Atividades ecopedagógicas no período pandêmico: brincando com coisa séria no Núcleo de Educação da Infância da Universidade Federal de Lavras
Murilo Ferreira Andrade
Licenciando em Ciências Biológicas (UFLA), bolsista de extensão pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec)
Apolliane Xavier Moreira dos Santos
Professora do Núcleo de Educação da Infância da UFLA, doutoranda em Educação (Universidade de Aveiro)
Raphael de Andrade Ribeiro
Licenciado em Geografia (UNIFSJ) e em Pedagogia (Fafit), mestre em Ensino (UFF), professor da Seeduc/RJ
A situação pandêmica, gerada pelo rápido contágio comunitário da covid-19, prescreveu aos países afetados medidas drásticas de grande impacto na vida cotidiana (Batista, 2020). Isso posto, diversas atividades do cotidiano da sociedade foram afetadas, incluindo o fechamento de creches, escolas e universidades. As crianças, especialmente, dependem mais de causas externas do que os adultos, no que diz respeito ao seu poder de afecção. Elas, em seu devir, conhecem sem mapas. Vão traçando esses mapas no percorrer do caminho, no qual os encontros que acontecem deixam nelas suas marcas (Deleuze, 1997; Profice; Pinheiro, 2009). Somos a própria Natureza, participamos dos encontros e agenciamentos que se criam e se desfazem entre os seres, em função de seus aspectos próprios e das condições dos sistemas socioecológicos em que se estabelecem (Tiriba; Profice, 2019).
Diante dessa realidade, as professoras do Núcleo de Educação da Infância (Nedi) da Universidade Federal de Lavras (UFLA) se viram em uma situação desafiadora, dado que o foco da instituição é atender crianças de 3 a 5 anos, tornando o processo de ensino remoto mais complexo – uma vez que esse público necessita estar presencialmente na escola para brincar e interagir com outras crianças e seus professores.
No entanto, a professora Apolliane Xavier Moreira dos Santos, doutoranda em Educação pela Universidade de Aveiro (Portugal), coordenadora do projeto de extensão Educação Ambiental no Núcleo de Educação da Infância (Nedi): Brincando com Coisa Séria (administradora do perfil @ecoufla no Instagram e do blog https://econediufla.blogspot.com, ambos ligados ao projeto), desde março de 2020 estava engajada nesse projeto de extensão. Foi a partir dele que, junto a bolsistas e voluntários, surgiram diversas propostas de atividades vivenciais que poderiam ser realizadas com as crianças e suas famílias no âmbito doméstico durante o isolamento social, especificamente entre março e dezembro de 2021, dando luz a questões voltadas à Educação Ambiental. Ademais, uma maneira encontrada para tratar de temáticas ambientais de forma lúdica e contextualizada foi por meio da feitura de algumas atividades que abordassem o cotidiano, como a economia de água, o crescimento das plantas e a absorção de água pelo solo.
Desenvolvimento
A Política Nacional do Meio Ambiente (Brasil, 1981), em seu Art. 2º, inciso X, traz o princípio da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino com o objetivo de capacitar a comunidade para a defesa do meio ambiente. Pensando nisso, a primeira atividade vivencial ecopedagógica que os bolsistas e a coordenadora do projeto desenvolveram teve como base a economia de água atrelada à utilização de músicas, gerando debates interdisciplinares instigantes que levam a modificações nos modos de pensar das crianças e, consequentemente, na atuação dos docentes (Cunha, 2020).
Para tanto, a atividade foi distribuída em etapas, sendo elas: apresentação da atividade, os seis passos para o seu desenvolvimento e a despedida.
A apresentação foi feita de maneira a instigar as famílias e as crianças a realizar a atividade a partir da compreensão de o contexto dela estar aliado à economia de água. Isso posto, durante essa fase, foi explicado que a atividade era de caráter extra e que havia sido pensada e elaborada pelos integrantes do projeto de extensão em Educação Ambiental Infantil (Ecoufla), vinculado à Universidade Federal de Lavras.
No primeiro passo, foi pedido que o responsável se certificasse de que possuía os materiais necessários para a realização da atividade em sua residência: papel, tesoura (sem ponta), cola branca, giz de cera, canetinha e/ou tinta guache.
No segundo passo, foi pedido que o responsável conversasse com a criança sobre a importância da água, um elemento tão vital para nós. No entanto, caso o responsável apresentasse dúvidas em fazer essa explicação, ele teria acesso a alguns exemplos em um arquivo enviado junto à atividade, por exemplo: várias espécies de animais só conseguem sobreviver em meio aquático, como os peixes (fale com a criança que alguns animais só conseguem viver dentro da água); a água compõe cerca de 70% do nosso organismo, ou seja, sem ela nós não existiríamos (fale com a criança que no nosso corpo tem muita água e que sem ela a gente não conseguiria viver); em média, nosso organismo precisa de até quatro litros de água por dia (fale com a criança que nós precisamos tomar muita água para ficarmos fortes e saudáveis); a água é necessária para preparar comidas, sucos e mamadeiras, e as plantas necessitam de muita água para crescerem bonitas e fortes.
No terceiro passo, após a explicação sobre a importância da água e alguns dos inúmeros motivos para economizá-la, foi pedido para o responsável pela criança colocar a música De gotinha em gotinha, do grupo musical Palavra Cantada. Junto a esse pedido foi disposto um QR Code que direcionava a família diretamente para o videoclipe da música na plataforma YouTube. Todavia, durante o terceiro passo, falamos da necessidade de o responsável ajudar a criança a interagir com a música, dançando e cantando junto, uma vez que isso serviria de inspiração para o desenvolvimento da atividade.
No quarto passo, após a criança interagir com a música, foi solicitado que o responsável a auxiliasse na produção de um desenho, colagem ou pintura relacionado a algum local do Planeta Terra onde há a presença de muita água, como mares, rios, lagos, um dia de chuva, piscinas, parques aquáticos etc. Somado a isso, o adulto deveria tirar uma fotografia da criança e, depois, encaminhá-la para o WhatsApp das professoras responsáveis daquele grupo de alunos. No nosso caso, as crianças do grupo 3, formado por crianças de três anos de idade.
No quinto passo, após o término do desenho, foi pedido que o responsável explicasse para a criança a importância de economizar água (esse passo relaciona-se ao segundo) e expusesse maneiras de fazê-lo de forma caseira e eficiente. Entretanto, foram apresentadas algumas sugestões de ações do cotidiano: desligue a torneira enquanto escova os dentes, não utilize mangueiras para lavar a casa e calçada, feche bem as torneiras, feche o chuveiro enquanto se ensaboa, lave o carro usando balde e não mangueira e molhe o jardim/horta utilizando irrigadores.
No sexto passo, após a explicação para a criança a respeito de como é possível evitar o desperdício de água, conscientizando-a a respeito da relevância da água no nosso dia a dia, foi solicitado que o responsável tirasse uma fotografia dela exercendo alguma dessas práticas de economia, como escovando os dentes de torneira fechada, ajudando o responsável a lavar o carro utilizando balde e/ou molhando o jardim com o uso de um balde e/ou irrigador. Para finalizar a etapa, seria necessário seguir o mesmo processo do quarto passo: enviar a foto para o grupo de WhatsApp das professoras.
Por fim, no momento de despedida, a atividade foi reafirmada como instrumento para a criança desenvolver seu senso crítico e sua consciência a respeito da importância da água, além de como e por que economizá-la. Ademais, solicitamos que as famílias seguissem o perfil @ecoufla no Instagram, uma vez que lá foram postadas as fotos com os alunos realizando as atividades propostas.
Logo após o recebimento das atividades sobre economia da água, os bolsistas deram início à produção da próxima atividade de vivência ecopedagógica. Dessa vez, o tema abordado foi Planeta Terra. Para a feitura da atividade, foram utilizados os feedbacks de sugestões obtidas por meio da primeira atividade,assim, foi possível compreender se o que o projeto deveria ou não ser aperfeiçoado.
As etapas dessa segunda atividade foram as mesmas, com pequenas adaptações sugeridas pelos responsáveis. A priori, após a apresentação da atividade, fez-se a descrição do objetivo: desenvolver com as crianças e suas famílias uma prática educativa,visando sensibilização e conscientização ambiental. Nesse sentido, a proposta era valorizar o Planeta Terra. Desse modo, as famílias compreenderiam melhor o desenvolvimento da atividade.
Como primeiro passo, foi solicitado que a família se certificasse de que possuía algum recipiente de material reciclável, usado na residência, como, por exemplo, uma embalagem TetraPak (caixa de suco, leite etc.), uma caixinha de leite condensado, um pote de achocolatado (alumínio ou plástico), uma garrafa PET, um pote de sorvete, latinhas de alumínio etc. Ademais, que se certificassem se havia a possibilidade de conseguirem uma pequena porção de terra.
No segundo passo, pedimos que o responsável conversasse com a criança sobre a importância do Planeta Terra. Contudo, caso não soubesse como fazer isso, os participantes do projeto os ajudariam, apresentando alguns exemplos:
- o Planeta Terra é o único do nosso sistema solar que possui condições para que a vida prospere;
- a Terra tem água em abundância em seu estado líquido (fale com a criança que a água é muito importante para o desenvolvimento humano, uma vez que nós precisamos ingeri-la para sobreviver);
- a gravidade é estável (pesquise no YouTube “Quer que desenhe? Gravidade”);
- proporciona inúmeras fontes de alimentos para nós e para os animais; possui quatro elementos primordiais, sendo eles: água, terra, fogo e ar (pesquise no YouTube “Os 4 elementos – música infantil da turminha do tio Marcelo”).
No terceiro passo, foi solicitado que o responsável cortasse as embalagens do tipo TetraPak de forma que elas pudessem servir de vaso (fazendo furos na base para o escoamento da água), perfurando o fundo da latinha de alumínio, do leite condensado ou do molho de tomate. Para as embalagens que já servem de vaso naturalmente, deveriam ser feitos somente alguns furos na base (com muito cuidado caso fossem deixar a criança manusear tesoura, de preferência fazendo isso sozinha).
No quarto passo, após terem transformado os recipientes em vasos, foi pedido que adicionassem terra até a metade do volume. Em seguida, que pegassem uma quantidade suficiente de feijão para plantas nos novos vasos produzidos, espaçando-o igualmente (um feijão para cada latinha de alumínio e garrafa do tipo PET; um feijão para cada caixa do tipo TetraPak cortada no topo ou dois feijões quando cortada na lateral e três feijões na embalagem de sorvete). Todos esses procedimentos deveriam ser feitos com muita atenção, principalmente no que diz respeito à profundidade do feijão ao ser enterrado (3cm a 6cm). Também foi importante que o responsável deixasse a criança manusear a terra e fizesse, ela mesma, o seu plantio.
No quinto passo, foi pedido que o responsável falasse para a criança, uma vez ao dia, que molhasse um pouco a terra, com cuidado para não a encharcar. Após o plantio e a irrigação, deveria levar o vaso para um local com incidência de luz solar direta, mas que não batesse Sol o dia todo.
No sexto passo, o responsável deveria tirar uma foto da criança com o vaso pronto e enviá-la ao WhatsApp da professora responsável pela turma.
Somado a isso, foram apresentadas algumas informações importantes, como: espere de 3 a 5 dias para o feijão germinar e em média 60 a 75 dias para a colheita dos grãos. Em seguida, os vasos podem ser decorados caso a criança queira personalizá-lo.
Por último, no momento de despedida, foi reforçado o fato de a atividade ter sido pensada e elaborada para a criança criar um vínculo com a natureza e interagir com o poder que a terra tem, uma vez que parte das atividades infantis é realizada em conexão constante com dispositivos eletrônicos, em ambientes fechados (Profice, 2018). Também foi dito aos responsáveis que seguissem o perfil @ecoufla no Instagram, onde foram postadas as fotos das crianças realizando as atividades.
Após a produção das duas primeiras atividades, foi desenvolvida uma proposta que estimulasse o contato com o solo, buscando o que alegra e potencializa os movimentos das crianças em direção aos espaços onde brincam. Inicialmente, a atividade foi pensada para as crianças do grupo 3; no entanto, as professoras dos grupos 4 e 5 gostaram tanto das duas primeiras atividades que resolveram aderir à terceira atividade, distribuída de acordo com as seguintes etapas: apresentação, explicação do objetivo, quatro passos e despedida.
Na apresentação da atividade, foram explicados os objetivos a serem atingidos com o seu desenvolvimento: desenvolver com as crianças e as famílias uma prática educativa que visa a sensibilização e a conscientização ambiental e que possibilite o entendimento das relações entre o desenvolvimento da vida e do solo, evidenciando o que é visível a olho nu, nas escolas, nas praças, em áreas urbanas, praianas e rurais a que as crianças têm acesso, sua atração pelo mundo natural e por seus processos, a busca pela terra, pelas águas, pela areia, pelas árvores, pelo vento, pelas marés (Tiriba, 2005).
No primeiro passo, foi solicitado que as famílias se certificassem de que possuíam três garrafas PET e três tipos de solos: argiloso (argila), arenoso (areia) e humoso (terra roxa), além de água e algodão. Ademais, foi solicitado que assistissem ao vídeo Permeabilidade do solo para uma melhor compreensão de como prosseguir com a atividade, vídeo também colocado em QR Code para as famílias acessarem.
No segundo passo, foi pedido que o responsável auxiliasse a criança durante o corte das garrafas e a adição do algodão no fundo, para evitar que os solos desçam nos “funis” criados. Além disso, o responsável deveria pedir para a criança adicionar os tipos de solos nos “funis” com cuidado, para não passar pelo algodão. Por fim, deixar a criança adicionar um copo de água (20 mL) em cada um dos “funis” com os diferentes tipos de solo.
No terceiro passo, foi pedido que o responsável observasse atentamente o experimento junto com a criança. Nesse período, o adulto poderia anotar as observações da criança em um caderno e conversar com ela sobre o experimento, procurando fazer perguntas para a criança, como: “em qual garrafa a água passou mais rápido e por quê?”
No quarto passo, o responsável deveria tirar uma foto da criança realizando o experimento e enviá-lo para o WhatsApp da professora.
Para terminar, no momento de agradecimento, foi explicado que todas as etapas das atividades foram pensadas e elaboradas para os alunos criarem um vínculo com a natureza e interagirem com o solo. Ao final, foi solicitado às famílias que seguissem o perfil @ecoufla no Instagram, onde seriam postadas as fotos das crianças realizando as atividades.
Resultados
Ao final do prazo de entrega da atividade da água, foram obtidos os resultados das atividades realizadas pelas 22 crianças matriculadas no Nedi e outras três crianças, denominadas ecoseguidoras, não matriculadas no Núcleo, mas com responsáveis interessados em realizar as atividades junto às crianças. Todos os 25 resultados obtidos foram postados no perfil do Instagram do projeto, divididos em quatro postagens que, juntas, já contam com mais de 290 curtidas e dois vídeos, somando mais de 360 visualizações. Foram totalizados mais de 116 comentários às postagens e aos vídeos.
A Figura 1 exemplifica a atividade do Dia Mundial da Água realizada por um ecosseguidor. A Figura 2 exemplifica a atividade do Dia Mundial da Água realizada por uma criança matriculada no Nedi.
Figura 1: Resultado da atividade de um ecosseguidor
Fonte: Acervo do projeto, 2021.
Figura 2: Resultado da atividade de uma criança do Nedi
Fonte: Acervo do projeto, 2021.
Ao final da atividade do Planeta Terra, foram obtidos os resultados das atividades de dezesseis crianças matriculadas no Nedi e de outras sete crianças ecosseguidoras do projeto Econedi. Em relação ao perfil do Instagram, foram feitas quatro postagens no feed que totalizam 270 curtidas e mais de 60 comentários. Além disso, foi postado um vídeo elaborado por uma integrante do projeto que explicava a importância do solo para o alimento, contando com mais de 150 visualizações.
Com o sucesso da atividade do Planeta Terra, a UFLA, no site da própria universidade, decidiu fazer uma matéria divulgando os resultados da atividade. Ademais, o jornal Varginha Online também aderiu à divulgação da atividade realizada, tendo em vista o título dado à matéria: Projeto da UFLA publicará uma série de postagens relacionadas ao Dia da Terra.
A Figura 3 exemplifica a atividade do Dia da Terra realizada por uma das crianças matriculadas no Nedi.
Figura 3: Resultado da atividade de um dos alunos matriculados no Nedi
Fonte: Acervo do projeto (2021).
Por fim, ao final da atividade do solo, foram recolhidos os resultados de 22 crianças, distribuídas entre os grupos 3, 4 e 5, todas matriculadas no Nedi. Foram feitas três postagens no feed do Instagram do projeto, totalizando mais de 140 curtidas e mais de 40 comentários.
O alcance dessas atividades pode ser medido não apenas pelos números de curtidas e comentários, mas também pelo potencial de influência e exposição. Quando alguém curte ou comenta em uma postagem, isso pode ser visto por seus amigos e seguidores, aumentando a probabilidade de que mais pessoas vejam e se envolvam com o conteúdo.
Além disso, as interações nas mídias sociais geraram um “efeito cascata”. Por exemplo, se uma pessoa com muitos seguidores curte ou comenta em uma postagem, isso pode levar a um aumento exponencial de seu alcance, à medida que seus seguidores também interagem e compartilham o conteúdo. Com isso, o projeto se tornou mais conhecido, após o desenvolvimento das atividades vivenciais com as crianças, dado que, a partir das postagens no Instagram, as famílias e outros seguidores viram que o projeto vai para além da rede social.
As Figuras 4 e 5 exemplificam a atividade vivencial do solo. A Figura 5 representa a foto de capa da postagem realizada em nosso Instagram,a fim de apresentar o tema para os seguidores.
Figura 4: Resultado da atividade de uma criança do Nedi
Fonte: Acervo do projeto, 2021.
Figura 5: Apresentação dos resultados da atividade sobre o solo
Fonte: Acervo do projeto, 2021.
Após o sucesso das três atividades executadas pelo projeto de extensão em educação ambiental no Núcleo, alguns veículos de comunicação e instituições de ensino se interessaram pelo trabalho desenvolvido pelos integrantes do projeto com as crianças, sobretudo em período pandêmico.
Em vista disso, a própria UFLA publicou duas matérias no site da universidade, enaltecendo e apresentando o trabalho desenvolvido pelo projeto para a comunidade acadêmica e, também, para o público externo, denominando as matérias, respectivamente: Projeto de extensão da UFLA leva temas relacionados à preservação do meio ambiente ao público infantil e NEDI desenvolve projeto de Educação Ambiental com crianças, famílias e comunidade lavrense, também disponível no Jornal de Lavras.
Após essa notoriedade, o Jornal de Lavras decidiu fazer uma reportagem divulgando o projeto para a comunidade. O título dado à matéria foi UFLA tem projeto de extensão de preservação ambiental para crianças. A divulgação de um projeto de Educação Ambiental em um jornal da cidade é de extrema importância, pois traz uma série de benefícios para a comunidade e o meio ambiente. Essa exposição proporciona a oportunidade de conscientizar e engajar um público mais amplo, despertando a atenção e o interesse das pessoas em relação às questões ambientais.
A Educação Ambiental, por sua vez, desempenha papel fundamental na conscientização das pessoas sobre a importância da proteção e conservação do meio ambiente. Ao ser divulgado em um jornal, o projeto ganha visibilidade e alcança um número maior de leitores, possibilitando que mais indivíduos tenham acesso a informações e conhecimentos sobre os desafios ambientais enfrentados pela comunidade.
Além disso, a divulgação em um jornal permite compartilhar as soluções propostas pelo projeto, inspirando e incentivando outras pessoas e instituições a replicarem iniciativas semelhantes. Isso cria um efeito multiplicador, ampliando o impacto positivo do projeto e contribuindo para a construção de uma comunidade mais engajada e consciente.
Ao aparecer em um jornal, o projeto de Educação Ambiental também estimula a participação ativa da população. As pessoas são informadas sobre as ações práticas que podem realizar para contribuir com a proteção ambiental, desde pequenas mudanças de comportamento até o engajamento em projetos e ações coletivas.
Outro marco importante do projeto foi o convite do Instituto Casagrande, uma organização com quinze anos de atuação nacional, especializada na realização de pesquisas educacionais, na promoção de eventos e em programas de desenvolvimento, formação e transformação dos profissionais de Educação, gestores e líderes, que entrevistou a coordenadora do projeto, professora Apolliane Xavier, resultando em mais notoriedade para o Econedi.
Discussão
A partir dos resultados obtidos por meio da aplicação das atividades, constata-se que a vivência se dá no encontro, na situação vivida e no modo de se afetar por ela. Portanto, as vivências das crianças na Natureza fortalecem seu vínculo com o mundo natural bem como fomentaram o conhecimento local acerca dos ambientes, dos seres e dos processos naturais (Tiriba; Profice, 2019).
A título de ilustração, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), como documento orientador, traz no eixo denominado Natureza e Sociedade temas pertinentes ao mundo social e natural em uma proposta de trabalho integrado.
As crianças devem, desde pequenas, ser instigadas a observar fenômenos, relatar acontecimentos, formular hipóteses, prever resultados para experimentos, conhecer diferentes contextos históricos e sociais, tentar localizá-los nos espaços e no tempo. Podem também trocar ideias e informações, debatê-las, confrontá-las, distingui-las e representá-las, aprendendo, aos poucos, como se produz um conhecimento novo ou porque as ideias mudam ou permanecem (Brasil, 1998, p. 172).
Logo, é dever dos professores da Educação Infantil instigar as crianças a observar fenômenos, formular hipóteses etc. para que desenvolvam a criticidade e tenham uma formação cidadã. Isso posto, com a realização das atividades vivenciais e realizadas pelo grupo de integrantes do projeto de extensão de educação ambiental no Nedi, foram trabalhados diversos conceitos conforme mencionados no RCNEI.
Conclusão
As vivências das crianças na natureza, por meio de projetos de Educação Ambiental, desempenham papel importante no fortalecimento do vínculo delas com o mundo natural. Essas experiências proporcionam oportunidades de conhecer e compreender os ambientes, os seres vivos e os processos naturais, contribuindo para a construção do conhecimento local.
O RCNEI (Brasil, 1981) reconhece a importância de integrar a natureza e a sociedade ao trabalho educativo, incentivando a observação, a formulação de hipóteses, a troca de ideias e a construção do conhecimento. Por isso, também é responsabilidade dos professores da Educação Infantil estimular as crianças a vivenciarem essas experiências enriquecedoras, que promovem o desenvolvimento de cidadãos críticos e conscientes.
Mesmo após o término do período de isolamento social, é importante ressaltar que as atividades com a família podem continuar em andamento, pois as atividades vivenciais, realizadas pelo grupo de integrantes do projeto de extensão de educação ambiental no Nedi, demonstraram ser uma abordagem eficaz para trabalhar os conceitos mencionados no RCNEI. Por meio dessas práticas, os alunos têm a oportunidade de explorar, questionar, debater e representar o conhecimento, adquirindo uma compreensão mais profunda sobre o mundo natural e sua interação com o contexto histórico e social.
Cada atividade proporcionou aos alunos a oportunidade de explorar, questionar e refletir sobre esses temas, permitindo que desenvolvessem uma compreensão mais profunda sobre a importância da água, do solo e do nosso planeta como um todo. Essas vivências na natureza e a abordagem da Educação Ambiental foram eficazes para despertar o interesse das crianças e incentivá-las a agir de forma consciente em relação ao meio ambiente.
Com isso, foi possível promover um aprendizado significativo e estimular a conexão entre os conceitos trabalhados nas atividades e o mundo real. Essas experiências tornaram-se valiosos recursos pedagógicos, contribuindo para a formação de cidadãos mais comprometidos com a sustentabilidade e o respeito à Natureza. Por isso, é fundamental que essas práticas em casa sejam continuadas, ainda que fora do período de isolamento social, para que as crianças possam desenvolver uma consciência ambiental ao longo de suas vidas, não sendo uma tarefa apenas da escola.
Ao promover vivências na natureza e ao incorporar os princípios da Educação Ambiental no currículo da Educação Infantil, é possível formar crianças mais conectadas com o meio ambiente, conscientes dos desafios ambientais e capacitadas para serem agentes de mudança. A educação ambiental se mostra como uma ferramenta essencial nessa formação integral dos sujeitos.
Referências
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BRASIL. Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasília, 1981. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 3 dez. 2022.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC, 1998.
CUNHA, Sandra Mara da. Crianças e música: Educação Musical e estudos da infância em diálogo. Childhood & Philosophy, v. 16, n° 36, p. 1-20, 2020.
DELEUZE, Gilles. Crítica e clínica. São Paulo: Ed. 34, 1997.
PROFICE, Christiana. Nature as a living presence: Drawings by Tupinambá and New York children. Plos One, São Francisco, v. 10, n° 13, p. 1-15, 2018.
PROFICE, Christiana; PINHEIRO, José. Explorar com crianças: reflexões teóricas e metodológicas para os pesquisadores. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio de Janeiro, v. 3, n° 61, p. 11-22, 2009.
TIRIBA, Léa. Crianças, natureza e Educação Infantil. 2005. 249f. Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.
TIRIBA, Léa; PROFICE, Christiana Cabicieri. Crianças da natureza: vivências, saberes e pertencimento. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 44, n° 2, e88370, 2019.
Publicado em 25 de junho de 2024
Como citar este artigo (ABNT)
ANDRADE, Murilo Ferreira; SANTOS, Apolliane Xavier Moreira dos; RIBEIRO, Raphael de Andrade. Atividades ecopedagógicas no período pandêmico: brincando com coisa séria no Núcleo de Educação da Infância da Universidade Federal de Lavras. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 22, 25 de junho de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/22/atividades-ecopedagogicas-no-periodo-pandemico-brincando-com-coisa-seria-no-nucleo-de-educacao-da-infancia-da-universidade-federal-de-lavras
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