Aprendendo a ensinar: uma experiência didática no ensino de Língua Portuguesa
Ana Claudia Reis Bittencourt
Gradudanda em Letras (UFR), licenciada em Pedagogia (UNIBF), especialista em Atendimento Educacional Especializado e Psicomotricidade (Faveni), docente da Educação Infantil
Adinael Jr. Pereira da Trindade
Licenciado em Geografia (UFMT), especialista em Gestão Pública (UFMT), mestre em Geografia (UFMT), técnico administrativo (UFR)
O presente relatório compõe as exigências curriculares do Curso de Letras - Língua Portuguesa e aborda o aprendizado adquirido ao longo da realização do estágio supervisionado. Trata-se da visão de uma estagiária sobre o que foi vivenciado por ela na Escola Estadual Professora Renilda Silva Morais, situada na cidade de Rondonópolis/MT.
A disciplina Estágio Supervisionado III é ofertada no sétimo semestre e possui carga horária de 96 horas, das quais 40 são cumpridas na instituição escolar escolhida para realização do estágio. Da carga horária vivenciada na escola, 18 horas foram referentes à participação no planejamento pedagógico, visitas na unidade, acesso aos materiais e observação em sala de aula, além de 2 horas para orientação do relatório. Nas demais 20 horas, foram desenvolvidas atividades de regência.
O estágio ocorreu no período vespertino entre 14 de setembro e 9 de novembro de 2022, contado desde a ambientação até a regência nas turmas de 6º ano do Ensino Fundamental, compostas por 26 alunos. Nas aulas de regência, ministrei conteúdos como gêneros textuais e gramática.
O estágio supervisionado é de suma importância para o desenvolvimento do docente em formação, pois permite ir além da teoria e conhecer a realidade da sala de aula, prática necessária para a obtenção de conhecimento e expertise. Nascimento (2014, p. 10) afirma que “o estágio funciona como uma ‘janela do futuro’, através da qual o aluno antevê seu próximo modo de viver. Deve ser uma passagem natural do ‘saber sobre’ para o ‘saber como’, um momento de validação do aprendizado teórico em confronto a realidade”.
Este relatório apresenta a seguinte organização: nesta primeira seção, esta introdução; na segunda seção, apresenta-se a escola-campo na qual o estágio foi realizado; na terceira, tem-se a descrição das atividades pedagógicas, incluindo as aulas, com uma breve reflexão sobre a importância do estágio supervisionado na formação do futuro docente; por fim, está a conclusão, seguida das referências.
Conhecendo o campo de estágio
O primeiro encontro que tivemos no ambiente escolar deu-se no dia 14 de setembro de 2022. Nesse primeiro momento, fomos recebidas pela equipe gestora. A coordenadora da unidade passou todas as informações necessárias sobre o funcionamento da escola. A instituição escolhida foi uma escola estadual localizada na Rua Jacarandás, Coophalis, s/n. A Escola Estadual Professora Renilda Silva Morais oferta o Ensino Fundamental na modalidade Ciclo de Formação Humana I, II e III Ciclo, funcionando nos períodos matutino e vespertino.
Figura 1: Fachada da E. E. Profa. Renilda S. Morais
Fonte: Acervo próprio.
O corpo administrativo é formado por diretor, coordenadores pedagógicos, professor articulador, secretário escolar, técnicos administrativos e funcionários de apoio educacional; o corpo docente possui 39 professores efetivos e 31 temporários (Seduc, 2022).
A unidade possui estrutura ampla, com 18 salas de aula, sala dos professores, laboratório de informática, sala de coordenação, sala de direção, salão para reuniões, refeitório, banheiros feminino e masculino, salas de articulação, sala de apoio pedagógico, biblioteca e outros espaços. É bem iluminada e tem quadra de esportes coberta (Seduc, 2022).
Todas as salas são climatizadas e aparentemente bem conservadas. Digo aparentemente porque, ao adentrar às salas de aulas do 6º D e 6º E, onde realizei a regência, percebi que não aparentavam estar bem conservadas como deveriam. A sala do 6º D não comporta de forma adequada a quantidade de estudantes e, quando chove, ambas as salas ficam molhadas. É mais crítica a situação da sala do 6º D, já que, ao chover, o forro se encharca de água, dando a impressão de que poderá cair a qualquer momento, sendo impossível aos discentes permanecer em fila.
No dia 20 de setembro de 2022, participamos da reunião de planejamento, quando conhecemos as docentes regentes. Nesse dia, conversamos com elas sobre as turmas e escolhemos em quais trabalharíamos. Em conversa com a docente de Língua Portuguesa, fui informada de que em uma das turmas que iria acompanhar e onde realizar o estágio, a turma do 6º D, havia dois adolescentes que precisam de acompanhamento diferenciado devido à deficiência intelectual que apresentam.
Após conversa com a docente, fui explorar a unidade escolar. Saí rumo à biblioteca, onde fui bem recebida pela servidora. A biblioteca, por sua vez, é pequena, aconchegante e organizada na medida do possível. De acordo com informações retiradas do projeto político-pedagógico (PPP) (Seduc, 2022, p. 17), “a escola dispõe de acervo considerável de equipamentos e materiais pedagógicos: acervo bibliográfico, mapas, jogos pedagógicos, maleta multimídia, datashow, tela de projeção, notebook, kit pedagógico de matemática, televisão etc.”.
A profissional que atua na biblioteca é servidora efetiva que não tem formação em Biblioteconomia, ou seja, não é bibliotecária. Ao perguntamos pelos chromebooks, a servidora explicou as formas de uso e prontamente nos permitiu manuseá-los, afirmando que tínhamos livre acesso para usarmos em sala, como mostra a Figura 2.
Figura 2: Chromebooks disponibilizados pela Seduc para a escola
Fonte: Acervo próprio.
Outro aspecto que é importante comentar é o acesso das crianças com deficiência. O PPP (Seduc, 2022, p. 25) expõe que,
partindo do pressuposto de que a educação é para todos, busca-se reconhecimento e valorização da diversidade e das diferenças individuais, como elementos intrínsecos e enriquecedores do processo escolar e da garantia do acesso e permanência do aluno na escola. Acredita-se, para tanto, que os sujeitos podem aprender juntos, embora com objetivos e processos diferentes, tendo em vista uma educação de qualidade. No que se refere às questões pedagógicas, relacionais, administrativas e institucionais, cabe à escola garantir a aprendizagem de todos os alunos, tendo em vista o respeito pela diferença.
Nesse sentido, pode-se inferir que a escola busca criar meios que ofereçam estrutura e recursos necessários para que ocorra a inclusão e o respeito às especificidades do alunado com deficiência, garantindo dessa forma o direito e a permanência desses estudantes no ambiente escolar. A primeira impressão que tive do espaço escolar foi de um lugar bem organizado, limpo e aconchegante, demostrando o comprometimento de todos que trabalham ali em propiciar um ambiente que permita que os estudantes desenvolvam suas potencialidades da melhor maneira.
Estágio supervisionado: observação da prática docente
O estágio é a primeira experiência que o discente em formação tem com seu futuro local de atuação; é uma etapa indispensável para sua formação como profissional. A possiblidade de observar um profissional formado em exercício permite conhecer as turmas em que iremos estagiar e qual a melhor maneira de conduzir as aulas ao dar início à prática docente. Partindo dessa premissa, Medina e Prudente (2011, p. 6) afirmam que “é no estágio supervisionado que o aluno-estagiário, através da observação, irá se familiarizar com os componentes do processo ensino-aprendizagem, tendo oportunidade de analisar de forma detalhada aspectos que lhe serão úteis quando dirigirem uma aula”.
O estágio de observação ocorreu nos dias 26 de setembro, 3 de outubro e 5 de outubro na Escola Estadual Professora Renilda Silva Moraes, tendo carga horária total de 10 horas. Ao adentrar a sala de aula, fui muito bem recebida pela docente e pelos discentes nas turmas de 6º ano D e 6º ano E. Ambas as turmas são numerosas, tendo proximamente 26 alunos no 6º D e 28 alunos no 6º E. Vale recordar que, na turma do 6º E, dois alunos, um menino e uma menina, apresentam deficiência intelectual com graus díspares; por essa razão, precisam de atividades diferenciadas.
As turmas são bem agitadas; acredito que essa agitação se deva ao grande número de adolescentes ocupando o mesmo espaço. A maior parte dos alunos foi participativa nas aulas observadas, disputavam para fazer as leituras compartilhadas, porém nem sempre faziam as atividades propostas pela docente. As aulas foram baseadas no Material Estruturado 3, disponibilizado pela Secretaria de Educação (Seduc), como pode ser visto na Figura 3.
Figura 3: Capa do material estruturado utilizado
Fonte: Acervo próprio.
O conteúdo ministrado foi a Unidade 3: “Anunciando mensagens: classificados”. Esse material é produzido de forma coletiva e tem como organizadora Thaís Ginicolo Cabral. É multidisciplinar, composta por todas as disciplinas: Artes, Ciências, Geografia, História, Inglês, Matemática e Língua Portuguesa.
Nessa unidade, a docente desenvolveu atividades referentes a interpretação de texto, bem como explicou diversos modelos de anúncios na seção de classificados de um jornal, mostrando as diferenças e concluindo a temática com atividades seguidas da correção em sala. Nesse mesmo dia, deu início ao próximo conteúdo do livro, “Modo imperativo e concordância verbal”, com a leitura sendo realizada de forma compartilhada; conforme a leitura avançava, a docente fazia interrupções para explicar o conteúdo.
Na turma do 6º D, a docente regente também trabalhou leitura compartilhada. Todas as escolas estaduais estão desenvolvendo um projeto denominado Educação Socioemocional; para o desenvolvimento do projeto, estavam utilizando uma trilogia de livros: Empatia: o segredo do tio Iberê; Responsabilidade: menina do Rio e Respeito: toda a gente carece de um norte!, todos de autoria de Célia Chueire. O livro lido e debatido naquela aula foi Empatia: o segredo do tio Iberê. Esse livro, em particular, trabalha a empatia e os demais trabalham o respeito e a responsabilidade, atributos indispensáveis para a formação cidadã. A Figura 4 traz a capa dos livros mencionados.
Figura 4: Capa dos livros utilizados
Fonte: Acervo próprio
O livro Responsabilidade: menina do Rio conta a história de uma menina de classe média alta, mimada pelos pais e avós, que não conhecia limites. Após conhecer um surfista que a ensinou a surfar, Stella deixou de cumprir suas responsabilidades como estudante, chegando a mentir, falsificar assinaturas e documentos e ser reprovada, tudo para surfar. Percebendo a situação crítica em que ela se encontrava, os pais de Stella resolveram levá-la para a fazenda de parentes. Seu tio Getúlio encontrou, por meio dos cavalos, uma forma de ajudar Stella a reconhecer seus erros e, ao criar laços com o animal, criar responsabilidade.
Outro livro da trilogia, Respeito: toda a gente carece de um norte!, trata da importância do respeito. Não só respeito ao próximo, mas a tudo: à natureza, às pessoas, às diversas culturas, aos sentimentos, aos animais, dentre outros.
A história do livro Empatia gira em torno de um segredo que Iberê guardava havia muito tempo e confiou ao seu sobrinho, que, por motivo torpe, revelou a todos, expondo seu tio e sua família. Com isso, aprendeu o valor da empatia e de ser confiável. Após a leitura, a professora realizou questionamentos muito pertinentes em relação ao caráter, à empatia, à confiança e ao respeito ao próximo. Antes de concluir a aula, ela ditou dez questões para serem respondidas a partir da leitura desse livro. Após refletir sobre a aula, percebi como é importante trazer para o cotidiano escolar temáticas que são essenciais para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais do alunado, de modo que
o indivíduo adquire atitudes e habilidades necessárias para respeitar diferenças [principalmente em um ambiente plural como é a escola] e agir positivamente para o bem comum. Isso considera entender e gerenciar emoções, administrar as situações do cotidiano, estabelecer bons relacionamentos e tomar decisões de maneira responsável (Drumond, 2022, p. 1).
Dessa forma, fica evidente como é importante ajudar os alunos a compreender suas emoções, o próximo e as diferenças, permitindo um bom convívio social. Nas demais observações, a docente ministrou nas duas turmas os conteúdos referentes a verbo, mais especificamente o modo imperativo e concordância verbal, e o gênero entrevista.
Nessas observações, ficou evidente que, apesar do mau comportamento de alguns estudantes, a grande maioria demonstrou gosto pela leitura e, mesmo quando não havia respondido a atividade, queria participar da leitura dos textos. Acredito que o interesse dos alunos em participar das aulas vem da motivação proporcionada pela docente, que está a todo tempo fomentando o engajamento dos alunos. Cabe destacar que, em todas as aulas, a docente trouxe atividades diferenciadas para os alunos que possuem deficiência intelectual.
A partir das observações em sala, posso afirmar que a oportunidade de participar como ouvinte nessas aulas permitiu-me relembrar de quando cursava o Ensino Fundamental e de alguns professores que rememoro com muito carinho. Uma delas, a professora de Língua Portuguesa, era uma profissional que amava o ofício docente, e esse amor era visível no modo como ela lecionava.
Esse amor também puder sentir na forma como a professora regente desenvolve seu trabalho em sala de aula e na relação professor-aluno que foi constituída. Uma profissional amável, prestativa e disponível para auxiliar seus alunos, principalmente aqueles que precisavam de mais atenção, como no caso das crianças com deficiência, estendendo esse auxílio também a mim. Concluindo esse período de contato introdutivo, dei início à prática em sala de aula.
A um passo da docência: relatos da prática vivenciada em sala de aula
A vivência do estágio na prática permite lançar mão de tudo que foi aprendido nas aulas de graduação, bem como adquirir experiências não somente em sala de aula, mas também ter contato com o planejamento pedagógico e com o funcionamento da escola, tornando-se essencial para a formação profissional como docente. Nesse contexto, Nascimento (2014, p. 10) salienta que
o estágio supervisionado tem cumprido de forma eficiente o papel de elo entre os mundos acadêmico e profissional ao possibilitar ao estagiário a oportunidade de conhecimento da administração, das diretrizes e do funcionamento das organizações e suas inter-relações com a comunidade. A realização de estágios será incentivada como forma de aproximar os alunos das necessidades do mundo do trabalho, criando oportunidades de exercitar a prática profissional, além de enriquecer e atualizar a formação acadêmica.
Assim, não há possibilidade de formação do futuro docente se não pela prática obtida no estágio supervisionado. A regência do meu estágio supervisionado ocorreu nos dias 10 de outubro; 17 de outubro; 31 outubro e 7 de novembro, encerrando-se em 9 de novembro. Como mencionado, as turmas são muito agitadas, o que gera certa dificuldade para ministrar as aulas.
Percebi muita diferença no comportamento dos alunos ao assumir a sala de aula como docente em formação. Uma parcela dos alunos mostrou pouco interesse em aprender, e em certos momentos aqueles que estavam interessados acabavam sendo prejudicados pela conversa paralela dos demais. A partir dessa constatação, reafirmo a importância da prática do estágio, pois essa experiência permite que o docente em formação conheça a realidade da sala de aula, evitando um possível susto ao assumir uma turma após sua formação, e possibilita a busca e/ou criação de estratégias para superação dos obstáculos encontrados no exercício da profissão.
A docente responsável pelas turmas me orientou a iniciar o estágio com o Material Estruturado 4 disponibilizado pela escola, dando início ao quarto bimestre. O primeiro conteúdo ministrado foi o gênero romance. Comecei a aula com alguns questionamentos sobre a que a imagem fazia referência, depois efetuei explanações sobre o gênero e apresentei alguns exemplos. Para ajudá-los a compreender melhor o gênero, elaborei um pequeno texto com informações relevantes. Logo em seguida, demos início à leitura do capítulo do livro O menino do dedo verde, deMaurice Druon, exposto no material estruturado para que os alunos conhecessem melhor o romance infantojuvenil.
Ao perguntar se alguém se disponibilizaria para iniciar a leitura do texto, uma parte considerável dos discentes das duas turmas se mostrou bastante interessada. No momento da leitura, todos faziam silêncio para poder acompanhar. Isso evidencia o que já havia dito, que, apesar da indisciplina, a professora está conseguindo despertar o interesse dos discentes pela leitura, elemento primordial para o desenvolvimento do senso crítico. Sobre esse assunto, Alves (2000, p. 61) revela que,
de tudo o que as escolas podem fazer com as crianças e os jovens, não há nada de importância maior que o ensino do prazer da leitura. Todos falam na importância de alfabetizar, saber transformar símbolos gráficos em palavras. Concordo. Mas, isso não basta. É preciso que o ato de ler dê prazer.
A partir do exposto, é possível afirmar que a docente regente está cumprindo seu papel como formadora de opiniões, estimulando o interesse e o gosto do alunado pela leitura, subsidiando dessa forma a construção de saberes e garantido aos discentes a realização de “uma prática social que todo cidadão tem o direito de exercê-la” (Silva; Almeida, 2014, p. 8).
Após a leitura compartilhada, pedi que realizassem as atividades do material estruturado. No segundo encontro, iniciei a aula fazendo a chamada e, logo em seguida, a intensão era fazer a correções das atividades passadas na aula anterior; contudo, grande maioria dos estudantes das duas turmas não respondeu as atividades propostas; por essa razão, tive que conceder alguns minutos para que o fizessem, para depois fazer as correções. Após isso, retomei o estudo das características do gênero romance e fiz algumas perguntas para verificar o que conseguiram compreender sobre o assunto.
No terceiro encontro, ministrei o conteúdo da Unidade 2 do material estruturado, intitulada “Compartilhando experiências marcantes: relato de viagem”. O capítulo inicia trazendo algumas imagens de lugares bastante visitados ao redor do mundo e logo em seguida alguns questionamentos relacionados às imagens. O material estruturado trouxe um trecho de um livro escrito pelo navegador brasileiro Amyr Klink. Nesse excerto, ele narra uma viagem que fizera por cem dias no Oceano Atlântico a bordo de um pequeno barco. Fizemos leitura compartilhada, sendo explicadas concomitantemente as características do gênero textual relato de viagem. Após as explicações, os alunos receberam como atividade de casa produzir um relato de viagem e responder as questões relacionadas ao texto discutido em sala. Sobre as atividades propostas, houve um pequeno retorno, a grande maioria não respondeu as atividades do material estruturado nem produziu o relato de viagem.
No quarto encontro, administrei os conteúdos de gramática Frase nominal e verbal nas turmas 6º D e 6º E. Nesse dia, ocorreu o momento em que fui avaliada pela docente regente e pela docente supervisora do estágio. Essa atividade visa avaliar as práticas didático-pedagógicas do docente em formação e simboliza uma fase essencial da preparação acadêmica que oportuniza a relação entre teoria e prática por meio de experiências da realidade educacional.
Após a chamada, iniciei a explanação do conteúdo explicando a temática citada, sempre buscando a interação dos discentes com a aula. Para verificar se a explanação sobre o assunto foi compreendida, apliquei uma metodologia ativa denominada muddiest point, que tem o papel de proporcionar ao docente um feedback sobre o assunto abordado na aula ao apresentar uma dúvida pontual. Diesel, Baldez e Martins (2017) afirmam que
as metodologias ativas, utilizadas com intencionalidade pedagógica, poderão favorecer o rompimento de uma sequência didática mecânica e recorrente de explanação teórica do docente como base para a compreensão, em que os estudantes permanecem em posição passiva na maior parte do tempo, atitude esta característica do método tradicional (Diesel; Baldez; Martins, 2017 apud Steinert, 2020, p. 6).
Como ressaltam os autores, a inserção de metodologias ativas em sala de aula colabora para o rompimento do modo tradicional de ensino, permitindo que os discentes ocupem outra posição, a de protagonista.
Antes da aplicação da metodologia, expliquei o que era e como funcionava; posteriormente entreguei um pedaço de papel sulfite branco para que registrassem suas dúvidas. Ao término da explanação, coloquei em prática a metodologia e em seguida os discentes realizaram as atividades do material estruturado.
Procurei dar suporte no momento do desenvolvimento das atividades, com o intuito de sanar qualquer dúvida sobre o conteúdo. No quinto e último encontro, iniciei a aula realizando um feedback das dúvidas levantadas por eles sobre o conteúdo, finalizando o estágio com as correções das atividades. É importante destacar que a metodologia trabalhada se deu de forma expositiva dialogada e que em todas as aulas foram desenvolvidas atividades diferenciadas com os discentes com deficiência intelectual. Todas essas atividades passaram pelo crivo da docente regente. Somente após seu aval, eram aplicadas aos alunos.
Conclusão
Este relatório teve como objetivo descrever a experiência da discente com a disciplina de Estágio Supervisionado, em especial da vivência docente na observação e regência das turmas durante o ensino de Língua Portuguesa. Para tanto, foi realizado o relato dos diversos momentos e experiências que compuseram o estágio realizado nas turmas do 6º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Professora Renilda Silva Morais.
Com base na realização do estágio, foi possível verificar a importância desse relevante componente curricular para a formação docente, uma vez que, a partir do estágio, o graduando experimenta de forma concreta a realidade do campo de atuação profissional. No estágio é possível confrontar a teoria apresentada na academia, as pertinências e impertinências dos saberes apreendidos frente à realidade da educação pública brasileira, possível lócus de atuação da ampla maioria dos licenciados pelas universidades.
O contato com a comunidade escolar, em especial com alunos e professores, permite ao graduando, além da mera vivência, uma reflexão profunda sobre as possibilidades e os desafios dessa escolha por atuar em um sistema educacional não raramente precarizado e incapaz de acompanhar um mundo de mudanças cada vez mais velozes.
De forma direta, posso afirmar que a partir do estágio supervisionado foi possível amadurecer a docente em formação que sou, foi possível reafirmar o desejo de ser parte da mudança que acredito ser necessária, sem, contudo, perder de vista os inúmeros obstáculos a serem superados.
Referências
ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. 4ª ed. São Paulo: Loyola, 2000.
DRUMOND, Kelly. Como sua escola pode trabalhar as habilidades socioemocionais? Somos Educação, 2022. Disponível em: https://www.somoseducacao.com.br/como-sua-escola-pode-trabalhar-as-habilidades-socioemocionais/#:~:text=s%20habilidades%20socioemocionais%20s%C3%A3o%20capacidades,exercer%20papel%20ativo%20na%20sociedade. Acesso em: 15 dez. 2022.
MEDINA, Aládia Cristina Rodrigues; PRUDENTE, Paola Luzia Gomes. Estágio supervisionado de observação: um relato de experiência no curso de licenciatura em educação física. CONBRACE, 17., CONICE, 6., 2011, Porto Alegre. Anais eletrônicos [...]. Porto Alegre: Ciências e Compromisso Social, 2011. Disponível em: http://congressos.cbce.org.br/index.php/conbrace2011/2011/paper/viewFile/3410/1630#:~:text=%C3%89%20no%20Est%C3%A1gio%20Supervisionado%20que,%C3%BAteis%20quando%20dirigirem%20uma%20aula. Acesso em: 26 nov. 2022.
NASCIMENTO, Ilcione de Fátima Batista. Relatório de estágio. Amparo: UEPB, 2014.
SEDUC. Projeto político-pedagógico da Escola Estadual Professora Renilda Silva Morais. Rondonópolis, 2021.
SEDUC. Regimento escolar da Escola Estadual Professora Renilda Silva Moraes. Rondonópolis, 2022.
SILVA, Fábio Junior da; ALMEIDA, Priscila Rosane Pereira. A importância do uso da leitura em sala de aula: uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem. FÓRUM INTERNACIONAL DE PEDAGOGIA – FIPED, 6., 2014, Santa Maria. Anais eletrônicos [...]. Santa Maria: AINPGP, 2014. Disponível em: https://editorarealize.com.br/editora/anais/fiped/2014/Modalidade_1datahora_29_05_2014_22_00_45_idinscrito_1661_d16848100481588acc2a7726d587ffb9.pdf. Acesso em: 26 nov. 2022.
STEINERT, Monica E. P. Metodologias ativas na escola pública: manual para viabilizar a prática. Cuiabá: Seduc, 2020. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/561232995/Metodologias-Ativas-na-Escola-Publica-Manual-para-Viabilizar-a-pratica. Acesso em: 24 nov. 2022.
Publicado em 07 de maio de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
BITTENCOURT, Ana Claudia Reis; TRINDADE, Adinael Jr. Pereira da. Aprendendo a ensinar: uma experiência didática no ensino de Língua Portuguesa. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 15, 7 de maio de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/15/aprendendo-a-ensinar-uma-experiencia-didatica-no-ensino-de-lingua-portuguesa
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