta de máscaras durante a pandemia.

Apresentamos os resultados obtidos quanto aos temas mais abordados nas publicações dos perfis analisados em Biologia (Figura 2).

Figura 2: Temas explorados nas publicações dos três perfis de Instagram analisados no período de junho, julho e agosto de 2021

Conforme mostrado, nas três contas de Instagram analisadas os temas mais frequentes foram: Citologia, Genética, Histologia e Zoologia. O conteúdo de Citologia foi o tema mais abordado dos três perfis. Trata-se de um conteúdo dado no 1° ano do Ensino Médio, de grande importância. Ele auxilia na construção da base do conhecimento biológico dos alunos (Teixeira et al., 2016). A Citologia é a base fundamental para o conhecimento dos seres vivos, suas funções e complexidades (Cunha, 2019). As postagens nos perfis do Instagram se mostraram como alternativas viáveis para a consolidação desse aprendizado, tendo em vista que os alunos podem ter acesso a elas a qualquer momento e de qualquer lugar.

O tema Genética apareceu como o segundo conteúdo mais abordado nos perfis, com o total de treze publicações, o que equivale a 20% do total. Esse conteúdo é imprescindível para aprender qualquer conteúdo relacionado ao estudo da Biologia, não importando a dimensão, pois vai desde os micro-organismos até organismos maiores e mais complexos, fazendo-se necessária a compreensão da Genética (Griffiths et al., 2008). Muitos autores afirmam que esse conteúdo é um dos temas da Biologia de mais difícil compreensão, pois contém uma diversidade de conceitos abstratos, com excesso de nomenclaturas (Temp; Bartholomei-Santos, 2014). Dessa forma, as publicações, por serem visuais, podem se mostrar como um instrumento facilitador na compreensão do assunto.

Em terceiro lugar, com 17% do total de publicações, aparecem os temas Histologia e Zoologia. Na sequência, temos os temas de Evolução, Ecologia, Reprodução e Vírus. Por fim, Botânica é o conteúdo menos abordado nas publicações no tempo estipulado para a realização do presente estudo. Todos os temas obviamente são de fundamental importância para a Biologia, sendo extremamente necessários para os estudantes. O fato de a Botânica ser o conteúdo menos abordado nas publicações analisadas pode estar relacionado à cegueira botânica, que se refere à incapacidade humana de perceber as plantas ao seu redor, mesmo na esfera virtual.

O ensino de Botânica é motivo de diversas preocupações; uma delas é a falta de interesse, tanto dos educadores quanto dos educandos. Isso é explicado pela relação que temos com as plantas, uma vez que a maioria das pessoas não consegue perceber as plantas em seu entorno (Costa; Duarte; Gama, 2019).

Conteúdos das postagens dos três perfis selecionados (@bio.resumida, @lacasadabiologia e @profleandrocosta

As postagens do perfil @bio.resumida de forma geral se mostraram corretas. Suas informações estão de acordo com o livro didático utilizado para comparação, sendo que por diversas vezes, as postagens abordaram os conteúdos com mais informações do que as informações presentes no livro supracitado. Provavelmente, os temas não são abordados profundamente nos livros devido à alta demanda de disciplinas que os alunos possuem.

Por outro lado, observamos que em alguns posts não havia todas as informações do livro. Isso é esperado, visto que a publicação é de apenas uma ou mais imagens para fornecer conteúdos e o livro oferece um capítulo destinado a determinado conteúdo. Portanto, como as informações presentes nos livros estão de acordo com as postagens da conta @bio.resumida, os posts podem ser utilizados nas aulas de Biologia em todas as séries do Ensino Médio.

Quanto ao @lacasadabiologia, todas as postagens do perfil estão de acordo com o livro ou são similares. Destaca-se a publicação que oferece informação sobre os peixes-palhaço e a sua produção de muco pela epiderme que os protege das toxinas das anêmonas que vivem no mesmo espaço onde eles moram. Essas informações estão ausentes nos livros analisados, possivelmente por ser apenas a título de curiosidade e não ter uma abordagem conteudista, como é o caso da maioria dos livros didáticos utilizados nas aulas de Biologia no Ensino Médio.

Em relação ao perfil @profleandrocosta, as postagens geralmente são em formas de mapas mentais sem a descrição dos conceitos, apresentando apenas palavras-chave, que estão relacionadas a um tema geral. São ótimos posts a serem explorados pelos professores nas suas aulas como instrumentos de revisão. Em um primeiro momento, pode ser ministrada a aula com a exposição do conteúdo e, posteriormente, o professor pode pedir aos alunos que olhem na página do Instagram o post relacionado ao conteúdo ensinado para que leiam os termos e tentem associar aos conceitos aprendidos. No entanto, é necessário destacar a diferença de informações entre o post e o livro. Segundo o post, o plasma representa 90% do volume do sangue, enquanto o livro afirma que o volume do plasma é de 55%.

De acordo com Oliveira (2016), o plasma sanguíneo é um líquido tecidual que representa o maior componente do sangue com o total de 55%. É constituído principalmente por água, com 92% agindo como solvente a pH 7,4. Contém substâncias de diversos pesos moleculares que perfazem 7% do seu volume. Portanto, a informação contida no livro corresponde a de Oliveira (2016). O que pode ter acontecido na publicação do perfil @profleandrocosta foi um equívoco na hora da transcrição da informação e do percentual.

Atribuições do Instagram como ferramenta didática para a promoção do ensino de Biologia

Diversos autores vêm utilizando o Instagram como ferramenta para promover o ensino das mais variadas áreas e dentre elas está a Biologia. Muitos criam uma conta na plataforma com o objetivo de investigar se o perfil iria conseguir engajamento e levar conhecimento aos alunos que o utilizam.

Barbosa et al. (2017) informam que, com a utilização do Instagram, foi possível estimular a participação de alunos chineses na aprendizagem da Língua Portuguesa, o que possibilitou o aumento no interesse pelo conteúdo com o compartilhamento de fotos e vídeos.

Nesse sentindo, Oliveira, Melo e Oliveira (2018) avaliaram o Instagram Stories como boa ferramenta de ensino-aprendizagem em Biologia, com o trabalho intitulado Faça uma pergunta, realizado com alunos do Ensino Médio em uma escola estadual de Pernambuco. Lá, o docente propôs a criação de perguntas e respostas no Stories do Instagram. Para tanto, foram cumpridas três etapas:

  1. Planejamento das atividades: construção de questionários;
  2. Implementação da proposta: os alunos publicaram no Instagram Stories Faça uma pergunta e receberam o questionamento referente aos temas de Biologia já trabalhados em sala de aula; e
  3. Avaliação dos resultados obtidos.

Quanto à análise das resoluções, os autores verificaram 94% de acertos. Esse índice evidenciou o quanto foi importante estimular os alunos a uma nova dimensão de aprendizado e o sticker Faça uma pergunta foi um dos caminhos. Neste trabalho, avaliando as publicações no feed, vemos que elas tanto podem ser usadas para estimular os alunos e apresentar os conteúdos como para uma revisão “pós-aula”.

Ainda de acordo com Oliveira, Melo e Oliveira (2018), o Instagram potencializa a interatividade entre os participantes do processo de ensino-aprendizagem, desenvolvendo novas competências nos participantes. Nesse estudo, os autores se colocam com muita convicção sobre como o Instagram pode e deve ser utilizado como ferramenta tecnológica na ação pedagógica.

Ainda com o objetivo de fazer repasse de conteúdos utilizando a ferramenta de compartilhamento do Instagram, Pereira, Júnior e Silva (2019) propuseram aos seus alunos a criação de um perfil em que os educandos são os responsáveis pela criação dos conteúdos da plataforma. Dessa forma, os alunos necessitam estudar o conteúdo e sintetizá-lo para fazer as publicações na plataforma. Por fim, os alunos conseguiram aprender realmente o conteúdo, evidenciando a ideia de que as redes sociais podem e devem estar unidas nas práticas didáticas e pedagógicas do processo de ensino-aprendizagem, não somente pelo seu potencial de disseminação das informações, mas por fazer parte do dia a dia dos discentes, diante desse mundo globalizado e virtual. Nesses casos, não estamos inserindo algo novo na rotina dos educandos, mas apenas incorporando uma forma deles utilizarem suas redes sociais para aprender e disseminar conhecimentos. Concordando com Antônio (2010), as redes sociais, quando utilizadas no ensino com a mediação de um professor capacitado, além de melhorar a aprendizagem dos alunos, promovem uma melhora na relação entre eles e seus professores e entre eles e seus colegas.

Machado (2019), em suas observações finais de trabalho, afirma que o Instagram pode ser útil na educação escolar. Segundo o autor, existem conteúdos que necessitam de uma melhor visualização dos processos e as redes sociais, incluindo o Instagram, podem solucionar essa necessidade, pois proporcionam uma assimilação e uma compreensão dos conteúdos, atuando como ferramentas facilitadora, motivadora e significativa aos alunos em seu processo de aprendizagem.

Outro estudo, realizado por Souza, Miranda e Coelho (2020) no trabalho Redes sociais e o ensino de Biologia: o uso do quiz do Instagram como recurso didático, mostra a utilização do quiz no Instagram para promover o ensino da Biologia. Os autores verificaram que o uso de um jogo de perguntas digitais, como um quiz, traz leveza ao ensino dos conteúdos, por vezes, sobrecarregados de complexidade. Essa repercussão positiva enfatiza a importância de atividades diferenciadas na sala de aula, apresentando o Instagram como um dos recursos didático-pedagógicos que viabiliza o processo de construção de conhecimento.

Sendo assim, diversas são as contribuições do Instagram para o processo de ensino-aprendizagem dos alunos, podendo ser bastante explorado para promover o ensino de Biologia ou qualquer outra área. Os alunos podem criar perfis em quem sejam os responsáveis pelos posts ou utilizar a ferramenta dos stories, ou na utilização de um jogo digital e as publicações no feed que foram objetos de estudo no presente trabalho.

As publicações podem ser utilizadas pelos docentes em suas aulas como revisão de conteúdos, ou como introdução de determinado conteúdo cabendo ao professor fazer essa definição da utilização. Cabe também ao professor que desejar utilizar as publicações de algum perfil do Instagram verificar se as postagens estão corretas para que os seus alunos não aprendam conceitos errôneos. No presente trabalho, foi verificado que a maioria das postagens está de acordo com a literatura, com exceção de uma publicação.

Considerações finais

Diante das informações expostas no decorrer deste trabalho, foi possível atingir o objetivo de analisar as publicações dos perfis do Instagram selecionados e verificar que a maioria dessas publicações se encontram de acordo com a literatura utilizada. A maioria das publicações se encontram corretas de acordo com a bibliografia usada para comparação, com exceção de uma publicação do perfil @profleandrocosta, onde ela pode ter sido interpretada de forma equivocada.

Portanto, as publicações dos perfis analisados @bio.resumida, @lacasadabiologia e @profleandrocosta podem ser utilizadas nas aulas de Biologia das três séries do Ensino Médio. Cada perfil possui sua particularidade ao promover o ensino de Biologia; o perfil @bio.resumida usa pequenos resumos em suas publicações, o que facilita a leitura; o perfil @lacasadabiologia apresenta super posts o que proporciona aos alunos ter diversas informações sobre o conteúdo no mesmo post; e o perfil @profleandrocosta utiliza mapas mentais em suas postagens, o que as torna ótimas ferramentas de revisão para o conteúdo abordado.

Todos os perfis apresentaram grande potencial para ser utilizados como ferramentas facilitadoras do processo de ensino-aprendizagem, podendo ser usados como revisão de conteúdo ou introdução nas aulas dos docentes de Biologia. Assim, o uso do Instagram como forma alternativa de ensino pode cativar a atenção dos discentes para o conteúdo a ser ensinado, propiciando a eles utilizar suas redes sociais para aprender de forma leve e descontraída.

A utilização dessa rede social pode fornecer benefícios para a relação professor-aluno e alunos-alunos, pois todos podem se comunicar por meio da plataforma para sanar dúvidas ou difundir conhecimento entre os discentes, já que eles têm relações extraclasse. Dessa forma, a aprendizagem passa a ser inserida no cotidiano do aluno e não somente dentro do ambiente escolar.

Algumas questões levantadas no decorrer deste trabalho podem ser discutidas em trabalhos futuros, como a cegueira botânica. Cabe, então, aos trabalhos futuros, investigar a cegueira botânica nas plataformas de mídias sociais.

Referências

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Publicado em 26 de março de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

VICTOR, Luéliton de Lima; BOLDRINI, Bianca Maíra de Paiva Ottoni; PACOBAHYBA, Lucilia Dias. O ensino de Biologia em perfis do Instagram. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 10, 26 de março de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/10/o-ensino-de-biologia-em-perfis-do-instagram

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