Interdisciplinaridade em pauta: um relato de vivência de Língua Inglesa e Artes nos anos finais do Ensino Fundamental

Taise Maria Marchiori Soares

Mestra em Teorias do Texto e do Discurso (UFRGS), especialista em Metodologia do Ensino de Inglês como Língua Estrangeira, licenciada em Letras (PUCRS/UFRGS)

Amanda Farias Teski de Oliveira

Neuropsicopedagoga, especialista em Metodologia do Ensino de Inglês como Língua Estrangeira, mestranda em Ensino de Ciências e Saúde (Nutes/UFRJ)

O ensino de línguas tem se desenvolvido consideravelmente nas décadas mais recentes, com novas perspectivas e abordagens e pontos de vista inovadores. No âmbito escolar, muito se tem a dizer sobre as mudanças na forma como as gerações mais atuais têm sido expostas aos idiomas estrangeiros, principalmente se comparadas com as práticas de tradução que eram exercidas no passado. Já houve época em que aprender uma língua envolvia apenas exercícios escritos, em que frases descontextualizadas eram traduzidas da língua materna para a língua estrangeira e vice-versa, e o principal objetivo das aulas eram práticas de estruturas gramaticais e ampliação de vocabulário.  Pouca ou nenhuma importância era atribuída à fala, à entonação, a usos e registros, a aspectos conversacionais.

Com o tempo e com as contribuições da Linguística e da Educação, novas abordagens ganharam terreno, e, com elas, a visão dos objetivos que se pretende alcançar em sala de aula mudou. Se, por um lado, ainda temos um longo caminho a percorrer, principalmente no que tange ao ensino de Inglês no âmbito escolar, por outro percebe-se que as novas abordagens de ensino de línguas, mais especificamente de Língua Inglesa, têm munido os professores com ferramentas que os embasam para preparação de aulas mais abrangentes e que contemplam mais habilidades.

É nesse cenário que a abordagem CLILvem contribuindo com o ensino de Língua Inglesa nas escolas brasileiras. A sigla conjuga as iniciais de Content and Language Integrated Learning, ou seja, Aprendizado Integrado de Língua e Conteúdo, abordagem criada por David Marsh e Do Coyle na década de 1990, vislumbrando interdisciplinaridade, foco no desenvolvimento de habilidades e competências em aulas que não são de uma língua, mas de outras disciplinas, e nas quais o conteúdo é ministrado em uma língua que não a primeira do aluno, tendo a visão de que o aluno desenvolve habilidades que antes não faziam parte do escopo de aulas conduzidas em língua estrangeira, como pensamento crítico, colaboração e criatividade.

Assim, o objetivo do presente estudo é compartilhar vivências de sala de aula no âmbito do Ensino Fundamental, mais precisamente em turmas do 9º ano, em que os alunos foram conduzidos a pensar o que é Arte, quais suas novas formas, e até mesmo quais as fronteiras no sentido de refletir no que é esperado de uma obra para que ela seja considerada artística ou não. Durante as aulas, conduzidas em língua inglesa, os alunos foram expostos a formas tradicionais e novas modalidades de produções artísticas, foram questionados sobre o que é importante para que se produza beleza, e se ela é fundamental para a arte; aprenderam sobre ângulos e linhas na criação de perspectiva e sobre o uso de cores em obras visuais. Além disso, a proposta contemplou a criação de obras artísticas pelos alunos e sua posterior exposição no espaço escolar.

Para tanto, o presente relato revisita, na próxima seção, os princípios e metodologia da abordagem CLIL para, em seguida, cotejar com os requisitos da BNCC para os objetivos das aulas de Língua Inglesa no contexto escolar da Educação Básica, mas especificamente nos anos finais do Ensino Fundamental. Por fim, traz o relato das práticas em sala de aula, contemplando todos os estágios, até o momento da exposição das obras criadas pelos alunos. Espera-se, assim, que o diálogo interdisciplinar estabelecido com vistas à expressão subjetiva dos alunos por meio da arte possa ficar evidenciado como possibilidade de aprendizado significativo e ativo que pode ser colocado em prática nas salas de aula de Língua Inglesa.

A abordagem CLIL

A abordagem CLIL – Content and Language Integrated Learning tem como princípios a ideia de que uma língua é utilizada tanto para aprender quanto para fins comunicativos e a ideia de que é o tema a ser estudado que determina o tipo de linguagem necessária. O objetivo é “desenvolver proficiência nas duas línguas, mediante o ensino de conteúdo não na, mas com e por meio da língua estrangeira” (Harrop, 2012, p. 57, tradução nossa). Uma aula nessa abordagem não é uma aula de língua, tampouco é uma aula sobre um conteúdo transmitida em uma língua estrangeira. De acordo com o currículo dos 4C (Harrop, 2012; Coyle, 2004), uma aula com êxito combinará conteúdo, comunicação, cognição e cultura.

Em relação a conteúdo, trata-se de uma progressão de conhecimento, habilidades e compreensão relacionados a elementos específicos e definidos de certo currículo. A comunicação se relaciona ao uso da língua para aprender enquanto se aprende a utilizar a língua. A cognição diz respeito ao desenvolvimento de habilidades de pensamento que conectam a formação de conceitos (abstratos e concretos) à compreensão e à linguagem. Por fim, a cultura fala sobre a exposição dos educandos a perspectivas alternativas e compreensões compartilhadas, ampliando a consciência da alteridade e de si mesmos.

Assim sendo, uma lição nessa abordagem observa a língua e o conteúdo em igual medida; geralmente segue um plano de quatro estágios:

  • processamento do texto: os textos são acompanhados de ilustrações para que os alunos visualizem o que estão aprendendo. Quando o aprendizado ocorre em uma segunda língua, os estudantes precisam de marcadores estruturais nos textos que os ajudam a se orientar. Podem ser linguísticos (títulos e subtítulos) e/ou diagramas;
  • identificação e organização do conhecimento: os textos são frequentemente apresentados em formas diagramais (“ideational frameworks” ou “diagramas de pensamento”) e são utilizados para ajudar os alunos a categorizar ideias e informações;
  • identificação linguística: espera-se que os alunos sejam capazes de reproduzir a ideia central do texto em suas próprias palavras;
  • tarefa: uma variedade de tarefas é colocada à disposição dos alunos, levando em conta o objetivo do aprendizado. São exemplos de tarefas: ouvir e dar títulos a diagramas/imagens/mapas/tabelas; ouvir e preencher uma tabela; ouvir e fazer anotações sobre informações específicas, atividades com lacunas informacionais, pesquisas, jogos de palavras e outras.

Resta ainda ressaltar que a abordagem CLIL baseia-se nos quatro pilares da Unesco para a Educação, elaborados em 1999 pelo professor francês Jacques Delors, que determinam o que não pode faltar na sala de aula: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

De forma breve e resumida, pode-se dizer que os alunos precisam ser autônomos na sua busca por conhecimentos; é por meio de experimentação que os conhecimentos são fixados; é preciso viver e conviver com a diversidade, criar laços afetivos, fortalecer a empatia e respeitar o próximo, e é na escola que o professor mediará as interações para garantir que cada um tenha oportunidades de aprender com o outro; por fim, cabe à escola oportunizar aos alunos desde a infância a busca pela própria personalidade, evitando padrões de comportamento absolutos, proporcionando visões críticas e expressão do próprio potencial.

No contexto brasileiro, a abordagem CLIL tem muito a oferecer ao ensino, uma vez que ela, de acordo com Alencar (2016, p. 43-44),

vem sendo praticada nas duas últimas décadas com efeitos positivos para o aprendizado de línguas adicionais, como mostram diversos estudos (Korosidou; Grava, 2012; Lasagbaster, 2008; Zydatiss, 2007 apud Korosidou; Grava, 2014, p. 216) tanto para a faixa etária infantil quanto com a de adultos (Comissão Europeia, 2006 apud Korosidou; Grava, 2014, p. 216). Entre os benefícios do uso da AECL, pesquisas (por exemplo Brewster, 1999, Marsh; Langé, 1999, apud Korosidou: Grava, 2014, p. 217) mostram que eles vão desde o desenvolvimento das habilidades linguísticas e cognitivas até o aumento da motivação e participação ativa no processo de aprendizagem, assim como a confiança no uso da língua alvo.

Ainda que a abordagem CLIL não seja ainda amplamente aplicada nas escolas brasileiras, percebe-se ela propicia benefícios que vão muito além dos objetivos linguísticos de aprender uma língua, como o presente recorte busca evidenciar nas próximas seções.

Vivenciando arte através do inglês e inglês através da arte na sala de aula

De acordo com os pressupostos da abordagem CLIL, o contexto de sala de aula torna-se palco para a atuação ativa e protagonista dos alunos, ao propiciar oportunidades de interação, reflexão e expressão da subjetividade por parte dos educandos. É nessa perspectiva que o projeto denominado Is This Art se desenvolveu em duas turmas de 9º ano do Ensino Fundamental em uma escola privada na cidade de Macaé, no litoral norte do Rio de Janeiro. As aulas têm frequência de três encontros por semana, com 50 minutos cada.

Os conteúdos abordados acerca da temática Arte foram desenvolvidos durante as aulas de Língua Inglesa e estavam organizados no material a que os alunos têm acesso, no magazine Is this Art? e que deu nome ao projeto. Na capa, a imagem da consagrada Mona Lisa, porém em uma nova configuração, com fones de ouvido, óculos de sol, roupas parecidas com as preferidas dos adolescentes atuais e um pano de fundo repleto de plantas e cores que não constavam no quadro original de Da Vinci, levanta curiosidade e reflexão propícias à postura de abertura a novos aprendizados tão desejados e necessários ao contexto educacional. No momento da introdução ao tema do magazine, perguntas foram levantadas aos alunos para que eles eliciassem conhecimento prévio sobre a obra, bem como para levá-los a questionar as mudanças percebidas por eles na Figura 1.

Figura 1: Capa do magazine Is it Art?

Durante as aulas, os conteúdos desenvolvidos relacionaram as artes às nossas vidas, arte e emoções, a evolução da música popular, o nascimento de novas formas de arte, como a arte digital, instalações artísticas, moda, arte pop, os movimentos do impressionismo e pós-impressionismo, a belle époque, ângulos e linhas na formação da perspectiva utilizada em desenhos e pinturas e formas de expressar opiniões sobre obras de arte.

Como forma de complementação, foram propiciados alguns momentos de visita virtual a museus na sala de aula, além de debate sobre o papel da arte nas nossas vidas. Todas as opiniões foram bem-vindas e aceitas, pois um dos pressupostos da metodologia é a livre expressão da subjetividade, além da ideia de que a opinião dos colegas, mesmo que divergente, deve ser respeitada.

Torna-se importante ressaltar ainda que importantes pesquisadores brasileiros têm se debruçado sobre a prática interdisciplinar entre Artes e outras disciplinas, observando os benefícios de fazer arte na escola, os estímulos que esse fazer podem propiciar, como o ganho de significado. A obra de Ana Amélia Tavares Bastos Barbosa, O ensino das artes e de inglês: uma experiência interdisciplinar (2007), é, nesse cenário, um importante ponto de referência, pois traz relatos e orientações práticas que podem oferecer novas perspectivas para muitos professores que almejam criar aulas motivadoras e significativas.

Resultados

Partindo da ideia de que resultados no âmbito educativo abrangem muito mais do que uma produção final materializada na forma de um trabalho ou de respostas a uma prova, podemos listar alguns fatos que demonstram objetivos alcançados que são da ordem do intangível. Assim é que podem ser elencados, para fins do presente estudo, o fato de alunos perceberem que quadros com temáticas mais tristes utilizam cores mais sóbrias e escuras ou sobre como é difícil para o artista conseguir captar as sutilezas de luz e sombra ou ainda de reproduzir o olhar humano. Também é importante observar que uma das turmas levantou a questão de o futebol ser ou não uma arte, momento em que os alunos, de forma espontânea, trouxeram argumentos tanto contra quanto a favor. Esse debate torna-se interessante de ser mencionado na medida em que não estava previsto e se deu pelo interesse do grupo em questão pelo esporte, tendo sido levantados pontos bastante informados sobre o assunto, além, claro, de evidenciar o protagonismo por parte dos educandos. Da mesma forma, a vivência suscitou um momento em que os alunos tomaram a iniciativa de mostrar à professora o que conheciam sobre arte digital em relação a altos valores monetários praticados atualmente na comercialização de figuras originais criadas digitalmente. Tal momento evidencia a troca de aprendizados, uma vez que se torna bem clara a noção de que alunos também podem partilhar seus conhecimentos em sala de aula, já que o professor não é a única fonte de saber.

Outro fato que não escapou à observação foi que os alunos escolheram livremente uma forma de expressão artística, e sua escolha foi motivada por gostos pessoais. Alguns alunos produziram fotografias; outros, pinturas, artesanato, poesia e até mesmo uma pequena instalação que foi possível montar na sala de aula, ressignificando materiais que, uma vez justapostos e combinados, produziram novos efeitos de sentido. Assim, um globo terrestre, um lápis, um copo d’água e um livro, cada um separadamente, têm significado utilitário e visivelmente compartilhado por todos. Juntos, porém, como os componentes do grupo explicaram, se revestiram de um novo significado segundo certa reconfiguração física experimentada pelos alunos: no centro da instalação, o globo, e sob ele, o livro, com um lápis e o copo d’água colocados próximos e compondo uma só unidade. A obra recebeu um título: A essência. Nas palavras do grupo, a instalação representa tudo o que é realmente necessário e não pode faltar: o suporte físico para a vida e a diversidade (planeta Terra), a água, que é vital, e o conhecimento, passado de geração a geração (livro), com o lápis representando as ferramentas para a escrita do futuro. Essa apresentação, bem como todas as outras, ocorreu em língua inglesa.

Foi possível perceber que alguns alunos fizeram suas releituras de personagens de anime, gênero atualmente bastante apreciado pelos adolescentes em revistas de mangás. As releituras se deram por meio de desenho e pintura, juntamente com alguns comentários, durante as aulas, sobre a falta de realismo da maioria dos personagens, que, em sua maioria, têm características orientais, já que são originários de países como Coreia e Japão, porém com traços perceptivelmente ocidentais, como olhos arredondados. Nesse momento, fica evidente que se buscou uma visão crítica e franca do gênero. Segundo alguns alunos, mesmo sabendo dessas características, “os fãs vão continuar gostando e comprando mangás, porque as histórias são legais”.

Figura 2: Recriação em desenho de personagem de anime

Em relação aos trabalhos artísticos produzidos pelos alunos, foi possível perceber certa preferência pela pintura e desenho, com representações de rostos, formas geométricas e paisagens. Alguns alunos apresentaram trabalhos de artesanato, como bolsas feitas de crochê. Por outro lado, ao contrário do que se esperava, houve apenas uma produção de imagem com a utilização de técnicas de arte digital. Uma surpresa foi a produção de um poema em inglês, que foi lido pela aluna-autora para seus colegas, intitulado My Light, reproduzido aqui em parte para fins de ilustração.

My light in my river of loneliness
My sunshine
Tomorrow will be brighter with you around
But when today is dark
I can only bow my head
I see a little more to the future 
Because you look at me

Trecho traduzido para o português (versão nossa):

Minha luz no meu rio de solidão
Meu raio de sol
O amanhã será mais brilhante comigo por perto
Mas quando hoje está escuro
Só posso curvar minha cabeça
Vejo um pouco mais do futuro
Porque você olha para mim

Houve também um grupo que confeccionou uma espada a partir de um pedaço de metal que outrora fora parte de um suporte de janela; os alunos apresentaram seu artefato artístico vestidos com roupas que remetiam a períodos medievais. Durante a apresentação, falaram sobre a importância da espada Excalibur, sobre os valores de honra e lealdade que estavam relacionados ao imaginário das histórias do Rei Arthur e sobre o poder mágico da espada que, uma vez fincada na rocha, só poderia ser retirada pelo seu legítimo dono. Aqui, percebe-se a interdisciplinaridade em relação à História e à Literatura, pois o grupo precisou fazer um resgate histórico de uma das lendas mais conhecidas da história medieval da Grã-Bretanha, a lenda do Rei Arthur, cujos valores de nobreza e caráter desempenham papel primordial em toda a trama. Além disso, cabe ressaltar a presença de temas contemporâneos transversais propostos na BNCC, como multiculturalismo, cidadania e civismo, sobretudo no momento em que o grupo respondeu à questão sobre o porquê da escolha da espada e da lenda, com o argumento de que a espada representa a força e a ferramenta para as lutas atuais, que devem ser travadas não pela força, mas com honra e dignidade.

Figura 3: Pintura com recriação de arte impressionista

As vivências relatadas demonstram que diálogos entre Arte e Língua Inglesa podem ser significativos na medida em que movimentam saberes, proporcionam momentos de troca e de colaboração, oferecem contato com novos conhecimentos e realidades, além, claro, de serem palco de expressão da subjetividade de jovens, principalmente em momentos especiais como o atualmente vivido, com seus desafios e mudanças. Também foi possível perceber que os alunos se tornaram mais conscientes da possibilidade de serem eles próprios autores de obras artísticas, uma vez que perceberam que a arte é uma linguagem constituída para a expressão de sentimentos e emoções, na qual valores como beleza, detalhes, cores, linhas, ângulos e nuances são a base para emergência da subjetividade. Por outro lado, percebe-se que os objetivos da aula segundo a proposta CLIL foram atendidos, na medida em que foi possível ampliar habilidades dos alunos na língua inglesa mediante os conteúdos e as práticas ligados ao mundo da arte, assim como suas habilidades críticas e reflexivas.

Figura 4: Pintura original com predominância de cores quentes

Há momentos em que os alunos se mostram um pouco inseguros em relação ao uso da língua inglesa nas apresentações ou com receio de errar. Porém, ressalta-se, quanto a isso, que um dos princípios da abordagem CLIL é que o foco da produção oral não está na accuracy (precisão), já que ela é vista como subordinada à fluência. Durante o projeto, os alunos foram estimulados a utilizar certos vocábulos e estruturas próprias ao tema que estava sendo desenvolvido. Assim, valorizou-se a presença desses vocábulos e estruturas nas apresentações, aliando-se a isso a técnica de scaffolding (andaime), como aqueles utilizados na construção civil. Na prática, o professor oferece suporte gradativo ao aluno para que ele seja capaz de desempenhar uma tarefa, como fragmentar certa tarefa em partes, ou verbalizar processos cognitivos ou sugestões.

Há que se considerar ainda a importância do papel do professor nesse contexto, não mais de transferência de um saber absoluto e completo, mas de compartilhamento de vivências e, sobretudo, de motivação dos educandos frente aos desafios de se colocar como sujeitos em uma nova língua, de se apropriar dos modos de falar e de se reconhecer através deles, de perceber novas perspectivas de ver o mundo. A tarefa não é fácil e nem sempre se consegue encantar o aluno adolescente. Ressalta-se, sobre isso, que

não basta hoje ter competência linguística somente para ensinar uma língua estrangeira ou uma segunda língua. O professor deve ser preparado para, além de lecionar “a” língua e “na” língua, ser um pesquisador de sua prática pedagógica. Idealmente, esse professor deve ser capacitado a investigar também as questões sociais e psicológicas que envolvem sua prática (Salgado et al., 2009, p. 4).

Figura 5: Representação em giz de cera de Personagem de jogos online

A abordagem CLIL torna-se uma ferramenta especial para embasar a prática pedagógica, uma vez que as lições partem do conhecimento prévio dos alunos para que, em um ambiente em que eles se sintam seguros, possam ampliá-lo ainda mais. Uma vez que um dos papéis do professor é proporcionar experiências que tornem a aprendizagem significativa, Arte torna-se um campo bastante produtivo e engajador para os jovens, cheio de possibilidades para expressão subjetiva.

Espera-se que o presente estudo possa oferecer contribuições para fazeres pedagógicos ativos e estimulantes para alcançar gerações que precisam ser ouvidas e, sobretudo, compreendidas.

Figura 6: Arte digital

Conclusões

Ao buscarmos formas de dar significado ao mundo e de fazer com que nossos educandos criem ferramentas para tal, podemos verificar que a convergência interdisciplinar entre arte e linguagem se mostra exitosa e motivadora. Além de fazer os alunos se apropriarem da Língua 2, tal vivência coloca em foco que a sala de aula pode ser o local de expressão da subjetividade, da busca por si mesmo e pela compreensão da visão de mundo do outro e pelo respeito às formas de expressão diferentes. Foi possível perceber a abordagem CLIL na prática, por meio da integração de conteúdo artístico e linguagem, com objetivos que visam benefícios cognitivos e emocionais em uma faixa etária que traz consigo desafios, dúvidas e questionamentos. O presente recorte se coloca como um relato que, mais do que se mostrar pronto e acabado, se pretende parte de um diálogo em que fazeres se entrecruzam, se questionam e se complementam.

Referências

ALENCAR, J. G. Abordagem de ensino de Língua Inglesa por meio de conteúdos e formação de professores: apropriações, possibilidades e limitações. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2016.

BARBOSA, Ana Amália Tavares Bastos. O ensino das artes e de inglês: uma experiência interdisciplinar. São Paulo: Cortez, 2007.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua estrangeira. Brasília: MEC, 1998.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.

COYLE, Do. Supporting students in content and language integrated contexts: planning for effective classrooms. In: MASIH, John (ed.). Learning through a foreign language: models, methods and outcomes. 6ª ed. London: CILT, 2004.

COYLE, Do; HOOD, Phillip; MARSH, David. CLIL: Content and Language Integrated Learning. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

DELORS, J. et al. Educação, um tesouro a descobrir. Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Brasília: MEC/Unesco, 1999.

HARROP, Ena. Content and Language Integrated Learning (CLIL): Limitations and possibilities. Encontro – Revista de Investigación e Innovación en la Clase de Idiomas, Londres, v. 21, p. 57-70, 2012.

KRASHEN, S. Principles and practices in second language acquisition. California: Pergamon Press, 1982.

MARSH, David. Language Awareness and CLIL. In: CENOZ, Jasone; HORNBERGER, Nancy H. (eds.). Encyclopedia of Language and Education. v. 6: Knowledge about Language. New York: Springer, 2008.

SALGADO, Ana Claudia Peters et al. Formação de professores para a educação bilíngue: desafios e perspectivas. In: IX CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (EDUCERE), 2009. Anais... Curitiba: Champagnat, 2009.

SCHOFIELD, Fernanda Porto; SIQUEIRA. Is this Art? São Paulo: International School, 2020.

Publicado em 21 de maio de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

SOARES, Taise Maria Marchiori; OLIVEIRA, Amanda Farias Teski de. Interdisciplinaridade em pauta: um relato de vivência de Língua Inglesa e Artes nos anos finais do Ensino Fundamental. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 17, 21 de maio de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/16/interdisciplinaridade-em-pauta-um-relato-de-vivencia-de-lingua-inglesa-e-artes-nos-anos-finais-do-ensino-fundamental

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