Semeando Artistas: a contribuição de Ciências Naturais e Artes Visuais no processo de alfabetização

Joana Lúcia Alexandre de Freitas de Freitas

Professora titular de Prática de Ensino no Curso de Pedagogia (Faceli/UFSM), doutora em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde (UFSM)

Mithely de Jesus Sousa Torezani

Psicopedagoga

Tainara de Souza Martins

Professora na FaculMinas, pós-graduanda em Alfabetização e letramento

Mostrar para crianças livros sem gravuras é como expor uma paisagem sem vida e uma janela sem cor. A ilustração desperta emoção, sentimentos e deixa a mente viva e curiosa. É pela imaginação e pela fantasia que o livro infantil extrapola limites e faz com que os seus personagens voem, atravessem paredes, desçam ao fundo do mar e vivenciem aventuras num mundo fantástico (Barbieri, 2012).

Dentre as paisagens coloridas que se tornam cinzas está a transição entre Educação Infantil e Ensino Fundamental. Entende-se que essa progressão pode causar grandes modificações na vida da criança, visto que na primeira etapa da Educação Básica ela está totalmente inserida num ambiente lúdico, em que o brincar é o principal método de aprendizagem. Já no Ensino Fundamental esse brincar dá lugar a atividades mais estruturadas e desafiadoras, em que família e escola passam a se preocupar com notas e rendimentos, cobrando resultados sempre maiores dos estudantes, tornando-se cada vez mais formal e menos lúdico (Barbato, 2008).

A alfabetização se torna leve quando o lúdico é utilizado constantemente, fazendo com que os conteúdos programáticos sejam introduzidos gradativamente, tornando o ensino mais prazeroso (Soares, 2004). O objetivo principal desta sequência didática foi intervir no processo de alfabetização e letramento por meio da construção de um livro coletivo e interdisciplinar entre Ciências e Artes Visuais. Diante dessa premissa, procurou-se ensinar fazendo uso de um processo criativo, interdisciplinarizando Ciências Naturais com Artes Visuais.

Alfabetização científica

Dentre os vários conceitos de alfabetização científica, destacamos a narrativa de Hurd (1998, p. 47), a qual destaca que “a alfabetização científica envolve a produção e utilização da Ciência na vida do homem, provocando mudanças revolucionárias na Ciência com dimensões na democracia, no progresso social e nas necessidades de adaptação do ser humano”.

Segundo Santos (2007), as características de uma pessoa cientificamente instruída não são ensinadas diretamente; estão embutidas no currículo escolar, em que os alunos são chamados a solucionar problemas, a realizar investigações, a desenvolver projetos, a usar laboratório, experiências e aula de campo. Essas atividades são compreendidas como preparação para o exercício da cidadania.

O ensino precisa partir de atividades problematizadoras fazendo com que o aluno consiga relacionar os temas com a realidade individual (Vygotsky, 1995). Desse modo, ele precisa acontecer de forma que o estudante compreenda que faz parte do meio e, quando cientificamente alfabetizado, ele aprende a questionar (Santos, 2007).

Paulo Freire (2005) concebe a alfabetização como um processo que permite conexões entre o mundo em que a pessoa vive e a palavra escrita. Ela é tida como a capacidade de ler e interpretar o mundo que a rodeia; já a alfabetização cientifica procura fornecer conhecimentos suficientes para explicar fenômenos e resolver problemas à sua volta (Santos, 2007).

O uso das Ciências Naturais e das Artes Visuais no processo de alfabetização

O processo de alfabetização e letramento permite que sejam utilizados durante seu desenvolvimento diversos artifícios, como jogos alfabéticos, brincadeiras, gêneros textuais e músicas, entre outros. É importante que o professor esteja atento para que as atividades elaboradas despertem na criança a curiosidade e o gosto por aprender, de modo que decodificar letras, sílabas e palavras seja tão prazeroso quanto, brincar, pintar e pular (Soares, 2004).

Segundo Barbato (2008, p. 31), “no interesse de conhecer o mundo que a cerca, a criança muitas vezes fala alto para se regular e regular o andamento da atividade que está desenvolvendo, desencadeando aspectos do lúdico em favor do aprendizado”; dessa forma, o autor ressalta que o estudante no seu processo de alfabetização é ativo e isso implica estabelecer relação com o ambiente. Afinal, ensinar não se configura unicamente em transmitir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção, de modo que “educador e educando aprendam e ensinem numa dinâmica dialógica e transformadora na consciência de si com o mundo” (Freire, 2011, p. 88).

A interdisciplinaridade também pode ser um método para facilitar essa etapa. Se utilizada com intencionalidade, poderá se tornar atraente para o aluno, e a aprendizagem resultante ocorrerá por intermédio de outro panorama (Thiesen, 2008). Como exemplo, podemos citar a relação feita com os conteúdos de Ciências Naturais, Arte e alfabetização.

Ao trabalhar conteúdos de Ciências Naturais, os alunos buscam informações nas suas pesquisas, registram observações, anotam e quantificam dados. Portanto, utilizam conhecimentos relacionados às áreas de Língua Portuguesa, Matemática e outras, dependendo do estudo em questão; Thiesen (2008, p. 98) afirma que

quanto mais interdisciplinar for o trabalho docente, quanto maiores forem as relações conceituais estabelecidas entre as diferentes ciências, quanto mais problematizantes, estimuladores, desafiantes e dialéticos forem os métodos de ensino, maior será a possibilidade de apreensão do mundo pelos sujeitos que aprendem.

O desenho que antecede o código escrito e muitas vezes é utilizado como conteúdo na disciplina de Artes proporciona à criança a autonomia de se comunicar e representar, de modo particular, o que está à sua volta, conforme seus conhecimentos. Widlöcher (1971, p. 77) assinala que “historicamente a escrita nasceu de um encontro entre a coisa desenhada e a palavra”. Portanto, ao colorir, experimentar as cores, fazer linhas, o estudante se prepara para decodificar o código escrito, pois aquilo que ela representa no papel tem sentido e significado, assim como as palavras escritas; portanto, o escrever torna-se ato de desenhar e o ato de desenhar também se torna escrita.

Metodologia

A pesquisa Semeando Artistas foi realizada em Linhares, município do interior do Estado do Espírito Santo, durante as aulas de Arte no turno da manhã de uma Escola Municipal de Ensino Fundamental, com 34 alunos do 1º ano. Durante a realização da sequência didática, contamos com o auxílio direto da professora de Artes e indireto de funcionários da instituição que colaboraram na organização dos alunos.

Esta pesquisa classifica-se como relato de experiência. Como técnica de coleta de dados, adotamos a observação participativa e o diário de bordo. Conforme a proposta de Bardin (2006, p. 95), analisou-se o conteúdo das figuras dos alunos participantes para compor o livro interdisciplinar com Artes e Ciências; para tanto, o trabalho dividiu-se em três etapas: I - Pré-análise; II - Corpus da pesquisa; e III -  Tratamento de resultado, inferência e interpretação.

A pré-análise é a fase de organização propriamente dita. Corresponde a um período de intuições, mas tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise [...]. A exploração do material [...] consiste essencialmente de operações de codificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente formuladas. A terceira fase diz respeito ao tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Para maior rigor, esses resultados são submetidos a provas estatísticas, assim como a testes de validação. O analista, tendo à sua disposição resultados significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos objetivos previstos ou que digam respeito a outras descobertas inesperadas (Bardin, 2006, p. 95; 101).

As atividades foram aplicadas em duas turmas: 1º ano A e 1º ano B respectivamente com 20 estudantes e a segunda composta por 14 alunos. Para a realização das atividades foram utilizadas, em cada turma, duas aulas de 50 minutos, totalizando quatro aulas ou 200 minutos.

A escolha dos alunos nessa etapa de ensino deu-se pelo fato de eles se encontrarem no início do processo de aquisição da leitura e escrita. Para realizar a produção literária, foi enviada aos responsáveis, ao gestor e à técnica pedagógica um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), explicando como a pesquisa seria realizada e solicitando a autorização de todos para a sua realização.

As ações executadas, assim como reflexões e observações, foram registradas em um diário de bordo que foi utilizado nos resultados e discussões que foram realizadas neste artigo.

Métodos

Inicialmente foi realizada uma conversa em sala de aula sobre seres vivos em que foram levantados questionamentos como: o que são seres vivos? Quais são os seres vivos? O que são seres não vivos? Quais são eles? Após a discussão, os estudantes foram levados até a pracinha próxima da escola para observar e coletar os materiais naturais disponíveis no local para auxiliar na produção artística dos seres vistos no ambiente. Para facilitar a coleta de materiais, foi entregue a cada estudante um saco de pano para colocar elementos a serem utilizados nas suas produções artísticas.

Ao voltar para a escola, foi proposto aos alunos que realizassem composições artísticas com elementos coletados por eles, como areia, folhas, flores e galhos, de modo que as artes fossem utilizadas para produzir um livro coletivo. A produção deveria conter representações de seres vivos e/ou não vivos observados na pracinha. Para auxiliar nessa etapa, foram apresentados às crianças exemplos de composições artísticas utilizando o pontilhismo, linhas, formas geométricas e colagens, para que percebessem que a arte não se limita apenas a uma técnica (Stern, 1974).

Em sala de aula, cada aluno recebeu uma folha de papel A4 para (re)criar os seres encontrados na pracinha; foram disponibilizados alguns materiais, como tintas, pincéis, cola branca, cola colorida, lápis de cor, canetinha e giz de cera. Visando facilitar a distribuição dos materiais e as produções, as crianças foram divididas em grupos de quatro a seis estudantes.

Usou-se a técnica de colagem para realizar a escrita do desenho feito pelo aluno. Cada estudante individualmente foi questionado sobre o que estava criando e como escreveria o nome no desenho; após esse diálogo, solicitamos que procurassem em revistas letras para formar o nome da figura e colar na folha. Muitos alunos ainda se encontravam no processo inicial de escrita e foi preciso que as pesquisadoras interviessem no processo para auxiliá-los a escrever algumas palavras.

A produção do livro físico foi feita durante seis etapas:

  1. Criação da história relacionada à aula de campo;
  2. O conteúdo explorado e as ilustrações das crianças;
  3. O processo de escaneamento das imagens e de formatação do livro;
  4. Solicitação da ficha catalográfica na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES);
  5. Publicação da obra na plataforma Amazon;
  6. Impressão dos livros físicos.

A finalização do livro ocorreu após dois meses da aplicação da sequência didática e consistiu na realização de uma manhã de autógrafos em que cada criança recebeu um exemplar gratuitamente do livro. Durante esse momento, construiu-se um mural para socializar com a comunidade escolar o livro produzido pelas duas turmas do 1º ano do turno matutino.

Resultados e discussão na sala

A ideia central da pesquisa era intervir no processo de alfabetização por meio dos estudos sobre Ciências Naturais e Artes Visuais. Diante disso, os alunos se mostraram muito atentos ao dialogar sobre os seres vivos e não vivos, bem como o que eles entendiam sobre isso e seus respectivos exemplos.

Resultados e discussão na praça

Durante a visita à praça localizada no entorno da escola, os alunos conseguiram observar de forma concreta o que foi dito em sala, se entusiasmaram e perceberam que o ambiente está repleto de seres. No decorrer da visita, eles se mostraram muito atentos ao fato de não poderem agredir o meio ambiente e apenas coletar o que estava no chão do local (Figura 1). Para Cascino (1999, p. 26), “estar em contato com a natureza, para além do modismo, é uma necessidade prioritária, exigência consciente da condição humana”.

Figura 1: Crianças na pracinha ao lado da escola observando os seres presentes no ambiente e recolhendo materiais para a produção artística

Fonte: Arquivo pessoal das autoras.

Ao sair do ambiente escolar, foi possível dar aos estudantes experiências significativas de aprendizagem, como propõem Moreira e Massoni (2015); eles puderam observar de perto o meio externo em que estavam inseridos e suas peculiaridades, interagiram e relacionaram conceitos de ecologia à prática; isso favoreceu a aquisição de saberes, como alude Barbieri (2012, p. 116):

A natureza traz em si desafios físicos e estéticos que mobilizam as crianças a se aventurar. A lama, a areia as pedras, seus formatos e cores, seus pesos, temperaturas; as plantas, suas folhas, sementes, troncos e talos, raízes com diferentes texturas, cheiros, cores e tamanhos; e os animais que habitam esses lugares: os insetos com seus ruídos peculiares, suas cores e formatos; os diferentes relevos, as topografias: rios, montes, barrancos, planícies. Enfim, um universo de possibilidades a serem observadas e investigadas, a serem brincadas, que nos levam ao sentimento de comunhão. Somos parte da natureza, e podemos e devemos nos religar a ela.

No ecossistema da praça, muitos vestígios de seres vivos e não vivos foram vistos e recolhidos, como galhos, folhas, flores e pedras, entre outros objetos (Figura 2). De acordo com o campo de experiência espaços, tempos, quantidades, relações e transformações, os alunos devem “interagir com o meio ambiente e com fenômenos naturais ou artificiais, demonstrando curiosidade e cuidado com relação a eles” (Brasil, 2018, p. 57).

Figura 2: Elementos recolhidos na pracinha pelos alunos

Fonte: Arquivo pessoal das autoras.

Criação artística

Ao retornar à sala, as crianças foram instruídas para a criação do desenho, que se constituiu em (re)criar os seres observados. Foi enfatizado que poderiam utilizar a criatividade e a imaginação. Elas tiveram liberdade para escolher o que iriam desenhar e o material que seria utilizado, assim como a técnica que seria empregada em sua arte, uma vez que os educandos percebem o mundo quase exclusivamente a partir das interações sociais(Praxedes, 2009).

Diário de bordo

Como dito anteriormente, a imaginação esteve presente em todo o processo criativo, e isso é possível observar na Figura 3. Registrou-se no diário de bordo momentos inusitados da sequência didática como: representação de peixe (animal que não estava no ambiente), uma criança que representou em sua arte uma aranha (indicada pela seta), a qual estava escondida, como a que foi encontrada na praça. Logo, “a imaginação pode e deve ser educada, e a experiência que ela nos dá é mais importante e válida do que qualquer outra que possamos adquirir somente através do pensamento racional” (Mock, 1970, p. 136).

Figura 3: Produção artística do peixe e a aranha escondida

Fonte: Arquivo pessoal das autoras.

Alguns estudantes, ao serem questionados sobre quais seres vivos e não vivos estavam naquele ambiente, logo se atentaram ao fato de que eles faziam parte daquele ecossistema (Figura 4). 

Figura 4: Produção artística “Eu”, em que a menina se reconhece como ser biótico no ecossistema da praça

Fonte: Arquivo pessoal das autoras.

Segundo Stern (1974, p. 12), “uma das grandes virtudes da Educação Artística é a de explorar as faculdades sensoriais da criança. É preciso não ‘ensinar’, mas ‘fazer’ educação artística” (Figuras 5, 6 e 7). Durante o fazer artístico é possível observar que alguns alunos se apropriaram de técnicas, como o pontilhismo, e para isso usaram o próprio talo de flores colhidas por eles (Figura 5). Outros descobriram, ao longo das criações, como as cores primárias podem se transformar e se tornar secundárias (Figura 6) ou terciárias quando misturadas.

Figura 5: Técnica de pontilhismo com talo das flores

Fonte: Arquivo pessoal das autoras.

Figura 6: Mistura de cores que resultou na descoberta das cores secundárias

Fonte: Arquivo pessoal das autoras.

Segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (RCNEI), “as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem” (Brasil, 1998, p. 21-22). Elas foram divididas em grupos e foi possível observar nos desenhos que muitas seguiram a linha criativa do outro (Figura 8), porém cada um com sua imaginação e subjetividade.

Figura 7: Reprodução artística de uma borboleta com folhas feita pela aluna

Fonte: Arquivo pessoal das autoras.

Figura 8: Reprodução artística de uma borboleta com folhas

Fonte: Arquivo pessoal das autoras.

Vygotsky (1995) postulou que, em cada idade, as crianças aprendem por meio de atividades que são significativas para elas. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresenta como uma das habilidades a serem adquiridas no 1° ano no Ensino Fundamental: “(EF01LP02) Escrever, espontaneamente ou por ditado, palavras e frases de forma alfabética – usando letras/grafemas que representem fonemas” (Brasil, 2018, p. 101); nessa sequência didática, conseguiu-se desenvolver essa habilidade.

Ao longo do processo, com intervenção, os alunos escreviam por meio de colagem o nome do ser (seja ele vivo ou não) que estavam (re)produzindo; para isso foram usadas revistas, e eles precisavam procurar letras que compusessem a palavra (Figura 8). Por se encontrarem no 1º ano do Ensino Fundamental, muitos apresentaram dificuldades nesse momento, já que é nessa fase que ocorre a priorização da alfabetização, de acordo com o Art. 5º do Decreto nº 9.765, de 11 de abril de 2019 (Brasil, 2018).

Alguns não reconheciam todas as letras, outros só reconheciam a letra do seu nome e poucos não tiveram dificuldade. Diante desse fato, foi trabalhada individualmente a escrita, de forma que eles compreendessem o que estavam escrevendo e a ligação da palavra com a arte, interdisciplinarizando de modo efetivo a alfabetização, Ciências e Artes Visuais, como fez Thiesen (2008).

Após a finalização, os desenhos foram deixados em sala durante a manhã para que secassem e os alunos pudessem olhar os dos colegas; no final da manhã, as produções foram recolhidas e escaneadas para a produção do livro artístico. Muitos alunos se empolgaram e perguntavam a todo momento quando estaria pronto o livro e em que momento eles iriam vê-lo e folheá-lo; afinal, o livro é como se fosse um brinquedo, pois é capaz de reunir mistérios e segredos, além de colocar ideias na cabeça (Dinorah, 1996). 

Para que fosse produzido o livro, foi criada pelas pesquisadoras uma história baseada na aula, contando que os estudantes foram à pracinha, que observaram o ecossistema, que após a coleta de materiais eles puderam (re)criar o que viram. Por fim, fez-se a publicação em formato de e-book e elaboração do livro físico. Na plataforma Amazon,é possível baixar o livro em formato digital via hiperlink.

Manhã de autógrafos

Cada estudante recebeu um exemplar do livro físico (Figura 9) gratuitamente; para isso foi realizada uma manhã de autógrafos. No evento, os participantes autografaram seu exemplar, o dos colegas e a obra original (Figura 10), que ficou no acervo da biblioteca da escola para que a comunidade escolar possa ter acesso e perpetuar essa prática feita na instituição.

Figura 9: Exemplares dos livros entregues para cada estudante

Fonte: Arquivo pessoal das autoras.

Figura 10: criança autografando o livro original com as criações artísticas

Fonte: Arquivo pessoal das autoras.

Mural

Para socializar a prática, construiu-se na manhã de autógrafos um mural para apresentar o livro à comunidade escolar, de modo que todos, inclusive os do contraturno, pudessem apreciar a obra artística produzida pelas crianças (Figura 11).

Figura 11: Mural confeccionado na escola para o momento de autógrafos

Fonte: Arquivo pessoal das autoras.

Considerações finais

A escola possui papel importante no incentivo literário. Apesar de ser proposto o contato com os livros desde a entrada na Educação Infantil, é principalmente nos primeiros anos do Ensino Fundamental que a criança começa a explorar a leitura, já que se encontra no processo de alfabetização. Desse modo, a interdisciplinaridade em sala de aula pode auxiliar nesse processo de aprendizagem do indivíduo, tornando esse momento menos entediante, além de proporcionar um caminho diversificado.

As Ciências Naturais e as Artes podem incentivar os estudantes a conhecer e explorar novos ambientes, proporcionando o contato com a natureza de forma intencional; desse modo, desperta a criatividade e a imaginação. Assim, os alunos tendem a se manifestar de forma mais evidente, com sentidos ávidos e integrados à brincadeira e à aprendizagem. Tornam-se capazes de recriar o real no irreal.

A imaginação se torna a verdade do aluno, e ela é como uma semente, que, em contato com a água, sai de sua latência e inicia um poderoso processo químico, carregando informações genéticas, reproduzindo, proliferando e mantendo-se fiel à vida e à sua originalidade.

Conclui-se então que, quando uma vivência é inteira, repleta de significados, ela tende a permanecer viva na memória das crianças; nessa perspectiva, a sequência didática de atividades lúdicas e coletivas colaborou para aprimorar o apreço das crianças por ciências, pelas artes e pela leitura e escrita, visto que, além de registrar saberes, também se tornaram escritores que contribuem para a aprendizagem de outros estudantes.

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Publicado em 23 de janeiro de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

FREITAS, Joana Lúcia Alexandre de Freitas de; TOREZANI, Mithely de Jesus Sousa; MARTINS, Tainara de Souza. Semeando Artistas: a contribuição de Ciências Naturais e Artes Visuais no processo de alfabetização. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 2, 23 de janeiro de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/2/semeando-artistas-a-contribuicao-de-ciencias-naturais-e-artes-visuais-no-processo-de-alfabetizacao

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