TIC na educação para a construção do comum: a inclusão é um caminho sem volta

Laís Chrystina da Silva Firmino

Especialista em Docência para Educação Profissional e Tecnológica, pós-graduada em Prescrição Farmacêutica, graduada em Farmácia

Maria Natália dos Santos Braz

Técnica em Análises Clínicas na Educação Profissional e Tecnológica

Luana Gabriele dos Santos Silva Henriques

Licenciada em Biologia

Damião Diego Ribeiro da Silva Firmino

Licenciado em Educação Física

O ensino híbrido é uma modalidade de ensino que une o ensino presencial, em que o processo de ensino-aprendizagem ocorre em sala de aula, e o ensino on-line, que necessita da utilização de tecnologias digitais para ser promovido. Contudo, apesar das soluções encontradas, o domínio técnico das plataformas digitais nunca foi tão necessário para viabilizar o trabalho das instituições de ensino, o que requer dos professores formação continuada devido à exigência de mudanças abruptas em sua metodologia de ensino e em seu fazer pedagógico.

Diante dessa nova realidade, o Governo do Estado da Paraíba, pela Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia (Seetec) ofertou o curso Ensino Híbrido na Prática Escolar, com carga horária de 20 horas, na modalidade a distância, oportunizando a aprendizagem do professor em diversas metodologias. Entretanto, os desafios da era digital também estão presentes na realidade dos estudantes, que tentam com seus próprios recursos e dentro de suas próprias casas, com o uso de equipamentos pessoais disponíveis à realidade de cada um, acessar as atividades e os conteúdos propostos nas plataformas digitais. Além disso, o ensino remoto escancara as desigualdades de oportunidades, especialmente para estudantes com diferentes deficiências, visto que grande parte das atividades a distância, sobretudo durante o ensino remoto, não atendem satisfatoriamente às necessidades desses sujeitos.

É importante ressaltar que cada estudante é único e que necessita de formas específicas para apropriação do conhecimento, o que configura a necessidade de ambientes virtuais variados que possam dialogar e possibilitar a todos a inclusão e o direito à educação a partir de meios que tornem o ensino verdadeiramente eficaz, para que a escola, em vez de segregar, implante uma educação de qualidade objetivando o sucesso de todos os que estão sob a sua incumbência.

Nessa perspectiva, o presente projeto objetivou aplicar os mais variados recursos de tecnologias da informação e comunicação (TIC) para manter os estudantes dentro de um contexto efetivo de aprendizagem durante a pandemia do novo coronavírus conforme as reais necessidades e contextos específicos de cada um, oferecendo oportunidades igualitárias de aprendizagem, tornando as aulas legíveis, interativas, livres de preconceito e valorizando e reconhecendo as diferenças, garantindo dessa forma o direito de todos à educação.

Justificativa

Com o surgimento da pandemia e posteriormente a implantação do ensino remoto, as instituições de ensino buscaram novas estratégias para continuar ofertando seus serviços à população, o que exigiu abruptamente mudanças no cenário metodológico de ensino e no fazer pedagógico do(a) professor(a).

Considerando essas necessidades, o domínio sobre as TIC e a velocidade para operar esses dispositivos e elementos tornaram-se desafios impostos tanto aos professores quanto aos estudantes, que tentam, a seu modo, acessar os conteúdos e atividades nas plataformas digitais.

No dia a dia do professor, é possível observar que grande parte das atividades desenvolvidas à distância durante a pandemia não atende satisfatoriamente todos os sujeitos, tornando a educação mais limitada e escancarando as desigualdades de oportunidades, especialmente para os estudantes que apresentam necessidade de acesso às tecnologias assistivas.

Refletindo sobre essa problemática, como educador, é preciso se questionar: como adaptar minhas atividades pedagógicas no ensino à distância para que facilitem a aprendizagem do estudante, eliminando as barreias de acesso dos mesmos ao ensino?

Respondendo a esse questionamento e para redimensionar a visão tradicional do sistema de ensino no Ensino Médio integral e sobretudo nas escolas técnicas, contemplando a diversidade presente na escola e conhecimentos acerca das necessidades educacionais especiais de cada estudante, seja ele dependente de atendimento educacional especializado (AEE) ou não, este projeto de intervenção, TIC na educação para a construção do comum: a inclusão é um caminho sem volta,ressalta a importância da formação continuada e do empenho do docente para promover uma educação de qualidade e que atenda às reais necessidades de cada estudante.

Para esse fim, com o apoio oferecido pelo Governo do Estado da Paraíba, para a oferta do curso Ensino Híbrido na Prática Escolar e com o apoio da disciplina Práticas Inclusivas na Educação Profissional e Tecnológica, ofertada pelo Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) na especialização em Docência para a Educação Profissional e Tecnológica, utilizei as TIC com o intuito de ampliar a mobilidade, comunicação e habilidades de aprendizado com recursos de tecnologia assistiva (TA) associados ao nível de letramento digital dos estudantes e que oferte espaços em que o conhecimento possa ser circulado, com maiores acessos e mais horizontalidade.

As TIC estão sendo aplicadas em todas as aulas com atividades criativas, lúdicas e inclusivas facilitando o aprendizado do estudante que apresenta deficiência auditiva (perda parcial ou total da audição), condicionando a aprendizagem do aluno com cegueira total ou grau severo de deficiência visual, oportunizando a aprendizagem do aluno com deficiência mental e descobrindo e explorando as “eficiências” das pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação.

A execução deste projeto tem anelado sentimentos diversos de satisfação e pertencimento, tornando a Educação Inclusiva um desafio possível de ser alcançado por meio de práticas educativas que se adéquem à realidade de todos os estudantes, com recursos metodológicos que possibilitem que todos aprendam juntos, sejam quais forem as suas dificuldades, uma vez que o ato de educar se centra na diferenciação curricular que tenha como atenção principal o estilo e o ritmo de aprendizagem de cada estudante.

Objetivos

Utilizar as tecnologias de informação e comunicação (TIC) na promoção da inclusão, da igualdade social e de oportunidades de aprendizagem que garantam o direito de todos à educação.

Para atingir esse objetivo e traçar o diagnóstico de proficiência para os descritores elencados no presente projeto de intervenção, estão os seguintes objetivos específicos:

  • Aplicar novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) para tornar o ensino verdadeiramente eficaz para todos os estudantes;
  • Implantar uma educação adequada, cujo objetivo seja o sucesso de todos;
  • Reconhecer e valorizar as diferenças, evitando a segregação e promovendo a inclusão de todos os estudantes;
  • Estimular o interesse dos estudantes com atividades criativas, lúdicas e inclusivas, melhorando seu rendimento e evitando a evasão escolar;
  • Adotar tradução do português para a Libras, facilitando o aprendizado do aluno portador de deficiência auditiva (perda parcial ou total da audição);
  • Adotar audiodescrição nas atividades e textos complementares, facilitando a aprendizagem do aluno com cegueira total ou grau severos de deficiência visual;
  • Aplicar metodologias de ensino com recursos diversificados, trazendo aos conteúdos um significado prático e instrumental, oportunizando a aprendizagem do aluno portador de deficiência mental;
  • Manter as atividades no nível das capacidades do estudante, com a aplicação de desafios gradativos, descobrindo e explorando as “eficiências” das pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação;
  • Promover um ensino de qualidade e verdadeiramente eficaz com um programa educativo que respeite o estudante enquanto sujeito, na promoção da inclusão e igualdade social e de oportunidades.

Desenvolvimento

A adaptação curricular para desenvolver este projeto pedagógico de intervenção, que vem tendo efetividade na disciplina empreendedora Intervenção Comunitária (IC), iniciou com a análise do conteúdo trabalhado pela docente para todos os estudantes; essa análise permitiu identificar que as reais dificuldades não se apresentavam nos conteúdos abordados, mas sim na necessidade de acesso e participação com um modelo de educação verdadeiramente emancipatório e igualitário.

Educar é criar espaços onde o conhecimento possa circular, onde todos os envolvidos sejam educandos e educadores; logo, separar estudantes ou propor tarefas exclusivas para um único aluno é bloquear a ideia de pertencimento, é limitar o estudante quanto à sua vivência, é excludente e favorece o isolamento. Assim, é de fundamental importância que a escola respeite a jornada de aprendizagem dos discentes com uma proposta pedagógica curricular (PPC) com ensino de qualidade, que não categoriza os alunos em grupos arbitrariamente definidos por perfis de aproveitamento escolar e por avaliações padronizadas, que não admitem a dicotomia entre educação regular e especial.

Para alcançar esse fim, as TIC funcionam como ferramentas colaboradoras para a PPC, construindo escolas para todos, em que todos os alunos estudam juntos em salas de aulas do ensino regular, executam atividades e utilizam ferramentas didáticas com elementos que contemplem a diversidade que nos cerca, não ignorando as diferenças e não as tratando de maneira que devam ser ocultadas, mas sim reconhecendo que todas as pessoas que aprendem são sujeitos e precisam ser respeitadas como sujeitos.

Coelho Neto et al. (2011, p. 989) afirmam que

o uso dos recursos midiáticos, tais como sítios e softwares educacionais, como meio auxiliador nos processos de ensino e de aprendizagem é bastante estimulante, tendo que ser planejado e direcionado para o seu bom uso. Entendê-los e dominá-los é o primeiro passo para utilizá-los com sucesso.

Assim, foi estabelecida a utilização de aplicativos, programas e sites que possam ser empregados aproveitando todo o potencial das TIC com ambientes educativos que desafiam as possibilidades de aprendizagem de todos os alunos e as estratégias de trabalho pedagógico são adequadas às habilidades e às necessidades de todos.

As TIC estão sendo aplicadas de forma assíncrona a partir de videoaulas, oportunizando que as aulas sejam acompanhadas pelo estudante independente do horário ou local; essa metodologia fortalece o modelo de sala de aula invertida e da metodologia ativa com módulos on-line que podem ser acessados sem o acompanhamento simultâneo do professor. De forma concomitante, durante as aulas síncronas, a professora realiza o acompanhamento simultâneo em tempo real para manter o grupo em sintonia e evitar situações nas quais os estudantes não consigam acompanhar o estudo sozinhos.

As videoaulas possuem caráter lúdico, com atividades criativas e inclusivas, criação de Avatar (Figura 1) como auxílio docente animado (ADA), audiodescrição para todas as imagens elencadas durante a disciplina, legenda e tradução do português para a Libras (Figura 2).

Figura 1: Avatar da professora desenvolvido no aplicativo Zepeto, ferramenta de auxílio docente animado (ADA)

Figura 2: Aula assíncrona com recurso de legenda e tradução do português para a Libras

A ADA deve fortalecer o papel do ambiente virtual, propiciando um guia interativo para que docentes possam realizar tarefas em que antes possuíam dificuldades. Essa ferramenta foi avaliada em termos de eficácia com usuários reais utilizando técnicas bem estabelecidas de usabilidade, evidenciando seu benefício aos usuários do Moodle (Freitas; Paiva, 2020).

Para promover a inclusão do aluno com cegueira total ou grau severo de deficiência visual, adotou-se a prática de audiodescrição para todas as imagens elencadas durante a disciplina, inclusive para a descrição do Avatar, que se apresenta da seguinte forma: “Audiodescrição: a imagem apresenta o Avatar da professora Laís. A professora Laís tem cabelos longos e pretos, sua pele é negra, seus olhos são castanhos, suas sobrancelhas são finas, seu nariz é achatado, seus lábios são finos, usa óculos de grau. Laís está usando um blazer vermelho com blusa social de gola rente ao corpo”.

Além do recurso de audiodescrição, todas as aulas assíncronas apresentam legenda e tradução do português para Libras (Figura 2). As legendas são inseridas automaticamente pelo site Veed.IO (Video Editing, 2021). O recurso de tradução do português para Libras se dá pelo aplicativo Hand Talk, disponível para os sistemas Android e iOS.

O maior desafio é adaptar as atividades para qualquer estudante; então optou-se por atividades que facilitam a detecção da compreensão do conteúdo abordado e que o mesmo método possa ser utilizado por todos.

Ao adaptar atividades para qualquer estudante, diversos passos devem ser seguidos, mas o mais importante deles é a comunicação com os usuários, com sujeitos deficientes e com profissionais que atuam na AEE. Assim, procuramos conversar com esses indivíduos, apresentar a proposta de intervenção para não corrermos o risco de perder a oportunidade de conhecer e de vivenciar as experiências que cada estudante oferece ao coletivo e para que cada vez mais estejamos familiarizados, realizando a construção de pontes para um entendimento mais profundo, ampliação da mobilidade e promovendo uma educação de qualidade com a construção do que é comum a todos, de forma não segregativa e sim inclusiva.

Entre exemplos de atividades desenvolvidas estão: jogo da memória (Figura 3), caça-palavras (Figura 4), construção de textos baseada em digitação ou leitor de voz (Figura 5) e múltipla escolha (Figura 6). Outras atividades com proposta inclusiva serão desenvolvidas no decorrer da disciplina.

Figura 3: Atividade sobre comunidade: jogo da memória com recurso de audiodescrição para as imagens

Figura 4: Atividade Intervenção Comunitária: caça-palavras com recurso de audiodescrição para as palavras encontradas

Figura 5: Construção de texto utilizando recursos de digitação ou leitor de voz

Figura 6: Atividade de múltipla escola com recurso de audiodescrição

A associação de atividades lúdicas à metodologia elencada fortalece as observações de João Serapião de Aguiar (2004), que retrata a atividade lúdica como meio de fornecer ao estudante um ambiente agradável, motivador, planejado e enriquecido, que possibilita a aprendizagem de várias habilidades. Ainda segundo esse autor, entre os aspectos para implantação de uma escola inclusiva um se refere à metodologia de ensino baseada em jogos como um dos recursos mais eficazes de combate às atitudes discriminatórias, criando comunidades integradas, solidárias e abertas, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos (Aguiar, 2004).

Dentro dessa perspectiva, elaborar aulas e atividades e diagnosticar as escalas de proficiência para os descritores elencados ocorrem de maneira comum a todos os estudantes, indiscriminadamente, propiciando uma educação apropriada e de qualidade que independe do talento, de sua deficiência, de sua origem socioeconômica e cultura, promovendo inclusão e igualdade social e de oportunidades de aprendizagem que garantam o direito de todos à educação.

Resultados

Para discutir os resultados, foi realizado um questionário com o levantamento de perguntas sobre a proposta de intervenção e sobre a apropriação do conhecimento dos discentes com relação ás ferramentas utilizadas. O questionário on-line foi proposto utilizando ferramenta do Google Forms aos estudantes que se dispuseram a responder.

As perguntas do questionário foram de vários tipos: (a) Escala, para escolher um ponto de uma gradação (evitando respostas sim ou não); (b) Múltipla escolha, para escolher uma alternativa; (c) Abertas, com espaço para escrever a resposta (inserir opinião sobre o uso das TIC e sobre o projeto, a motivação quanto à aprendizagem a partir de jogos inclusivos etc.); (d) Marcação de vários itens, para escolher várias respostas ao mesmo tempo.

Os resultados podem servir para uma discussão preliminar sobre pontos de contato entre TIC na web e a sala de aula inclusiva.

Dos 90 estudantes regularmente matriculados na disciplina, 53 responderam ao formulário, o que resultou nos seguintes resultados comentados a seguir com base em gráficos que ajudarão na visualização das informações.

Quando perguntados se conheciam a utilização de TIC na educação antes da disciplina de Intervenção Comunitária (IC), 86,8% dos estudantes responderam que não (Gráfico 1).

Gráfico 1: Conhecimento a respeito da utilização de TIC

Como naquele momento a educação encontrava-se em ensino hibrido, em que as TIC eram ferramentas utilizadas para a continuidade das aulas remotas, a maioria dos estudantes responder que “não conhece as TIC” reforça a importância de trabalhar a linguagem do modelo durante as aulas, que método está sendo utilizado e qual a sua finalidade.

A importância da promoção de aulas e atividades que contemplem uma educação igualitária fica evidente no Gráfico 2. Segundo os dados coletados, 84,9% dos participantes consideram muito importante a promoção de aulas e atividades que contemplem uma educação igualitária acerca das necessidades educacionais especiais de cada estudante.

Gráfico 2: Importância da promoção de aulas e atividades igualitárias

O Gráfico 3 revela a importância da formação continuada em relação ao uso de TIC e à reflexão sobre tecnologias na educação; de acordo os dados coletados, 81,1% dos participantes sentem-se mais interessados por atividades que envolvam as TIC na proposta.

Gráfico 3: Interesse dos estudantes por atividades que envolvam as TIC

Também é possível concluir que os recursos e tecnologias, quando utilizados de forma adequada, facilitam a aprendizagem, visto que, quando questionados a respeito (Gráfico 4), 88,7% dos estudantes afirmam que os recursos utilizados pela professora na disciplina IC facilitam o entendimento dos conteúdos abordados; dessa maneira, podemos inferir que melhores resultados na educação podem ser alcançados quando utilizados recursos que agradam, motivam e facilitam a aprendizagem do estudante.

Gráfico 4: A utilização de TIC facilita o entendimento

E o que os discentes pensam a respeito da relação das TIC elencadas na disciplina para o entendimento dos descritores de Língua Portuguesa e Matemática? Para a maioria, recursos tecnológicos como audiodescrição, tradução do português para Libras, podcast e descrição de imagens sempre fortalecem o entendimento desses descritores (Gráfico 5).

Gráfico 5: Compreensão dos descritores de Língua Portuguesa e Matemática elencados no projeto

Quando questionados se os recursos utilizados pela professora promovem inclusão de estudantes que apresentam necessidade de tecnologias assistivas, 100% dos respondentes afirmaram que sim (Gráfico 6).

Gráfico 6: Inclusão de estudantes que necessitam de tecnologias assistivas com o projeto

É importante salientar que uma pesquisa quantitativa trabalha aspectos mais gerais dos dados coletados; as questões abertas abordam qualitativamente a execução do projeto de forma mais específica. Refletindo sobre o assunto, é importante um questionamento: o uso de jogos virtuais, como caça-palavras, palavras cruzadas, forca e outros, motiva o estudante a socializar conhecimento durante as aulas? Os respondentes, de forma discursiva, esclarecem esse questionamento na Figura 7.

Figura 7: Print screen do formulário no Google Forms acerca das atividades propostas e sua relação com a socialização do conhecimento

Qual sua opinião sobre o projeto que vem sendo desenvolvido pela professora sobre a utilização de TIC na garantia de igualdade social e de oportunidades de aprendizagem? Algumas das respostas dadas pelos respondentes a essa questão estão apresentadas na Figura 8.

Figura 8: Print screen do formulário no Google Forms quanto à opinião dos estudantes acerca do projeto TIC na Educação para a Construção do Comum: a Inclusão é um Caminho sem Volta

Um refrão muito conhecido por educadores é de que as tecnologias sozinhas não mudam muita coisa, mas se apropriar, fazer uso dessas ferramentas, como está evidenciado neste espaço de discussão, modifica as operações na escola e fora dela.

O interesse nas questões abordadas reforça a necessidade do letramento digital no mundo contemporâneo. Há também a premissa de que tecnologias digitais podem melhorar o ensino, dinamizar aulas, animar estudantes e professores e interessar uma geração supostamente menos atenta às aulas. Quando se trata da educação, é para todos, uma educação inclusiva, que permite a partilha das leituras do mundo por parte de cada estudante, visto que indivíduos diferentes possibilitam observar o mundo de maneiras diferentes, sob uma nova perspectiva, e essa aplicação, de forma inclusiva e igualitária, destaca o pensamento freiriano, que dá lugar a uma educação em que o educar não é transferir conhecimento e esperar que se reproduza em uma prova, mas sim que é necessário articular esse conhecimento com a realidade local e com a realidade de cada estudante, a fim de respeitá-lo enquanto sujeito na promoção da inclusão e igualdade social e de oportunidades de aprendizagem que garantam o direito de todos à educação.

Conclusão

O projeto TIC na Educação para a Construção do Comum: a Inclusão é um Caminho sem Volta valoriza a diversidade existente na sala de aula; assim, podemos estimar que essa valorização resultará em uma geração de adultos bem diferente da nossa, que tem de se empenhar tanto para defender uma educação igualitária que vem sendo muito contestada pelo caráter ameaçador de toda e qualquer mudança, especialmente no meio educacional.

É importante ressaltar que essas mudanças implicam um redimensionamento do papel da inclusão escolar em um mundo que vem evoluindo em bytes; essas mudanças também denunciam e escancaram o abismo das desigualdades de oportunidades, especialmente para estudantes com diferentes deficiências e que estão em atividades educacionais durante o ensino híbrido, visto que grande parte das atividades a distância não atende satisfatoriamente às necessidades desses sujeitos.

Essa realidade configura a necessidade de ambientes virtuais variados que possam dialogar e possibilitar a todos a inclusão e o direito à educação com base em meios para que o ensino seja realmente eficaz e para que a escola, em vez de segregar, implante uma educação de qualidade.

Assim sendo, o futuro da Educação Inclusiva depende de uma expansão rápida de projetos verdadeiramente emancipatórios que tenham o compromisso de transformar a escola para adequá-la aos novos tempos. A experiência local com o projeto apresentado tem sido suficiente para enfrentar o poder da máquina educacional, velha e enferrujada, com segurança e tranquilidade a partir do uso de TIC para um ensino inclusivo, animador e alentador para a educação.

A escola é de toda criança, de toda família e de toda a comunidade em que se insere; desse modo, o caminho para a inclusão é um caminho sem volta, que permite a partilha das leituras do mundo e a construção do mundo partilhado, o qual é defendido pelo pensamento freiriano; é o pensamento freiriano que me mantém ética e me permitiu criar esse projeto pedagógico que estimo aplicar como adaptação ou flexibilização curricular para as demais disciplinas, criando espaços onde o conhecimento possa ser circulado de forma “comum” e que independa do talento, da deficiência ou da origem socioeconômica e cultura e, acima de tudo, objetive a construção de um conhecimento que transforme a realidade com respeito por um futuro com melhores acessos e mais horizontalidade.

Referências

AGUIAR, João Serapião de. Educação inclusiva: jogos para o ensino de conceitos. São Paulo: Papirus, 2004.

BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Matrizes de referência de Língua Portuguesa e matemática do SAEB: referência do ano de 2001. Brasília: INEP, 2020.

BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). ENEM - matriz de referência. Brasília: INEP, 2013.

BRASIL. Ministério da Educação. IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. ECIT Professor Lordão. Brasília, s/d. Disponível em: http://idebescola.inep.gov.br/ideb/escola/dadosEscola/25043277. Acesso em: 20 set. 2021.

COELHO NETO, João et al. O uso das TIC na formação de professores de escolas que obtiveram baixo IDEB. In: BRAZILIAN SYMPOSIUM ON COMPUTERS IN EDUCATION (SIMPÓSIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO-SBIE). Anais... 2012.

FREITAS, Isabella M.; PAIVA, Sofia L. Costa. ADA: avatar animado para o Moodle como auxílio docente. In: XXXI SIMPÓSIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO. Anais... SBC, 2020. p. 722-731.

Publicado em 21 de maio de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

FIRMINO, Laís Chrystina da Silva; BRAZ, Maria Natália dos Santos; HENRIQUES, Luana Gabriele dos Santos Silva; FIRMINO, Damião Diego Ribeiro da Silva. TIC na educação para a construção do comum: a inclusão é um caminho sem volta. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 17, 21 de maio de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/17/tic-na-educacao-para-a-construcao-do-comum-a-inclusao-e-um-caminho-sem-volta

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