Motivações e potencialidades das tecnologias e inovações no ensino de Matemática na Educação Básica

Heleno Souza da Silva

Bacharel em Administração Pública (UFF/Cederj), licenciado em Matemática (Unicesumar), especialista em Orientação Educacional (Faculdade Única)

As tecnologias e inovações na Educação Básica, sobretudo na Educação Matemática, possuem enorme potencial para fornecer diferentes recursos didáticos e comunicativos na esfera digital para a formação do conhecimento. Logo, apresentam-se como instrumento efetivo e poderoso em áreas tão diversas da Educação Básica. Na Educação Matemática, por exemplo, podem contribuir na teoria numérica, nas equações e funções algébricas e na álgebra abstrata, proporcionando ao aluno momentos de reflexão. Assim, há possibilidade de incorporar as atividades tecnológicas e de inovações que o levem ao mundo do conhecimento matemático por meio de uma perspectiva tecnológica (Oliveira, 2020).

Conforme Ribeiro e Paz (2012), essas novas tecnologias e inovações tecnológicas, sobretudo as digitais, precisam ser usadas como aliadas no ensino de Matemática para a construção de verdadeiros conhecimentos. Dessa forma, é possível preparar o futuro cidadão para uma vida social e profissional eficiente por meio de ambiente de aprendizagem virtual, tecnológica e inovadora. A implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) enfatiza o uso das novas tecnologias para o ensino e aprendizagem não só na Educação Matemática, mas em toda a Educação Básica. Essa implementação representa um grande avanço nas metodologias de ensino, que por sua vez exigem dos profissionais da Educação maior conhecimento tecnológico e pedagógico na atuação no ensino, sobretudo na Educação Matemática.

De acordo com Amancio e Sanzovo (2020), o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) na Educação Matemática teve início na década de 1990, com a introdução do computador como ferramenta importante para o ensino-aprendizagem. Desde então, houve um aumento significativo no uso de softwares matemáticos educacionais, jogos, planilhas e imagens para aprimorar a experiência de aprendizado dos estudantes. Posteriormente, a internet trouxe novas possibilidades, como a realidade virtual, a realidade aumentada, os blogs, os simuladores e os vídeos educacionais.

Atualmente, com a presença do smartphone, as TIC continuam a desempenhar papel importante no ensino de Matemática, proporcionando aos alunos acesso rápido e fácil a calculadoras e gravadores de áudio e vídeo, além da internet. O crescente uso das tecnologias em nossa sociedade ressalta ainda mais a sua extrema importância para o ensino de Matemática, uma vez que essas ferramentas possibilitam uma abordagem interativa e acompanhada de raciocínio lógico, facilitando o processo de aprendizagem para os estudantes do Ensino Médio (Amancio; Sanzovo, 2020).

O presente trabalho objetiva apresentar dados levantados na literatura sobre relevância, motivações e potencialidades das inovações tecnológicas na área da Educação, particularmente no contexto do ensino de Matemática na Educação Básica. Dessa maneira, este trabalho justifica-se pela importância da utilização de novas tecnologias no ensino de Matemática. A estrutura do trabalho está baseada em três seções. Após esta introdução, estarão descritos o referencial teórico e o desenvolvimento, que é a segunda seção. A última seção traz as considerações finais sobre o assunto estudado. Portanto, considerando a importância das TIC no ensino de Matemática, este trabalho tem como objetivo desenvolver uma breve reflexão sobre a utilização dessas tecnologias no ensino de Matemática da Educação Básica.

Refletindo as motivações e potencialidades das inovações tecnológicas na Matemática da Educação Básica

Nota-se, no contexto atual, que as tecnologias e inovações podem funcionar como instrumentos de transmissão de conhecimento em qualquer campo de estudo. Logo, essas novas tecnologias também estão relacionadas à área da Educação e têm trazido contribuições nesse campo. Essas inovações têm se tornado aliadas na Educação Básica, como também na Educação Matemática. O professor e todos os atores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem poderão dispor dessas ferramentas tecnológicas para que incentivem e estimulem uma maneira de fazer e pensar diferente do modelo de ensino tradicional (Cruz, 2020).

Bezerra (2021) relata que a utilização das tecnologias digitais em sala de aula pelo educador tem como resultado uma contribuição na formação profissional, cultural, social e tecnológica dos estudantes. Por meio do uso de robôs, notebooks, tablets e/ou smartphones, é possível desenvolver práticas pedagógicas mais dinâmicas e divertidas que visam aprimorar o ensino-aprendizagem de conteúdos matemáticos. Essas tecnologias tornam o processo de ensino mais interativo e despertam maior interesse dos estudantes no aprendizado. Dessa forma, o educador contribui para a formação dos alunos, desenvolvendo habilidades tecnológicas e matemáticas, além de incentivar uma cultura de aprendizado contínuo.

Temos percebido um aumento notável dos recursos tecnológicos disponibilizados para dar suporte ao processo de ensino-aprendizagem na Educação e em especial na Educação Matemática, como softwares interativos, objetos de aprendizagem, hipertextos, portais na internet, blogs, podcasts, vídeos, simulações, jogos didáticos, realidade virtual, realidade aumentada, ambientes virtuais de aprendizagem e outros que levem o aluno à ação de reflexão e interação. Esses recursos estão disponíveis e ao alcance tanto de professores como de alunos (Abar, 2011).

Segundo Oliveira e Cunha (2021), a disciplina de Matemática é um componente curricular em que os alunos frequentemente apresentam dificuldades de aprendizagem. Nesse sentido, o uso de softwares educacionais que mostrem aos alunos que eles são capazes de compreender os conteúdos pode ser significativo, além de tornar o processo de aprendizagem mais atraente e divertido. Com a tecnologia, é possível que os alunos compreendam melhor a Matemática. Cabe ao professor encontrar maneiras efetivas de utilizar essas ferramentas em benefício da aprendizagem dos alunos.

Milano et al. (2016) apontam que a BNCC busca motivar a utilização das tecnologias e inovações como instrumento de apoio ao processo de ensino-aprendizagem na disciplina de Matemática e em toda a Educação Básica. Uma dessas ferramentas de suporte os são softwares educacionais, que possibilitam atividades ou ações pedagógicas diferenciadas no contexto escolar. As propostas estabelecidas pela BNCC procuram quebrar os paradigmas do ensino tradicional, em que os problemas matemáticos devem ser resolvidos pela memorização de fórmulas, tornando o processo de ensino mecânico e automático.

A BNCC, na disciplina de Matemática do Ensino Médio, define que

o trabalho com a Matemática no Ensino Médio pode ser enriquecido por meio de propostas pautadas no uso de recursos tecnológicos como instrumentos que visem auxiliar na aprendizagem e na realização de projetos, sem anular o esforço da atividade compreensiva. Há diversos softwares disponíveis na internet que se aplicam ao estudo das construções geométricas ou das funções. Há ainda planilhas eletrônicas que auxiliam na organização de dados e na elaboração de tabelas e gráficos (Brasil, 2015, p. 141).

Nessa mesma perspectiva normativa, temos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9.394/96, que, segundo Siécola (2018), “é a norma que regulamenta toda a Educação brasileira e, por isso mesmo, preconiza os princípios norteadores do ordenamento educacional geral do país”. A LDBEN, até então, estabelecia em seu Art. 36, inciso I, que o currículo escolar do Ensino Médio deve ser elaborado levando em consideração a educação tecnológica conforme observado abaixo:

Art. 36. O currículo do Ensino Médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo e as seguintes diretrizes:

I – destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação; acesso ao conhecimento e exercício da cidadania (Brasil, 1996, Art 36, Inciso I).

Cabe salientar ainda a importância da instituição do Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024), que é uma norma subordinada à lei maior da educação, a LDBEN. Esse plano possui 20 metas e 254 estratégias para promover o planejamento da Educação Básica até 2024. Em sua meta 1 e estratégia 2.6, busca definir estratégias nas quais as tecnologias devem ser usadas de forma pedagógica e articuladora em beneficio da Educação, sendo necessário:

2.6) Desenvolver tecnologias pedagógicas que combinem, de maneira articulada, a organização do tempo e das atividades didáticas entre a escola e o ambiente comunitário, considerando as especificidades da Educação Especial, das escolas do campo e das comunidades indígenas e quilombolas (Brasil, 2014, Meta 1, Estratégia 2.6).

Diante desse cenário normativo e regulamentar, podemos perceber que existem motivações legais para a utilização de forma eficiente das inovações tecnológicas na Educação Básica. Sabe-se que a disciplina de Matemática visa a transformação do ensino em saber lógico e organizado por meio do exercício do raciocínio. Logo, importa que ensino de Matemática na Educação Básica venha oferecer ao aluno uma aprendizagem também voltada para as inovações tecnológicas, com a finalidade de preparar e formar cidadãos capazes de viver e atuar num mundo de relações cada vez mais complexas diante das rápidas mudanças e diversas evoluções nas diferentes esferas da sociedade.

Observando essas motivações, Pontes (2018) aponta que é necessário repensar o papel do professor diante das ações pedagógicas relacionadas às novas tecnologias e inovações. O professor, diante dessas tecnologias, tem uma missão desafiadora e precisa estar adaptado a novas formas de ensinar, superando o modelo tradicional de ensino. Assim, o professor da Educação Básica, notadamente o de Matemática, como mediador do conhecimento, deve procurar quebrar alguns paradigmas metodológicos com a intenção de passar as ações pedagógicas de um modelo de ensino tradicional e linear para um modelo moderno e ousado. Dessa forma, o aluno pode ser impelido e motivado a utilizar seu raciocínio de maneira lógica e criativa.

É importante que o professor, ao incorporar as novas tecnologias no processo de ensino, venha realizar o planejamento de um tema ou assunto usando-as considerando o auxilio tanto da didática da Matemática como dos modelos e recursos gerais para o ensino com tais tecnologias e inovações. Com isso, a integração das tecnologias e inovações pode contribuir para maximizar o processo de ensino-aprendizagem, favorecendo a geração de ambientes dinâmicos e atrativos focados no aluno. Assim, é possível realizar diversas atividades que criem situações que motivem o desenvolvimento das variadas habilidades que são requisitos para uma boa e eficaz aprendizagem (Agostinho; Groenwald, 2020).

Considerações finais

Acredita-se que o educador, ao utilizar práticas pedagógicas interativas e tecnologias digitais, cria um ambiente de ensino-aprendizagem atrativo para os estudantes, facilitando a compreensão dos conceitos matemáticos. Essas estratégias de ensino, como jogos virtuais e brincadeiras, são bem aceitas pelos alunos e contribuem para a associação dos conteúdos a suas experiências pessoais ou profissionais. Dessa forma, a teoria e a prática se conectam e os conhecimentos científicos são mais bem assimilados (Bezerra, 2021).

Em suma, as tecnologias e inovações, ao serem inseridas no ambiente escolar da Educação Básica, podem funcionar como potenciais instrumentos de apoio didático pedagógico de boa utilidade para o professor de Matemática da Educação Básica, com a finalidade de proporcionar aos alunos melhor compreensão do conteúdo trabalhado em sala de aula. Essas novas tecnologias têm a possibilidade de se tornar uma ferramenta importante para o processo de ensino-aprendizagem da Matemática para que seja facilitada e maximizada a transmissão de conhecimentos matemáticos na Educação Básica.

A utilização dessas inovações tecnológicas constitui um grande desafio para todos os professores, especialmente os de Matemática. Por isso, torna-se necessário que os docentes deixem os modelos educacionais tradicionais engessados, fechados e prontos a fim de motivar, potencializar e melhorar a construção de novos conhecimentos por parte dos alunos. Por isso, o professor deve estar atento, apto, habilitado e comprometido com a inserção de práticas educativas com a utilização dessas tecnologias e inovações na Educação Básica.

Referências

ABAR, Celina A. A. P. Educação Matemática na era digital. Revista Ibero-Americana de Educação Matemática, nº 27, p. 13-27, 2011.

AGOSTINHO, I. R. H.; GROENWALD, C. L. O. As tecnologias digitais da informação e comunicação como recurso didático no currículo de Matemática. Revista Uniciência, v. 34, nº 2, p. 153-170, jul./dez. 2020.

AMANCIO, Daniel de Traglia; SANZOVO, Daniel Trevisan. Ensino de Matemática por meio das tecnologias digitais. Revista Educação Pública, v. 20, nº 47, 8 de dezembro de 2020. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/47/ensino-de-matematica-por-meio-das-tecnologias-digitais.

BEZERRA, Heriberto Silva Nunes. O uso da Robótica Educacional e de tecnologias digitais na aprendizagem de conteúdos da Matemática: experiência em escola privada na cidade de Natal/RN. Revista Educação Pública, v. 21, nº 25, 6 de julho de 2021. Disponível em:https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/25/o-uso-da-robotica-educacional-e-de-tecnologias-digitais-na-aprendizagem-de-conteudos-da-matematica-experiencia-em-escola-privada-na-cidade-de-natalrn.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2015.

BRASIL. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.

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CRUZ, Keyte Rocha da. O processo de ensino e aprendizagem da Educação Matemática e suas tecnologias. Revista Psicologia e Saberes, v. 9, nº 18, p. 32-44, 2020.

MILANO, T. B. et al. Educação Matemática e tecnologia: uma análise de discursos presentes no Bolema. Remat, Caxias do Sul, v. 2, nº 2, p. 92-104, 2016.

OLIVEIRA, Edvaldo Ramalho de; CUNHA, Douglas da Silva. O uso da tecnologia no ensino da Matemática: contribuições do software GeoGebra no ensino da função do 1º grau. Revista Educação Pública, v. 21, nº 36, 28 de setembro de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/36/o-uso-da-tecnologia-no-ensino-da-matematica-contribuicoes-do-isoftwarei-geogebra-no-ensino-da-funcao-do-1-grau.

OLIVEIRA, Sergiano Guerreia de. As inovações tecnológicas na Educação Matemática e suas concepções. Revista de Ensino de Ciências e Matemática – REnCiMA, v. 11, nº 3, p. 126-140, 2020.

PONTES, Edel A. S. O ato de ensinar do professor de Matemática na Educação Básica. Ensaios Pedagógicos, Sorocaba, v. 2, nº 2, p.109-115, maio/ago. 2018.

RIBEIRO, F. M.; PAZ, M. G. O ensino da Matemática por meio de novas tecnologias. Revista Modelos, ano 2, v. 2, nº 2, p. 12-21, ago. 2012.

SIÉCOLA, Marcia. Legislação educacional. 2ª ed. Curitiba: Iesde Brasil, 2018.

Publicado em 02 de abril de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Heleno Souza da. Motivações e potencialidades das tecnologias e inovações no ensino de Matemática na Educação Básica. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 11, 2 de abril de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/10/motivacoes-e-potencialidades-das-tecnologias-e-inovacoes-no-ensino-de-matematica-na-educacao-basica

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