Tirando os estudantes da plateia para colocá-los no palco: um relato de experiência sobre o uso de seminários nos anos finais do Ensino Fundamental

Diôgo Januário da Costa Neto

Professor da Educação Básica na rede estadual do Tocantins

Nos processos de ensino-aprendizagem, o uso exclusivo do método de exposição direta de conteúdos pelos professores não é suficiente para que os estudantes processem informações e entendam. A estrutura cognitiva do ser humano permite o armazenamento de informações de forma literal e arbitrária, sendo elas retidas na memória de curto prazo e não interagem com as informações existentes na estrutura cognitiva, como também de forma não arbitrária e não literal, sendo estas retidas nas memórias de longo prazo e interagem com outras informações retidas na estrutura cognitiva (Ausubel, 2003, p. 4). Com base nas técnicas utilizadas para a aquisição de conhecimentos, a informação será processada.

A utilização de aulas expositivas, sendo um método de ensino-aprendizagem tradicional, pode ser eficaz para promover o desenvolvimento de habilidades no professor e manter a sala de aula em silêncio durante a sua explicação, mas para promover a aprendizagem nos estudantes não é tão eficaz (Andreata, 2019). Com esse método, quem mais aprende é o professor, que faz a busca de informações e as apresenta para os seus estudantes; ele é o protagonista, o sujeito ativo, e fica no palco da sala de aula; os estudantes apenas recebem as informações de forma mecânica, como sujeitos passivos; ficam na plateia.

Em contraposição ao método tradicional, as metodologias ativas colocam o estudante no centro dos processos de ensino-aprendizagem, permitindo que eles falem e escrevam sobre aquilo que estão aprendendo, façam associações com experiências passadas e apliquem os conhecimentos adquiridos em seu cotidiano (Freed, 1997; Diesel et al., 2017).

Existem teorias diversas sobre as diferentes correntes de aprendizagem (Ostermann; Cavalcanti, 2011), mas a corrente que busca entender o processamento das informações nos indivíduos é a cognitiva, que “preocupa-se com o processo de compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação envolvido na cognição e procura regularidades nesse processo mental” (Ostermann; Cavalcanti, 2011).

Dentre as teorias de aprendizagem da corrente cognitiva, a teoria de assimilação da aprendizagem e retenção significativa, de David Ausubel, defende que o processo de aprendizagem significativa se dá por meio de conexões entre as informações que o estudante já sabe com as informações novas que estão sendo recebidas, sendo dados novos significados aos materiais apresentados, e requeridos dele proatividade e muito esforço (Ausubel, 2003, p. 1; Tavares, 2004).

Em uma aprendizagem significativa não acontece apenas a retenção da estrutura do conhecimento, mas se desenvolve a capacidade de transferir esse conhecimento para a sua possível utilização em um contexto diferente daquele em que ela se concretizou (Tavares, 2008).

Ao contrário da aprendizagem mecânica ou aprendizagem por memorização, que se dá pela absorção literal de um material, sem requerer muito esforço por parte do estudante, mais volátil na memória de longo prazo, que não resulta na aquisição de novos significados (Ausubel, 2003, p. 4; Tavares, 2004), quando não existem informações sobre o tema em estudo retidas na estrutura cognitiva do estudante, para que ele possa fazer conexões com as informações novas; a aprendizagem por memorização seria a opção mais fácil de aquisição de conhecimentos prévios (Tavares, 2004). No entanto, é possível fugir dela por meio da diferenciação progressiva, em que o professor inicia a abordagem do tema com uma apresentação geral e depois faz abstrações (Tavares, 2004).

Diante disso, o desafio do professor é fugir do método de ensino-aprendizagem tradicional e promover metodologias ativas de ensino-aprendizagem na sala de aula, fazendo com que os estudantes busquem informações por conta própria, para que os materiais analisados por eles tenham significado, permitindo fazer conexões entre as informações que eles já sabem com as novas e os tornem protagonistas no processo de ensino-aprendizagem.

Uma forma de promover metodologias ativas na sala de aula é incluir o método de seminários no processo de ensino-aprendizagem. Leal (2021) define o seminário como um gênero oral público, que consiste de um grupo de estudos, dirigido por um professor, para preparar uma apresentação com a finalidade de transmitir conhecimentos sobre um assunto específico, sendo uma metodologia ativa de aprendizagem. É um método de ensino que promove e aprimora habilidades de leitura, escrita, comunicação, gerenciamento e apresentação, sendo também uma ótima maneira de obter informações (Al’Adawi, 2017). Por isso, é uma maneira de tirar os estudantes da plateia, do papel de sujeitos passivos da aprendizagem, para colocá-los no palco, no papel de sujeitos ativos.

O objetivo deste relato de experiência é fazer uma reflexão sobre a inserção do método de seminário no processo de ensino-aprendizagem em turmas de 7º e 8º ano do Ensino Fundamental e, com isso, ressignificar a prática docente na Educação Básica.

Metodologia

As atividades referentes a este relato foram desenvolvidas com estudantes do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Fulgêncio Nunes, localizado no município de Chapada da Natividade/TO, a única escola no município que oferece os anos finais do Ensino Fundamental (6ª ao 9ª ano) e Ensino Médio na modalidade de Educação Quilombola; atende estudantes da zona rural e urbana do município, funcionando entre as 7h e 11h25 no período matutino e das 13h às 17h25 no período vespertino.

A inserção do método de seminário no processo de ensino-aprendizagem ocorreu com duas turmas de 7º ano e uma turma de 8º ano do Ensino Fundamental na disciplina de História. Os seminários foram utilizados como parte dos procedimentos avaliativos do bimestre, com valor de três pontos. Ao todo, foram utilizadas quinze aulas, ministradas entre fevereiro e abril de 2023.

Nas turmas de 7º ano, as atividades foram desenvolvidas com 46 estudantes. A turma do período matutino tem 23 estudantes matriculados, sendo 16 moradores da zona urbana e 15 do sexo masculino, a maioria com idade de 12 e 13 anos. A turma do período vespertino possui 23 estudantes matriculados, sendo 13 moradores da zona rural e 12 do sexo masculino; a maioria tem idade de 12 a 13 anos.

Na turma de 8º ano, as atividades foram desenvolvidas com 26 estudantes matriculados no turno vespertino, sendo 17 moradores da zona urbana e 14 do sexo feminino, a maioria com idade entre 13 e 14 anos, com alguns repetentes, com 17 anos ou mais.

Esses estudantes apresentam uma característica que os torna diferentes dos das demais séries: ter passado pela pandemia da covid-19 entre 2020 e 2021 e não concluir os anos iniciais do Ensino Fundamental (1ª à 5ª série) na sala de aula; assim, algumas habilidades não foram adquiridas ou foram perdidas. A pandemia provocou a suspensão das aulas presenciais em todo o território brasileiro entre os anos de 2020 e 2021, e as aulas no Tocantins foram realizadas, em sua maioria, por meio de roteiros impressos entregues aos estudantes a cada 15 dias.

O uso do seminário no 7º ano do Ensino Fundamental

O trabalho com o uso do método de seminário foi dividido em três etapas: a primeira, destinada à exposição de conteúdos para os estudantes; a segunda, voltada à preparação do seminário; e a terceira, à apresentação do seminário.

Na primeira etapa, foi desenvolvida a habilidade EF07HI01, que tem por objetivo explicar o significado de “modernidade” e suas lógicas de inclusão e exclusão com base em uma concepção europeia. Essa habilidade foi trabalhada com uma aula expositiva dialogada para o levantamento do conhecimento prévio dos estudantes sobre o conceito de modernidade, cópia de texto no quadro sobre esse conceito e duas aulas para a realização de dois estudos dirigidos, que consistiram na resolução de questões impressas sobre os vídeos Uma breve história da burguesia e Modernidade e a formação dos Estados modernos. Em seguida, foram realizadas quatro aulas expositivas dialogadas com cópia de texto no quadro e leitura do livro didático sobre a formação dos Estados nacionais modernos.

Na segunda etapa, os estudantes receberam orientações para a preparação dos seminários, sendo utilizadas quatro aulas. Na aula 1, foi realizada a cópia das instruções gerais para o seminário. Na aula 2, a sala foi organizada de modo que os integrantes de cada grupo ficassem sentados próximos e em círculos e foram realizadas as divisões das partes sobre o que falar no seminário entre os integrantes, em que cada estudante ficaria responsável por pesquisar as informações de uma parte específica nas referências indicadas. Na aula 3, foram analisadas as informações pesquisadas pelos estudantes e solicitado aos grupos que definissem as imagens que deveriam constar nos cartazes a serem confeccionados na aula seguinte. Na aula 4 foi realizada a confecção de cartazes.

Na terceira etapa foi realizada a apresentação dos seminários, em que os integrantes de cada grupo se posicionaram à frente e fizeram uma apresentação oral com auxílio dos cartazes produzidos por eles.

O uso do seminário no 8º ano do Ensino Fundamental

O seminário seguiu uma sequência didática composta por três etapas: a primeira foi destinada à exposição de conteúdos para os estudantes pelo docente; a segunda, à preparação do seminário; e a terceira à apresentação.

Na primeira etapa, foram desenvolvidas com os estudantes três habilidades por meio de aulas expositivas, leitura do livro didático e exibição de vídeos; e três estudos dirigidos, sendo o primeiro sobre o iluminismo, referente à habilidade EF08HI01, o segundo sobre as Revoluções Inglesas, referente à habilidade EF08HI02; e o terceiro sobre a Revolução Industrial, referente à habilidade EF08HI03. Ao todo, foram utilizadas seis aulas para a realização dos três estudos dirigidos. O quarto estudo dirigido, sobre a Revolução Francesa, referente à habilidade EF08HI04, foi realizado apenas com o grupo que apresentou o seminário sobre o tema, no contraturno do horário das aulas.

Na segunda etapa, a turma foi dividida em quatro grupos; cada um deles preparou um seminário sobre uma habilidade, com a definição dos integrantes de livre escolha dos estudantes.

  • Habilidade do grupo 1: EF08HI02 (Identificar as particularidades político-sociais da Inglaterra do século XVII e analisar os desdobramentos posteriores à Revolução Gloriosa);
  • Habilidade do grupo 2: EF08HI03 (Analisar os impactos da Revolução Industrial na produção e circulação de povos, produtos e culturas);
  • Habilidade do grupo 3: EF08HI04 (Identificar e relacionar os processos da Revolução Francesa e seus desdobramentos na Europa e no mundo);
  • Habilidade do grupo 4: EF08HI05 (Explicar os movimentos e as rebeliões da América portuguesa, articulando as temáticas locais e suas interfaces com processos ocorridos na Europa e nas Américas).

Após finalizar a realização do estudo dirigido 3, as aluas foram destinadas à preparação dos seminários, sendo uma para organizar os seminários, em que a sala foi preparada de modo que os integrantes de cada grupo ficassem sentados próximos e em círculo, e uma aula para a confecção de cartazes, sendo realizada a cópia de texto no quadro com orientações para a preparação da sequência de apresentação do seminário.

Na terceira etapa foi realizada a apresentação dos seminários, em que os integrantes de cada grupo se posicionaram à frente e fizeram apresentação oral com auxílio dos cartazes.

O uso do seminário no 7º ano do Ensino Fundamental

Na etapa de desenvolvimento da habilidade EF07HI01, as aulas com exposição de conteúdo no quadro e leitura do livro didático apresentaram baixa audiência dos estudantes, sendo de difícil ministração por conta das conversas e dos conflitos pessoais entre os alunos. No entanto, a maior parte dos estudantes realizou a cópia dos textos nos cadernos. Já as aulas com estudos dirigidos e a preparação dos cartazes para o seminário atingiram maior audiência.

Na etapa de preparação do seminário, primeiro momento de análise dos materiais produzidos pelos alunos, que ocorreu na aula da semana seguinte após as orientações gerais sobre o seminário, apenas dois alunos do turno vespertino trouxeram a pesquisa sobre o que falar no seminário, ambos da zona rural; o trabalho consistia de cópias resumidas de textos retirados do livro didático; um grupo do turno matutino trouxe no caderno uma pesquisa que consistia de uma lista de nomes de personagens; esses alunos se reuniram no contraturno da aula para fazer a pesquisa na biblioteca da escola.

Na análise dos materiais produzidos para o seminário, alguns estudantes apresentaram justificativas para não terem preparado os materiais solicitados; a primeira justificativa foi de uma aluna do turno vespertino moradora da zona rural, relatando que não teve tempo para pesquisar e que o professor não explicou direito. A segunda justificativa foi de uma aluna do turno matutino moradora da zona urbana, que não conseguiu pesquisar.

Quando as duas alunas relataram que não conseguiram pesquisar, foram dadas novas instruções para todos os grupos sobre como proceder; todos foram orientados a realizar a leitura das páginas indicadas do livro didático e dos textos copiados no caderno, em seguida a identificar as informações mais importantes para cada tópico (contexto histórico, conflitos, personagens e mudanças).

Ganda e Boruchovitch (2018) consideram as reclamações feitas pelos estudantes antes ou durante a realização de tarefas como autoprejudiciais para o processo de aprendizagem, pois dificultam ou impedem a realização das demandas escolares. Boruchovitch (2015) aponta o efeito da forma de passar instruções para os estudantes com facilidade de aprender e para os que têm dificuldade:

Para alunos com facilidade de aprender, inserir muito apoio aos processos cognitivos na instrução resulta na redução da eficiência da capacidade de aprendizagem dos mesmos. Já alunos com muita dificuldade de aprendizagem necessitam que a instrução contenha o máximo de apoio possível aos processos cognitivos (Boruchovitch, 2015).

A turma do 7º ano matutino fez as apresentações dos seminários no terceiro horário (entre 8h40 e 9h20); todos os grupos se apresentaram no mesmo dia (Figura 1). A turma do 7º ano vespertino apresentou o seminário em dois dias (Figura 2), no primeiro horário (entre 13h e 13h50) do primeiro dia e no ultimo horário (entre 16h35 e 17h25) do segundo dia. Para as apresentações, as cadeiras ficaram dispostas em círculo e a ordem de apresentação foi de acordo com a definição dos estudantes. Cada grupo foi à frente do quadro, e a maioria fez a apresentação com leitura de papéis e utilizando um tom de voz baixo; os que fizeram a pesquisa e entregaram para o professor não estudaram suas falas. Antes das apresentações, alguns estudantes estavam preocupados com o que iam falar; durante as apresentações houve conversas paralelas, mas com uma intervenção conseguiu-se um breve silêncio no momento das falas.

Figura 1: Estudantes do 7º ano do turno matutino apresentando seminário sobre a formação do Estado nacional da Espanha

Figura 2: Estudantes do 7º ano do turno vespertino apresentando seminário sobre a formação do Estado nacional da França

Em geral, os seminários serviram para revelar as habilidades que precisam ser aprimoradas nos estudantes, dentre elas a oralidade, a localização de informações explicitas em um texto, o armazenamento e a utilização de informações e a leitura de números romanos, entre outras.

O uso do seminário no 8º ano do Ensino Fundamental

Na etapa de desenvolvimento das habilidades EF08HI01, EF08HI02 e EF08HI03, foi observada baixa audiência por parte dos estudantes, com problemas de indisciplina na turma durante as aulas expositivas, e maior audiência nas aulas com estudo dirigido. A turma utilizou um tempo maior nas aulas com estudo dirigido devido às conversas paralelas. Além disso, os estudantes não conseguiam localizar as informações explicitas nos vídeos.

Para o problema de indisciplina da turma, foram realizadas duas intervenções: a primeira, com o encaminhamento de alguns estudantes para conversa com a coordenadora pedagógica; a segunda, com uma conversa da coordenadora pedagógica com toda a turma na sala de aula. Isso promoveu conscientização nos estudantes para o comportamento em sala de aula.

Um ponto positivo observado durante a preparação dos seminários foi a ida dos estudantes de três grupos à escola no contraturno, involuntariamente, para receber orientações sobre como preparar o seminário; os integrantes de dois grupos foram mais de um dia (Figura 3); todos se reuniram na biblioteca, quando foram dadas orientações sobre a organização da apresentação em tópicos, divisão das partes para cada estudante, como extrair informações do livro didático e/ou dos estudos dirigidos para organizar nos cartazes etc. Nesse momento, os estudantes tiveram a oportunidade de trabalhar três descritores de Língua Portuguesa do Recomeçar: “localizar informações explicitas em um texto”, “diferenciar as partes principais das secundarias em um texto”; e “estabelecer relação causa/consequência entre partes e elementos do texto”.

Figura 3: Estudantes do 8º ano do turno vespertino preparando cartaz para apresentação de seminário

A ida voluntária dos estudantes no horário do contraturno da aula para a preparação do seminário mostra que eles se sentiram motivados com essa atividade. Segundo Ganda e Boruchovitch (2018), a motivação é uma estratégia que favorece a aprendizagem, e o seminário provocou o envolvimento dos estudantes no processo de ensino-aprendizagem, pois de alguma maneira eles se sentiram motivados a ir à escola para preparar o seminário, processo ocorrido de forma prazerosa.

Um ponto negativo observado durante a preparação dos seminários foi acontecerem alguns conflitos entre os integrantes dos grupos. Dois membros do grupo Revoluções Inglesas queriam sair do grupo para fazer o trabalho de forma individual e apenas um deles confeccionou o cartaz. Uma integrante do grupo Rebeliões na América Portuguesa saiu do grupo por conflitos com as demais componentes.

O trabalho em equipe é um dos princípios das metodologias ativas para os estudantes, como também a autonomia, a problematização e reflexão da realidade e a inovação (Diesel et al., 2017).

Devido à primeira experiência com as turmas do 7º ano do Ensino Fundamental, em que os alunos realizaram a leitura de papéis e houve conversas paralelas durante as apresentações, e ao adiamento das apresentações do 8º ano devido aos feriados, foi incluída uma recomendação aos estudantes do 8º ano antes da apresentação do seminário: que fosse elaborado um roteiro com uma sequência de apresentação, seguindo recomendações de Leal (2021), com a apresentação do tema, a exposição de cada uma das partes e a conclusão; nesse caso, um aluno assume o papel de cerimonialista, apresentando o tema do seminário e realizando a chamada dos apresentadores; somente ele fica com um roteiro na mão.

As apresentações dos seminários foram realizadas no dia seguinte após a preparação do roteiro. Antes das apresentações, os estudantes ficaram com receio e pensaram em desistir, mas foram convencidos pelo professor, que disse a eles que o importante era o ato de ir à frente e fazer uma apresentação, nem que seja lendo o papel/livro, e que precisaria registrar as apresentações para lançar as notas. Quando o primeiro grupo se apresentou (Figura 4), os demais viram que não é algo muito complicado, então se animaram. Nas apresentações, as carteiras ficaram dispostas na lateral e os cartazes de todos os grupos foram fixados na parede ao fundo; cada grupo se apresentou na frente dos cartazes.

Figura 4: Estudantes do 8º ano do turno vespertino apresentando seminário sobre Revoluções Inglesas

O seminário revelou que a maioria dos estudantes da turma possui estilos de aprendizagem audiovisual e tátil, sendo estimulados quando estão utilizando os dois sentidos ao mesmo tempo. Isso ficou evidente durante a realização do estudo dirigido e na confecção dos cartazes, quando apresentaram maior concentração. No entanto, essa concentração pode significar que estão condicionados a aulas expositivas. Yildirim (2010) aponta que a eficácia dos seminários é aumentada quando os estilos de aprendizagem dos estudantes são considerados.

Conclusão

Este artigo apresentou um relato de experiência sobre o uso do método de seminários como estratégia de ensino-aprendizagem na disciplina de História com alunos do 7º e do 8º anos do Ensino Fundamental. A inclusão desse método no processo educativo proporcionou aos estudantes o trabalho com habilidades específicas da disciplina de História, o conhecimento de estratégias de aprendizagem como a decomposição de um problema em partes menores para solucioná-lo e como organizar as informações em cartazes, utilizando ilustrações de personagens e conflitos históricos; foram trabalhados três descritores da Língua Portuguesa do Programa Recomeçar: “localizar informações explicitas em um texto”, “diferenciar as partes principais das secundárias em um texto” e “estabelecer relação causa/consequência entre partes e elementos do texto”; foi utilizado também um descritor da Matemática: “leitura de números naturais”.

O seminário é um método que colocou os estudantes no palco da sala de aula, tornando-os protagonistas, em que eles buscaram informações sobre um tema, prepararam materiais para exposição das informações encontradas e fizeram apresentações para os demais estudantes da classe; o professor ficou nos bastidores, sendo um produtor que auxilia os protagonistas na preparação do espetáculo. Além disso, esse método revelou habilidades que precisam ser aprimoradas pelos estudantes, como a absorção de informações e sua posterior utilização e o trabalho em equipe por parte de alguns estudantes, que entraram em conflito e não realizaram as atividades propostas.

Sugere-se, como estratégia de intervenção para as dificuldades dos estudantes em absorver as informações de textos e/ou vídeos que serão utilizados para a preparação dos seminários, a utilização de atividades que estimulem funções cognitivas de atenção, percepção e memória, com a leitura de textos, e que seja dado significado para essa leitura. Uma atividade interessante que está sendo investigada com essas turmas é utilizar um texto impresso extraído do livro didático, sendo algumas palavras retiradas e incluídos espaços para serem completados com palavras-chave sobre o tema, em que os estudantes deverão localizar essas palavras num caça-palavras e posteriormente completar os espaços do texto. Assim, será necessário que os estudantes façam a leitura do livro para auxiliar no preenchimento das palavras excluídas e a releitura do texto impresso quantas vezes forem necessárias para analisar se o preenchimento está correto, sendo dado um significado para a leitura do texto. Espera-se, com essa estratégia, que as informações fluam para as demais etapas do sistema cognitivo, sendo as memórias de curto e longo prazo, função executiva e linguagem para serem utilizadas de forma satisfatória nos próximos seminários. Caso os estudantes não estejam realizando a leitura do livro nem a pesquisa dos materiais para o preparo do seminário, sugere-se solicitar a eles que anotem as pesquisas no caderno, sendo atribuída uma nota; assim, haverá uma vigilância maior do professor nessa etapa, que é de suma importância para que o seminário promova uma aprendizagem ativa para os estudantes.

Referências

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ANDREATA, M. A. Aula expositiva e Paulo Freire. Ensino em Revista, v. 26, n° 3, p. 700-720, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.14393/ER-v26n3a2019-4.

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Publicado em 16 de abril de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

COSTA NETO, Diôgo Januário da. Tirando os estudantes da plateia para colocá-los no palco: um relato de experiência sobre o uso de seminários nos anos finais do Ensino Fundamental. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 13, 16 de abril de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/13/tirando-os-estudantes-da-plateia-para-coloca-los-no-palco-um-relato-de-experiencia-sobre-o-uso-de-seminarios-nos-anos-finais-do-ensino-fundamental

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