Dificuldades de aprendizagem de alunos do Ensino Médio de uma escola pública mato-grossense durante a pandemia

Inês de Souza Torres

Licenciada em Biologia (IFMT - Câmpus Confresa)

Marcelo Franco Leão

Doutor em Educação em Ciências (UFRGS), professor do IFMT - Câmpus Confresa

Os processos de ensino, aprendizagem e desenvolvimento cognitivo vêm sendo discutidos por vários autores ao longo da construção das políticas pedagógicas, e o que inicialmente se definia como partes individuais que compunham um todo está sendo invertido. O desenvolvimento intelectual requer formação contínua de estruturas físicas e orgânicas do indivíduo; a aprendizagem como resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo e o ensino como processo de aprendizagem, seja empírico, seja ambiental, deixaram de ser independentes (José; Coelho, 1997; Guista, 1985). Esse entendimento do processo de ensino pela Psicologia permite agora entender que o todo colabora para a construção das perspectivas do receptor do conhecimento (Costa, 2013; Guista, 1985).

De acordo com Guerra (2002), o processo de aprendizagem é ainda mais difícil de ser caracterizado devido a cada ser obter percepções individuais da mesma realidade, o que torna a padronização do mecanismo muito complexa. Há ainda que considerar que a realidade global está em constante mudança, o que interfere diretamente nos aspectos psíquicos dentro do processo de aprendizagem.

Pode-se considerar, por exemplo, alterações no ambiente familiar, o desenvolvimento biológico e as interações com o meio externo influenciando diretamente na aprendizagem (Lyra; Ribas, 2021). Logo, faz-se necessário o estudo da influência de crises, como a pandemia do coronavírus, que afetou diversas questões da humanidade, na economia, na convivência social e na saúde.

A covid-19 é uma doença infectocontagiosa, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020). O primeiro caso da pandemia pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), foi identificado em Wuhan, na China, no dia 31 de dezembro de 2019. Desde então, os casos começaram a se espalhar rapidamente pelo mundo: primeiro pelo continente asiático. O grande potencial contagioso se deve principalmente ao mecanismo de transmissão; para a OMS (2020), a transmissão em humanos ocorre por meio de gotículas produzidas quando uma pessoa infectada fala, tosse ou espirra, as quais ficam temporariamente suspensas no ar, podendo infectar outros humanos na área.

Com elevadas taxas de transmissão, pandemias trazem consigo longos ciclos de contágio; o mundo parou em 2020 e 2021 para reduzir impactos sobre a saúde, no entanto isso não amenizou outros impactos, inclusive em relação ao sistema educacional, que precisou adotar um novo comportamento para conseguir atender às demandas nessa nova configuração social (Médici; Tatto; Leão, 2020).

A organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no dia 18 de março de 2020, confirmou que 85 países fecharam totalmente as atividades escolares presenciais para amenizar o contato com o novo coronavírus, atingindo 776,7 milhões de jovens e crianças; optou-se pelo ensino completamente a distância, decisão tomada após discussão ocorrida em evento de que os governos de 73 países participaram virtualmente (Médici; Tatto; Leão, 2020).

Nessa nova configuração, as tecnologias digitais (TD) proporcionaram significativas alterações nas esferas social, econômica e cultural. O ensino usualmente verticalizado proveniente da figura do professor tem viajado a novas fronteiras com a construção de recursos digitais, produção de conteúdos midiáticos e diversos outros canais, de modo que elas estão chegando ao ambiente educacional (Farbiarz; Carvalho, 2016). Para Lyotard (2011), são expressivos os impactos gerados no âmbito da construção e da circulação dos saberes no âmbito das TD. Para o autor, as tecnologias da informação e da comunicação influenciam e modificam constantemente os mecanismos de transmissão dos conhecimentos.

O ambiente digital para a educação apresenta novos modos de aprender e ensinar. O acesso à informação como navegação por hiperdocumentos, mecanismos de pesquisa, mapas dinâmicos de dados e outros permitem novos estilos de raciocínio e de conhecimento, assim como a simulação, levam à verdadeira industrialização da experiência do pensamento. Atualmente, as TD têm promovido a construção colaborativa do conhecimento, concretizando a “inteligência coletiva” em rede no espaço digital (Lévy, 2007).

Outro fator a ser considerado nas TD é a acessibilidade. Além de um ambiente de construção contínua, crescente e coletiva dos saberes, um aspecto memorável é a acessibilidade. Os dispositivos móveis, historicamente considerados como inimigos da educação, por elevar o déficit de atenção nas salas de aula tradicionais, passou de vilão a auxiliar no ambiente de Educação a Distância (EaD) (Seabra, 2013). Os meios digitais moveis são agora aliados do processo de ensino, sendo reconhecidos como ferramenta adequada para compartilhamento de informações em educação (Unesco, 2012).

No entanto, há que se considerar as dificuldades advindas do uso das TD, que, embora acessíveis na palma da mão, encontram barreiras entre faixas etárias com pouco conhecimento sobre elas, principalmente na Educação de Jovens e Adultos (EJA) e nas classes sociais mais vulneráveis, com falta de comprometimento e falta de interesse (Joaquim, 2016).

Nesse contexto, a pesquisa se voltou a investigar as principais dificuldades em que os alunos têm mais dificuldades nos conteúdos de Biologia, principalmente com a chegada das aulas remotas, quando as metodologias utilizadas pelos preceptores ficaram complexas, o que dificultou também o interesse dos alunos. O número de alunos que sentem dificuldade em aprender tem aumentado consideravelmente, o que os leva a perder o interesse pela escola; com o fechamento das escolas, esse número vem aumentando cada vez mais, tanto por dificuldades econômicas, como sociais e pela dificuldade de acesso às aulas remotas por meio de plataformas tecnológicas, como Google Meet, Moodle, chats e lives (transmissão ao vivo).

Frente ao exposto, esta pesquisa teve como objetivo geral analisar as principais dificuldades enfrentadas por alunos do Ensino Médio da Escola Estadual 29 de Julho, em Confresa/MT, para estudar Biologia no cenário provocado pela covid-19.

Para tanto, foram definidos os seguintes objetivos específicos: identificar como os alunos da escola têm acesso às aulas remotas, tanto quanto aos equipamentos tecnológicos que utilizam quanto à conectividade à internet; fazer um levantamento sobre a desistência de alunos, identificando os principais motivos; identificar as estratégias de ensino e recursos didáticos utilizadas com os alunos investigados nas aulas de Biologia; e descrever os principais problemas enfrentados por eles nas aulas remotas da disciplina.

O presente estudo se justifica pelas dificuldades vivenciadas no contexto de pandemia e isolamento social forçado; diversas áreas foram afetadas, como saúde, economia e educação. O universo da educação foi forçado a mudanças, e nesse momento a inovação tecnológica trouxe respostas.

Novos meios de ensino proporcionaram a continuidade do processo de aprendizagem em todas as áreas do conhecimento. No entanto, há características positivas e negativas nesse processo; assim, o objetivo no tema proposto é investigar e buscar construir novos conhecimentos sobre o ensino remoto, que está sendo uma realidade para nossa sociedade, em que se constataram diversas dificuldades de aprendizado.

Outros fatos a serem considerados são: a falta de interesse dos alunos, as dificuldades de aprendizagem e até mesmo o novo formato de comunicação na realidade de ensino remoto, além das condições socioeconômicas dos alunos quanto ao acesso aos meios de comunicação, à falta de condições e a recursos financeiros.

Reflexões teóricas sobre o assunto

A sociedade contemporânea enfrenta tantos problemas de ordem cultural, econômica e social que é inevitável que os alunos não enfrentem dificuldades de aprendizado, principalmente em meio ao cenário marcado pela pandemia da covid-19. Demo (2007) afirma que “carências de recursos para comprar ferramentas tecnológicas, acesso à internet, se deparam com currículos defasados e ambientes escolares atrasados, que não possuem os recursos tecnológicos para o professor e aluno”. Desde quando começou a pandemia houve paralisação das atividades educativas nas redes de ensino, situação em que os professores tiveram que se adaptar às aulas remotas e buscar novas metodologias de ensino e aprendizagem.

Dessa forma, as aulas remotas foram a única alternativa, já que os encontros presenciais entre professores e alunos ficaram impossibilitados de ocorrer devido às medidas de isolamento. Ou seja, foi o meio encontrado pela educação para dar continuidade ao ano letivo, o que não é tarefa fácil principalmente pelos obstáculos enfrentados, como a falta de capacitação dos professores no manuseio dos aparelhos tecnológicos. Goldbach e Macedo (2007) relatam que é muito importante que os cursos de atualização dos professores proporcionem várias estratégias de ensino modernas, como o uso de equipamentos de informática, para aperfeiçoar o modo de ensino.

Nesse contexto, é importante destacar que o ensino de Biologia é uma tarefa complexa, principalmente de acordo com a percepção de alguns alunos. Krasilchik (2005) destaca que a Biologia pode ser uma das disciplinas mais relevantes e merecedoras da atenção dos alunos ou uma das mais insignificantes, dependendo do que for ensinado e de como isso for feito. O currículo de Biologia para o Ensino Médio apresenta uma enorme variedade de conceitos complexos, e é aí que o professor pode aplicar diferentes tipos de metodologia para chamar a atenção do aluno.

De acordo com Krasilchik (2004), os conceitos e termos passam a ter mais significado para o estudante quando ele consegue acessar exemplos suficientes para construir associações e analogias, contextualizando o conteúdo com suas experiências pessoais. Como o estudo da Biologia lida com uma série de palavras difíceis e com pronúncias e escritas que divergem da linguagem da população, é necessário que o professor busque metodologias de diferentes tipos para facilitar esse aprendizado do aluno.

A palavra só passa a ter significado quando o aluno tem exemplos e suficientes oportunidades para usá-la, construindo sua própria moldura de associações. Como às vezes os termos apresentados são desnecessários, uma vez que nunca mais voltarão a ser usados, o professor deve tomar cuidado para não sobrecarregar a memória dos alunos com informações inúteis (Krasilchik, 2004, p. 23).

Em outras palavras: o papel do professor como mediador é de passar os conteúdos aos alunos; no ensino de Biologia, em que os conteúdos são relevantes, é encontrar meios para que o aluno tenha uma compreensão adequada.

Na pesquisa de Coelho, Silva e Pirovani (2020), mais da metade dos alunos investigados relatou gostar de Biologia por ser uma disciplina que une áreas de interesse cotidiano. No entanto, a pandemia provocou a adequação do ensino para o meio remoto; para Alves et al. (2021), existem diversos fatores que promovem a perda de interesse, destacando-se a dificuldade de organização de tempo e a falta de aplicação real do conteúdo.

De acordo com Coelho, Silva e Pirovani (2020), as maiores dificuldades no ensino remoto de Biologia são principalmente na fixação dos conteúdos; as aulas ficam muito abstratas, no campo do imaginário; embora os recursos tecnológicos busquem provocar a solidificação do conhecimento, há dificuldade em absorver o conteúdo.

O ensino de Biologia constitui um dos mais complexos para o ensino, pois é preciso refletir sobre as técnicas mais adequadas para determinadas circunstâncias, como: mecanismos tecnológicos, aulas práticas laboratoriais, feiras de ciência e saídas de campo (Pagel, 2015).

O estudo remoto depende ainda das condições da própria residência dos alunos, o que pode promover o desinteresse e a perda de foco devido ao ambiente inapropriado para estudos, à falta de auxílio familiar e à ausência do meio tecnológico adequado para o ensino remoto (Miranda et al., 2020).

Para Sá e Lemos (2020), o ensino de Biologia teve que sofrer modificações devido a dificuldades que os alunos têm encontrado no ensino remoto. Os professores do estudo citado mencionam que os alunos possuem dificuldade em lidar com a qualidade da internet, a ausência de ensino prático ou até o compartilhamento de aparelhos com outras pessoas da mesma residência, o que promove a falta de estímulo dos alunos. Médici, Tatto e Leão (2020) destacam que a desigualdade social é sem dúvida o principal desafio; atrelado a ele apresentam-se também as dificuldades de acesso devido à qualidade da rede de internet e a consequente dificuldade de acompanhamento pedagógico.

Essa nova realidade que os professores enfrentam no ensino remoto, híbrido ou a distância impõe que busquem novas propostas para descobrir novos espaços de aprendizagem. Nesse sentido, Gusso et al. (2020) expõem que os desafios dos professores consistem em entender que o ambiente remoto é diferente do ambiente presencial e que, desse modo, deve-se buscar novas estratégias para o desenvolvimento da aprendizagem. Ainda nesse trabalho, Gusso et al. (2020) discutem as diferenças entre o ensino remoto e a já tradicional Educação a Distância, de modo a existir uma preparação para a EaD, o que não aconteceu com o ensino remoto provocado pela pandemia.

Por esse caminho, Santos et al. (2021) concluem que a modalidade de ensino remoto é na verdade um objeto de estudo sobre o qual têm-se produzido diversos trabalhos buscando avaliar pontos fortes, fracos, dificuldades e oportunidades. Gusso et al. (2020), expondo as dificuldades do ensino remoto, afirmam que há uma demanda presente por soluções para o melhoramento da aprendizagem; no entanto, há necessidade de manutenção das atividades do ensino durante a pandemia, buscando sempre atender a demanda da relação entre aluno e professor.

Nesse cenário, este estudo analisa as principais dificuldades enfrentadas por alunos do Ensino Médio de uma escola pública de Confresa/MT para estudar Biologia por meio de aulas remotas no cenário promovido pela covid-19, identificando o uso das tecnologias digitais, a conectividade com a internet e as estratégias usadas pelos professores para manutenção dos alunos, bem como as taxas de abandono e os aspectos que geram esse quadro.

Procedimentos metodológicos

A pesquisa qualitativa fornece riqueza de dados, auxilia no entender o porquê de determinados acontecimentos. Creswell (2007) salienta que, na perspectiva qualitativa, a fonte de coleta de dados é o pesquisador, e o principal instrumento são os dados coletados e descritivos, por causa da gama de perspectivas, modalidades, abordagens, metodologias, desenhos e técnicas utilizadas no planejamento, condução e avaliação de estudos, indagações ou investigações interessadas em descrever, interpretar, compreender, entender ou superar a situação social ou educacional problematizada (González, 2020).

A expressão pesquisa qualitativa de campo é usada para esclarecer um quadro de estudo com muitas faces, buscando as múltiplas visões dos indivíduos para estudar a situação (Bicudo; Costa, 2019). Nesse sentido, Gonsalves (2001) ressalta que a pesquisa de campo busca extrair informações diretamente com a comunidade pesquisada e exige que o pesquisador tenha um encontro mais direto, possibilitando as diversas interações dos entrevistados.

A pesquisa de campo qualitativa foi realizada com os alunos da Escola Estadual 29 de Julho, no município de Confresa/MT, entre os dias 25 de outubro de 2021 e 20 de dezembro de 2021, para observar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos alunos da Escola Estadual 29 de Julho durante o processo de ensino remoto forçado pela pandemia.

Ao longo da pesquisa, procurou-se entender a realidade dos alunos, segmentando-os por meio das semelhanças identificadas ao longo das aulas remotas, como facilidade e dificuldade, avaliação do ensino e aspectos motivadores e desestimulantes ao longo das aulas, caracterizando-os quanto ao nível escolar e à idade.

Posteriormente, para coleta direta de dados, foi elaborado e aplicado um questionário via formulário eletrônico (Google Forms), constituído por doze questões abertas e duas fechadas, conforme o Quadro 1.

Quadro 1: Formulário elaborado com perguntas objetivas e discursivas

Perguntas

Respostas

Qual o seu nível escolar?

1º Ano

2º Ano

3º Ano

Qual a sua idade?

14 anos

15 anos

16 anos

17 anos

18 anos ou mais

Qual aparelho tecnológico você utilizou para participar das aulas remotas?

Celular

Tablet

Computador

Qual internet você utilizou para ter acesso às aulas remotas?

Dados móveis

Fibra óptica

Outras

Em uma escala de 1 (nenhuma) a 5 (muita), como você considera suas dificuldades no ensino remoto para compreender conceitos da Biologia?

1

2

3

4

5

Entre os aspectos positivos do ensino remoto, ao seu ver, quais são mais relevantes?

Diversos canais de acesso aos conteúdos de Biologia.

Possibilidade de ver diferentes explicações com diferentes abordagens sobre o mesmo assunto.

Acessibilidade. Possibilidade de acompanhar o ensino de vários locais.

Outros.

Entre os desafios de estudar Biologia por meio do ensino remoto, ao seu ver, quais dificuldades estão sendo mais relevantes?

Perda de atenção ao longo das atividades remotas.

Dificuldade no uso dos canais de acesso.

Dificuldade de adaptação com a linguagem usada.

Com quais metodologias de ensino utilizadas pelo professor de Biologia você mais se identificou/aproveitou?

Videochamada (Meet, Zoom e outros).

Videoaulas em portais como o YouTube.

Leitura e resolução de listas de atividades remotas.

Outros.

No contexto pessoal, quais foram suas maiores dificuldades?

Indisponibilidade de internet na residência.

Falta de ambiente adequado para o estudo.

Dificuldade de aprender sozinho e dificuldades emocionais pela falta de interação.

Dificuldade em fixar horários para o estudo.

Outros.

Em relação à Biologia, quais foram suas maiores dificuldades para aprender de forma remota?

Ausência de aplicações práticas do conteúdo.

Dificuldade de interação professor-aluno para sanar dúvidas imediatamente.

No contexto geral do ensino de Biologia, classifique a qualidade da aprendizagem por meio do ensino remoto.

Ótima

Boa

Regular

Pouco interessante

Ruim

Nesse contexto de ensino remoto, em algum momento você pensou em desistir ou definitivamente abandonou os estudos?

Pensei em abandonar.

Apesar das dificuldades, tenho continuado.

Para mim foi indiferente.

Não tive dificuldades e por isso nunca pensei em desistir.

Você considera que aprendeu Biologia durante o período remoto da mesma forma que em aulas presenciais? Justifique sua resposta. 

Você considera que foi importante continuar estudando Biologia mesmo que de forma remota ou híbrida durante o período de pandemia? Justifique sua resposta.

No intuito de garantir o anonimato dos sujeitos da pesquisa, os nomes dos alunos foram substituídos por elementos alfanuméricos da seguinte forma: Aluno 1 (A1), Aluno 2 (A2), Aluno 3 (A3), e assim sucessivamente até Aluno 52 (A52).

Para a análise dos dados, após tabulação em gráficos (questões fechadas) e em duas categorias (questões abertas), foram realizadas reflexões e discussões com a fundamentação teórica que embasou o estudo. As categorias abertas foram: dificuldades enfrentadas para estudar de forma remota e importância de continuar estudando, mesmo que dessa maneira.

Resultados e discussões

Na aplicação do formulário, durante todo o período em que ficou aberto foram alcançadas 52 respostas, em um público de alunos do Ensino Médio regular da Escola Estadual 29 de Julho.

Os alunos estavam distribuídos em séries da seguinte forma: 14 do 1º ano, 11 do 2º ano e 27 alunos do 3º ano do Ensino Médio, em um universo estimado em 900 alunos matriculados em 2021. Percebe-se que 51,9% dos respondentes estão no final dessa fase escolar (3º ano). Sobre a idade: 22 alunos têm 18 anos ou mais, 17 têm 17 anos, nove têm 16 anos, dois têm 15 anos e outros dois têm 14 anos.

A caracterização da idade dos investigados demonstra que, em sua maioria, eles estão em nível escolar regular, pois as idades são compatíveis com os anos letivos de estudo. Os dados do público estudado são consideravelmente semelhantes aos da pesquisa de Médici, Tatto e Leão (2020), que entrevistou 101 alunos de escolas públicas dos municípios de Querência/MT e Vila Rica/MT, na mesma macrorregião (Norte Araguaia) de Confresa/MT.

Buscou-se caracterizar o meio de acesso às aulas; 33 deles utilizam o celular, 17 empregam o computador e apenas um deles o tablet, ou seja, a maioria dos alunos está acompanhando as aulas remotas por meio de celulares. Na discussão promovida por Joaquim (2016), um dos principais problemas do processo educativo por meios tecnológicos consiste na ausência desses recursos para classes sociais menos favorecidas.

Para Goldbach e Macedo (2007), os ambientes educacionais por meio das TD ainda são muito irregulares, devido às diversas possibilidades de uso e às adaptações que aluno e professor devem sofrer ao longo do processo.

Nesse sentido, os alunos foram investigados quanto à rede de internet que usam para acompanhar as aulas; 44 deles utilizam fibra óptica, quatro utilizam dados móveis e outros quatro responderam que empregam outras maneiras.

Dos investigados, 84,6% possuem disponibilidade de fibra óptica, o que é um meio de acesso de qualidade. Esses dados também são compatíveis com os dados de Médici, Tatto e Leão (2020), representando que os alunos da região possuem boa disponibilidade de internet.

Outra pergunta foi destinada a identificar o grau de dificuldade encontrado, numa escala de 1 a 5 em que 1 representa nenhuma dificuldade e 5, muita dificuldade. A nota 3 foi atribuída por 25 deles, nota 4 por 16, notas 1 e 2 por quatro alunos e nota 5 por outros três. Logo, foi encontrada uma média de 3,2, demonstrando que foram encontradas dificuldades ao longo do processo, resultado esse esperado e apresentado também por outros pesquisadores, como Andreza et al. (2020), em que maioria dos entrevistados encontrou dificuldades no processo de aprendizagem.

A resposta mediana também é compatível com o estudo de Médici, Tatto e Leão (2020), em que os alunos classificaram o ensino remoto como regular em sua maioria. Há que se interpretar aqui que a resposta dos alunos aponta os meios de ensino remoto como canal não ideal, tendo em vista as várias atuações das políticas públicas em defesa de um ensino de qualidade para todos (Brasil, 2017).

No entanto, os entrevistados também visualizaram aspectos positivos desse novo modelo de ensino: para 24, acompanhar os estudos de vários locais; 12, diversos canais com conteúdos de Biologia; 12, diferentes explicações; e 4 responderam outros aspectos.

As considerações dos alunos sustentam ideias compartilhadas por vários autores, como a Unesco (2012) e Lévy (2007). De fato, há um novo mundo de oportunidades por meio dos mecanismos de aprendizagem remota. Os trabalhos mencionados descrevem uma visão positivista da Educação a Distância; de fato esses pontos existem, tais como: proporciona um ambiente educacional aberto sem contenção de espaços físicos, abre fronteiras para levar a educação a novos espaços e progredir mais rapidamente; cria um ambiente de troca de saberes ilimitada, horizontal e em constante construção.

Esse fenômeno é o que Lévy (2007) chama de “inteligência coletiva”; além disso, o ambiente remoto contempla/alcança horizontes como o de pessoas com deficiências físicas de locomoção ou com algum distúrbio de aprendizagem que agora possuem à disposição diversos mecanismos para acesso ao conhecimento, todos sendo validados pela escola. Para tanto, há que se considerar também posicionamentos como o de Krasilchik (2004) no que se refere à seletividade do conteúdo. Para a autora, independente do ambiente de ensino, deve se ter cuidado com a apresentação de “conhecimentos desnecessários” e/ou “informações inúteis”.

O questionamento seguinte foi antagônico ao anterior, propondo a apresentação de principais desafios visualizados nesse processo; foram destacadas três dificuldades: 30, perda de atenção; 14, dificuldades com o uso dos canais; e 8, dificuldades de adaptação com a linguagem.

O resultado apresentado em partes contraria também a discussão proposta, embora esses aspectos positivos proporcionem abertura de fronteiras ao ensino. Esse avanço deve ser avaliado qualitativamente por estudos como este; afinal, expressa que o maior vilão pode ser a dificuldade de concentração ao longo das aulas remotas. Ao mesmo tempo que proporciona acessibilidade, o ambiente virtual traz também diversidade de informações sendo apresentadas concomitantemente, o que por ora pode roubar a atenção dos alunos.

Resultado semelhante também foi encontrado por Médici, Tatto e Leão (2020), em que alunos destacaram que o ambiente doméstico era desfavorável aos estudos e consideraram a figura do professor como essencial para indicar caminhos ao processo de aprendizagem. Esse posicionamento é reforçado por Krasilchik (2004), que apresenta o professor como figura filtro no sentido de evitar o desnecessário para que os alunos acessem a informação.

Na investigação de com quais metodologias usadas pelos professores os alunos mais se identificaram, vê-se que, para 63%, foram as webconferências; para 19%, leitura e resolução de listas de atividades; para 14%, videoaulas e para 4%, outras.

Dentre os vários meios usados pelos professores de Biologia, o que gerou melhor adaptação e aproveitamento foram as videochamadas (Meet, Zoom e outros), seguidas pela leitura de material e resolução de atividades e por videoaulas em portais como o YouTube, com resultados de 63,5%, 19,2% e 13,5%, respectivamente.

Esse resultado reforça a ideia discutida no questionamento anterior, sobre a necessidade de interação com a figura do professor, estabelecendo esse método como lugar de interação com espaço aberto e acompanhado para construção e consolidação do conhecimento. Quanto aos outros dois mecanismos, podemos notar proximidade entre eles, o que demonstra que ambos são representativos no que diz respeito ao auxílio à aprendizagem.

Percebe-se também uma tendência maior por meios que buscam criar regularidade no ensino. Por exemplo, as videochamadas costumam ter cronograma para acontecer, e as leituras físicas e realização de exercícios também exigem o cumprimento de cronograma. Para Alves et al. (2021), a ausência de regularidade é um dos principais desestimulantes do ensino remoto; logo, a pesquisa reforça esse resultado quando os alunos, embora com dificuldades, preferiram mecanismos que criam regularidade de cronograma de estudos.

Os alunos também foram perguntados quanto às dificuldades na aprendizagem de Biologia no ensino remoto, para apontamento de qual aspecto apresentou-se mais faltoso nas aulas. Para 67%, foi a dificuldade de interação com o professor para sanar dúvidas e para 33% a ausência de aplicações práticas do conteúdo.

Nesse contexto, os alunos apontaram como dificuldade a ausência de aplicações práticas dos conteúdos. Para Benedetti e Santos (2020), a aplicação de práticas pode provocar interesse nos alunos e contribuir de forma significante nos processos de aprendizagem.

Diante disso, percebe-se que o professor de Biologia possui grande desafio em agregar metodologias para os alunos. Somado a isso, o conhecimento de Biologia é um saber que a sociedade considera ser do cotidiano comum. Coelho, Silva e Pirovani (2020) relataram as dificuldades do ensino prático de Biologia em aulas remotas, mencionam que os alunos gostam dessa disciplina principalmente pela aplicação real e natural, porém em aulas remotas tornou-se muito complexo realizar assas aplicações.

O estudo de Coelho, Silva e Pirovani (2020) apresenta como possível caminho o uso de sites, softwares e outras aplicações de simuladores, o que pode aproximar o aluno da realidade promovendo o interesse pelo ensino e a fixação do conteúdo pelas interações com o meio externo (Lyra; Ribas, 2021).

Sobre como os alunos qualificavam o ensino recebido, 26 consideram regular, 12, pouco, 9, bom, 3, ótimo e 2, ruim. A maioria dos entrevistados pontuou entre regular e pouco interessante; o resultado é coerente com estudos realizados por Médici, Tatto e Leão (2020), em que a maioria dos alunos de Ensino Médio classificou o ensino remoto de forma semelhante. Para Cunha, Silva e Silva (2020), a desigualdade social afeta diretamente a qualidade do ensino. Muito embora os meios digitais tenham alto potencial, a falta de equipamentos que oportunizem acesso de qualidade limita o ensino remoto.

Para eles, embora a maioria dos alunos possua acesso a smartphones de boa qualidade, fatores externos, como o acesso à rede de celular e a uma internet de boa qualidade, dificultam o acesso ao ensino remoto. No entanto, essa realidade não se aplica ao estudo, pois há que se considerar que mais de 84% dos alunos possuem disponibilidade de internet por meio de fibra óptica, porém isso não tem sido convertido em qualidade de ensino.

Os alunos foram entrevistados também em relação a se pensaram em desistir do curso em algum momento, tendo o abandono como uma das opções. Foram 29 deles que pensaram em abandonar; 22 disseram que, apesar das dificuldades, continuaram; e apenas um afirmou ser indiferente.

É notório que para a maioria dos entrevistados o novo formato de ensino tem gerado muitos impactos negativos, sendo marcado até pelo abandono do ano letivo por alguns dos entrevistados. Esse resultado, aliado ao da qualidade do ensino, desperta no sistema educacional um alerta quanto ao futuro do sistema de aprendizagem, pois boa parte dos alunos está sendo impactada pelo novo formato.

Em outra pergunta, os entrevistados se dividiram entre falta de foco, ambiente inadequado e dificuldade de fixar horários como principais motivadores do continuo desinteresse. Para Freire (2006), o desenvolvimento de um sistema educacional funcional depende não só dos meios, mas do comprometimento social do todo, tanto da comunidade quanto dos indivíduos. A oportunidade de acesso a ensino com toda certeza é fundamental, não obstante é necessário haver toda uma política que torne o processo educacional relevante.

Esses resultados são coerentes com o entendimento de Miranda et al. (2020) no que diz respeito à criação de um ambiente de aprendizagem, muito além do que as nossas tecnologias capturam; na verdade, os fatos destacados pelos alunos como motivadores do desinteresse são resultado da falta de auxilio familiar e dificuldades de adaptações dos professores ao novo modelo (Sá; Lemos, 2020).

Na fase final do estudo, foram feitas duas perguntas abertas aos entrevistados. A primeira foi: você considera que no período remoto aprendeu Biologia da mesma forma que em aulas presenciais? Justifique sua resposta. Algumas respostas foram selecionadas:

Em certas partes sim, obviamente que não é a mesma coisa que estar nas aulas presenciais, mas dá pra aproveitar bastante (A8).

Não, pois a interação com o professor e os alunos ajuda bastante. E também o ambiente de casa nem sempre é adequado para o estudo e pode acabar tirando a atenção das aulas remotas (A12).

Sim. Pois, por estar distante, quer faça sol ou chuva as aulas sempre aconteceram. Então a gente teve mais conteúdo à disposição (A19).

Não, encontrei dificuldade em filtrar os conteúdos (A24).

Não, pois as aulas não me prendiam a atenção e eu sempre me distraía (A31).

Não, pois há pouco interesse tanto dos alunos quanto dos professores de elaborar suas próprias metodologias e corrigir o acúmulo de atividades passadas, pois, diferente do presencial, o professor não tem a interação com o aluno, coisa que desmotiva a gente como aluno (A44).

Não, é muito difícil manter a rotina de estudos sem as aulas (A50).

Há que se considerar que apenas duas pessoas consideraram a aprendizagem como igual, para todas as outras o ensino não foi o mesmo, destacando-se a falta ou o distanciamento do professor, dificuldade em selecionar conteúdos para o estudo e dificuldade de concentração ao longo das aulas. As considerações dos alunos em sua maioria são semelhantes aos autores, as respostas de A12 e A24 destacam a ausência física do professor como gerador de dificuldade, o que é conivente com Pagel (2015) e Sá e Lemos (2020), a figura física tanto para mitigar dúvidas quanto para filtrar conteúdo e projetar melhores mecanismos é fundamental no processo de aprendizagem.

A resposta de A44 chama a atenção para uma demanda presente por adequação; esta também é a contribuição de Gusso et al. (2020): é necessário que todos os indivíduos do processo entendam que não se trata de um ensino presencial sendo aplicado por meio de recursos tecnológicos, o ensino remoto é um novo mecanismo educacional que está sendo estruturado e demanda construção de caminhos e adaptação dos indivíduos.

As respostas de A8 e A19 destacam sobremodo o desejo pela contínua construção dos conhecimentos, embora em um novo ambiente. Defendido por Gusso et al. (2020), o pensamento das respostas de A8 e A31 norteiam-se pela manutenção das atividades e pelo melhoramento continuo da experiência de ensino remoto.

O outro questionamento aberto foi: você considera que foi importante continuar estudando Biologia, mesmo que de forma remota ou híbrida, durante o período da pandemia? Justifique sua resposta. Algumas respostas foram selecionadas:

Sim, acabamos aprendendo coisas novas sobre o que estamos vivendo (A8).

Sim, mas é muito difícil de manter (A13).

Sim, essa matéria é importante assim como as outras (A15).

Sim. Porém devem ser criados outros métodos para que o aluno possa ter mais vínculo com os professores (A29).

Sim. Interessante, pois a pandemia mostrou que precisamos entender Biologia para saber como lidar com o vírus (A38).

Sim, pensando sempre em dar o meu melhor e tentar aprender, ainda que com alguns paradigmas (A40).

Sim, com certeza, afinal se não tivesse as aulas online muito alunos teriam ficado prejudicados no final do ano letivo (A51).

Primeiramente, deve ser observado que todos os entrevistados, apesar da dificuldade notada ao longo da entrevista, descrevem como importante a continuidade do ensino ao longo da pandemia. No entanto, chama a atenção nas entrevistas a especificidade do tema Biologia, tendo em vistas as respostas considerando o ensino da disciplina um importante meio de comunicação e informação sobre a pandemia.

No mais, são apontadas demandas de métodos mais interativos e relacionais dentro do ambiente de aulas remotas, que permitam aos alunos manter o foco nas aulas. Existe também demanda constante pela capacitação dos professores para esse novo mecanismo de ensino (Santos et al., 2021; Miranda et al., 2020; Médici; Tatto; Leão, 2020).

A percepção ao longo dos diálogos qualitativos está nas ênfases diante da situação nunca vivenciada. O ensino de Biologia permitiu entender um pouco mais a realidade que estava sendo vivenciada. Essa discussão traz à tona o papel fundamental tanto da educação quanto dos meios de comunicação, de levar continuamente informação e conhecimento apesar das circunstâncias (Gusso et al, 2020).

Considerações finais

A pandemia no sistema educativo brasileiro trouxe impactos em sua maioria negativos promovidos pelo novo modelo de ensino, pois, embora a maioria dos alunos entrevistados possua meios de qualidade para participar das aulas, principalmente celulares com conexão por fibra óptica, isso não resultou em qualidade na manutenção dos estudos.

O uso das TD para promover a comunicação entre as pessoas tem revolucionado o mundo no momento presente; os novos métodos de ensino estão a todo tempo sendo estudados, buscando caracterizar os impactos a fim de definir estratégias que mitiguem impactos negativos. Este estudo possibilitou analisar as principais dificuldades enfrentadas por alunos do Ensino Médio da Escola Estadual 29 de Julho, de Confresa/MT, para estudar Biologia no cenário provocado pela covid-19.

Ao longo do estudo, foi possível inferir que os alunos preferem principalmente acompanhar as aulas por videochamadas, independente do canal de acesso; eles relataram as principais dificuldades enfrentadas para estudar de forma remota. Como considerado ao longo do estudo, o fator dificuldade gera contínuo desinteresse pelo novo processo educativo, promovendo o pensamento de abandono das aulas, o que para alguns alunos tornou-se realidade ao longo do ano letivo.

O estudo também permitiu constatar a importância de continuar estudando, mesmo que de maneira remota ou híbrida. Isso tudo possibilitou caracterizar esses impactos para o ensino dentro um público local, buscando conhecer os fatos para um assunto especifico, no caso o ensino de Biologia. É possível perceber também que essa escolha é devida principalmente à necessidade de interação aluno-professor ao longo das aulas, tendo o professor como ferramenta essencial no processo.

Antagonicamente a isso, apresentam-se como importantes dificuldades a ausência do professor, a dificuldade em selecionar conteúdos, a dificuldade em organizar horários de estudo e, como principal fator, a dificuldade de concentração ao longo das aulas, promovida por muitos aspectos, como a falta de ambiente adequado e o excesso de conteúdo disponível na internet, tanto para o ensino quanto em rede sociais e outros.

Nesse cenário, o estudo permite-nos trazer algumas possíveis soluções, como aumentar a interação via meios de ensino remotos e buscar mecanismos para manter a atenção dos alunos. Além disso, é necessário entender que as aulas remotas ocorreram na ausência de outras opções, mas que, com o retorno progressivo das aulas convencionais, as aulas remotas devem assumir papel complementar no sistema educacional e que todo o conjunto deve ser pensado para gerar um sistema de maior qualidade e com eficiência complementar.

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Publicado em 07 de maio de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

TORRES, Inês de Souza; LEÃO, Marcelo Franco. Dificuldades de aprendizagem de alunos do Ensino Médio de uma escola pública mato-grossense durante a pandemia. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 15, 7 de maio de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/15/dificuldades-de-aprendizagem-de-alunos-do-ensino-medio-de-uma-escola-publica-mato-grossense-durante-a-pandemia

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