A observação de aves como estratégia de Educação Ambiental para alunos do Ensino Médio

André Luiz Batouli-Santos

Doutorando em Ensino em Biociências e Saúde (IOC/Fiocruz), professor da Seeduc/RJ

Mateus Cezar de Souza Gonçalves

Estudante do Ensino Médio no Colégio Estadual 20 de Julho

Clélia Christina Mello Silva Almeida da Costa

Doutora em Ciências (IOC/Fiocruz)

Ana Márcia Suarez-Fontes

Doutora em Ciências (IOC/Fiocruz)

Marcos André Vannier-Santos

Doutor em Ciências (IOC/Fiocruz)

A observação é uma ação essencial para a construção das ciências, sendo o ponto de partida para a formulação de hipóteses, testes, experimentação e investigação que em conjunto proporcionam a construção do conhecimento científico. Para Shermer (1989), todo indivíduo é um cientista, especialmente quando criança. Segundo o autor, pertencemos a uma espécie que teve sucesso em entender e manipular o ambiente, e a capacidade de interpretar fenômenos e entender causas, premissa fundamental da ciência, é inata ao ser humano.

As relações dos indivíduos com seu ambiente foram se tornando, ao longo do tempo, cada vez mais vazias de significados. A observação e a interpretação ambiental, que antes representavam a vida ou a morte de um indivíduo e o sucesso ou fracasso na sobrevivência de nossa espécie, foram sendo deixadas de lado pelas sociedades modernas.

Segundo Shermer (1989), há um fenômeno na sociedade que suprime a curiosidade infantil, um dos elementos essenciais para o aprendizado e a construção de significados. De forma geral, com algumas poucas exceções de comunidades que mantêm seu estilo de vida tradicional e em contato mais próximo com o ambiente, a estrutura da sociedade moderna inibiu a capacidade de observarmos e analisarmos fenômenos naturais e nos integrarmos com as diversidades de vidas que habitam os ecossistemas.

A educação formal tradicional que acontece dentro das escolas, na qual o processo de ensino-aprendizagem segue um currículo rígido, é mais um fator dentro da engrenagem social que não colabora para a aproximação do indivíduo com seu mundo. Muitas vezes, não considera como possibilidade de cenário educativo o ambiente que existe do lado de fora dos muros escolares, aquele que se vê das janelas da sala de aula, mas parece tão distante dos conteúdos curriculares das disciplinas.

Na metodologia de ensino tradicional, a observação, o questionamento e a construção crítica do conhecimento são inibidos, e muitas vezes substituídos por memorização e reprodução. Representa uma estratégia de educação ultrapassada, que não atende à formação integral do indivíduo, pois na maioria das vezes não considera a contextualização daquilo que se discute em sala de aula com o que é observado no cotidiano.

Para uma formação integral, crítica e transformadora do indivíduo, como preconizado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Brasil, 2018), a escola deve, cada vez mais, estimular a capacidade de reflexão, de curiosidade, de questionamentos e busca de soluções para problemas socioambientais que influenciam, direta ou indiretamente, as vidas dos indivíduos.

A crescente preocupação mundial com os efeitos da ação humana nos ecossistemas desencadeou, a partir da década de 1970, uma sucessão de encontros e acordos internacionais para tratar de assuntos relacionados ao ambiente. Na Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi, o termo Educação Ambiental foi definido como:

uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente por intermédio de enfoques interdisciplinares e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade (Brasil, 1998, p. 229).

A Educação Ambiental pode ocorrer das mais variadas formas e através de diversas metodologias, dependendo dos objetivos que se deseja alcançar. Dentre suas inúmeras estratégias, está a utilização de espécies bandeira, como forma de sensibilizar sobre questões mais abrangentes, que envolvem, por exemplo, a conservação de seu habitat.

Tais espécies apresentam uma característica comum: são carismáticas. Essa peculiaridade, marcadamente presente nas espécies de aves, faz com que elas tenham grande potencial educativo. As aves representam um excelente grupo para a realização de projetos em Educação Ambiental, porque além de seus atributos carismáticos, estão presentes em diversos ambientes e podem, com um pouco de atenção, ser facilmente observadas (Argel-de-Oliveira, 1996; Silva; Mamede, 2005; Costa, 2007).

A atividade de contemplação e observação de aves, atualmente voltada para promover o ecoturismo e a Educação Ambiental em geral, surgiu como hobby na Europa no século XVIII (Pivato; Sabino, 2007) e, nos últimos anos, tem ganhado cada vez mais adeptos em várias partes do mundo, com a formação de grupos especializados nesta atividade.

Trabalhar a Educação Ambiental tendo como foco central as espécies da avifauna é uma prática que vem sendo realizada nos últimos anos (Allenspach; Zuim, 2013) e que demonstra bastante eficiência para a assimilação de conteúdos em diversas disciplinas, pois se apropria de uma metodologia que se opõe à falta de interesse e de conexão com o real, como reconhece Costa (2007).

A observação de aves é uma importante ferramenta didática, pois a diversidade das espécies de aves, sua beleza, suas cores, suas variadas formas e tamanhos, e seus sons, estimulam a curiosidade e o interesse dos que observam. Por serem, portanto, espécies carismáticas, com inúmeras qualidades, as aves são recomendadas para serem utilizadas na Educação Ambiental (Argel-de-Oliveira, 1996; Silva; Mamede, 2005; Costa, 2007). Como ocorre em ambientes fora da sala de aula, a observação das aves desperta os sentidos e permite inter-relações informais entre os participantes e entre estes e o ambiente, constituindo-se numa atividade prazerosa que favorece o aprendizado (Costa, 2007). Ainda segundo o autor, permite a sensibilização para a preservação das espécies e dos ambientes em que vivem.

Entretanto, no Brasil, essa prática ainda se mantém em algumas poucas iniciativas pontuais, implantadas principalmente por grandes empresas, que utilizam esta metodologia para suas campanhas de mitigação de impactos ambientais e de educação. Segundo um levantamento sobre a realização de atividades de observação de aves no Brasil (Allenspach; Zuim, 2013), apenas 20% do universo pesquisado representavam iniciativas acadêmicas de professores ou alunos de graduação e pós-graduação; 60% eram desenvolvidas por grandes instituições.

Allenspach e Zuim (2013) argumentam ainda que boa parte dos projetos em Educação Ambiental envolvendo a observação de aves ocorre com o público escolar, o que dificulta, devido à idade dos participantes e à logística de deslocamento, que sejam realizadas em áreas afastadas mais preservadas. Essa dificuldade apontada pelos autores não corresponde à realidade da proposta de trabalho aqui apresentada, pois a localização privilegiada do colégio onde o projeto foi realizado permite que a observação das aves seja feita com a comunidade escolar, em um ambiente de restinga que ainda guarda relevantes características naturais originais, onde são encontradas diversas espécies de aves.

O projeto teve como objetivo principal promover a Educação Ambiental, desenvolvendo a capacidade de observação e interpretação do ambiente, tendo como ferramenta a observação das aves. A partir da discussão sobre o universo das aves, buscamos atribuir valor às espécies que compõem a biodiversidade local e, por consequência, aos ambientes em que vivem.

O Colégio Estadual 20 de Julho

O Colégio Estadual 20 de Julho está situado no bairro da Prainha, no município de Arraial do Cabo/RJ, e é vinculado à Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc/RJ). A instituição oferece o Ensino Médio Regular e o Curso Normal (Formação de Professores), atendendo estudantes tanto da sede do município quanto dos seus distritos, com um total de 370 alunos matriculados em 2021.

Criado em 1964, o colégio foi estabelecido para atender os filhos dos funcionários da antiga Companhia Nacional de Álcalis, que extraía sal e carbonato de cálcio da Lagoa de Araruama e operou no município entre 1943 e 2006. Localizado em uma área ambientalmente privilegiada, em uma região de restinga que ainda preserva características naturais significativas, encontra-se a aproximadamente 600 metros da Praia do Pontal. O colégio possui um amplo terreno de 8.885m² e uma área construída de 1.584m², configurando-se como espaço muito agradável e propício às práticas educacionais, especialmente nas áreas de Ciências, Biologia e Educação Ambiental.

Metodologia

Participaram do projeto discentes do 2º e 3º anos do Ensino Médio, das turmas 2002, 3001 e 3003, totalizando 49 estudantes. As saídas a campo para a observação de aves ocorreram mensalmente no segundo semestre de 2021, entre os meses de julho e dezembro. Inicialmente, as atividades foram realizadas com a participação do bolsista, do orientador do projeto e de outros alunos do Colégio Estadual 20 de Julho, além de bolsistas do Programa Jovens Talentos. A participação dos demais alunos do colégio só foi possível nas saídas de campo de outubro, novembro e dezembro, quando as aulas presenciais retornaram na rede estadual. Foram utilizados materiais e guias ornitológicos para consulta, auxiliando na identificação das espécies.

A observação das aves iniciava-se às 7h30min no pátio da escola, e o grupo seguia caminhando por uma estrada de chão até a Lagoa Barra Nova, localizada na restinga da Praia do Pontal, retornando pela própria restinga até novamente encontrar a estrada até o colégio. O percurso era de aproximadamente 4km e tinha duração média de 1h30min (Figura 1).

Figura 1: Caminho percorrido durante a observação de aves

Fonte: Google Earth, adaptado.

Aplicação dos questionários para avaliação do projeto

Os alunos que participaram da atividade foram convidados a responder um questionário semiestruturado on-line, enviado por meio do aplicativo WhatsApp para os grupos das turmas. O questionário foi elaborado no Google Forms e continha questões fechadas e abertas, abordando a opinião dos estudantes sobre a participação na observação de aves, o conhecimento prévio que tinham a respeito das espécies e a percepção sobre a importância da conservação ambiental.

Aves observadas durante o projeto

Durante o projeto, foram observadas 27 espécies de aves, representativas de 10 ordens e 19 famílias de aves (Quadro 1).

Quadro 1: Listagem das espécies observadas durante o projeto e respectiva classificação

Ordem

Família

Espécie

Nome comum

Anseriformes

Anatidae

Amazonetta brasiliensis

Marrreca-ananaí

Cairina moschata

Pato selvagem

Cathartiformes

Cathartidae

Coragyps atratus

Urubu comum

Charadriiformes

Charadriidae

Vanellus chilensis

Quero-quero

Laridae

Larus dominicanus

Gaivotão

Columbiformes

Columbidae

Colombina talpacoti

Rolinha

Leptotila varreauxi

Juriti

Cuculiformes

Cuculidae

Crotophaga ani

Anu-preto

Guira guira

Anu-branco

Falconiformes

Falconidae

Caracara Plancus

Gavião carcará

Mivalgo chimachima

Gavião carrapateiro

Gruiformes

Rallidae

Gallinula galeatus

Frango-d’água

Passeriformes

Furnariidae

Furnarius rufus

João-de-barro

Hirundinidae

Pygochelidon cyanoleuca

Andorinha-pequena

Mimidae

Minus gilvus

Sabiá-da-praia

Passeridae

Passer domesticus

Pardal

Thraupidae

Sicalis flaveola

Canário-da-terra

Troglodytidae

Troglodytes musculus

Cambaxirra

Tyrannidae

Fluvicola nengeta

Lavadeira-mascarada

Machetornis rixosa

Suiriri-cavaleiro

Pitangus sulphuratus

Bem-te-vi

Tyrannus melancholicus

Suiriri

Pelecaniformes

Ardeidae

Ardea alba

Garça-branca grande

Ardea cocoi

Garça-moura

Suliformes

Fregatidae

Fregata magnificens

Fragata

Phalacrocoracidae

Nannopterum brasilianus

Biguá

Sulidae

Sula leucogaster

Atobá

Análise do questionário aplicado aos estudantes

Todos os 49 estudantes que participaram do projeto responderam ao questionário. Destes, 41% (n=20) eram da turma 3001, 39% (n=19) da turma 2002 e 20% (n=10) da turma 3003. Inicialmente, foram questionados sobre a observação de aves e 94% (n=46) afirmaram que haviam gostado da atividade, enquanto 6% (n=3) disseram não ter gostado (Gráfico 1). No Quadro 2, destacamos algumas respostas sobre o motivo de os estudantes terem gostado da atividade.

Gráfico 1: Percentual de estudantes que afirmaram terem gostado ou não da observação de aves (n=49)

Quadro 2: Algumas respostas dos estudantes sobre o motivo de terem gostado da atividade

Estudante

Resposta

E10

“Por que eu não sabia que havia tantas espécies de aves em lugares tão próximos de onde estudamos”.

E13

“Pois conheci aves que nunca tinha visto antes, tive um contato melhor com a natureza”.

E20

“Achei interessante a dinâmica da aula, onde o professor nos estimula a observar mais ao nosso redor. Conforme o passeio explicando sobre diversas espécies de uma maneira prática”.

E21

“Pela primeira vez consegui conhecer as espécies que habitam no local da minha escola e ao redor dela”.

E22

“Achei uma forma bem interessante de aprender algo novo. E mostra que você não precisa estar na sala de aula para aprender”.

E25

“Eu obtive um panorama da biodiversidade que eu não sabia da existência, mesmo morando aqui no Arraial desde que nasci”.

E34

“Gostei porque particularmente eu, e creio que também os demais alunos, nunca tínhamos parado para andar pela natureza assim, principalmente da nossa cidade e ver o quão incrível é olhar e ouvir as aves”.

E39

“Foi legal ter uma aula prática. E saber que temos muitas espécies diferentes à nossa volta que nem reparamos em nosso cotidiano”.

E40

“Porque eu achei interessante ver vários pássaros que eu nunca nem percebi que vivia ali”.

E46

“Gostei porque pude conhecer novas espécies e parar pra prestar atenção e conhecer o espaço em que vivemos”.

Questionamos também a opinião dos estudantes sobre como poderiam classificar a atividade desenvolvida. A maioria, 57% (n=28), classificou a atividade de observação de aves como muito boa, 39% (n=19) como boa, 2% (n=1) consideraram regular; esse mesmo percentual a classificou como tendo sido ruim (Gráfico 2).

Gráfico 2: Opinião dos estudantes sobre a atividade de observação de aves (n=49)

Quando questionados se sabiam da existência de tantas espécies de aves que foram observadas durante o projeto, 88% (n=43) afirmaram não ter conhecimento de que havia tantas espécies de aves na área do colégio e no seu entorno próximo. Por outro lado, 12% (n=6) responderam que tinham conhecimento da existência de muitas espécies (Gráfico 3).

Quando os estudantes foram perguntados sobre as espécies que conheciam, 47% (n=23) responderam que conheciam entre 1 e 3 espécies, 35% (n=17) conheciam entre 3 e 5 espécies, 8% (n=4) conheciam entre 5 e 10 espécies, 6% (n=3) conheciam a maioria das espécies e 4% (n=2) responderam que não conheciam nenhuma espécie (Gráfico 4).

Gráfico 3: Percentual de estudantes que afirmaram saber da existência da grande biodiversidade de aves na área percorrida (n=49)

Com relação aos conteúdos de Biologia abordados durante as saídas de campo, 96% (n=47) dos estudantes responderam que gostaram de aprender tais conteúdos durante as saídas para a observação das aves. Por outro lado, 4% (n=2) dos alunos responderam não ter gostado (Gráfico 5).

Gráfico 4: Conhecimento dos estudantes sobre as espécies observadas (n=49)

Gráfico 5: Opinião dos alunos sobre aprender conteúdos de Biologia durante a atividade (n=49)

Perguntamos sobre os motivos de terem gostado de aprender conteúdos de Biologia durante a atividade. Selecionamos algumas respostas no Quadro 3.

Quadro 3: Algumas respostas dos estudantes sobre o motivo de terem gostado de aprender conteúdos de Biologia durante a atividade de observação das aves

Estudante

Resposta

E02

“Esse estilo de aula mostrou que a nossa volta possui muito mais do que praias e pontos turísticos, me mostrou que, se parássemos para prestar só um pouco de atenção, iríamos conhecer bem mais sobre a natureza que nos cerca, aprender bem mais sobre as aves, plantas e solos que temos em nossa cidade, fora as outras riquezas naturais que temos.”

E08

“Foi melhor do que apenas copiar palavras.”

E12

“Porque, dependendo de com quem eu esteja na rua ou nos arredores, eu posso também ensinar o nome das aves.”

E23

“Pois é uma aula mais dinâmica, que dá para, ao mesmo tempo, conhecer a matéria e o local.”

E25

“Porque eu consegui tirar minhas dúvidas e conheci espécies que nem sabia que tínhamos.”

E29

“Pois agora tenho uma noção maior do ecossistema da minha cidade.”

E32

“Porque tinha coisas que eram Biologia que eu nunca imaginaria que fossem, então foi algo novo para mim.”

E36

“Gostei bastante, porque eu não conhecia praticante nenhuma, claro que também, se eu vir hoje, não vou saber o nome de todas de cabeça, mas já consigo distinguir as diferenças de uma para outra; acho que esse trabalho deveria ser feito com alunos desde o 1º ano.”

E37

“Aula ao ar livre deixa tudo mais interessante.”

E49

“Porque assim o ensino fica mais completo e não apenas preso dentro de uma sala fechada.”

Com relação ao despertar para a importância da conservação ambiental, especificamente sobre a conservação das restingas, a grande maioria dos estudantes, 96% (n=47), afirmou que a atividade realizada foi capaz de mostrar a importância desses ambientes para a avifauna e contribuiu para despertar o sentimento de conservação ambiental (Gráfico 6).

Gráfico 6: Percentual de estudantes que afirmaram perceber a importância da conservação da restinga (n=49)

Sobre esse questionamento, pedimos que os estudantes explicassem por que a atividade despertou o sentimento de conservação ambiental; separamos algumas respostas, que foram dispostas no Quadro 4.

Quadro 4: Respostas dos estudantes sobre o porquê de a atividade ter demonstrado a importância da conservação da restinga

Estudante

Resposta

E02

“Entendi que temos que cuidar do que ainda resta dela por aqui, e qualquer deslize pode diminuir bastante o número de espécies na nossa região.”

E04

“A restinga é o habitat das aves, onde elas vivem, se alimentam e desenvolvem-se.”

E07

“Eu sabia que era importante preservar a restinga, mas só no passeio é que eu entendi por que é importante.”

E11

“Porque ali é o lugar de tantas especiais de animais, plantas etc. Se a preservação não ocorrer iremos perder de pouco a pouco todas essas espécies lindas e de tão fácil acesso.”

E15

“Pois, quando mudamos de local, fomos para um local cheio de casas, muitas aves sumiram e precisamos cuidar, o ambiente fica até melhor com elas ao nosso redor.”

E29

“Pois sem a restinga a maior parte das espécies não teria onde viver por não conseguir se adaptar à cidade.”

E34

“Apesar de o ser humano achar que passou da fase de necessitar da natureza em seu todo, ainda precisamos de um ecossistema perto para conseguir ter um balanço, para termos árvores, solo e prazeres pequenos, como apreciar a beleza de um pássaro ou seu canto.”

E36

“Manter a restinga é fundamental para a biodiversidade que existe; creio que, se não tivéssemos, iria fazer uma grande diferença nos arredores em que vivemos. Temos sorte por termos tantas espécies de aves.”

E37

“Porque as aves são importantes e cada uma tem o seu papel no meio ambiente.”

E39

“Bom, cada ave vive de uma maneira diferente em um mesmo habitat, assim como aqui tem bastante urubu também, que se alimenta de carniça e achei irado saber que eles podem poupar energia fazendo voos planos usando o calor que sai do solo.”

Por fim, pedimos aos participantes que votassem para eleger a espécie de ave símbolo do projeto. A espécie escolhida foi Furnarius rufus, o joão-de-barro, eleito com 25% (n=12) dos votos. As espécies votadas podem ser vistas no Gráfico 7.

Gráfico 7: Espécies votadas pelos estudantes como símbolo do projeto

Discussão

Buscamos, por meio desta atividade, estimular a construção de saberes em biociências de maneira a colaborar para a formação de um indivíduo crítico e que valorize o ecossistema no qual está inserido, gerando conhecimentos que subsidiem a sua inserção nas tomadas de decisões que interfiram nas questões socioambientais de sua localidade. Atividades pedagógicas no ensino de Biologia realizadas fora da sala de aula representam uma oportunidade de desenvolver a percepção dos estudantes e aumentar a interação entre os participantes (Krasilchik, 2008). Nesse sentido, as aves podem ser utilizadas como foco central para ações de Educação Ambiental (Lopes; Santos, 2004; Tomazelli; Franz, 2017; Silva et al., 2020).

Segundo Nogueira et al. (2015), utilizando as aves como ligação entre o indivíduo e o meio ambiente, pode-se formar sujeitos sensíveis, afetuosos, autocríticos e conectados com o meio onde vivem, capazes de intervir na realidade socioambiental local e valorizar a biodiversidade com a qual interagem no seu cotidiano. De acordo com Costa (2007), a observação de aves é uma atividade que favorece a sensibilização dos participantes para a preservação ambiental, pois a partir da observação da avifauna em seu ambiente natural, pode-se fazer a correlação entre a preservação das espécies e do ambiente onde vivem.

Neste projeto, foi possível explorar o entorno escolar e estimular as vivências no ambiente natural. Buscamos desenvolver nos alunos participantes a capacidade de observação e reflexão, o conhecimento da diversidade de aves, o questionamento e a interpretação crítica do mundo natural que os cerca, e, com isso, despertar o sentimento de valorização da biodiversidade local e dos ambientes visitados. Com a observação da conduta e da atitude dos alunos durante a observação das aves e com as análises dos questionários aplicados, podemos perceber que a grande maioria dos alunos gostou de ter participado da atividade, tendo-a classificado como muito boa ou boa.

Como podemos perceber nas respostas dos estudantes E10, E13, E21, E25 e E46 em perguntas abertas sobre o motivo de terem gostado, a atividade foi importante para que os alunos pudessem conhecer as espécies de aves que estão ao nosso redor e muitas vezes passam despercebidas. A maioria dos estudantes (88%) não sabia da existência da biodiversidade de aves nos arredores do colégio. Das 27 espécies de aves observadas, a maioria dos estudantes (82%) conhecia, no máximo, cinco. Para Becker e Povaluk (2013), conhecer a diversidade da avifauna presente em uma região é de fundamental importância para as ações de conservação.

Com relação à aquisição de conhecimentos na disciplina de Biologia que estiveram presentes nas discussões que ocorreram durante a observação de aves, 96% dos estudantes afirmaram ter gostado de aprender os conteúdos do currículo da disciplina durante a atividade. Neste projeto, a observação de aves representou uma ferramenta motivadora para o aprendizado de conteúdos, proporcionando maior interação entre os envolvidos, e, assim como observado no trabalho de Silva e Nunes Silva (2021), também representou uma atividade facilitadora para o ensino e a aprendizagem dos conteúdos em Biologia.

Algumas respostas da pergunta sobre o porquê de terem gostado de aprender os conteúdos durante a atividade, como as respostas dos estudantes E23, E32 e E49, sugerem que a observação de aves proporciona uma visão ampliada do ecossistema, o que melhora a capacidade dos estudantes de fazerem associações entre os conceitos e os fenômenos estudados em sala de aula e a aplicação e a ocorrência destes conceitos em fenômenos no ambiente natural, na vida cotidiana, em substituição ao ensino de reprodução de conteúdos, como expõe E08 quando afirma que “foi melhor do que apenas copiar palavras”.

No que diz respeito ao despertar do sentimento de conservação ambiental, em específico das restingas, 96% dos estudantes afirmaram ter sido sensibilizados sobre a importância da restinga, o que nos permite afirmar, assim como observado em estudos de Costa (2007) e Nogueira et al. (2015), que, partindo da observação das espécies, é possível relacioná-las ao ambiente onde vivem, e, com isso, despertar a percepção para a importância da conservação não só das espécies observadas, como também dos habitats onde são encontradas.

Quanto à eleição de Furnarius rufus como ave símbolo do projeto, muitos participantes ficaram surpreendidos em campo ao avistarem um casal da espécie e seu ninho feito de barro, o que pode ter contribuído para a eleição da espécie como símbolo. Ela será utilizada em futuros trabalhos no colégio, ligados à Educação Ambiental e à conservação da avifauna.

Considerações finais

As saídas de campo para a observação de aves serviram não só como ferramenta motivadora para o ensino e a aprendizagem como também facilitadora desses processos. O número de espécies observadas durante o projeto demonstra o potencial educativo que a observação de aves tem para promover o conhecimento da biodiversidade, especificamente da diversidade avifaunística. O projeto proporcionou aos estudantes vivências e experiências na natureza, que, aliadas à intencionalidade dos processos de Educação Ambiental e de ensino de Biologia, contribuíram para despertar nos participantes o sentimento de conservação da biodiversidade local. Além disso, essas atividades foram prazerosas, motivando e facilitando o processo de ensino-aprendizagem.

Referências

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ARGEL-DE-OLIVEIRA, M. M. Subsídios para a atuação de biólogos em Educação Ambiental: o uso de aves urbanas em Educação Ambiental. Mundo da Saúde, v. 20, nº 18, 1996.

BECKER, A. M.; POVALUK, M. Levantamento das espécies de aves da área denominada Zona de Preservação Ambiental e Lazer 1 (ZPAL1), situada no perímetro urbano de Mafra/SC. Saúde e Meio Ambiente, v. 2, nº 1, p. 3-5, 2013.

BRASIL. MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.

COSTA, R. G. A. Observação de aves como ferramenta didática para Educação Ambiental. Revista Didática Sistêmica, v. 6, p. 33-44, 2007.

KRASILCHIK, M. P. Prática de ensino de Biologia. 4ª ed. São Paulo: Edusp, 2008.

LOPES, S. F.; SANTOS, R. J. Observação de aves: do ecoturismo à Educação Ambiental. Caminhos de Geografia, v. 5, nº 13, p. 103-121, 2004.

NOGUEIRA, M. L. et al. Observação de aves e atividades lúdicas no ensino de Ciências e Educação Ambiental no Pantanal (MS). Revista Brasileira de Educação Ambiental, v. 10, nº 2, p. 187-203, 2015.

PIVATTO, M. A.; SABINO, J. O turismo de observação de aves no Brasil: breve revisão bibliográfica e novas perspectivas. Atualidades Ornitológicas, nº 139, p. 10-13, 2007.

SHERMER, M. Teach your child science: Making Science fun for the both of you. Chicago: Contemporary Books, 1989.

SILVA, A. R. F.; RIBEIRO, L. S.; GOMIDES, C. E.; LOBATO, D. N. C. Projeto Aves do Campus: ferramenta para conhecimento da biodiversidade e Educação Ambiental. Em Extensão, v. 19, nº 2, p. 73-86, 2020.

SILVA, M. B.; MAMEDE, S. Formação de grupos de observadores de aves e mamíferos como estratégia de conservação da biodiversidade do Cerrado. In: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE ORNITOLOGIA. Resumos. Belém: MPEG/UFPA, 2005.

SILVA, V. A.; NUNES, J. R. S.; SILVA, P. S. L. A observação de aves como facilitador para o ensino de Biologia. Research, Society and Development, v. 10, nº 11, p. 1-17, 2021.

TOMAZELLI, J.; FRANZ, I. Observação de aves em arroio em meio urbano como um projeto de Educação Ambiental. Revista Conhecimento On Line, ano 9, v. 1, p. 89-97, 2017.

Publicado em 23 de julho de 2024

Como citar este artigo (ABNT)

BATOULI-SANTOS, André Luiz; GONÇALCES, Mateus Cezar de Souza; COSTA, Clélia Christina Mello Silva Almeida da; SUAREZ-FONTES, Ana Márcia; VANNIER-SANTOS, Marcos André. A observação de aves como estratégia de Educação Ambiental para alunos do Ensino Médio. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 24, nº 26, 23 de julho de 2024. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/24/26/a-observacao-de-aves-como-estrategia-de-educacao-ambiental-para-alunos-do-ensino-medio

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