Educação Infantil: construir ou desconstruir suas multifaces

Jonalda Maria Zeni

Especialista em Educação Infantil (Faculdade São Luís)

Mario Marcos Lopes

Professor tutor da Faculdade de Educação São Luís, docente do Centro Universitário Barão de Mauá e da rede municipal de Ribeirão Preto

Este artigo surgiu do interesse de compreender as práticas pedagógicas propostas na Educação Infantil, questionando se elas orientam para a construção do conhecimento. A educação atual nos faz refletir sobre a forma de inserir o aluno na escola e na sociedade para que construa a sua identidade. A escola e a família necessitam de um olhar para esse sujeito, observando as suas necessidades e buscando que ele desenvolva a sua autonomia, tornando-se um cidadão ativo.

A pesquisa reflete sobre a importância do processo de ensino-aprendizagem, a partir de novas possibilidades para cada perfil de criança. Além de discorrer a respeito do brincar, com esse olhar mais aprofundado para a Educação Infantil, ela reflete a respeito da comunicação e da oralidade presentes na escola. É importante que os professores busquem conhecer as crianças, o que pensam e como vivem. Assim, podem agir com segurança, orientando-os na construção do conhecimento.

A infância e os caminhos da Educação Infantil

A educação é um direito do ser humano. A Educação Infantil também passa a ser um direito de toda criança. Então, toda criança necessita se desenvolver por meio da escola na busca pelo conhecimento para se constituir um sujeito social. A Educação Infantil precisa ser pensada pelos profissionais que nela atuam, a fim de promover atividades que de fato favoreçam à aprendizagem, ressaltando a importância do desenvolvimento integral da criança na observação de suas especificidades, assim como da forma como aprende.

Trata-se do processo mediante se põe em andamento as potencialidades dos seres humanos. As aprendizagens que incorporamos fazem-nos mudar condutas, de maneiras de agir, de maneiras de responder, e são produto da educação que outros indivíduos da nossa sociedade, planejaram e organizaram (Bassedas; Huguet; Solé, 1999, p. 21).

Na contemporaneidade, tudo muda rapidamente e a infância continua se reinventando. Constroem-se e desconstroem-se pensamentos, porém, com rupturas, pois nem sempre há uma continuidade. Na Educação Infantil, podem ser oferecidas atividades para as crianças que valorizem a coletividade, além de atividades que tragam para a infância a Arte, a Literatura, o Cinema e a própria cultura do brincar, tão recentemente esquecida devido à pandemia. Cabe aos professores construir uma prática pedagógica com práticas de infância.

Os profissionais da escola precisam organizar sua intervenção para ajudar as crianças sentir-se à vontade e para favorecer o seu desenvolvimento e sua aprendizagem. O tempo de aprender e o tempo de viver não estão separados e, em todo momento, a criança cresce e aprende graças a ação educativa das pessoas que a envolvem e às experiências que tem no seu contexto (Bassedas; Huguet; Solé, 1999, p. 100).

A prática pedagógica na Educação Infantil exige atenção e responsabilidade por parte do professor. Ser comprometido com a sua prática é estar consciente de que a criança será conduzida por ele. As crianças necessitam interagir entre si. É necessário estimulá-la, mostrando a ela que é possível aprender, descobrindo suas habilidades e capacidades, especialmente pelo brincar. Observando por diferentes perspectivas o atendimento às crianças, constamos os desafios do mundo atual e entendemos a necessidade de um bom planejamento, a fim de favorecer e fortalecer o seu aprendizado. Pensar e criar propostas pedagógicas inovadoras fazem com que a criança aprecie e manifeste interesse pela pesquisa e pelo conhecimento. Conforme Santos (2006, p. 13),

para ajudar a criança no seu desenvolvimento buscamos compreender sua natureza, e nessa busca encontramos o brincar como uma necessidade básica que surge muito cedo nela. A brincadeira é considerada a primeira conduta inteligente do ser humano; ela aparece logo que a criança nasce e é de natureza sensório-motora. Isso significa que o primeiro brinquedo são os dedos e seus movimentos, que observados pela criança constituem a origem mais remota do jogo.

É importante destacar que nas práticas pedagógicas adotadas no cotidiano da Educação Infantil é essencial pensar na produção de materiais que contribuam para o processo de aprendizagem. Também, projetar espaços e ambientes apropriados para que as crianças consigam interagir, com a participação de todas. Interessante criar também cenários diferentes que promovam o encantamento dos pequenos. Segundo Horn (2017, p. 18), “no espaço, situam-se os aspectos mais objetivos, enquanto no ambiente situam-se os mais subjetivos. Nesse sentido, não se considera somente o meio físico ou material, mas também as interações produzidas nesse meio”. Etapas da rotina e situações diárias de aprendizagem podem ser compartilhadas com as crianças, considerando que as atividades básicas têm um caráter pedagógico e as situações de aprendizagem sempre têm um caráter objetivo. Observar as crianças brincando e como elas brincam é um movimento básico do educador, pois ele deve atentar para a elaboração e a execução dessas atividades, a partir desse feedback, considerando que as crianças têm suas especificidades, seus ritmos e maneiras diferentes de aprender. Horn (2017, p. 20) destaca:

A forma como organizamos os espaços será decisiva, pois, quanto mais esse espaço for desafiador e promover atividades conjuntas entre parceiros, quanto mais permitir que as crianças se descentrem da figura do adulto, mais fortemente se constituirá como propulsor de novas e significativas aprendizagens.

É importante a formação constante dos profissionais da Educação para que consigam desenvolver situações de aprendizagem relevantes às crianças. O educador, ao orientar, deve estar consciente de que constrói comportamentos, de que é um formador de opinião, pois toda criança está em processo e observa para reproduzir. A formação profissional também pode ser o embasamento que o capacita a olhar para as crianças, a fim de perceber seus modos de ser e suas interações. Assim, poderá entender se as situações de aprendizagem alcançam os objetivos propostos. Não podemos esquecer que todas as atividades necessitam ser pedagógicas. Desse modo, pensar sobre a própria prática pedagógica, como se trabalha e como se cria possibilidades novas de aprendizagem, é um dever do educador.

A criança necessita ser estimulada para ser protagonista de suas ações. Fazê-la descobrir seu potencial e autonomia é um exercício cotidiano. O professor tem a incumbência de orientar seu aluno para ampliar seu protagonismo, direcionando-o ao autodesenvolvimento e a uma aprendizagem ampliada. Para Horn (2007, p. 31),

podemos afirmar que o protagonismo infantil é uma ação compartilhada entre professores, criança, conhecimento, espaço e tempo. Nessa ação, em diferentes momentos, alguns desses elementos podem se destacar sobre os outros, porém, todos se enlaçam de modo indissolúvel.

Ao buscar a construção do conhecimento com possibilidades diversas e pensando no protagonismo das crianças, destacamos a importância do brincar como atividade pedagógica. Enquanto a criança brinca, ela estimula a sua criatividade, a imaginação e aprende de maneira lúdica e prazerosa. No brincar infantil, a criança se socializa e constrói conhecimento, faz uso da linguagem e do faz de conta. Nesse espaço, o brincar favorece toda a aprendizagem. Sabemos que o lúdico é um componente significativo no processo de ensino para a criança, proporcionando que amadureça suas habilidades e descubra suas competências. De acordo com Moyles (2002, p. 62),

as crianças usam a linguagem em suas brincadeiras a maior parte do tempo, mesmo quando conversam consigo mesmas ou com seus brinquedos! Um contexto específico, e às vezes subestimado, para o desenvolvimento da linguagem, da habilidade e competência comunicacionais é a área do brincar do faz de conta, que frequentemente é acompanhado por complexas interações linguísticas.

Entendemos que o brincar é educativo, pois concilia o prazer com aprendizados diversos. Na infância, ocorrem as interações com o mundo e, nesse contexto, a criança vive aprendizagens significativas, quando há a compreensão de que elas estão presentes no seu dia a dia.

Na Educação Infantil, é importante trabalhar a comunicação das crianças. Para isso, o professor as estimula a ouvir, pois quem ouve aprende a linguagem e interage. Um exercício que exige empenho do professor é o favorecimento dessa linguagem oral, pois ela necessita ser aprendida desde cedo. Ouvir coordenar o pensamento à fala e à futura escrita, possibilitando a experimentação do discurso pela criança. Assim, a comunicação sempre se inicia pelo contato com o outro. É, portanto, imprescindível desenvolver atitudes que possam ajudá-la, desde cedo, a expandir a sua capacidade de expressar-se oralmente. Como educadores, revisitar métodos de aprimoramento oral por intermédio da contação e recontação de histórias é aprender a ouvir para comunicar-se de forma adequada.

O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil aponta que “a linguagem oral possibilita comunicar ideias, pensamentos e intenções [...], influenciar o outro e estabelecer relações interpessoais; [...] é por meio do diálogo que a comunicação acontece” (Brasil, 1999, p. 120). As crianças aprendem a se expressar quando consideram a sua vez para falar e a vez de fala do outro, respeitando a todos os colegas. Ao professor, cabe educar seus alunos para esse exercício de escuta e fala em sala de aula. A fala das crianças é desenvolvida no dia a dia e a escola é o espaço para essa prática.

Segundo Banell (2013, p. 72), “na medida que a interação está mediada por atos para se alcançar um entendimento, o agir comunicativo oferece a possibilidade de coordenar as ações”. Entendemos que a escola é um espaço importante para que a criança aprenda a socializar-se com os colegas e descubra-se um sujeito de ação. O professor, como mediador, deve conduzir as crianças para situações de respeito, quando há trocas de saberes, procurando ouvir a respeito do que a criança traz de casa, potencializando suas ações no diálogo, o que é um desafio para os educadores contemporâneos.

Conclusão

O presente estudo teve como proposição a reflexão sobre a Educação Infantil e suas multifaces. A partir de investigações e questionamentos, voltamos aos objetivos propostos para desenvolver a pesquisa e alcançamos algumas respostas dessas indagações. Para isso, estudamos pesquisadores que pensaram a infância, suas evoluções, construções e desconstruções.

A criança necessita de conhecimento, mas para desenvolvê-lo em habilidades e competências, precisa ser bem orientada para a conquista de sua autonomia. Cabe aos educadores infantis, oferecer atividades lúdicas que estimulem a criança para o seu amplo e pleno desenvolvimento. Assim, ao aprender brincando, com propostas educativas prazerosas e cativantes, as crianças produzem conhecimentos significativos.

A escola, por meio das práticas pedagógicas efetivas, reinventa cotidianamente o exercício na Educação Infantil, estimulando a criança a ser protagonista de suas ações, quando descobre, quando fantasia, quando interage ou explora. O brincar é um componente importante para esse seu aprender. Ao socializar-se por meio da escuta ativa do outro, aprende a estar no mundo e a fazer uso da oralidade.

A criança, como ser social inserido no mundo, necessita organizar-se para as práticas sociais com a oferta de uma diversidade de atividades. Por meio delas, ela reinventa, constrói e desconstrói modelos, pois brincar para a criança é sinônimo de aprender.

Referências

BANELL, Ralph Ings. Habermas & educação. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

BASSEDAS, Eulália; HUGUET, Teresa: SOLÉ, Isabel. Aprender e ensinar na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1999.

BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular para Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1999.

HORN, Maria da Graça Souza. Brincar e interagir nos espaços da escola infantil. Porto Alegre: Penso, 2017.

MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2002.

SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedo e infância: um guia para pais e educadores em creche. 8ª ed. Petrópolis: Vozes, 2006.

Publicado em 07 de maio de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

ZENI, Jonalda Maria; LOPES, Mario Marcos. Educação Infantil: construir ou desconstruir suas multifaces. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 15, 7 de maio de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/15/educacao-infantil-construir-ou-desconstruir-suas-multifaces

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.