O xadrez como conteúdo pedagógico nas aulas de Educação Física
Claudionor Nunes Cavalheiro
Doutorando em Ensino (Univates), professor no IFMT - Câmpus Primavera do Leste
Andreia Nunes de Castro
Doutoranda em Educação (UFRJ), técnica em Assuntos Educacionais do IFMT - Câmpus Primavera do Leste
Derli Juliano Neuenfeldt
Doutor em Ambiente e Desenvolvimento (Univates), professor do PPGEnsino/Univates
É público e notório que a Educação Física tem enfrentado nas últimas décadas uma mudança significativa na forma de atuação de seus profissionais, seja no campo da licenciatura, seja no bacharelado. As inovações tecnológicas e as pedagógicas têm impulsionado os profissionais na busca por uma prática que faça sentido aos seus alunos e/ou atletas. No campo educacional, nosso foco de atuação, faz-se necessário cada vez mais darmos sentido às práticas reflexivas, promovendo um ensino por meio de resolução de problemas, utilizando práticas educacionais que proporcionem a experimentação e o aumento progressivo da complexidade, desafiando nossos alunos com vistas à construção do conhecimento.
A reflexão se apresenta na compreensão da Educação Física no livro do Coletivo de Autores, sendo esta “uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais [...] que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal” (Soares et al., 2012, p. 50). No ensino dos jogos, sejam eles quais forem, as atividades propostas deverão ser compatíveis com o nível de habilidade dos alunos, desafiando-os a obter sucesso durante o processo de aprendizagem, sentindo-se capazes e competentes na resolução de problemas.
O professor, como mediador desse processo educacional, pode e deve modificar os jogos, alterando suas regras e equipamentos, criando um ambiente desafiador que leve os alunos a melhorar suas habilidades e a rapidez nas tomadas de decisão no momento de solucionar um problema exigido por uma situação de jogo qualquer (Scaglia, 2004). Segundo Soares et al. (2012), na escola é preciso resgatar os valores que privilegiam o coletivo sobre o individual. Os autores defendem o compromisso da solidariedade e do respeito humano, a compreensão de que o jogo se faz “a dois”, e de que é diferente jogar “com” o companheiro e jogar “contra” o companheiro.
Contudo, pensar em práticas cooperativas se opõe à tendência da esportização das práticas corporais, que se apresenta problemática na medida em que se passa a valorizar mais a meritocracia, a necessidade de se sobrepor ao outro do que o resultado coletivo. Nessa perspectiva, incluir a prática do xadrez nas aulas de Educação Física não se torna uma tarefa das mais fáceis. Competir, em termos de conteúdo pedagógico, com o “famoso quarteto fantástico – futebol, voleibol, basquetebol e handebol” requer habilidade por parte do docente na busca pela experimentação de uma prática muito mais prazerosa do que onerosa para seus alunos, com o intuito de despertar o espírito reflexivo e crítico, ampliando a capacidade para a tomada de decisões e a aquisição de valores morais.
Evidenciando esse ponto, Pizani et al. (2016) trazem uma visão que relaciona a dificuldade de ver de maneira positiva a construção do ensino-aprendizagem na sistematização tradicional, em que os professores estão engessados no eixo esportivo, deixando de lado os outros conteúdos que se constituem como objeto de ensino-aprendizagem da Educação Física escolar.
Por sua vez, Badaró et al. (2020) afirmam que a Educação Física escolar ainda mantém suas raízes vinculadas ao contexto somente esportivo – o “jogar bola” –, mas que a manutenção desse quadro pode levar o estudante a uma possível desmotivação; sugerem, portanto, que a utilização de temáticas mais diversificadas ajuda na ambientação, favorecendo a curiosidade e o engajamento durante as intervenções. Para Veloso (2008), uma das barreiras para o ensino do xadrez nas escolas deve-se ao fato que ele é visto como um jogo complexo e de difícil assimilação, pois conta com uma variedade de peças e movimentações, com inúmeras possibilidades de combinações de jogadas e estratégias. Dessa feita, a atuação do docente frente às atividades é de fundamental importância para a inclusão desse conteúdo pedagógico nas aulas.
Segundo Bortoluzzi (2010), existem pelo menos três formas de ensinar o jogo de xadrez: xadrez lúdico, xadrez competitivo/técnico e xadrez pedagógico. De forma suscinta, o xadrez lúdico tem o foco na diversão, no lazer e na distração. O competitivo/técnico visa disputas de torneios e campeonatos. Já o pedagógico, foco de nossa atuação, busca trabalhar as habilidades cognitivas e colaborar no desempenho escolar do aluno, favorecendo uma atividade pedagógica que estimule a resolução de problemas. Insta salientar que, embora haja predominância de uma forma sobre a outra, todas estão conectadas e podem estar presentes na prática escolar.
Garcia (2008) afirma que o xadrez como instrumento pedagógico transcende o jogo em si. Ele constrói um processo de ensino dialógico, interativo, afetivo, criativo, desafiador, motivador, além de uma aprendizagem autônoma, subjetiva, cooperativa, literária e solidária. Para Goulart e Frei (2010), o xadrez proporciona diversos benefícios, sendo uma atividade que facilita a aprendizagem e é ferramenta para um ensino prazeroso e eficaz. Além disso, estimula de forma positiva a competição, o respeito às regras e a capacidade de lidar tanto com a vitória como com a derrota. Segundo os autores, o jogo é considerado um instrumento lúdico e didático, que pode ser utilizado na educação para a promoção de ações pedagógicas.
Penteado, Coqueiro e Hermann (2011) relatam que o aluno, enquanto pratica xadrez, pode desenvolver um pensamento sistemático e organizado, considerando que as inúmeras possibilidades de movimentações (jogadas), assim como a seleção delas (escolhas), permitem um preparo para o enfrentamento de situações (problemas) e, automaticamente, para tomadas de decisão promovidas por meio de um raciocínio óbvio.
Partindo desse cenário, fica a pergunta: é possível desenvolver o jogo de xadrez nas aulas de Educação Física numa escola profissionalizante de Ensino Médio? Qual a visão que os alunos da escola têm sobre o conteúdo xadrez e suas possibilidades para a formação escolar? Em busca dessas respostas, desenvolvemos o conteúdo no Instituto Federal de Mato Grosso – Câmpus Primavera do Leste (IFMT-PDL), tendo como objetivo relatar o desenvolvimento do xadrez nas aulas de Educação Física em turmas do curso de Eletromecânica integrado ao Ensino Médio.
Percurso metodológico
O estudo é de cunho qualitativo e se constitui por um relato de experiência, realizado a partir do registro de avaliação diagnóstica e questionário final das aulas sobre o conteúdo do jogo de xadrez para duas turmas de 3º ano do curso de Eletromecânica integrado ao Ensino Médio no Instituto Federal de Mato Grosso – CâmpusPrimavera do Leste, com foco no período de ensino-aprendizagem do xadrez.
Fizeram parte da pesquisa 39 alunos, sendo 22 do sexo masculino e 17 do sexo feminino com idade entre 16 e 18 anos. Todos responderam à avaliação diagnóstica e ao questionário final e participaram efetivamente da execução das atividades realizadas em sala de aula. O conteúdo planejado foi desenvolvido no horário das aulas de Educação Física, sendo um encontro semanal composto por duas aulas de 50 minutos cada, totalizando 1h40min. Ao todo, foram desenvolvidos dez encontros semanais.
As discussões evidenciadas e analisadas com mais profundidade focaram a experiência com o xadrez. Entretanto, antes da fase de observação em campo, foi realizada uma revisão de literatura de cunho exploratório para fundamentar a compreensão da abordagem de ensino-aprendizagem do jogo. Por fim, com base nos registros, realizamos a análise de conteúdo, com base em Bardin (2011), considerando as categorias: ensino e aprendizagem; formação escolar.
A avaliação diagnóstica sobre o xadrez nas turmas de Eletromecânica
No início do ano letivo de 2022, já tendo programado que nas duas turmas de 3º ano do curso de Eletromecânica integrado ao Ensino Médio seria desenvolvido o conteúdo programático de xadrez, foi realizada uma avaliação diagnóstica com os alunos para mensurar os conceitos que já possuíam e suas expectativas em relação ao conteúdo.
Ao analisar os dados coletados, observou-se que 87,2% dos alunos conheciam o tabuleiro de xadrez e que 56,4% conseguiam identificar as peças e suas possibilidades de movimento. Destaca-se que 41% dos alunos jamais tinham jogado uma partida de xadrez, sendo um desafio interessante a ser buscado com a prática em sala de aula: conhecer e ser capaz de jogar xadrez ao final do conteúdo a ser desenvolvido.
Na perspectiva de não trabalharmos o conteúdo de forma tradicional, pois a missão do IFMT é “Educar para a vida e para o trabalho” (IFMT, 2019), os alunos foram questionados se consideravam o conteúdo xadrez como uma possibilidade de aprendizagem interessante e necessária para o Ensino Médio integrado. Deles, 87,2% manifestaram-se positivamente, conforme algumas justificativas (os nomes que aparecem nos relatos foram modificados por identificações fictícias, com vistas a garantir o anonimato das pessoas citadas): “Sim, porque o xadrez faz você pensar muito antes de realizar a jogada. Então eu acho que também podemos aplicar isso na tomada de decisões em nossa vida” (Ana); “No xadrez, precisamos pensar nas jogadas que faremos futuramente, não apenas no agora. Assim também é na vida” (Emili); “Sim, pois o xadrez ajuda para uma boa percepção para se acharem as várias possibilidades, assim podendo ser usado para a vida” (Murilo).
Por último, os alunos foram questionados sobre o que esperavam ter aprendido ao final das aulas de xadrez, sendo comum respostas como: “aprender a jogar”, “melhorar meu entendimento do jogo”, “obter novas estratégias de jogadas”, “melhorar o pensamento lógico”. Duas respostas em especial chamaram a atenção: “Eu espero ter aprendido a me concentrar mais e aprender a tomar decisões certas nas ações que faço de acordo com as consequências, assim como num jogo” (Lívia); e “A jogar xadrez, aprender suas estratégias, podendo usá-la tanto no xadrez quanto na vida” (Camilla).
Fadel e Mata (2008) afirmam que, por meio do jogo de xadrez pedagógico, é possível trabalhar com os alunos valores éticos e morais, o respeito às regras e da sujeição às restrições que elas impõem, bem como pontos de vista diferentes, fatores esses essenciais para a formação humana do aluno. Partindo dessa premissa, estruturou-se uma proposta de ensino de xadrez que contemplasse essa possibilidade de formação, indo ao encontro da missão do IFMT.
O desenvolvimento das aulas de xadrez
O conteúdo planejado foi desenvolvido no horário das aulas de Educação Física: um encontro semanal composto por duas aulas de 50 minutos cada, totalizando 1h40min. Ao todo, foram desenvolvidos dez encontros semanais, divididos da seguinte forma:
- 1º encontro – apresentação do jogo de xadrez (tabuleiro e suas peças);
- 2º encontro – movimentação das peças (jogo de peões, jogo de peão x rei, jogo da velha utilizando os movimentos das peças de xadrez (cavalo, bispo e torre);
- 3º encontro – abertura de jogo e meio jogo;
- 4º encontro – xeque, xeque-mate e afogamento;
- 5º encontro – final de jogo;
- 6º encontro – notação algébrica e apresentação do xadrez triplo;
- 7º encontro – jogo de xadrez entre os alunos da sala de aula;
- 8º encontro – torneio interno na sala de aula;
- 9º encontro – confecção de peças de xadrez em tamanho aumentado com material reutilizado (tabuleiro de 1,50m x 1,50m);
- 10º encontro – prática do xadrez humano entre as duas turmas do 3º ano de Eletromecânica.
Do 1º ao 5º encontro contamos com a ajuda primordial dos alunos que já haviam jogado xadrez ou que conheciam os conceitos do jogo. Eles foram tutores dos colegas que apresentavam maiores dificuldades com o conteúdo, reforçando a proposta de aprender com o outro, como sugerem Soares et al. (2012). Esse contato mais próximo serviu também para que estreitassem os laços de amizade e companheirismo, pois insta salientar que nos anos 2020 e 2021 esses mesmos alunos estavam em ensino remoto, por causa das aulas online motivadas pela pandemia da covid-19.
Figura 1: Alunos realizando as atividades planejadas
A apresentação do xadrez triplo, que aconteceu no 6º encontro, causou forte expectativa nos alunos, pois estavam ansiosos para saber como seriam as regras dessa forma do jogo. Ao apresentar o xadrez triplo à turma, foi esclarecido que cada trio definiria as regras do jogo, gerando regras diferenciadas em cada um dos tabuleiros. Ao experimentar um jogo em que se deve criar as próprias regras, o aluno descobre e desenvolve suas potencialidades, melhorando seu desenvolvimento cognitivo.
Figura 2: Xadrez triplo
Quando o aluno é desafiado a desenvolver o seu próprio instrumento (jogo) de aprendizagem, a expectativa é permitir que desenvolva seu raciocínio no processo de elaboração, construção e assimilação do conhecimento. Assim, o jogo favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral do aluno. Deixar os alunos livres para criar suas regras favoreceu a busca pela autonomia, facilitando assim que eles possam jogar sem a necessidade de que outros ditem o que os jogadores deverão cumprir.
Nesse sentido, entendemos que tematizar o esporte – no caso, o jogo de xadrez enquanto prática já constituída, com regras predeterminadas – mostra aos alunos, como propõem Soares et al. (2012), que é possível ressignificar as práticas corporais, revendo regras e construindo um jogo que atenda às necessidades pedagógicas escolares. A discussão foi produtiva, tanto que por diversas vezes, fora do horário de aula, os alunos procuraram o professor para que pudessem utilizar o tabuleiro do xadrez triplo.
Por fim, e não menos importante: realizou-se uma partida de xadrez humano, disputada entre as duas salas, tendo os preparativos iniciados com antecedência ao dia da execução. Os alunos das salas aceitaram prontamente o desafio de jogar uma partida “com” seus colegas de curso, e esse fato reverberou para boas conversas nos corredores da escola, de tão ansiosos que estavam para a realização do evento. Era comum uma sala querer saber como seria a roupa de seus “companheiros de jogo”.
Figura 3: Xadrez humano
Optou-se, em consenso com os alunos, que fosse dada prioridade as cores básicas das roupas de acordo com as peças (branca e preta), e eles deveriam dar destaque à definição da peça com um adereço na cabeça. Todos assim o fizeram. O que mais chamou a atenção foram os “cavalos” das peças negras, que usaram uma máscara de cabeça de cavalo, causando alvoroço entre os participantes e espectadores pela ação inusitada, inesperada.
A partida desenvolveu-se da seguinte forma: os alunos foram posicionados no tabuleiro confeccionado no chão do pátio da escola. Para ajudar na execução da partida, foi montado um tabuleiro na lateral do xadrez humano, onde alguns alunos da turma poderiam executar as jogadas e conversar entre eles sobre as possibilidades futuras. Para cada partida, foi designado um tempo máximo de jogo de 20 minutos para cada equipe, com o uso de relógio específico para controle de tempo das partidas de xadrez.
Jogaram-se três partidas; a primeira foi ganha pela turma A, considerando o tempo de jogo (o tempo da equipe contrária expirou-se). Na segunda partida, a equipe B ganhou executando um xeque-mate, movimentando várias peças que não haviam sido movidas na primeira partida. Por fim, como desempate, houve a terceira e última etapa, que foi considerada por todos a mais emocionante e disputada. Novamente a equipe A ganhou, desta vez por xeque-mate, numa partida bastante disputada, com muitas capturas de peças e tensão emocional; ao término não houve só comemoração da equipe A, mas confraternizaram-se entre eles, equipe A e B, parabenizando-os entre si e entendendo que o objetivo do jogo foi alcançado, uma bela confraternização, encerrando o conteúdo programado de xadrez.
As atividades transcorreram dentro das expectativas, sem intercorrências por parte dos alunos. As turmas sempre se fizeram presentes nas aulas, dispostas a realizar as atividades, com parcerias entre os que já conheciam o jogo e aqueles que ainda não haviam jogado. Como última atividade, foi encaminhado a todos os alunos um questionário para termos feedback sobre as aulas realizadas.
Os resultados emergentes
De posse dos dados do questionário respondido pelos alunos das duas turmas de Eletromecânica, foi realizada a análise; obtivemos os seguintes resultados:
- 96% dos alunos se consideram aptos a jogar uma partida de xadrez;
- 92% consideram que os conteúdos vivenciados nas aulas de xadrez poderão ajudá-los na sua formação escolar;
- 96% consideram que os conteúdos apresentados nas aulas de xadrez atenderam suas expectativas iniciais.
Quando questionados se os conteúdos vivenciados nas aulas de xadrez poderiam ajudá-los na formação escolar, foi comum respostas do tipo: “ajudou no desenvolvimento de estratégias para resolução de problemas”; “auxiliou no planejamento das minhas ações”; “ajudou na minha concentração”; “comecei a pensar mais em jogar ‘com’ meu colega e não ‘contra’ ele”.
Para Angélico e Porfírio (2010), a utilização social do jogo de xadrez na escola se encaixa na preparação do aluno para o seu futuro, considerando que o jogo confere significado semelhante à vida: o tabuleiro é o “campo de batalha”, a sociedade; as peças são “os exércitos” ou os sujeitos inseridos na sociedade, que, por meio de “regras” ou leis, se movimentam com estratégias para vencer ou como “proposta de soluções” para resolução de seus problemas.
Foram observadas também, no decorrer das práticas das atividades, atitudes de aproximação e escuta entre os alunos, ajuda mútua entre alunos que pouco conversavam entre si, motivados pelo distanciamento social imposto pelos anos anteriores. Veloso (2008, p. 25) afirma que “o jogo de xadrez é um eficiente meio para formar um indivíduo social, com valores bem definidos e características importantes como pensamento crítico para conviver-se em sociedade”.
Essa aproximação ficou mais visível na prática do xadrez humano; essa foi a primeira atividade em conjunto realizada pela escola entre as turmas no período após o afastamento social causado pela covid-19. É importante frisar que as turmas frequentam a escola em turnos invertidos (uma pela manhã e outra à tarde). Alguns relatos apontam esse fato: “Achei muito interessante a prática do xadrez humano, pois, além de proporcionar a interação entre os alunos, fixou o conteúdo do xadrez” (Murilo); “Eu adorei, foi ótima para a interação entre as turmas e também ajudou a fixar o conteúdo da notação algébrica. Não tivemos nenhum ponto negativo para a atividade” (Ana); “Foi muito legal participar do xadrez. Um ponto positivo foi o fortalecimento do trabalho em equipe e o único ponto negativo foi não ter dado tempo para jogarmos mais vezes” (João); “O xadrez humano foi muito legal, bastante interativo e foi uma atividade que quebrou a monotonia da sala de aula” (Amanda).
A prática trouxe benefícios cognitivos relatados pelos alunos, como busca por ações mais estratégicas no jogo, planejamento das ações mais efetivas e busca por jogadas que tragam benefício de material (trocar peças de menor valor por peças de maior valor), entre outros, e benefícios sociais/afetivos, como amizade, construção de estratégias para além da escola, o “jogar com meu colega e não mais contra ele”, tomada de decisão nas possíveis jogadas.
Sendo assim, a prática do jogo de xadrez pode permitir o desenvolvimento de capacidades como raciocínio lógico, memória, atenção e imaginação, qualidades fundamentais para o desenvolvimento escolar. Esses fatores certamente corroboram os anseios e expectativas iniciais dos alunos sobre o conteúdo de xadrez.
Considerações transitórias
Diante do exposto, respondendo aos questionamentos iniciais que suscitaram a possibilidade de desenvolver o xadrez numa escola profissionalizante, entendemos que sim, é possível o desenvolvimento do xadrez nas aulas de Educação Física como conteúdo pedagógico, planejado de acordo com as possibilidades dos alunos e construído como eles.
No xadrez humano, os alunos vivenciaram na prática as atividades de captura e capturado, a importância do planejamento para suas ações futuras, de trabalhar em equipe, seja um “peão”, “bispo”, “rei” ou “rainha”, transpondo isso para a vida e seus desafios. Sentiram-se como num tabuleiro da vida, em que suas ações têm consequências e possibilidades e que o planejamento se faz necessário sempre.
Em síntese, faz-se necessário um trabalho que possa ser desenvolvido não só pelo xadrez, mas também pelas modalidades coletivas em busca da formação humana desses alunos, visando uma formação voltada também para a vida e não somente focada nas especificidades do ensino profissionalizante.
O que fica é que o xadrez, para esses alunos, não é mais algo estranho, mas um conteúdo que merece ser mais bem vivenciado, com novos sentidos e significados, que podem ir ao encontro da missão do IFMT: “Educar para a vida e para o trabalho”. Que possa ser aprofundado o conteúdo com as possibilidades de projetos de extensão e/ou projetos de ensino e pesquisa para que as possibilidades de vivência e prática possam ser aprimoradas ainda mais.
Em relação às limitações de pesquisa, a escassez de publicações recentes sobre o uso do xadrez para a promoção do ensino-aprendizagem na escola foi motivo de dificuldade para a estruturação do conteúdo. Entretanto, considerando a mesma escassez de publicações, acredita-se que a edificação deste relato de experiência venha contribuir com a comunidade acadêmica e científica que pesquisa o tema.
Referências
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Publicado em 18 de junho de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
CAVALHEIRO, Claudionor Nunes; CASTRO, Andreia Nunes de; NEUENFELDT, Derli Juliano. O xadrez como conteúdo pedagógico nas aulas de Educação Física. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 21, 18 de junho de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/21/o-xadrez-como-conteudo-pedagogico-nas-aulas-de-educacao-fisica
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