A construção e lançamento de foguetes como estratégia potencial na busca pela inclusão escolar

Aline Gomes Fernandes

Professora da Educação Básica, mestranda em Educação, Ensino e Formação de Professores (UFES)

Fabiane Lima Carlos

Professora da Educação Básica, mestranda em Educação, Ensino e Formação de Professores (UFES)

Aline de Menezes Bregonci

Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Ensino e Formação de Professores da UFES

A gamificação é uma abordagem que utiliza elementos e mecânicas de jogos em contextos não relacionados a jogos, com o objetivo de engajar, motivar e influenciar o comportamento dos participantes. Essa estratégia tem sido aplicada em diversos setores, como educação, negócios, saúde e até mesmo em processos de inclusão social. A gamificação oferece uma maneira lúdica e interativa de envolver as pessoas, promovendo uma participação ativa e a conquista de metas.

O objetivo da gamificação no contexto da inclusão é promover a participação e o engajamento de pessoas com diferentes origens e habilidades, visando à criação de ambientes mais inclusivos e acessíveis. Por meio do uso de elementos de jogos, são estimuladas a colaboração, a autoestima, a aprendizagem e a interação social, a fim de que indivíduos com deficiência, minorias ou outras pessoas em situação de vulnerabilidade se sintam acolhidos e integrados aos diferentes contextos.

A gamificação pode ser aplicada em diversas áreas da inclusão, como na educação inclusiva, no mercado de trabalho, em programas de reabilitação, no desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, dentre outras. Ao criar experiências gamificadas é possível superar barreiras físicas, cognitivas e sociais, com oportunidades de participação igualitária e confiante para a quebra de estigmas e preconceitos.

O presente artigo tem por objetivo compreender como a gamificação, na construção e no lançamento de foguetes, pode contribuir para o processo de inclusão escolar. Além disso, a gamificação também incentiva a empatia e a compreensão, pois muitas vezes os participantes são colocados uns no lugar de outros, enfrentando desafios específicos. Essa vivência virtual pode ampliar a conscientização sobre as dificuldades enfrentadas por diferentes grupos, promovendo a busca por soluções inclusivas na vida cotidiana.

Foi realizada, então, pesquisa bibliográfica. Muitos autores abordam esse tema, pois ele continua relevante. Cabe ainda muito pesquisar e estudar, a fim de aprofundar, observar e verificar os avanços, pois trata-se de um processo que atende a diferentes propósitos, mas que deve estar ao alcance de todos que estão em constante busca de informação e do avanço científico.

Trentini e Paim (1999, p. 68) afirmam que “a seleção criteriosa de uma revisão de literatura pertinente ao problema significa familiarizar-se com textos e, por eles, reconhecer os autores e o que eles estudaram anteriormente sobre o problema a ser estudado”.

Gamificação e inclusão

Gamificação e inclusão são conceitos que podem se complementar, trazendo benefícios em diferentes contextos, seja para a educação, o ambiente de trabalho ou a sociedade em geral. De acordo com Mendes (2019), a gamificação é compreendida como uma estratégia para ser utilizada nos ambientes formais e não formais de ensino, de modo que pode ter suas influências nos processos de ensino-aprendizagem de forma inclusiva.

A gamificação é a aplicação de elementos e mecânicas de jogos em contextos não lúdicos, com o objetivo de engajar e motivar as pessoas a alcançar determinados objetivos. Ela tem sido amplamente utilizada em diversas áreas, como educação, negócios, saúde e até mesmo em questões sociais, como a inclusão. Nesse sentido, os autores complementam:

compreendemos espaços de aprendizagem como distintos cenários escolares e não escolares que potencializam o desenvolvimento de habilidades cognitivas (planejamento, memória, atenção, entre outros), habilidades sociais (comunicação, assertividade, resolução de conflitos interpessoais, entre outros) e habilidade motoras (Alves; Minho; Diniz, 2014, p. 76).

A inclusão, por sua vez, é a criação de ambientes e oportunidades que valorizam e acolhem a diversidade. É a garantia de que todas as pessoas, independentemente de suas características individuais, tenham acesso igualitário a recursos, participação e benefícios. A inclusão busca superar barreiras e eliminar discriminações, criando uma sociedade mais justa e equitativa.

Quando aplicada em conjunto, a gamificação e a inclusão podem contribuir para a criação de ambientes mais acessíveis, engajadores e motivadores.

A gamificação pode exercer papel importante na promoção da inclusão, pois pode tornar atividades mais acessíveis, interativas e envolventes para pessoas de diferentes habilidades e origens. As intervenções gamificadas “não se restringem a informações contidas nos livros, mas abarcam a cultura, fator primordial para a construção da estrutura cognitiva do aprendiz” (Silva-Pires; Trajano; Araujo-Jorge, 2020, p. 17). No entanto, é importante ressaltar que a gamificação, por si só, não resolve todos os desafios relacionados à inclusão. É necessário considerar questões mais amplas, como acesso a recursos e oportunidades, Educação Inclusiva e políticas igualitárias.

A gamificação pode ser uma ferramenta poderosa para apoiar e fortalecer essas iniciativas, mas é apenas um aspecto de um esforço mais amplo em prol da inclusão, pois deve ser aplicada de forma cuidadosa e sensível. As necessidades e características dos indivíduos devem ser vistas ao projetar experiências gamificadas, garantindo que sejam verdadeiramente inclusivas e respeitem a diversidade. Assim, quando aplicadas de forma responsável e consciente, as estratégias podem promover a participação de todos.

A construção e o lançamento de foguetes na inclusão

A construção e o lançamento de foguetes pode ser uma estratégia potencialmente interessante na busca pela inclusão escolar. Embora, à primeira vista, pareça uma conexão incentivada, essa atividade pode trazer benefícios para os estudantes, especialmente aos com deficiências ou necessidades educacionais especiais.

Para Feliciano (2015, p. 198), a gamificação é uma excelente estratégia de ensino por trazer ludicidade aos alunos; o autor argumenta que “o ser que aprende através de atividades lúdicas é um ser que se agrega para colaborar e competir no interior de um círculo mágico no qual participa de experiências significativas que traz para o cotidiano”. Não obstante, Machado e Lanzanova (2021, p. 3) explicam que o trabalho lúdico com alunos com deficiência estimula “melhor compreensão e desenvolvimento do aluno, como ser social que aprende, convive, diverte-se e constrói diferentes saberes”.

A construção de foguetes envolve diversas áreas do conhecimento, como Física, Matemática, Engenharia e Ciência. Ao participar de projetos de foguetes, os alunos têm a oportunidade de aplicar conceitos teóricos na prática, o que pode tornar o aprendizado mais envolvente e significativo.

Além disso, a construção de foguetes é uma atividade que estimula o trabalho em equipe, a criatividade e a resolução de problemas. Os alunos são incentivados a colaborar, planejar, projetar e testar seus foguetes, desenvolvendo habilidades sociais e cognitivas importantes.

Os princípios da Teoria da Aprendizagem Significativa dialogam e interagem com o conceito e as propriedades dos jogos. O jogo trabalha diversos aspectos associados à cognição e às funções sensoriais e motoras e configura-se como um elemento de aprendizagem, tanto para docentes como para discentes. Os jogos educacionais podem facilitar os processos de ensino e aprendizagem por meio da apresentação, negociação e compartilhamento de significados (Silva-Pires; Trajano; Araujo-Jorge, 2020, p. 17).

Trata-se, portanto, de uma estratégia potencial na busca pela inclusão escolar de diferentes maneiras. Aqui estão algumas considerações sobre como isso pode ser feito:

  1. Aprendizado prático e multidisciplinar: a construção de foguetes envolve conceitos diversos (Física, Matemática, Ciência dos materiais e Engenharia). Ao envolver os alunos nesse processo, eles têm a oportunidade de aprender de forma prática, aplicando esses conceitos em um contexto real. Isso pode ajudar a despertar o interesse por essas disciplinas, fornecendo uma compreensão mais profunda dos conceitos teóricos.
  2. Trabalho em equipe e colaboração: o desenvolvimento de foguetes geralmente requer trabalho em equipe e colaboração entre os alunos. Eles precisam se comunicar, planejar, tomar decisões em conjunto e resolver problemas. Essas habilidades sociais e de trabalho em equipe são valiosas para a inclusão escolar, pois promovem a interação e a cooperação entre alunos com diferentes habilidades e perspectivas.
  3. Inclusão de alunos com deficiência: a construção e o lançamento de foguetes podem ser adaptados para permitir a participação desses alunos. Por exemplo: os alunos podem trabalhar em diferentes aspectos do projeto, como design, pintura, pesquisa ou coleta de dados. Dessa forma, todos os alunos podem contribuir com base em suas habilidades e interesses individuais, promovendo a inclusão e a valorização da diversidade.
  4. Desenvolvimento de habilidades socioemocionais: além do aspecto acadêmico, a construção de foguetes pode ajudar no desenvolvimento das habilidades socioemocionais, como a resiliência, a persistência, a resolução de problemas e a autoconfiança. O processo de enfrentar desafios, superar obstáculos e alcançar metas pode fortalecer a autoestima dos alunos e incentivá-los a se envolverem ativamente em suas jornadas educacionais.
  5. Motivação e engajamento: o projeto de construção e lançamento de foguetes é altamente motivador e envolvente, especialmente para aqueles que têm menos interesse em atividades tradicionais de sala de aula. A oportunidade de participar de uma experiência prática e emocionante pode despertar a curiosidade e o entusiasmo dos alunos, incentivando-os a se envolver mais ativamente em seus estudos e no ambiente escolar como um todo.

É importante ressaltar que a inclusão escolar vai além de uma única estratégia e requer um ambiente inclusivo e acolhedor, que valorize e respeite as diferenças individuais. A construção de sucesso no lançamento de foguetes é apenas uma possibilidade entre muitas outras que podem contribuir para a inclusão e a educação de todos os alunos.

Dentro da perspectiva inclusiva, Silva (2012, p. 130) explica que atividades que estimulem a socialização fora de sala de aula, beneficiam a convivência entre os colegas, desenvolvendo compreensões de respeito às diferenças. Os alunos sem deficiência se beneficiam ao desenvolver atitudes solidárias, e os alunos com deficiência “incluem melhora no desenvolvimento, além de interações sociais mais ricas, já que esses alunos estarão convivendo com colegas da mesma idade em ambientes reais”.

A construção e o lançamento de foguetes têm potencial estratégico na busca pela inclusão escolar de várias maneiras:

  1. Interesse e motivação dos alunos: a construção e lançamento de foguetes são atividades práticas e emocionantes que podem despertar o interesse dos alunos pela Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM). Essas disciplinas são fundamentais para o desenvolvimento de habilidades necessárias para a inclusão escolar, como o pensamento crítico, a resolução de problemas e o trabalho em equipe.
  2. Aprendizado prático: a construção de foguetes envolve uma série de conceitos científicos e matemáticos que podem ser aplicados na prática. Os alunos podem aprender sobre aerodinâmica, propulsão, força e trajetórias de voo, entre outros temas. Essa abordagem prática ajuda a tornar o aprendizado mais tangível e significativo, facilitando a compreensão dos conceitos abstratos.
  3. Inclusão de alunos com habilidades diversas: a construção de foguetes pode ser adaptada para atender às necessidades e habilidades de diferentes alunos. Por exemplo: alunos com habilidades motoras limitadas podem participar do projeto auxiliando na concepção, no design ou na análise dos dados coletados durante os lançamentos. Isso permite que alunos com diferentes habilidades contribuam de maneira única para o projeto, promovendo a inclusão e a valorização da diversidade.
  4. Colaboração e trabalho em equipe: a construção e o lançamento de foguetes geralmente pedem trabalho em equipe. Os alunos precisam colaborar, comunicar-se e compartilhar responsabilidades para alcançar o objetivo comum. Essas experiências promovem habilidades sociais importantes, como liderança, respeito mútuo, cooperação e resolução de conflitos, essenciais para um ambiente escolar inclusivo.
  5. Exploração de carreiras científicas e tecnológicas: a construção de foguetes pode despertar o interesse dos alunos por carreiras nas áreas da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, pois expõe os alunos a disciplinas práticas e envolventes. Assim, eles podem ver o potencial de seguir carreira nessas áreas, incluindo aquelas relacionadas à exploração espacial. Isso é especialmente importante para promover a inclusão e a diversidade em campos tradicionalmente de sub-representações.

Na categoria de ensino colaborativo, Fontes (2015, p. 130) afirma que “é possível entender os games e a gamificação como aportes necessários para a construção de um processo de ensino-aprendizado mais colaborativo, participativo, eficaz e eficiente”. Uma proposta de trabalho em grupo possibilita para os alunos uma aprendizagem colaborativa; assim, “essa ação colaborativa, além de favorecer a aprendizagem, potencializa também o processo de inclusão” (Pimentel, 2021, p. 14).

No entanto, é importante ressaltar que a construção e o lançamento de foguetes devem ser realizados com segurança, seguindo as regulamentações adequadas e sob a supervisão de profissionais protegidos. Além disso, é fundamental considerar a disponibilidade de recursos e da infraestrutura necessária para a implementação desse tipo de atividade.

Considerações finais

Para os alunos com deficiência, essa atividade pode proporcionar uma experiência de aprendizado inclusiva. Os projetos de foguetes podem ser adaptados para atender às necessidades individuais dos alunos, permitindo que todos participem de acordo com suas habilidades e capacidades. Um aluno com deficiência motora pode se envolver no design do foguete, enquanto outro aluno pode se concentrar no traçado das trajetórias.

Além disso, a construção e o lançamento de foguetes podem despertar o interesse dos alunos pela ciência e tecnologia, abrindo portas para futuras carreiras nessas áreas. Isso é especialmente relevante quando consideramos o avanço rápido da exploração espacial e a demanda por profissionais nesse setor.

Para implementar essa estratégia, é importante contar com o apoio de professores qualificados e recursos adequados. O currículo escolar deve ser adaptado para incluir atividades relacionadas à construção de foguetes, e as escolas podem buscar parcerias com instituições locais, como universidades ou empresas de tecnologia, para obter suporte técnico e materiais.

É importante ressaltar que a implementação dessas práticas requer planejamento adequado, adaptado às necessidades individuais dos alunos, bem como formação e suporte aos professores.

Em resumo, a construção e o lançamento de foguetes podem ser uma estratégia promissora na busca pela inclusão escolar. Essa atividade interdisciplinar pode engajar os alunos, desenvolver habilidades importantes e despertar o interesse pela ciência e tecnologia. Ao adaptar as atividades às necessidades dos alunos, é possível criar um ambiente inclusivo, onde todos participem e aprendam de forma significativa.

Referências

ALVES, L. R. G.; MINHO, M.; DINIZ, M. Gamificação: diálogos com a educação. In: FADEL, L. M.; ULBRICHT, V. R.; BATISTA C. R.; VANZIN, T. (org.). Gamificação na educação. São Paulo: Pimenta Cultural, 2014. v. 1, p. 75-97.

FELICIANO, Elielson Macedo. Gamificação e EaD: homo ludens como base antropológica para uma EaD gamificada. Trabalho de conclusão de curso (Pós-graduação lato sensu em Planejamento, Implementação e Gestão da EaD) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2015. Disponível em: https://www.revistadoisat.com.br/numero6/6%20Elielson_Feliciano_Gamificacao_Homo_ Ludens.pdf. Acesso em: 5 jun. 2023.

FONTES, Claudia D’Arc. Gamificação e EaD: utilizando a motivação para inserção do aluno como sujeito competente na sociedade. Trabalho de conclusão de curso (Pós-graduação lato sensu em Planejamento, Implementação e Gestão da EaD) -  Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2015. Disponível em: https://www.revistadoisat.com.br/numero6/4%20Claudia_Fontes_Gamificacao_Motivacao.pdf. Acesso em: 5 jun. 2023.

MACHADO, Vania Maria de Avila; LANZANOVA, Luciane Sippert. A ludicidade no processo de Educação Inclusiva. Salão Integrado de Ensino, Pesquisa e Extensão da Uergs (Siepex), v. 1, n° 10, 2021.

MENDES, Luiz Otavio Rodrigues. A gamificação como estratégia de ensino: a percepção de professores de Matemática. 2019. 188f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Educação Matemática) - Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2019.

PIMENTEL, Susana Couto. Possibilidades na formação de conceitos por crianças com síndrome de Down na escola comum. Revista Pedagógica, v. 23, p. 1-16, 2021.

SILVA, Aline Maira da. Educação Especial e inclusão escolar: histórias e fundamentos. Curitiba: Intersaberes, 2012.

SILVA-PIRES, Felipe do Espírito Santo; TRAJANO, Valéria da Silva; ARAUJO-JORGE, Tania Cremonini de. A Teoria da Aprendizagem Significativa e o jogo. Revista Educação em Questão, v. 58, n° 57, 2020.

TRENTINI, M.; PAIM, L. Pesquisa em enfermagem: uma modalidade convergente-assistencial. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999.

Publicado em 02 de julho de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

FERNANDES, Aline Gomes; CARLOS, Fabiane Lima; BREGONCI, Aline de Menezes. A construção e lançamento de foguetes como estratégia potencial na busca pela inclusão escolar. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 23, 2 de julho de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/23/a-construcao-e-lancamento-de-foguetes-como-estrategia-potencial-na-busca-pela-inclusao-escolar

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